29 maio 2012

REVISTA VEJA, ATÉ QUANDO?

A análise de Miguel do Rosário, no seu blog
O Cafezinho, resume muito bem, ao meu ver,
tudo o que saiu na mídia e na blogosfera a
respeito da "denúncia" de Gilmar Mendes
(ou Dantas?), segundo a qual teria sido
pressionado pelo ex-presidente Lula para
adiar o julgamento do caso do mensalão.
Leiam.

















Mídia e oposição tentam a última cartada

29/05/2012 22 COMENTÁRIOS
Tudo leva a crer que a acusação de Gilmar Mendes à Lula foi uma jogada ensaiada com a oposição e Veja. O Clube Nextel tenta a última cartada contra a CPI do Cachoeira. Algumas observações:
  1. Nos dias que antecederam a criação da CPI, a mídia brandiu ameaças pesadas, nada sutis, contra o governo. A relação da Veja com o esquema já tinha vazado, junto com trechos do relatório da Polícia Federal, o que, seguramente, deflagrou movimentos e contatos desesperados entre editores da revista e caciques da oposição.
  2. Gilmar Mendes, logo após o encontro com Lula e Nelson Jobim, correu para o encontro do presidente do DEM, Agripino Maia, conforme relatado por Moreno.
  3. Mendes disse que ficou “perplexo”. Jobim declarou que Lula saiu antes e Gilmar não comentou nada com ele.
  4. Em matéria do Estadão publicada hoje, encontro a seguinte declaração de um membro da oposição:“Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), o episódio desmoraliza os governistas na apuração do caso Cachoeira. “A CPI nascia contaminada e isso se confirma agora, com esse grau de ingerência. A maioria deve explicar se está disposta a seguir qualquer ordem de um ex-presidente”, provocou.”
Os jornalões desta quarta-feira amanheceram com sangue na boca. Os colunistas políticos compraram, sem hesitar, a versão de Mendes e usam todas as velhas artimanhas para pintá-la como verdade absoluta, a começar pela desqualificação de Nelson Jobim, cujas declarações, que desmentem a Veja, atrapalham sua estratégia. O simples bom senso de termos a opinião de dois, Jobim e Lula; contra um, Mendes, não parece valer nada.
A artilharia disparou unida, como uma tropa organizada:  Editorial do Estadão, editorialda Folha, coluna de Merval, de Cantanhede, de Helio Schwartsman, de Dora Kramer.
No entanto, ficam várias suspeitas no ar:
  1. Por que o Globo ocultou a versão de Jobim em sua edição impressa de segunda-feira?
  2. Por que exigiu a Moreno que escrevesse uma matéria reconstruindo o encontro com base em “rastros de conversa”, e publicou-a no lugar de outra, que tinha muito mais valor, em termos jornalísticos, na qual Jobim nega, com firmeza, a veracidade da denúncia publicada em Veja?
  3. Por que Mendes escolheu justamente a Veja, órgão enrolado com a CPI do Cachoeira, para fazer sua denúncia?
Voltamos à teoria ventilada no início do post. Tudo leva a crer a um plano ensaiado da oposição. Gilmar relata a conversa com Lula a Agripino Maia, e diz que poderia, distorcendo aqui e ali, transformá-la numa “tentativa de chantagem”.
Até o chargista do Globo entrou na guerra de informação:
Repare uma coisa. A charge traz um erro. Segundo Gilmar, foi ele quem bateu no joelho de Lula, não o contrário. A versão de Mendes, contada por Moreno, é que Lula teria dado um tapinha nas costas de Gilmar, que retribuiu com um tapinha no joelho do ex-presidente. No afã de agradar o patrão, Chico sequer pensou nesse detalhe.
Agora assistam à entrevista de Gilmar Mendes ao Jornal Nacional, que é um pouco diferente daquela feita à Globo News.  E totalmente diferente do teor da reportagem da Veja, que fala em chantagem bastante explícita do ex-presidente. Repare que Gilmar recua. Agora afirma que não houve nenhum pedido específico de Lula para adiar o mensalão.
Enfim, todos os fatos convergem para uma tentativa de Gilmar Mendes de se blindar contra possíveis revelações da CPI contra sua pessoa, visto que ele sempre foi muito ligado a Demóstenes Torres.
Na verdade, Mendes tem vários rabos aparecendo na CPI do Cachoeira. Em inúmeras gravações, Demóstenes Torres e Cachoeira citam Gilmar como seu aliado. Sem esquecer que Gilmar Mendes, quando presidente do STF, trouxe Jairo Martins, principal operador de Cachoeira, para dentro da instituição, contratando-o como seu “personal araponga”. E que foi o tal “grampo sem áudio” da conversa entre Mendes e Demóstenes, o causador de uma grave crise institucional que teve como consequência a demissão de Paulo Lacerda, um dos mais brilhantes policiais da história da república, da direção da ABIN, a central de inteligência do governo federal.
O que vemos hoje, de qualquer forma, é um fato muito triste. A grande mídia, assustada com a CPI do Cachoeira, a qual tenta sistematicamente desqualificar, decidiu apelar para o sentimento antilulista de um determinado setor social. Lança-se uma suspeita no ar, produzindo um clima de conspiração e irracionalidade. Tentemos trazer um pouco de oxigênio à essa loucura irrespirável:
  1. O que está em jogo agora é a CPI do Cachoeira, não o mensalão. Ela traz criminosos de verdade, bandidões cinco estrelas, com envolvimento de um senador, deputados federais, vereadores, procuradores, governadores, empresas de mídia e uma grande construtora. Este é o assunto da ordem do dia.
  2. O mensalão é um processo já terminado. A data está inclusive marcada. Não há possibilidade de adiamento. A denúncia de Gilmar só teria sentido se o adiamento (que aliás não seria nenhuma monstruosidade jurídica) estivesse em discussão. Os réus já apresentaram sua defesa, e agora espera-se apenas a decisão dos juízes. Não há mais nenhuma polêmica.
  3. A quem interessa desqualificar a CPI, e associar o seu ímpeto investigativo à tentativa de “vingança” contra a mídia, ou ao esforço de “melar o mensalão”? Resposta: o DEM, envolvido por causa de Demóstenes Torres; o PSDB, atolado no crime organizado em função das ligações do seu governador, Marconi Perillo, com o esquema; a Veja, cuja relação de longa data com Cachoeira e Demóstenes gerou pesadas suspeitas de que incorreu em crime de formação de quadrilha; outros órgãos de mídia que pactuavam e pactuam com a Veja.
O deliberado envenenamento do ambiente político é uma ação de cunho antidemocrático. Lembro que estudei isso nos livros do professor Wanderley Guilherme dos Santos, que tratavam das crises políticas dos tempos de de Vargas até a ditadura. A oposição, sempre que não conseguia conduzir o debate político da forma convencional, através de argumentos e disputa eleitoral, apelava para a desqualificação moral do adversário. É uma tática espúria que provavelmente existe desde o início da democracia no mundo. Hitler não queria debater política com seus adversários, então mandou incendiar a sede do parlamento (o Reichstag) e botar a culpa nos comunistas. É sempre mais fácil chamar o adversário político de “terrorista”, ou de “chantageador”, do que participar de um debate político transparente.
Com isso, não há discussão de políticas públicas, não há debate sobre as razões que levam o povo a preferir este ou aquele candidato, nada é dito acerca das mazelas sociais, e se passa ao largo da difícil guerra que precisa ser feita para a superação do subdesenvolvimento. Discute-se apenas se fulano é honesto ou não. O país inteiro fica a mercê das suspeitas sobre a idoneidade de Getúlio Vargas ou Lula. Quanto ao mérito das ações de seu governo, não se fala nada. É uma estratégia antiga, ultraconservadora, que visa paralisar ou atrasar as mudanças. A mídia, e não só a radiofusão, que é concessão pública, mas também a imprensa escrita, que recebe milhões de reais de verbas públicas através de publicidade institucional, promovem o empobrecimento do debate político e cultural do país, degradando a democracia e retardando o debate urgente sobre medidas urgentes que devemos tomar para superar o atraso econômico e social.
Só que desta vez a mídia perdeu o monopólio do debate público. E suas estratégias, que já foram desmascaradas por historiadores que estudaram os golpes e as tentativas de golpes de 1954 até hoje, hoje estão ainda mais em evidência em função da internet. Crises como essa, criadas por Gilmar Mendes e Veja, apenas servem para incendiar a revolta e a indignação de milhões de brasileiros que não aceitam ver seu sonho, mais uma vez, ser interrompido. Ainda mais por esta verdadeira máfia política, um monstro híbrido, multicéfalo, comandado por setores golpistas e inescrupulosos da mídia, lideranças políticas conservadoras, membros corruptos do Judiciário, e chefões do crime organizado.
Eles venceram em outros momentos; desta vez, no pasarán. Ou como diria Quintana, traduzindo a engenhosidade e o sentimento com que os artistas (e os povos) se libertam de seus tiranos e abrem sua asas, ganhando a história:
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!










26 maio 2012

POLÍTICA

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica
e corrupta formará um público tão vil como ela mesma"


Joseph Pulitzer, jornalista (10.04.1847/29.10.1911)









Que diria Tucídides?



Por Mino Carta, na Revista CartaCapital


Pensadores de alentado calibre ao analisar a crise econômica mundial sustentam que o próprio capitalismo está em xeque. Trata-se, se bem entendo, de um monumental fenômeno de autofagia, algo assim como o neoliberalismo a deglutir o liberalismo nascido da Revolução Industrial inglesa e da Revolução Francesa, e codificado por Adam Smith. Pergunto aos meus perplexos botões se algo mais não estaria em xeque, de certa forma maior. A própria democracia, na sua concepção tradicional.
A Guerra do Peloponeso. Se Atenas chorou, Esparta não riu
Sem precisar de lupa, o que vemos? Vemos o nosso mundinho dominado por oligarquias financeiras cujo peso específico se tem provado muito superior àquele dos governos de Estado. Amparados pelo terrorismo das agências de rating, os autores da valorização da produção de puro dinheiro em detrimento da produção de bens e serviços, assenhoream-se do destino da população global, crescente e cada vez mais desigual.
Onde fica a vetusta ideia de democracia, aquela sonhada pelos iluministas e pelos pais fundadores americanos? E até posta em prática em certos países e em certos momentos de forma quase satisfatória. Tomados de singular melancolia, os botões ousam evocar a Guerra do Peloponeso, travada entre a culta Atenas e a tosca Esparta. Vitória espartana, mas se Atenas chorou, Esparta não riu. Há quem saiba da história pela pena de Tucídides, um dos primeiros historiadores, se não o primeiro, a entender que inúmeros eventos podem ser previstos a partir da correta análise das circunstâncias que os precedem.
Hipócrates foi outro pioneiro grego que soube dar importância aos sintomas para antever o rumo das doenças. Assim como me refiro à outra Grécia, é de se excluir que meus botões possam concorrer com Tucídides. Forçoso é reconhecer, porém, que a humanidade corre seríssimos riscos em uma situação de tamanha incerteza. O confronto entre Atenas e Esparta era inevitável há tempo quando enfim se deu, tempo muito mais lento do que o atual, este sincopado e às vezes frenético.
Desde o imediato pós-guerra, aquele do segundo conflito mundial, a ameaça de um confronto armado pairou sobre nós, embora o período inicial seja caracterizado pelos notáveis progressos de várias economias nacionais. Meu pai veio ao Brasil em 1946 munido de família na certeza de que uma possível, ou mesmo provável, terceira guerra mundial pouparia seus filhos, protegidos pela imensidão e pelo distanciamento da nova terra. Era o presságio de um ciclone cuja eventual fatalidade induziu os impérios do Leste e do Oeste a ficarem dentro dos limites de uma guerra fria. Substituída, isto sim, pelo pipocar constante dos conflitos regionais sem o risco extremo do flagelo atômico.
O império soviético ruiu há mais de 20 anos juntamente com o Muro de Berlim. Por ora o muro da fatídica street nova-iorquina resiste, mas a crise provocada pelos adoradores do deus mercado não encontra solução, mesmo porque os oligarcas financeiros continuam a ditar as regras do jogo e a impor sua vontade a quem haveria de combatê-la e dobrá-la. Neste exato instante, os efeitos da crise alcançam o Brasil, a despeito de tantos fatores que o mantiveram distante do epicentro do sismo. O globo encolheu, no entanto, e o tempo encurtou. Capitalismo e democracia em xeque, o Ocidente vive uma quadra especialmente brumosa.
A China cresce, enquanto isso, à sombra do contubérnio da ditadura com o capitalismo e se torna credora das dívidas do mundo, a começar por aquelas do ex-império ocidental. Que diria Tucídides disso tudo? Quais sintomas colheria nas circunstâncias para abalar-se a uma previsão sem arvorar-se a oráculo? Quais exemplos históricos de situações conturbadas apontaria para apoiar seu exercício de mensageiro do futuro? Receio que suas conclusões nos deixariam inquietos, talvez os antigos receios de meu pai estejam a ganhar sentido. Situações tão nebulosas nunca dispensaram desfechos violentos. É verdade, meu tempo passou. Penso nos meus netos. E até nos bisnetos.









A tensão paira sobre o baronato da mídia






Roberto Amaral, na Revista CartaCapital 





A esmagadora maioria da mídia foi a favor do golpe de 1964, a mesma mídia que agora age em bloco para defender Roberto Civita.
O baronato  das comunicações anda tenso, preocupado. É fácil de perceber um certo nervosismo apenas folheando as revistas e os jornalões, pelo que dizem e pelos grandes espaços de silêncio. Assusta-os a CPI do Cachoeira, porque já revelou as relações pelo menos perigosas entre a grande imprensa e o crime organizado – a ponto de interferir (ditando linhas de  ‘investigação’) na pauta de uma grande revista semanal. Ou, dito de outra forma, sem amenizar a gravidade dos fatos, sabe-se que muitas reportagens “investigativas” foram levadas a cabo para atender a interesses nada republicanos de um criminoso hoje na cadeia e à espera de processo e julgamento. Na bacia das almas, empresas e meliante (também ele empresário…) já entregaram aos leões o Catão do Serrado, do qual se serviram para defender interesses indefensáveis, e atacar os adversários de sempre. O grande paladino da moral e dos bons costumes enquanto no Senado e nas folhas brandia a espada na luta cívica contra a corrupção, nos desvãos da Esplanada (nela incluídos tribunais superiores), advogava os negócios do crime, em uma malha tão profunda que talvez jamais venha a ser de todo destrinchada.
Seja por isso, seja por aquilo, as grandes empresas de comunicação olham de lado, desconfiadas, para a CPMI. Contestam como insinceros os motivos de sua convocação e anunciam todo santo dia, como se estivessem fazendo uma denúncia, mas na verdade exprimindo um desejo, o inevitável fracasso dela. Acham normalíssimo o procurador geral da República, beneficiando criminosos, quedar-se três anos com um inquérito em sua gaveta, e o aplaudem por se negar a comparecer à comissão para prestar os esclarecimentos que deve ao país. Mas seus donos ficam eriçados, orelhas em pé, pelo arrepiado, garras expostas, quando deputados “insolentes” (e logo acusados de estar a serviço dos “mensaleiros”) pretendem ouvir, não o poderoso Cidadão Kane, mas o simples preposto que fazia a intermediação entre o crime e a revistona.
Por práticas similares, o grande Ruppert Murdoch teve de prestar satisfações ao parlamento britânico, e ninguém, nenhum jornal, nem lá nem aqui, arguiu ofensa à liberdade de imprensa. Aqui é tamanho o incômodo que Roberto Civita foi brindado com editorial de um grande matutino de empresa “concorrente”, no qual se afirma que ele não é Murdoch. E não é mesmo! Jornalista estrangeiro especialista em “ligações perigosas” é chamado para falar em seminário e explica que não há nada de mais repórter e fonte criminosa andarem conluiados.
A inquietação também ocorre relativamente à Comissão da Verdade, finalmente instalada. No dia mesmo da solenidade no Palácio do Planalto os editoriais clamavam contra os “riscos de revanchismo”, e os mais audaciosos já defendiam a “bilateralidade da apuração”, ou seja, “a investigação de atos praticados por grupos de esquerda que se opuseram ao regime militar”. Outros, estão preocupadíssimos em assegurar-se de  que não haverá punições. Quer saber a grande imprensa se o Ministério Público pode utilizar os resultados das investigações para tentar condenar militares (absoluta indiferença relativamente aos criminosos civis) “que cometeram violações”. No Globo do dia 17, o coronel da reserva João Batista Fagundes, representante das Forças Armadas na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, é chamado a falar:
“A Comissão da Verdade é oportuna mas não pode se enveredar pela questão criminal dos agentes do passado. A Lei da Anistia está em vigência e a própria lei que criou a comissão não prevê condenações. No meio das Forças Armadas, o receio é que se abram processos já albergados sob o pálio refletor da anistia.”
Em editorial do dia 12, o mesmo jornal afirma que “a escolha de nomes acima de qualquer suspeita para a Comissão da verdade”(…) ‘…serve de garantia de que a Comissão não extrapolará os limites da Lei da Anistia, já referendada pelo Supremo”.
Esses temores e esses condicionantes  talvez expliquem tanto a demora na aprovação da lei (ora, já lá se vão 27 anos desde quando o último general presidente deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos!), quanto a demora na escolha (elogiada por gregos e troianos) de seus integrantes. Não podendo impedir a apuração (mas tendo podido nesse longo período destruir documentação e provas) busca-se limitar ao máximo o alcance da Comissão. O intuito declarado de impedir o eficaz funcionamento da Comissão já ficara claro quando o legislador estipulou o período de apurações começando em 1946, misturando democracia com ditadura, e alargando o objeto propositalmente, na expectativa de que assim tão amplo ele se tornasse inalcançável, donde, apuração nenhuma.
O que a nação deseja e quer é conhecer os crimes praticados pelo regime militar, e esses crimes começam com a própria ruptura democrática de primeiro de abril de 1964. Naquele momento as Forças Armadas, que como instituição existem para garantir a integridade territorial, a soberania nacional e a segurança de nosso povo, aquele que paga seus salários, soldos e tudo o mais, traíram seu chefe supremo, rasgaram a Constituição e deram início a uma escalada de arbítrios que surrupiou pela violência centenas de mandatos eletivos, milhares de empregos, cortou carreiras profissionais, sepultou esperanças, exilou e desterrou brasileiros, suprimiu a liberdade física de milhares de cidadãos e transformou em letra morta direitos e garantias individuais, a começar pelo direito à expressão livre, e impôs a indignidade da censura prévia, até de livros científicos. Tudo o mais que a história contará é mera consequência. Devem elas, sim, pelo que fizeram, um pedido público de desculpas à Nação, para voltarem a desfrutar do respeito que merecem pelo exercício das suas nobres funções. Estará assim, aberto o caminho para a superação de desconfianças mútuas que ainda estão a toldar, pelo silêncio-tabu, o congraçamento entre civis e militares.
Tudo será possível, menos censurar a História, menos reescrevê-la, menos adulterá-la, pois o tempo, sempre, trará a lume a verdade. Assim, também se contará a História, a aliança entre empresários da comunicação, políticos e militares na preparação do golpe. A história também contará o papel de uma imprensa que, com raríssimas exceções, participou da conspiração, defendeu o golpe e os atos tenebrosos que  ele desencadeou, até se ver diante da inevitabilidade de aderir ao irresistível movimento de massas pela democracia que tomou impulso a partir de 1974. Mas isso foi opção ideológica e não passará pela peneira da Comissão.
A palavra final, porém,  não será dada nem pelo governo, nem pela imprensa, nem pelos militares, mas pela sociedade, apesar da imprensa. Se a sociedade cruzar os braços, der-se por satisfeita com a simples constituição da Comissão, pouca esperança teremos de resultados satisfatórios. Esta é a hora de as organizações civis voltarem à liça, reaglutinarem-se os perseguidos, os torturados e as famílias dos assassinados. Da força de sua demanda dependerá a profundidade do que será esclarecido.













Delta e capital político






Maurício Dias, na Revista CartaCapital



O mundo se curva. A confraternização carioca em Paris. Foto: Divulgação
O empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, é a prova mais recente de sucesso empresarial rápido. Esse êxito, com a velocidade alcançada, não depende somente da competência e da capacidade profissional do empresário. Exige, como regra básica, acumulação de capital político.
Cavendish representa a segunda geração da empresa formada pelo pai dele, Inaldo Soares, em Pernambuco, em 1961. A Delta, sem maiores ambições, cuidava essencialmente de conservação e restauração de estradas no Nordeste.
Tudo começou a mudar em 1995, quando a pequena empreiteira “passou por uma reformulação estratégica”, como registra a história oficial da empresa, e transferiu a matriz para o Rio de Janeiro. Com o jovem Cavendish à frente, a Delta começou a escalada fulminante, já agora apoiada nas boas relações políticas entabuladas com os governos estaduais de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, expandida para o plano federal, no governo Lula. Dilma é a herdeira desse processo. Cabral foi o articulador da aproximação de Cavendish com Lula.

Assim, em um piscar de olhos, a Delta chegou ao patamar de hoje: 4 bilhões de reais em obras programadas. A construtora abriu espaço onde não havia mais espaço e, finalmente, desmoronou com os alicerces abalados pelas revelações do caso Carlinhos Cachoeira.
Diante disso, o governo Dilma precisava encontrar uma saída. Não para a Delta, mas para o próprio governo. Era preciso manter o cronograma do trabalho, a cargo da empreiteira, ameaçado de paralisação: 3 bilhões em obras federais (mais de 90% do PAC) e 1 bilhão em obras no estado do Rio.
Não era possível encontrar a tempo uma construtora confiável ao governo. Era preciso garantir a continuidade das obras. Assim, a JBS, uma das maiores empresas de proteína animal no mundo, entrou no ramo das empreiteiras. Faz o papel de “barriga de aluguel”.
Parece claro que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles foi o elo. Sabe-se que um dos sócios dessa empresa, Wesley Batista, tem interesse político-eleitoral em Goiás, onde Meirelles registrou sua filiação inicialmente ao PSDB e, posteriormente, ao PMDB.
O governo em momento algum diz que não patrocinou a solução, assim como não nega que não patrocinou. O BNDES, observe-se é o maior acionista da JBS.
Não se pode usar o bordão criado por Lula – “Nunca antes na história desse país …” – ao se falar da importância do sistema de acumulação de capital político no Brasil. Um ligeiro painel dos últimos 60 anos, pós-Estado Novo (1945), mostra, inclusive, que as relações já foram mais promíscuas. Sem qualquer restrição pública mamava-se à luz do dia nas “tetas da viúva”, para usar uma expressão de resignada ironia.
O Ministério da Fazenda era domínio empresarial e fornecia os ministros. Alguns exemplos: Gastão Vidigal (Dutra); Horácio Lafer (Getúlio); Sebastião Paes de Almeida (JK): Clemente Mariani (Jânio) e Walter Moreira Salles (Jango). No presidencialismo, Jango optou pelos técnicos, mas não abandonou os empresários. Tião Maia e José Ermirio de Moraes eram próximos do presidente. Essa regra contaminou a ditadura. Assim, os técnicos assumiram a Fazenda, encerrando o ciclo da preeminência direta dos empresários.
Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula mantiveram a escolha técnica. Sarney tinha predileção por Matias Machline e FHC pela banca. O capital financeiro norteou sua política. Não por acaso, os economistas tucanos que serviam ao governo viraram banqueiros.


























Ao Povo o que é do Povo






Mauro Santayana, no JBOnline 







As tentativas de apaziguamento e de acordos discretos não reduziram o medo, quase pânico, que sacode as glândulas de numerosos homens públicos. A miniaturização dos processos de captação de voz e de imagem torna qualquer conversa um risco. Muitos deles começam a buscar, na memória, frases ditas sem cuidados e sem malícia, pelo telefone, ou pessoalmente, a pessoas de pouca confiança. Teme-se, e com alguma razão, que a manipulação dos registros de voz torne qualquer conversa um libelo. Não obstante o medo, e, provavelmente, o surgimento de suspeitas infundadas contra homens honrados, o vendaval será saudável.


Há décadas que o público e o privado se tornaram uma coisa só, na vida brasileira. Apesar da luta permanente de inúmeros representantes do povo, nas casas parlamentares e no poder executivo, e de magistrados de lisura incontestável, contra o assalto ao bem comum,  todos os poderes republicanos se encontram infestados, principalmente a partir do desmonte do Estado, pelo neoliberalismo. Para que isso fosse possível, mudaram-se as leis, para que tudo fosse permitido em favor do mercado, até mesmo a entrega dos bens nacionais aos aventureiros.


Embora em casos isolados, comprovou-se também a canalhice de juízes vendedores de sentenças, quando não cúmplices de superfaturamento de obras do Poder Judiciário, como ocorreu com conhecido magistrado trabalhista de São Paulo. Os juízes podem errar, e erram, mas os seus votos não podem submeter-se a outra instância que não seja a da reta consciência.

A mais grave infecção é a que afeta o Poder Legislativo. Ainda que, no imaginário popular, o mais alto poder se localize na Presidência da República, ele está no Congresso Nacional. O Congresso é, em sua missão republicana,  o povo reunido, para ditar as leis, fiscalizar seu cumprimento pelo poder executivo, e decidir, com o seu consentimento, a formação do mais alto tribunal da República, encarregado de assegurar o cumprimento dos preceitos constitucionais, o STF. Os vícios de nossos ritos  eleitorais comprometem a composição das casas parlamentares. Não são os partidos que formam as bancadas, mas, sim, os interesses corporativos, e até mesmo as associações de celerados. Como estamos comprovando, o crime organizado também envia aos parlamentos os seus representantes.


Enganam-se os que supõem ser possível domar a Comissão; ela vacila nessas primeiras horas, mas isso não indica  claudicação duradoura. Há alguns meses, neste mesmo espaço,  lembramos que um poder adormecido começa a despertar, aqui e no mundo: o poder dos cidadãos.


A tecnologia trouxe muitos males, mas também a ágora para dentro de casa. E a consciência da responsabilidade de cada um faz com que as praças do mundo inteiro se tornem a ágora comum, para a afirmação de uma humanidade que parecia perdida. A Grécia volta a ser o exemplo da razão política, que deve prevalecer sobre o que Viviane Forester chamou de “l’horreur économique”. O povo grego está vencendo, com seu destemor, a poderosa coligação de banqueiros, sob a proteção da Alemanha, e se recusando a pagar, com o desemprego e a miséria, a crise atual do capitalismo predador.


A ação investigatória, entre nós,  não pode conduzir-se pela insensatez das caças às bruxas, nem os protestos dos cidadãos serem manipulados pelo poder econômico. Não estamos mais no tempo das fogueiras, mas na civilização dos direitos fundamentais do homem. Toda punição  aos culpados, se a culpa for estabelecida, terá que obedecer aos mandamentos da lei, com o pleno direito de defesa. E, confirmado o peculato, os valores desviados devem ser devolvidos ao Tesouro.


Os principais envolvidos nas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público estão sendo assistidos por advogados caros e reputados como competentes. Eles cumprem o seu dever, definido por uma carta famosa de Ruy Barbosa a Evaristo de Moraes: qualquer réu tem o direito de defesa, e seu advogado deve empregar todo seu conhecimento e toda sua inteligência no cumprimento do mandato.


Sem o furor dos savanarolas, mas com o rigor da lei e da justiça, a CPI e, em seguida, o Poder Judiciário, são chamados a restabelecer a ordem do estado republicano e democrático, que se fundamenta na administração transparente dos bens comuns, no benefício de todos.  É hora de reconstruir o Estado e, assim,  devolver ao povo o que só ao povo pertence.







SOCIEDADE/POLÍTICA/EDUCAÇÃO/FUTEBOL

COMO ENCARAR UMA GREVE?



A pigarra tucana



Saul Leblon, no Blog das Frases

 
É um velho truque do conservadorismo brasileiro reiterado ao longo da história: quando a raiz dos problemas repousa nas entranhas de seu aparelho administrativo ou no descaso histórico com as prioridades da população, desfralde-se a bandeira udenista da sabotagem perpetrada por 'agitadores'. 

A lenga-lenga exala naftalina e remete ao linguajar pré-golpe de 64, mas encontra em São Paulo 71 quilômetros de motivações para ser ressuscitada com regularidade suíça pela pigarra do PSDB. Nessa rede escandalosamente saturada e curta do metrô --inferior a da cidade do México, por exemplo, com 200 kms-- os registros de panes, acidentes e interrupções tem exibido frequência preocupante: só este ano foram 143 ocorrências, 33 delas sérias. 

Nesta 4ª feira, a pigarra conservadora aproveitou a greve salarial dos metroviários para isentar a gestão temerária por trás dos transtornos renitentes. A narrativa é a de um 'jornal da tosse'; gargantas raspando pastilhas Walda emitem denúncias de sabotagem e insinuam 'incêndios do Reichstag' de olho nas eleições municipais. Agitadores conturbam o ambiente da metrópole; não fosse isso, os serviços públicos tucans deslizariam no azeite fino de oliva. 

O ' jornal da tosse' por definição é pouco informativo: faltam-lhe pernas para driblar números adversos. Em 2011, o governador Alckmin investiu R$ 1,2 bi dos R$ 4,5 bilhões previstos para a expansão do metrô e não deixou por menos na ponta ferroviária: as compras de trens caíram à metade.No conjunto do sistema o recuo do investimento foi da ordem de 20% sobre 2010. A média tucana de  expansão dos trilhos tem sido de 2,35 kms/ano. Significa que nas mãos do PSDB a rede precisará de cinco décadas para se equiparar a do México.Até lá as gerações de paulistanos terão a oportunidade de vivenciar o sentido da expressão 'sardinha enlatada', com todos os riscos que a lata encerra. 

O 'jornal da tosse' passa ao largo dessas miunças que fazem do metrô de São Paulo o sistema de transporte mais saturado do mundo, com 11,5 milhões de passageiros/por km. Seu forte é a frase lacerdista. Com a palavra, um virtuose na arte, o comentarista da tosse José Serra, que limpa a garganta, ajeita a gengivite e sapeca: "É muito fácil hoje você paralisar o funcionamento de uma linha qualquer. Uma gravata, uma blusa na porta de uma vagão pode provocar [a paralisação]", disse o ex-governador e pré-candidato do conservadorismo ao comando da capital paulista. "Não digo que todas [as ocorrências) foram sabotagem, mas que algumas delas -- com certeza-- têm a ver com isso".( UOL 23-05).

Depois, com uma tossinha matreira o governador Geraldo Alckmin emenda: ' "Ano passado não teve eleição, nem nenhuma greve, este ano tem (eleição e greve). Será que é só coincidência?"(UOL, 23-05). 

O 'jornal da tosse' tem uma visão de mundo que o dispensa de atualizar o noticiário. Em setembro de 2010, em plena eleição presidencial, o metrô de São Paulo registrou uma megapane, seguida de protestos com 17 composições apedrejadas. A pigarra tucana emoldurou então a voz do governador em exercício Alberto Goldman, que não perdoou: 'Puseram uma blusa na porta de um vagão paralisando o sistema;isso cheira a sabotagem'. 

Dias depois, perícia do Instituto de Criminalística comprovou que a pane fora causada pelo colapso técnico do metrô paulistano. 'Mas a blusa estava lá', deu de ombros o pigarrento Goldman. Justiça seja feita, a narrativa tucana tem feito esforços de renovação. Soninha Francine, do PPS, incorporou-se à bancada da tosse desde o episódio de 2010, quando era chefe de campanha de Serra na Internet e comentou assim,pelo twitter, o acidente que deixou 250 mil pessoas a pé: "“Metrô de Spaulo tem problemas na proporção direta da proximidade com a eleição. Coincidência? #SABOTAGEM #valetudo #medo”.

Bela pigarreada, Soninha. No engavetamento do último dia 16 , quando duas composições colidiram numa pane do comando automático, ela reafirmou a disposição de injetar ar fresco no script udenista e dedilhou toda faceira no twitter: "Metrô caótico, é? Não fosse pela TV e o Twitter, nem saberia. Peguei linha verde e amarela; sussa". Convenhamos, 'sussa', num acidente com 143 feridos é uma pérola. A Soninha achou o tom da coisa: conservadorismo fantasiado de Vila Madalena. Essa pigarra leva jeito.



Greve expõe problemas no processo de
expansão do ensino superior



Brasília - A greve deflagrada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), na quinta (17) passada, segue forte, com adesão crescente. Já são 42 universidades paradas, além de dois institutos e de um centro de formação técnica. Duas outras instituições já oficializaram ingresso no movimento a partir da próxima segunda. Os servidores técnicos-administrativos discutem a adesão e assembleias estudantis representativas, em todo o país, referendam o processo. Cenário raro em tempos de desmobilização do movimento sindical. 

Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande (UFRG), Billy Graeff, membro do Comando Nacional de Greve do Andes-SN, a surpreendente mobilização se ancora no fato de que esta é uma greve atípica, centrada não na luta mais imediata da categoria por reajuste salarial, mas em questões conjunturais que afetam o conjunto da comunidade acadêmica. E, consequentemente, o projeto de oferta de um ensino público de qualidade no país.

A pauta de reivindicações da categoria está centrada em dois pontos principais: a reestruturação da carreira docente, considerada pouco atraente e funcional há décadas, e a melhoria nas condições de trabalho. 

A primeira, segundo o Sindicato, já havia sido negociada com o governo, para ser implantada até o final de março deste ano, junto ao reajuste de 4%, acordado em 2010. O reajuste saiu, por meio de medida provisória enviada ao congresso pela presidenta Dilma Rousseff em 14 de maio, mas a reestruturação da carreira permaneceu pendente. “Nós estamos negociando desde agosto de 2010, mas o governo se mostra intransigente frente às nossas reivindicações”, justifica. 

A segunda decorre de uma insatisfação latente da categoria, compartilhada com estudantes e servidores técnicos-administrativos. “Os professores não suportam mais esses anos de expansão universitária irresponsável”, afirma o professor. Ele se refere ao programa de expansão universitária iniciado durante o governo Lula, o Reuni, mais efetivamente entre 2006 e 2008. Segundo o professor, aumentou-se o número de alunos matriculados nas universidades, sem a devida contrapartida em contratação de pessoal e ampliação da infraestrutura.

“Estamos preparando um dossiê da precarização para mostrar a verdadeira face do Reuni”, conta Billy. Conforme ele, os problemas são inúmeros, principalmente nos campi novos e nos cursos recém implantados. Faltam professores, laboratórios, bibliotecas, restaurantes universitários, casas do estudante e até banheiros. “Estamos levantando também a qualidade dos prédios recém construídos e os problemas ambientais decorrentes dessas obras. As denúncias são alarmantes”, antecipa. 

Em entrevista coletiva nesta quarta (23), o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que todos os acordos firmados em 2011 com os professores universitários da rede federal foram cumpridos pelo governo. Segundo ele, a negociação referente à reestruturação da carreira é para 2013 e ainda está aberta. E acrescentou que há tempo até 31 agosto para enviar a proposta para a aprovação do orçamento no Congresso. “A greve faz parte da democracia, mas quando se faz um acordo e o governo cumpre, não consigo ver razões e necessidade de uma greve. Não há qualquer prejuízo material para os docentes”, esclareceu. 

O ministro acrescentou que uma paralisação, neste momento, não contribui para o esforço que o Brasil faz para desenvolver o ensino superior. “São 220 mil novas vagas, 14 universidades e 132 novos campi para dar suporte a esse 1 milhão de matrículas. Desde 2005, investimos R$ 8,4 bilhões na reestruturação da rede federal. Somente em 2012, o investimento é de R$ 1,4 bilhão. Temos 3.427 obras”, anunciou. 

Expectativas
No próximo dia 28, os professores realizam nova reunião com o governo para tentar solucionar o impasse. 

No dia 5/6, outras categorias de servidores públicos federais se juntam aos professores para realizar uma marcha à Brasília. Após o protesto, realizarão plenária unificada em que será discutida a possibilidade de paralisação de novas categorias, a partir de 11/6. 

Os servidores públicos defendem pautas específicas, mas também uma com eixos comuns, como a definição da data-base em 1° de maio; política salarial permanente com reposição inflacionária e reajuste linear em 22,08% (referente a soma da inflação de maio de 2010 e maio de 2012 e a variação do PIB neste mesmo período); e valorização do salário base e incorporação das gratificações.

Os servidores reivindicam, também, a retirada do Congresso dos projetos de lei e medidas provisórias que, conforme análise das categorias, ferem direitos conquistados pelos trabalhadores.



Fonte: www.cartamaior.com.br 




DIREITOS HUMANOS


(Brasil, te cuida!)


Anistia Internacional critica governos que
não respondem às demandas sociais


Marcelo Justo - De Londres
Londres - Em meio à crise econômica e política no mundo árabe e na União Europeia o informe anual da Anistia Internacional criticou duramente os governos por sua falta de resposta às demandas sociais. “De Nova York e Moscou a Londres e Atenas, de Dakar e Kampala a La Paz e Cuernavaca, de Phom Penh a Toquio, as pessoas saíram às ruas. Foi patente o contraste entre a valentia dos que exigem direitos e a incapacidade dos líderes para responder com medidas concretas”, assinalou o secretário geral da Anistia Internacional Salil Shetty”.

O informe global 2012 da organização de direitos humanos com sede em Londres envolve desde as rebeliões que sacudiram o mundo árabe a partir da imolação de um vendedor ambulante tunisiano no início do ano passado até as manifestações contra os programas de austeridade que sacodem o mundo desenvolvido. “A crise econômica expôs uma ruptura do pacto social entre o governo e a cidadania. No melhor dos casos, os governos se mostraram indiferentes. Muitas vezes só se preocuparam em proteger os poderosos”, destacou Shetty.

No mundo árabe esse pacto social era uma quimera que só começou a aparecer com o começo da rebelião. “A resposta dos governos à Primavera Árabe foi brutal e o Ocidente se preocupou mais em manter o status quo do que em promover a democracia, tudo agravado por uma retórica crescentemente xenófoba da União Europeia ante o considerável número de refugiados que começaram a chegar do norte da África. Hoje a Primavera Árabe está se convertendo em muitos aspectos em um inverno”, disse à Carta Maior Javier Zuñiga, assessor do secretário geral da Anistia Internacional.

O Egito é um caso paradigmático. Divulgado no mesmo dia das eleições presidenciais nesse país, o informe assinala que os ideais revolucionários estão em perigo. O Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o poder após a queda de Hosni Mubarak, com a promessa de dirigir a transição, processou ou levou aos tribunais mais de 12 mil civis, muito mais do que ocorreu durante os 30 anos do governo de Mubarak.

As mulheres foram especialmente afetadas. Em março de 2011, as forças de segurança obrigaram um grupo de detidas em uma manifestação a submeter-se a “provas de virgindade”. A Anistia Internacional destaca que um tribunal administrativo egípcio determinou que tais provas não tinham valor legal, mas quando a organização pediu aos partidos políticos que se comprometessem a proteger princípios básicos de direitos humanos, os dois partidos que obtiveram a maioria dos votos nas eleições parlamentares se negaram a fazê-lo. O Partido da Liberdade e da Justiça, da Irmandade Muçulmana, que conseguiu 235 cadeiras (47%), não respondeu à petição e o partido salafista Al Nur, que ficou em segundo lugar com 121 cadeiras (24%), negou-se a promover os direitos das mulheres ou a abolição da pena de morte.

Austeridade, multinacionais e direitos humanos
A Anistia Internacional é igualmente dura com os países desenvolvidos e sua resposta à crise econômica. Coerente com a extensão feita do conceito de direitos humanos para o campo econômico e social, em seu informe de 2009, a Anistia critica “as políticas internas que levaram à persistente crise econômica e a uma grande tolerância com a desigualdade”. Os protestos na Europa e na América do Norte mostraram que “as pessoas perderam a fé nos governos que desprezaram várias vezes a prestação de contas, a justiça e a promoção da igualdade”. Esta crescente deslegitimação teve um claro impacto político: desde o início da crise da dívida, 16 países dos 27 que formam a União Europeia mudaram de governo.

Dada a profundidade da crise, a legitimidade dos novos governos não dura muito e diminui ainda mais com a repressão policial dos protestos. “Na Grécia, a polícia utilizou reiteradamente força excessiva e fez amplo uso de produtos químicos contra pessoas que protestavam pacificamente. Na Espanha, houve um uso excessivo da força contra manifestações que pediam mudanças políticas, econômicas e de política social”, assinala o secretário geral da Anistia Internacional.

Este “singular fracasso da liderança nacional e internacional” é também evidente, segundo o informe, no crescente poder das multinacionais para evitar toda regulação e obter benefícios a custa das comunidades locais. “Desde a Shell, no delta do Níger, até a Vedanta Resources, em Orissa, Índia, os governos não garantem que, minimamente, as empresas respeitem os direitos humanos. Em muitos países, centenas de milhares de pessoas são alvo de remoção forçada quando chegam as empresas mineradoras e reclamam as terras onde há recursos naturais”, diz ainda o secretário geral Salil Shetty. 

A Anistia elogia o papel das novas tecnologias na democratização, mas critica muitas de suas empresas. “Ficou demonstrado que empresas que, aparentemente, se dedicam à expressão e ao intercâmbio de opiniões (e se beneficiam disso), como Facebook, Google, Microsoft, Twitter, Vodafone e Yahoo, estão colaborando na promoção de violações de direitos humanos”, acrescenta o secretário geral.

Sobre a América Latina, a Anistia Internacional destaca que a demanda por direitos humanos foi ouvida por toda a região durante 2011: nos tribunais nacionais, no sistema interamericano e nas ruas. “As petições de justiça realizadas por cidadãos individuais, defensores e defensoras dos direitos humanos, organizações da sociedade civil e povos indígenas seguiram ganhando força e, frequentemente, foram encaminhadas por setores que realizavam enfrentamento direito com poderosos interesses econômicos e políticos”, diz Shetty.

Os contextos políticos mais dramáticos dessas mobilizações se deram com os massacres promovidos pelo narcotráfico no México (mais de 12 mil mortes no ano passado) ou pelo conflito armado na Colômbia. No caso do Brasil, o elevado índice de criminalidade violenta e as práticas das forças de segurança foram os pontos mais ressaltados pela Anistia que destacou que o atentado contra a juíza Patricia Acioli “mostra o alcance e a confiança com que operam as milícias”. A isso, soma-se a expulsão, frequentemente violenta, de grupos indígenas de suas terras tanto no Brasil, como na Colômbia, Guatemala ou México. “Às vezes multinacionais, outras vezes grupos nacionais, iniciam explorações petroleiras, mineiras ou de recursos florestais sem respeitar os direitos indígenas e das comunidades que vivem no lugar”, disse Javier Zuñiga à Carta Maior. 

Uma nova oportunidade
Segundo a Anistia, os governos terão uma nova oportunidade, em julho de 2012, de reverter essa situação e mostrar uma nova liderança quando se reunirem para acordar o texto definitivo do tratado para o comércio de armas. “Um tratado sólido impediria a transferência internacional de todo tipo de armas convencionais, incluindo as armas pequenas, armas leves, munição e componentes-chave, para países onde exista um risco provável de que sejam utilizadas para cometer graves violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos. Para atingir esse objetivo, o tratado exigiria que os governos realizassem uma rigorosa avaliação do risco para os direitos humanos antes de conceder uma licença de exportação de armas”, assinala Sajil.

No informe, a Anistia é cética. Em 2010, pelo menos 70% do total das exportações importantes de armas corresponderam aos seguintes países: Estados Unidos (30%), Rússia (23%), França (8%), Reino Unido (4%) e China (3%). “ Em todo o mundo, o fluxo irresponsável de armas procedentes destes cinco países causou inúmeras mortes de civis e outras graves violações dos direitos humanos e das leis da guerra”, enfatizou o secretário geral da organização Salil Shetty.

Tradução: Katarina Peixoto


Fonte: www.cartamaior.com.br




FUTEBOL E POLÍTICA

         UMA CRÔNICA


A VITÓRIA DA GILETE


Antigamente eles tinham barba. 

Quando falo “antigamente”, não quero dizer pré-história. E quando falo “eles”, não quero dizer australopitecos.

Quero dizer umas décadas atrás e jogadores de futebol.

Você que é dos tempos d.c, depois do computador, pode não acreditar, mas havia vários jogadores que usavam barba. 

Quereis nomes? Dou-vos. 

Havia, por exemplo, Gerd Muller, até hoje o maior artilheiro da seleção alemã. Ele tinha apenas 1,74m, pernas grossas, barba (pensando bem, talvez realmente lembrasse um australopiteco) e jogava muito. Foi campeão mundial com a seleção em 1974 e pelo Bayern em 1976. 

Aliás, no mesmo Bayern de Munique havia outro lendário barbudo: Paul Breitner. Era um lateral-esquerdo excelente. Depois foi para o meio-campo, sendo a estrela do Real Madrid em meados dos anos 70. Abandonou o futebol aos 31 anos, dizendo que ainda gostava de futebol, mas que estava cansado das coisas que aconteciam fora do campo. Numa polêmica entrevista, Breitner declarou-se socialista e leitor de Mao Tse Tung. E eis aí uma das características dos jogadores barbudos: muitos eram politicamente engajados. 

Sócrates é o nosso maior exemplo. Politizado e opinativo, ele foi uma das grandes estrelas da campanha das Diretas Já. Mas houve outros, como Afonsinho, também médico e barbudo, um dos primeiros a lutar pelos direitos dos jogadores.

Maradona é outro que teve sua fase de pelos faciais. E não se pode dizer que seja um sujeito apático politicamente. É a favor de Cuba e tem posições controversas sobre todos os assuntos. 

A barba é uma espécie de marca registrada dos sujeitos que gostam da ideia de mudar o mundo. Ela pode ser vista nos rostos comunistas de Marx e Engels, nos revolucionários Fidel e Che, no anarquista Bakunin, em Jesus, Maomé e Freud.

É como se estes homens dissessem que não têm tempo para se preocupar com a aparência, pois têm que pensar, escrever, agir. 

Mas hoje as barbas sumiram dos campos. Na verdade, até os cabelos andam desaparecidos, já que muitos deixam suas cabeças totalmente peladas. Especialmente os zagueiros, como Domingos, que mais parece uma estátua da Ilha de Páscoa.

Na política não é muito diferente. Por lá as barbas também estão de molho. E, quando há alguma, é aparada com o mesmo esmero com que uma drag queen faz suas sobrancelhas.

Em vez de barbas desleixadas, a moda é usar os pelos como logotipo. É o caso de Valdívia, com seu bigode de ladrão mexicano, de Marcelinho Paraíba, com seus cabelos loiros, e principalmente de Neymar, com seu moicano mutante.

Trocaram-se as barbas emaranhadas pelo cabelo cuidadosamente elaborado, o “não ligo para minha aparência” por horas nas cadeiras dos salões de beleza. 

Hoje em dia, talvez o uruguaio Loco Abreu, do Botafogo, que se formou em jornalismo e tem opiniões firmes, seja o único barbudo legítimo do futebol brasileiro. É pouco.

As barbas fazem falta. No futebol e na política.

PS: Falei em favor da barba, mas esta semana deixei o clube dos barbudos. É que Catarina, minha sobrinha de três anos, negou-se a beijar meu espinhento rosto. Então não tive dúvidas: raspei tudo. O que não se faz pelo beijo de uma senhorita...

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.


Fonte: www.cartamaior.com.br 



ECONOMIA ECONOMIA ECONOMIA





MUITO CUIDADO, PRESIDENTA


Ciro Gomes

 Brasil tem hoje a menor taxa de juros de sua história moderna. Mas é ainda a segunda maior taxa do mundo. Em verdade, na América, na Europa e no Japão a taxa de juros é negativa há já algum tempo. Quer dizer, taxas inferiores às respectivas taxas de inflação. Portanto, se há uma oportunidade para o Brasil trazer sua taxa de juros a um patamar civilizado e em linha com o padrão internacional é agora.
E o governo da presidenta Dilma está claramente buscando isto. Mas não creio que será assim tão fácil. Mais que isso, duvido que seja indolor. E sei por experiência própria. Foi eu falar claro sobre isto em minha campanha à presidência e o mundo do poder real em nosso País desabou em cima de mim. E Lula viu a necessidade e a oportunidade de escrever a famosa “carta aos brasileiros”. Acusei o golpe e a chamei de carta aos banqueiros. Foi bom pro Brasil, afinal.
Volto ao assunto só porque acho, comovidamente, que nuvens escuras se aproximam por sobre nosso governo. Parte é visível, parte clandestina.
Na parte visível, as penas alugadas já germinam grande pressão sobre o Banco Central. Tombini, que conduz com grande profissionalismo a diretoria do BC, já sentiu necessidade de declarar que as decisões são técnicas, “independentes”, querendo responder à provocação de que Dilma controla o Banco Central. E é uma graça pra quem tem minha vivência, ver os bancos privados correrem atrás da decisão dos bancos públicos de saírem do oligopólio e baixarem unilateralmente suas taxas de juros na ponta da freguesia, aonde o abuso e a usura são ainda mais escandalosos e sem precedente no mundo.
Esta pressão vai se agudizar muito proximamente. É a taxa Selic aloprada que causava a artificial taxa de câmbio, valorizando o real de maneira a que fica mais barato viajar pra Miami, saindo de São Paulo, do que viajar para Fortaleza, quando todo mundo sabe que Fortaleza é muito melhor do que Miami.
Baixam os juros, a taxa de câmbio desliza, desvalorizando o real. Isto restaura a competitividade sistêmica da economia produtiva brasileira, especialmente naqueles setores vinculados à exportação. Isto sinaliza, a futuro, uma inversão da atual tendência à desindustrialização do País. Persistindo no caminho, isto e só isto, pode acenar para uma parte importante da superação de nosso mais explosivo problema estratégico, o cavalar, aliás, recorde, déficit em nossas transações correntes com o estrangeiro.

Isto então é muito bom, certo? Não é bem assim na ferramentaria que pretende colocar nossa economia política em piloto automático, leia-se, fora do controle público democrático.
Modernamente – e isto os brilhantes técnicos que imaginaram o Plano Real aprenderam – os preços relativos de uma economia tendente à integração internacional são imediatamente sensíveis a um único preço relativo: o preço do dólar.
Funciona assim, perdoem-me os iniciados: o povo não compra dólar mas compra pão. Pão é trigo…e trigo é dólar pois não produzimos por aqui o suficiente; e temos que pagar ao estrangeiro em dólar. O povão não especula com câmbio, mas anda sofridamente de ônibus. O principal item de custo da passagem é combustível. Combustível é petróleo; petróleo é commoditie internacional e a nossa Petrobras ainda tem, em parte, saudade de FHC. Quer cotar o barril não pelo custo de produção, bem mais barato, mas pelo preço de Roterdã.
Nosso povo, tratado como bicho na rede pública de saúde, não pratica carry-trade (comprar moedas a juros internacionais negativos e aplicar em nossos juros de agiota com segurança “triple A”) mas precisa comprar remédios. Remédio é química fina, e o Brasil importa mais de 80% dos pozinhos e líquidos de nossos remédios, em dólar.
Assim, estamos próximos de chegar a uma armadilha, montada às pressas para esconjurar a crise brasileira de 1999, três providenciais meses depois da reeleição de Fernando Henrique Cardoso: baixam os juros, os preços, e alguns índices adredemente criados para dolarizar tarifas de setores privatizados e internacionalizados (IGPM, por exemplo), acusam quase instantaneamente o golpe. Tendem a subir. Subindo, como inevitável, o inflation target, entre nós batizados de meta de inflação, obriga o Banco Central a… subir os juros, restaurando-se a mamata rentista.
Este será o desafio que nosso governo terá que enfrentar proximamente.
E, temo, que o fará não só contra a falsa ciência defendida ardorosamente pelas penas e vozes alugadas em nossa grande mídia, mas também com a ferramentaria clandestina da desmoralização, do escândalo e da tentativa de corrosão da autoridade e da legitimidade da presidenta.
O mandato do Banco Central brasileiro tem que ser alterado para o padrão internacional e para a melhor doutrina: manter a menor inflação a pleno emprego! É esta contradição que dá aos bancos centrais do mundo civilizado a tarefa complexa de achar o equilíbrio entre desenvolvimento e inflação, não esta coisa tosca que ainda mantemos dez anos depois que o povo desautorizou esta modelagem.


Fonte: www.cartacapital.com.br 




O LIBERALISMO DE JABUTICABA 


Luis Nassif 




Há anos, por seu alcance, o sistema Globo tornou-se a principal influência na opinião pública, inclusive em questões econômicas. TV Globo, Globonews, CBN, jornal O Globo, portal G1, constituem-se na mais formidável caixa de irradiação de opiniões no país.
Por isso mesmo, é um bom laboratório para se analisar como se formam consensos, especialmente em temas ligados ao mercado e à economia.
Em geral, o discurso assenta-se em bordões de fácil assimilação  que, pela repetição, vulgarizam-se, podendo ser repetidos desde executivos com pouca formação econômica até papos de boteco. Paradoxalmente, essa banalização de conceitos responde pela extrema superficialidade da análise e, ao mesmo tempo, por sua enorme eficácia.
Até agosto do ano passado, esse discurso mercadista era facilitado pelo sofisma da prioridade única. Todas as análises tinham como mote a inflação. Justificava-se qualquer nível de taxa de juros porque era anti-inflação. Criticava-se qualquer redução da Selic, por mínima que fosse, por acirrar a inflação.
Não havia a menor necessidade de pensar. Baixou a taxa, imediatamente rebimbava o coro anti-inflação. Aumentou em percentuais ínfimos gastos sociais, acordava o coro contra a gastança.
Quando, em fins de agosto passado, o Banco Central reduziu a Selic e a inflação continuou caindo, o discurso desmoronou. Seria preciso refazer o discurso, recriar bordões.  E aí o sistema deu tilt.
Por exemplo, a boa análise econômica sabe que não é possível desenvolvimento sustentável sem dois eixos bem azeitados: consumo e investimento.
Primeiro, trata-se de montar o mercado – o interno, através da ampliação da base de consumo, e o externo, através de instrumentos de apoio à exportação.
Dado o mercado, garantir o investimento, através de ferramentas fiscais, financeiras e cambiais.
Cria-se o mercado interno. Estimula-se o investimento na produção. Amplia-se a capacidade produtiva do país, geram-se empregos mais qualificados e, por conseguinte, mais consumidores, completando o ciclo virtuoso do crescimento.
Sem o investimento, esse crescimento será apropriado pelo produto importado até o limite do estrangulamento externo. Não se completaria o ciclo. Mas não se investe sem dispor de um mercado de consumo em expansão.
No entanto, anos de defesa de juros altos criaram um pensamento anti-crescimento irracional – que é repetido de cabo a cabo por todo aparato midiático das Organizações Globo.
Ontem, as medidas de redução do custo do financiamento foram taxadas de temerárias por induzir o consumidor ao “endividamento irresponsável”.
Ora, o discurso econômico das Organizações é fundamentalmente neoliberal.
É princípio elementar do liberalismo o pleno direito de opção ao consumidor, ao investidor, à empresa. Ao Estado compete apenas criar condições adequadas, sem pretender tutelar os agentes econômicos.
Na hora de criar o bordão, esquece-se o livre arbítrio do consumidor, as ferramentas de análise de crédito dos bancos, o monitoramento da inadimplência pelo Banco Central, o fato do financiamento de automóvel ser garantido pelo próprio veículo, aspectos técnicos e conceituais.
Em Wall Street – onde esse pessoal se espelha -, seria motivo de chacota.


Fonte: www.cartacapital.com.br