Por Altamiro Borges
Enquanto a vitória de Ollanta Humala no Peru confirma a guinada à esquerda na América Latina, na Europa, cada vez mais velha e devastada pela crise capitalista, a direita continua vencendo eleições. Na maioria dos casos, ela assume abertamente posturas de extrema-direita, fascistizantes. Responsável direta pela grave crise econômica na região, ela utiliza oportunisticamente os efeitos destrutivos e regressivos do neoliberalismo para jogar trabalhadores contra trabalhadores – europeus contra imigrantes.
O resultado da eleição em Portugal, na semana passada, confirma esta tendência altamente perigosa. Com um discurso racista e xenófobo, o ultraconservador PSD venceu o pleito. Entre outras propostas, ele defende cortes nos gastos sociais, nova rodada de privatizações, enrijecimento na relação com o movimento sindical e medidas duras contra os imigrantes. Pedro Passos Coelho, novo primeiro-ministro, promete acelerar a aplicação do receituário neoliberal, antes já bancado pelos neoconvertidos do PS.
Os efeitos da crise capitalista
A direitização de Portugal é expressão de uma tendência que já corrói boa parte da Europa. A própria Folha, tão avessa às forças de esquerda, registrou esta guinada de direita em editorial recente. “Hoje, em apenas cinco dos 27 países que compõem a União Européia (UE) persistem governos que podem ser rotulados como de centro-esquerda. No principal remanescente, a Espanha, os socialistas parecem enveredar para uma derrota nas próximas eleições gerais, cuja data-limite é março do ano que vem”.
Dois fatores explicam este fenômeno altamente negativo. O primeiro é o agravamento da crise capitalista no velho continente. A Europa, que já patinava em taxas declinantes de crescimento economia, foi duramente atingida pelo colapso nos EUA a partir de 2008. Bancos e indústrias entraram em falência; o desemprego bateu recordes históricos; a renda do trabalho foi arrochada. Na operação de socorro aos capitalistas, o Estado desembolsou bilhões de euros e comprometeu ainda mais a saúde da economia.
A conversão da social-democracia
O segundo fator é político. Diante da violência da crise capitalista, governos hegemonizados pela social-democracia, cada vez mais centrista, acabaram se curvando de vez diante do “deus-mercado” e aplicaram receitas neoliberais. Essa traição deu brechas para a ofensiva da direita européia. Demonizando os imigrantes e apresentando-se como melhor gestora da crise – o que é uma baita falsidade, como indica o desastre dos governos da França e Itália –, a direita surgiu como alternativa para os desesperados.
O velho continente está na encruzilhada. A crise inferniza a vida dos trabalhadores. Em Portugal, o desemprego já supera os 12% da população economicamente ativa, o mais alto em 20 anos, e deve piorar – em 2011, o PIB deve sofrer uma retração de 2%. Na Espanha, a situação também é grave – com mais de 40% dos jovens sem emprego. Isto para não falar da Grécia e da Irlanda, que já sucumbiram à crise econômica e hoje são vítimas das humilhações impostas pelo FMI e pelo Banco Central Europeu.
O espectro da fascistização
A crise até aguça os protestos populares – como nas oito greves gerais na Grécia, nas combativas paralisações em Portugal ou na “revolução dos indignados” na Espanha. Mas estas revoltas ainda não conseguiram alterar a correlação de forças e produzir alternativas de poder efetivamente comprometidas com a superação do neoliberalismo, expressão do capitalismo na fase atual.
Neste vácuo, a direita apela para o discurso xenófobo e racista para galgar postos. O espectro da fascistização ronda a Europa!
Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com/
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"É a sociedade que inspira esse comportamento."
Medidas, que segundo o psicólogo comportamental Enrique Maia, podem não ter o efeito desejado. “Há sempre um cenário maior a ser analisado, afinal é a sociedade que inspira esse ambiente e o comportamento que o governo mostra preocupação em diminuir”, diz, em entrevista a CartaCapital.
O documento ainda pede a diminuição de imagens sexuais e violentas na televisão antes das 21h e medidas efetivas de controle de conteúdo para adultos na internet, com sistemas robustos de verificação de idade.
Veja abaixo a entrevista completa:
CartaCapital – O senhor acredita que esse relatório em formato de carta de intenções do governo britânico pode influenciar o desenvolvimento sexual dos adolescentes no Reino Unido?
Enrique Maia – Essa medida certamente tem um impacto na comunidade, mas é difícil dizer se vai funcionar nas crianças, que estão muito expostas a diversos meios de comunicação, como a internet. Em relação a essa última mídia, cada vez mais surgem programas que dão aos pais poderes de controlar os sites que os filhos acessam. No entanto, isso não impede que as pessoas vejam os assuntos que elas querem, pois vão encontrar uma forma de fazê-lo, assim como acontece na China ou Cuba, que possuem diversos temas bloqueados pelo governo. Mesmo com o controle é difícil imaginar que haja uma retroação nos comportamentos que já desenvolvemos.
CartaCapital – Uma possível adesão da mídia e do comércio de roupas às propostas pode alterar o comportamento dos jovens britânicos?
Enrique Maia – O impacto sob a formação da criança pode ser maior conforme a quantidade de mídias abrangidas, porem há outros aspectos a serem avaliados. Entre eles está a maneira como a família aceita certo tipo de comportamento e se a sociedade engloba isso. Com mais controle da temática sexual e da violência na mídia maior o impacto, mas talvez isso não tenha o efeito pretendido. Há sempre um contexto social que vai fortalecer ou não uma atitude. Para surtir efeito essa medida tem que afetar o dia-a-dia.
Quanto à moda, ela tende a ser abrangente e buscar aquilo que vende, se baseando nas tendências dos adultos, sem se importar com essas questões. No entanto, se o governo pretende coibir essas roupas, certamente vai haver alguma uma influência.
CartaCapital – Qual papel o senhor atribui à mídia e a indústria da moda na mudança do comportamento sexual da população nas últimas décadas?
Enrique Maia – Há três níveis de comportamento na psicologia: o biológico, que influi nas nossas relações desde o nascimento, e outros dois que se sobrepõem ao primeiro, a história de vida do indivíduo e seu nível cultural, que depende das condutas do nosso século, facilitando certos padrões.
O que mudou o perfil sexual dos jovens não foi apenas a propaganda, isso está relacionado também com o mercado de trabalho e a chegada das mulheres nesse ambiente, a invenção da pílula anticoncepcional, entre outros aspectos, por exemplo.
Há um cenário maior a ser analisado, afinal é a sociedade que inspira esse ambiente. Medidas mais eficazes para evitar essa sexualização precoce com a qual o governo mostra preocupação poderiam incluir investimentos em uma melhor construção social e educacional, com projetos para orientação sexual.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
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Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
O documento ainda pede a diminuição de imagens sexuais e violentas na televisão antes das 21h e medidas efetivas de controle de conteúdo para adultos na internet, com sistemas robustos de verificação de idade.
Veja abaixo a entrevista completa:
CartaCapital – O senhor acredita que esse relatório em formato de carta de intenções do governo britânico pode influenciar o desenvolvimento sexual dos adolescentes no Reino Unido?
Enrique Maia – Essa medida certamente tem um impacto na comunidade, mas é difícil dizer se vai funcionar nas crianças, que estão muito expostas a diversos meios de comunicação, como a internet. Em relação a essa última mídia, cada vez mais surgem programas que dão aos pais poderes de controlar os sites que os filhos acessam. No entanto, isso não impede que as pessoas vejam os assuntos que elas querem, pois vão encontrar uma forma de fazê-lo, assim como acontece na China ou Cuba, que possuem diversos temas bloqueados pelo governo. Mesmo com o controle é difícil imaginar que haja uma retroação nos comportamentos que já desenvolvemos.
CartaCapital – Uma possível adesão da mídia e do comércio de roupas às propostas pode alterar o comportamento dos jovens britânicos?
Enrique Maia – O impacto sob a formação da criança pode ser maior conforme a quantidade de mídias abrangidas, porem há outros aspectos a serem avaliados. Entre eles está a maneira como a família aceita certo tipo de comportamento e se a sociedade engloba isso. Com mais controle da temática sexual e da violência na mídia maior o impacto, mas talvez isso não tenha o efeito pretendido. Há sempre um contexto social que vai fortalecer ou não uma atitude. Para surtir efeito essa medida tem que afetar o dia-a-dia.
Quanto à moda, ela tende a ser abrangente e buscar aquilo que vende, se baseando nas tendências dos adultos, sem se importar com essas questões. No entanto, se o governo pretende coibir essas roupas, certamente vai haver alguma uma influência.
CartaCapital – Qual papel o senhor atribui à mídia e a indústria da moda na mudança do comportamento sexual da população nas últimas décadas?
Enrique Maia – Há três níveis de comportamento na psicologia: o biológico, que influi nas nossas relações desde o nascimento, e outros dois que se sobrepõem ao primeiro, a história de vida do indivíduo e seu nível cultural, que depende das condutas do nosso século, facilitando certos padrões.
O que mudou o perfil sexual dos jovens não foi apenas a propaganda, isso está relacionado também com o mercado de trabalho e a chegada das mulheres nesse ambiente, a invenção da pílula anticoncepcional, entre outros aspectos, por exemplo.
Há um cenário maior a ser analisado, afinal é a sociedade que inspira esse ambiente. Medidas mais eficazes para evitar essa sexualização precoce com a qual o governo mostra preocupação poderiam incluir investimentos em uma melhor construção social e educacional, com projetos para orientação sexual.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
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O leão desdentado
Com o prazo fatal de cumprimento de metas fixado pela UE em 2014, o presidente Tadic percebeu que, sem a extradição do ex-general Ratko Mladic, com prisão imposta pelo tribunal em 1995, o pedido de ingresso na Comunidade Europeia não seria deferido.
Com as independências, em 1991, da Eslovênia, da Croácia, da Macedônia e, em 1992, da Bósnia-Herzegovina, a Iugoslávia ficou reduzida aos territórios da Sérvia, Montenegro, Voivodina e Kosovo. Voltou então o sonho eslavo da Grande Sérvia, com a limpeza étnica dos islâmicos, retomadas dos enclaves e conquistas da Bósnia-Herzegovina e da Croácia. O quarteto sonhador da Grande Sérvia era formado por Slobodan Milosevic, presidente, Ratko Mladic, general do Exército, Radovan Kradizic, ideólogo, e Goran Hadizic, líder sérvio na Croácia, que conquistou um terço do seu território e proclamou a independência da região de Krajina. Para tanto, executou 7 mil resistentes.
Divididas as tarefas, o quarteto iniciou, em junho de 1991, a guerra com a Croácia. Um conflito que resultou em perto de 15 mil mortes. Na Bósnia, iniciada a guerra na primavera de 1992, morreram 103 mil, incluídos 55.261 civis. Mais de 10 mil albaneses e 3 mil sérvios faleceram no enclave islâmico do Kosovo. Com a intervenção da Otan para estancar o banho de sangue, foram realizados bombardeios aéreos e atingidos, por engano e mortalmente, 495 civis, quase todos sérvios.
A Guerra dos Bálcãs findou formalmente em novembro de 1995 com o tratado de paz assinado nos EUA. E a Resolução 872 do Conselho de Segurança das Nações Unidas criou o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. Um tribunal com competência para os crimes de genocídio, de guerra, contra a humanidade e demais violações à Convenção de Genebra de 1949.
O tratado não conteve, porém, a fúria sanguinária do vértice sérvio. Com estratégia concebida por Karadzic e execução- dos generais Mladic e Zdravko Tolimir (preso e extraditado), militares e milicianos invadiram o enclave de Srebrenica (Bósnia Oriental). Lá massacraram 7,5 mil muçulmanos do sexo masculino e promoveram estupros coletivos.
Para chegar a Srebrenica, os homens de Mladic contaram com a covardia dos soldados holandeses a serviço das Nações Unidas e destacados para proteger o enclave islâmico. Sobre o genocídio, o tribunal lançou histórica decisão: “As forças sérvio-bósnias, com o objetivo de eliminar parte dos muçulmanos estabelecidos na Bósnia, escolheram Srebrenica por ser um enclave emblemático. Primeiro, dominaram os muçulmanos do sexo masculino, adultos e jovens, tiraram os seus pertences e apreenderam as suas cédulas de identidade pessoal. Depois, mataram todos, deliberada e metodicamente”.
Em maio de 2005, a destemida procuradora Carla del Ponte exibiu aos juízes do tribunal um filme sobre os massacres em Srebrenica. Um fotógrafo amador, com risco, fez a histórica filmagem: as mulheres, várias estupradas, eram expulsas de suas casas, jogadas em caminhões e obrigadas a deixar a região. As crianças, os adolescentes e os adultos do sexo masculino foram executados depois de amarrados com as mãos para trás.
Em 26 de maio, o presidente Tadic confirmou, com base em exame de DNA, a prisão de Mladic, que nega participação em Srebrenica. Nem a manifestação dominical de um bando de nacionalistas fanáticos, a alegação de três íctus cerebrais, de dois infartos e períodos de perda de memória convenceram a Corte sérvia de apelação a impedir a extradição de Mladic. Só falta agora prender Goran Hadizic.
Para ganhar tempo, o tribunal estuda juntar o processo de Kradizic, de 65 anos, ao de Mladic, 69 anos, pela conexão e iguais acusações. Com relação a Mladic, existe, como prova inconteste de genocídio, uma gravação de ordem, por rádio, para o bombardeio do bairro de Velusci (Sarajevo-Bósnia). Mladic, na gravação, diz à tropa para ficar despreocupada, pois entre os civis a ser eliminados não havia- nenhum sérvio.
Perante o Tribunal Internacional foram acusadas 161 -pessoas. Até agora, 43 foram condenadas e oito absolvidas. No curso do processo faleceram seis réus.
Com as independências, em 1991, da Eslovênia, da Croácia, da Macedônia e, em 1992, da Bósnia-Herzegovina, a Iugoslávia ficou reduzida aos territórios da Sérvia, Montenegro, Voivodina e Kosovo. Voltou então o sonho eslavo da Grande Sérvia, com a limpeza étnica dos islâmicos, retomadas dos enclaves e conquistas da Bósnia-Herzegovina e da Croácia. O quarteto sonhador da Grande Sérvia era formado por Slobodan Milosevic, presidente, Ratko Mladic, general do Exército, Radovan Kradizic, ideólogo, e Goran Hadizic, líder sérvio na Croácia, que conquistou um terço do seu território e proclamou a independência da região de Krajina. Para tanto, executou 7 mil resistentes.
Divididas as tarefas, o quarteto iniciou, em junho de 1991, a guerra com a Croácia. Um conflito que resultou em perto de 15 mil mortes. Na Bósnia, iniciada a guerra na primavera de 1992, morreram 103 mil, incluídos 55.261 civis. Mais de 10 mil albaneses e 3 mil sérvios faleceram no enclave islâmico do Kosovo. Com a intervenção da Otan para estancar o banho de sangue, foram realizados bombardeios aéreos e atingidos, por engano e mortalmente, 495 civis, quase todos sérvios.
A Guerra dos Bálcãs findou formalmente em novembro de 1995 com o tratado de paz assinado nos EUA. E a Resolução 872 do Conselho de Segurança das Nações Unidas criou o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. Um tribunal com competência para os crimes de genocídio, de guerra, contra a humanidade e demais violações à Convenção de Genebra de 1949.
O tratado não conteve, porém, a fúria sanguinária do vértice sérvio. Com estratégia concebida por Karadzic e execução- dos generais Mladic e Zdravko Tolimir (preso e extraditado), militares e milicianos invadiram o enclave de Srebrenica (Bósnia Oriental). Lá massacraram 7,5 mil muçulmanos do sexo masculino e promoveram estupros coletivos.
Para chegar a Srebrenica, os homens de Mladic contaram com a covardia dos soldados holandeses a serviço das Nações Unidas e destacados para proteger o enclave islâmico. Sobre o genocídio, o tribunal lançou histórica decisão: “As forças sérvio-bósnias, com o objetivo de eliminar parte dos muçulmanos estabelecidos na Bósnia, escolheram Srebrenica por ser um enclave emblemático. Primeiro, dominaram os muçulmanos do sexo masculino, adultos e jovens, tiraram os seus pertences e apreenderam as suas cédulas de identidade pessoal. Depois, mataram todos, deliberada e metodicamente”.
Em maio de 2005, a destemida procuradora Carla del Ponte exibiu aos juízes do tribunal um filme sobre os massacres em Srebrenica. Um fotógrafo amador, com risco, fez a histórica filmagem: as mulheres, várias estupradas, eram expulsas de suas casas, jogadas em caminhões e obrigadas a deixar a região. As crianças, os adolescentes e os adultos do sexo masculino foram executados depois de amarrados com as mãos para trás.
Em 26 de maio, o presidente Tadic confirmou, com base em exame de DNA, a prisão de Mladic, que nega participação em Srebrenica. Nem a manifestação dominical de um bando de nacionalistas fanáticos, a alegação de três íctus cerebrais, de dois infartos e períodos de perda de memória convenceram a Corte sérvia de apelação a impedir a extradição de Mladic. Só falta agora prender Goran Hadizic.
Para ganhar tempo, o tribunal estuda juntar o processo de Kradizic, de 65 anos, ao de Mladic, 69 anos, pela conexão e iguais acusações. Com relação a Mladic, existe, como prova inconteste de genocídio, uma gravação de ordem, por rádio, para o bombardeio do bairro de Velusci (Sarajevo-Bósnia). Mladic, na gravação, diz à tropa para ficar despreocupada, pois entre os civis a ser eliminados não havia- nenhum sérvio.
Perante o Tribunal Internacional foram acusadas 161 -pessoas. Até agora, 43 foram condenadas e oito absolvidas. No curso do processo faleceram seis réus.
A África tem sede de Brasil
Escrevo este artigo no dia dedicado à celebração do continente africano. E faço isso com muita alegria, por constatar, pela leitura do discurso pronunciado pelo ministro Antonio Patriota na cerimônia com que o Itamaraty marcou a efeméride, que os conceitos e princípios que se desenvolveram durante o governo do presidente Lula continuam a presidir a política africana de Dilma Rousseff. Patriota deu, ele próprio, os dados que ilustram o vertiginoso crescimento das nossas relações com o continente africano durante os últimos oito anos.
A África sempre esteve no imaginário da política externa brasileira, embora nem sempre de forma coerente ou consequente. Durante a ditadura, o Brasil foi lento em dar apoio aos movimentos de libertação das antigas colônias portuguesas. Graças à visão de dois homens, Ovídio Melo e Italo Zappa, nos redimimos em parte desse pecado ao agirmos de forma pioneira e corajosa reconhecendo o governo do MPLA em Angola.
Na primeira viagem que fiz à Africa durante o governo Lula, visitei sete países, seguindo a orientação do presidente, mas instigado também por uma cobrança de minha mulher, que, ao me ouvir relatar iniciativas quanto à Venezuela, Mercosul etc., me interpelou: “E pela África vocês não estão fazendo nada?” Isso foi em abril de 2003, quando decidíamos nossas prioridades e refazíamos nossas agendas, dominadas então por temas impostos de fora, como a Alca.
Desde aquela primeira visita, observei a realidade que inspirou o título deste artigo: “A África tem sede de Brasil”. De Moçambique a Namíbia, de Gana a São Tomé e Príncipe, cada um a seu modo e de acordo com suas características e dimensões, veem no Brasil um modelo a ser seguido. Lula revelou-se o mais africano dos presidentes. Pediu perdão pelos crimes da escravidão, visitou mais de duas dezenas de países e abriu caminho para ações de cooperação e negócios. Essa determinação em não deixar que a África escapasse do radar das nossas prioridades provocou muitas críticas da nossa mídia ocidentocêntrica (o leitor perdoará o barbarismo), que só arrefeceram quando o presidente chinês visitou sete ou oito países em mais ou menos 12 dias. Aí os nossos “especialistas” passaram a dizer que a nossa ação era insuficiente…
Uma agência de notícias publicou, a propósito, em fevereiro um excelente artigo comparativo entre as ações do Brasil e da China na África. Em suma, o Brasil ganha na empatia e no jeitinho (no bom sentido), mas perde de longe nos recursos investidos. E para quem nunca se deu ao trabalho de olhar, além do interesse comercial (a África seria hoje, tomada como país individual, o nosso quarto parceiro comercial, à frente do Japão e da Alemanha), o continente africano é um vizinho muito próximo com o qual temos interesses estratégicos. A distância do Recife ou de Natal a Dacar é menor que a dessas cidades a Porto Velho ou Rio Branco. Nossa zona marítima exclusiva praticamente toca aquela de Cabo Verde. Isso sem falar no enorme benefício que uma maior relação com o Brasil traria para a África, contribuindo para afastar a sombra do colonialismo renascente, agora movido não só por capitais, mas por tanques e helicópteros de combate.
Tive recentemente o privilégio de passar quatro semanas na Kennedy School of Government, em Harvard. Como já comentei em outro artigo, pude observar aí a preocupação (quase obsessão) com temas relacionados com a segurança, até certo ponto compreensível em um país envolvido em duas guerras (ou três, se incluirmos a Líbia, como devemos fazer) e perplexo diante das mudanças que têm ocorrido fora do script inicialmente traçado para a implantação da democracia de fora para dentro e por força das armas.
Houve também oportunidades para conversas sobre temas mais amenos, mas igualmente importantes, com professores provenientes dos mais diversos recantos do planeta. Uma delas foi com o queniano Calestou Juma, que ocupou cargos internacionais na área ambiental e que publicou há pouco um livro sobre agricultura africana. Juma completou seus estudos de doutorado no Brasil, em Piracicaba, atraído pela noção de que o nosso país é um modelo a ser seguido. Não sou técnico em temas agrícolas, mas pude relatar a Juma algumas de nossas iniciativas nesse campo, como o escritório da Embrapa, em Gana, e a experiência pioneira de uma fazenda-modelo de algodão no Mali, que visa a beneficiar alguns dos países mais pobres do mundo. Foi de Juma (a leitura de cujo CV na Wikipédia recomendo aos interessados em aprimorar nossa cooperação com os vizinhos de além-mar) que ouvi a melhor formulação do que o Brasil significa para as esperanças de desenvolvimento da África: “Para cada problema africano existe uma solução brasileira”. Se a nossa agência de cooperação estivesse em busca de um slogan, não haveria melhor. Pagando direito autoral, é claro.
A África sempre esteve no imaginário da política externa brasileira, embora nem sempre de forma coerente ou consequente. Durante a ditadura, o Brasil foi lento em dar apoio aos movimentos de libertação das antigas colônias portuguesas. Graças à visão de dois homens, Ovídio Melo e Italo Zappa, nos redimimos em parte desse pecado ao agirmos de forma pioneira e corajosa reconhecendo o governo do MPLA em Angola.
Na primeira viagem que fiz à Africa durante o governo Lula, visitei sete países, seguindo a orientação do presidente, mas instigado também por uma cobrança de minha mulher, que, ao me ouvir relatar iniciativas quanto à Venezuela, Mercosul etc., me interpelou: “E pela África vocês não estão fazendo nada?” Isso foi em abril de 2003, quando decidíamos nossas prioridades e refazíamos nossas agendas, dominadas então por temas impostos de fora, como a Alca.
Desde aquela primeira visita, observei a realidade que inspirou o título deste artigo: “A África tem sede de Brasil”. De Moçambique a Namíbia, de Gana a São Tomé e Príncipe, cada um a seu modo e de acordo com suas características e dimensões, veem no Brasil um modelo a ser seguido. Lula revelou-se o mais africano dos presidentes. Pediu perdão pelos crimes da escravidão, visitou mais de duas dezenas de países e abriu caminho para ações de cooperação e negócios. Essa determinação em não deixar que a África escapasse do radar das nossas prioridades provocou muitas críticas da nossa mídia ocidentocêntrica (o leitor perdoará o barbarismo), que só arrefeceram quando o presidente chinês visitou sete ou oito países em mais ou menos 12 dias. Aí os nossos “especialistas” passaram a dizer que a nossa ação era insuficiente…
Uma agência de notícias publicou, a propósito, em fevereiro um excelente artigo comparativo entre as ações do Brasil e da China na África. Em suma, o Brasil ganha na empatia e no jeitinho (no bom sentido), mas perde de longe nos recursos investidos. E para quem nunca se deu ao trabalho de olhar, além do interesse comercial (a África seria hoje, tomada como país individual, o nosso quarto parceiro comercial, à frente do Japão e da Alemanha), o continente africano é um vizinho muito próximo com o qual temos interesses estratégicos. A distância do Recife ou de Natal a Dacar é menor que a dessas cidades a Porto Velho ou Rio Branco. Nossa zona marítima exclusiva praticamente toca aquela de Cabo Verde. Isso sem falar no enorme benefício que uma maior relação com o Brasil traria para a África, contribuindo para afastar a sombra do colonialismo renascente, agora movido não só por capitais, mas por tanques e helicópteros de combate.
Tive recentemente o privilégio de passar quatro semanas na Kennedy School of Government, em Harvard. Como já comentei em outro artigo, pude observar aí a preocupação (quase obsessão) com temas relacionados com a segurança, até certo ponto compreensível em um país envolvido em duas guerras (ou três, se incluirmos a Líbia, como devemos fazer) e perplexo diante das mudanças que têm ocorrido fora do script inicialmente traçado para a implantação da democracia de fora para dentro e por força das armas.
Houve também oportunidades para conversas sobre temas mais amenos, mas igualmente importantes, com professores provenientes dos mais diversos recantos do planeta. Uma delas foi com o queniano Calestou Juma, que ocupou cargos internacionais na área ambiental e que publicou há pouco um livro sobre agricultura africana. Juma completou seus estudos de doutorado no Brasil, em Piracicaba, atraído pela noção de que o nosso país é um modelo a ser seguido. Não sou técnico em temas agrícolas, mas pude relatar a Juma algumas de nossas iniciativas nesse campo, como o escritório da Embrapa, em Gana, e a experiência pioneira de uma fazenda-modelo de algodão no Mali, que visa a beneficiar alguns dos países mais pobres do mundo. Foi de Juma (a leitura de cujo CV na Wikipédia recomendo aos interessados em aprimorar nossa cooperação com os vizinhos de além-mar) que ouvi a melhor formulação do que o Brasil significa para as esperanças de desenvolvimento da África: “Para cada problema africano existe uma solução brasileira”. Se a nossa agência de cooperação estivesse em busca de um slogan, não haveria melhor. Pagando direito autoral, é claro.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
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