24 junho 2011

I M P R E N S A

A queda de Aécio e a imprensa em Minas

Por Luana Diana dos Santos, no blog Viomundo:

No último domingo acordei ao som das gargalhadas do meu irmão. Ao perguntá-lo o motivo de tanta alegria às 7 da manhã, fui informada que Aécio Neves havia caído do cavalo. A princípio, pensei que fosse piada. Após uma olhada rápida no twitter, descobri que não havia nenhuma figura de linguagem na queda do senador tucano. O acidente lhe custou cinco costelas e a clavícula direita quebradas.



Na padaria não havia outro assunto. Enquanto tomava meu cafezinho acompanhado por um pão com manteiga, observava um grupo de senhores de meia idade organizarem um ‘bolão’ dos motivos do tombo do ex-governador. Sei que é pecado rir da desgraça alheia, mas foi difícil me conter diante das apostas: “O cavalo deve ter sido presente do Serra”…; ”A eguinha ‘pocoPó’ se rebelou contra a tucanada”…risos….

Saciada a minha fome, dei uma folheada no Estado de Minas, o maior jornal das Gerais. Buscava uma foto, alguma notícia em relação ao quadro de saúde de Aécio. Não encontrei absolutamente nada. É aí que a queda do tucano perde a graça.

A falta de notícias quanto ao que realmente aconteceu com o neto de Tancredo na tarde de sábado é apenas mais um capítulo do clima de cerceamento que vive a imprensa mineira. No episódio que ficou conhecido como #Aéciodevassa ocorreu a mesma coisa. Nem uma mísera linha sobre o assunto no jornal. Por aqui, qualquer fato que desagrade Aecim ou o Governo, hoje liderado pelo também tucano, Antonio Anastasia, fica de fora dos veículos impressos e televisivos. Quando divulgados, são feitos de maneira deturpada e tendenciosa.

Desde o dia 8 de junho, quando nós professores da Rede Estadual de Ensino entramos em greve reivindicando a implementação do piso salarial nacional (recebemos um piso de R$ 550,00!), tenho comprado o Estado de Minas diariamente a fim de acompanhar as notícias sobre o movimento. Até o momento foram divulgadas não mais que meia dúzia de parágrafos sobre a paralisação dos profissionais da educação, e mesmo assim com o intuito de desmoralizar ainda mais a nossa classe. Infelizmente, a pouca visibilidade dada pelo periódico à nossa luta é motivo de comemoração pelo Sindicato dos Professores. No ano passado, foram necessários exatos 60 dias para que uma nota saísse no jornal.

A censura exercida pelos tucanos sobre a imprensa mineira causaria inveja até na turma do DOPS. Na quarta-feira passada, 15, cerca de 700 professores se reuniram em frente à Cidade Administrativa, fechando a Linha Verde, via de acesso ao Aeroporto de Confins. Na voz do Diretor de Segurança da sede do Governo, veio o recado de Anastasia: “Liberem a Linha Verde e o Governador deixará a imprensa noticiar a manifestação de vocês!”. No dia seguinte haviam 3 linhas (3!) sobre a ato no Estado de Minas e uma matéria de 30 segundos no noticiário local.

As restrições à liberdade de expressão em Minas é tão pesada que virou documentário. Alunos do curso de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais realizaram um vídeo onde profissionais de rádio e televisão denunciam as dificuldades encontradas para a veiculação de matérias contrárias aos interesses de Aécio e cia. Alguns jornalistas que ousaram romper com a tirania psdbista foram demitidos. Á época da realização da pesquisa, Aécio Neves era o governador do Estado. Dias depois do documentário ganhar a internet, começou a circular uma nova produção – “Olha só como se constrói uma mentira e a distorção do fatos. Jornalistas negam censura”. Essa era a chamada do vídeo. Aecim é realmente muito danado!

Conversando com uma grande amiga que trabalhou durante 25 anos no Estado de Minas, soube que 50% dos recursos do jornal são provenientes de contratos publicitários com o Governo Estadual, num momento em que a tiragem e o número de assinantes decresce vertiginosamente. O Deputado Carlin Moura, do PCdoB, já havia feito a mesma denúncia no ano passado. Encaminhada ao Ministério Público Estadual, se juntou aos milhares de processos que encontram-se engavetados.

Dedilhando este texto lembrei-me de Lima Barreto, um dos meus escritores preferidos. Barreto costumava dizer que no Brasil muitos jornais não passavam de meros diários oficiais à serviço dos interesses do governo. Em Minas, o pensamento barretiano permanece atualíssimo.

Como boa mineira, não perco a fé. Não há motivos para perdermos as esperanças de que em breve teremos uma imprensa livre e democrática, que atenda de fato aos interesses dos cidadãos. A liberdade é o lema da nossa bandeira. O sucesso do II Encontro de Blogueiros Progressistas sinaliza que novos tempos estão por vir.
 
 
 
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O PRIMADO DA SUPERFICIALIDADE
 
 
 
 
Washington Araújo (*) 
 
 
 
 
 
 
 
Faz parte do ideal iluminista a compreensão de que a imprensa serve, acima de tudo, para prestar um serviço público e este não é outro que o de dizer a verdade à população. Atuando assim, a imprensa favorece a construção de uma consciência crítica da realidade. Até aí, tudo bem. O problema é que este entendimento vem, há muito, sendo desafiado pelo concepção capitalista de que a notícia é um produto de consumo como outro qualquer.

E se é produto de consumo é natural que obedeça a lógica das fases de produção, linha de montagem etc. O mercado, bem o sabemos, obedece a leis, regulamentos, normas. E é exigente: quer tudo e a tempo. É aqui que mora o perigo, pois vivemos sob o signo da velocidade. Tudo precisa ser feito de imediato e mesmo a notícia necessita ser atualizada a cada instante, algo concebível no mundo virtual. Mas não é de hoje que estamos às voltas com notícias mal-apuradas, notícias que não preenchem requisitos mínimos de qualidade e que – passou a ser corriqueiro – parecem inteiramente divorciadas da verdade: na falta atualizações, estas passam a ser inventadas.

Lições de descompromisso

A tentação de passar ao largo de qualquer forma de aprofundamento, não importa quão interessante e convidativo seja o assunto, parece ser a regra geral. Por exemplo, li esta notícia em jornal de grande circulação nacional:

“A saga de Harry Potter é uma as mais lucrativas da história. Os sete livros venderam mais de 400 milhões de exemplares em 69 línguas e os sete filmes lançados até o momento arrecadaram mais 6,6 bilhões de dólares em todo o mundo.”

Nessas quarenta e três palavras entre aspas temos boa quantidade de informação. Mas o fato é que a notícia fica apenas nesse enunciado de “encher os olhos” e nada, absolutamente nada, de análise. Era de se esperar que se convidasse ao menos algum especialista em literatura para refletir sobre tão impressionantes números relacionados com as aventuras de Harry Potter, o pequeno órfão aprendiz de bruxo e mina de ouro da escritora britânica J. K. Rowling. E também alguns especialistas no mercado editorial para analisar os pilares comerciais que sustentam o fenômeno Harry Potter. Professores do ensino fundamental também poderiam compartilhar percepções sobre Harry Potter e a criação do hábito de leitura. Mas nada disso é feito porque o império da superficialidade parece se impor com imbatível superioridade.

Uma coisa é entender que a objetividade não existe e outra, bem diferente, é deixar de buscá-la. E a busca da objetividade ajuda a revestir de credibilidade o texto jornalístico.

Também passou a ser comum encontrar, principalmente no jornalismo virtual, notícias que nem mereciam ser notícias devido à sua completa falta de importância relevância. É quando encontramos em um dos principais portais noticiosos da internet no Brasil chamadas como:

** “Sabia que as depiladoras brasileiras mudaram a vida de Gwyneth Poltrow?”
** “Princesa Anne multada por ataque de cão”

A pergunta que o leitor deve fazer é: “E eu com isso?” Mas esses dois pequenos casos, apenas a título de ilustração, demonstram o descompromisso com o jornalismo e também uma certa queda pelo bizarro, pelo exótico, pelo raro. Termina que não chegam a ser nem uma coisa nem outra, mas apenas e tão somente um certo tipo de miopia... jornalística.

Luta hipotética

O jornalismo instantâneo é geralmente recheado por temas desimportantes, quando não por frivolidades em pencas. É o artificialismo em transe. Neste contexto, não deveria causar espanto ver o nível cada vez mais raso que o jornalismo vem assumindo em sua roupagem virtual. Não tardará a que a tradição do bom jornalismo (fundamentado, pesquisado) ceda lugar ao mau jornalismo (instantâneo, frívolo): a preocupação maior será com a manchete e não com o conteúdo da notícia.

Como é mais comum que doença contagie e não saúde, vemos proliferar apenas os defeitos de um tipo incompleto de jornalismo:

** As fontes não precisam gozar de boa reputação;
** As imagens deixam de representar unicamente a realidade, o factual, e nestes tempos de farta manipulação digital já são bem assimiladas e aceitas intervenções visando um “melhor enquadramento”;
** Ao momento ainda são repudiados aqueles programas de computador usados para melhorar a aparência dos personagens da notícia;

** Na busca de informações para uma reportagem parece já ser admissível o uso de disfarces ou meios similares para ocultar a profissão de jornalista;
** Ainda não sabemos se existe algum valor aceitável para presentes, por parte de suas fontes, oferecidos a jornalista;

Como vemos, há uma enormidade de temas a serem abordados com maior profundidade e que dizem respeito à qualidade do jornalismo que podemos oferecer à sociedade, mas a tendência atual continua sendo a de apostar todas as fichas na luta contra um hipotético cerceamento da liberdade de expressão por parte do Estado. É como se decidíssemos lutar pelo imaginário – que nos rende mais frutos – em vez de lutar pelo real, que nos causa apenas aborrecimentos.

Brinquemos, então, de fazer jornalismo.


***
[Washington Araújo é mestre em Comunicação pela UnB e escritor.




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Quem não se comunica, se trumbica…


Brizola Neto


A frase do Velho Guerreiro deveria estar, hoje, iluminando o pensamento de muita gente no nosso Governo.

Porque Abelardo Barbosa, o Chacrinha, na sua simplicidade de homem do povo, sabia que a assertividade, na comunicação, é quase tudo. É preciso que, mesmo nas idas e vindas necessárias ao exercício da política, que o que a gente pensa, defende e deseja fique claro para todos: para a população, em geral, e para os que nos sustentam politicamente, quais são as nossas posições, ainda que aceitemos que elas, eventualmente, não possam prevalecer.

A direita fará, todo o tempo, o jogo da confusão. Porque a causa da direita é ruim, é desumana, é retrógrada é anti-pátria. E, por isso, precisa de infinitos subterfúgios.

Nós, ao contrário, deveríamos estar fazendo o da clareza, porque temos uma causa que é a antítese daquela que a direita só pode sustentar pela manipulação.

Mas estamos ajudando o adversário político real, a verdadeira oposição. Que não é o PSDB, não é o DEM, nem mesmo partes do PSD ou do PMDB.

A verdadeira oposição – porque a oposição política  como disse a D. Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais, “está profundamente fragilizada” -  é a mídia.

E  mídia brasileira é especialista em ser supérflua, quando isso interessa para promover ou desgastar aquilo ou aquele que lhe  interessa politicamente.

Ela é especialista em afagar, fazendo com que seus alvos se desarmem, para depois bater impiedosamente. É a mão dos versos de Augusto dos Anjos.

Desde o início do Governo Dilma, ela vinha  insistindo na tese da “gerente” como definidora da personalidade da Presidenta e que isso “marcaria sua diferença” para com o “político” Lula.
Essa “gerência” consistia, basicamente, em alguns traços.

“Falar pouco e fazer muito”, como se  o período anterior tivesse sido o inverso.

Na economia, “cuidar do perigo inflacionário”, como se o Governo anterior tivesse sido de um descalabro nesta matéria.

Na política, a característica da “gerentona” deveria ser a de “não dar bola” para a necessidade de composição política que um governante precisa necessariamente, num Congresso complicado e de baixo nível de definição ideológica como o que temos.

Ora, Dilma Rousseff é uma mulher formada numa longa e intensa luta política. Aceitar que isso fosse “esquecido” para ressaltar um perfil apenas técnico não é apenas falso, seria uma mutilação.

Mas essa era a receita e, sejamos honestos, parte do governo assumiu direitinho o discurso receitado pela mídia. Aliás, houve gente que achou que, fazendo assim, a mídia de tornaria “amiga” e dócil.

Mais que uma ingenuidade, um desvio potencialmente fatal que, por sorte, tem muito tempo e condições para ser corrigido.

Reparem o ponto de “virada” no comportamento da mídia.

Praticamente na mesma semana (foram nove dias de diferença), tivemos o início do caso Palocci e a votação do Código Florestal.

Em ambos, o campo progressista acabou se dividindo e assumindo uma postura vacilante. Não é o caso de se discutir se a demissão do ministro deveria ter acontecido mais cedo ou se ele deveria ser mantido. Ou se haveria alguma possibilidade de negociação na votação que não levasse à derrota que sofremos.

Mas, em uma e outra situação, o Governo  não foi claro e afirmativo. Ou melhor, demorou a sê-lo e permitiu, assim, que se construísse uma impressão de fraqueza política num governo que, seja na questão ética, seja na questão ambiental, não tem um átomo do que se envergonhar.

E a nossa mídia (muy amiga, e mui amistosamente tratada), percebeu que o mote é apresentar a presidenta como – agora, o contrário, reparem – como fraca e vacilante.

Ela é apresentada  como sendo contra o sigilo dos documentos secretos, depois como tendo passado a ser a favor, agora como sendo contra, novamente.

Ou como sendo a favor do regime diferenciado de contratação das obras da Copa, depois recuando e agora reafirmando seu apoio.

O Governo está deixando que falem pela Presidenta e, quando falam por ela, cada um diz uma coisa, e diz o que lhe convém.

Num regime presidencialista, quem fala pela Presidência é o Presidente; aqui, a Presidenta. Seus porta-vozes têm de ser poucos e para afirmações ou  já muito definidas ou absolutamente genéricas.

Agora, num governo progressista, não é apenas o “quem fala é o Presidente”, mas a quem fala. E este “a quem fala” é de importância crucial, tanto quanto aquilo que se fala.

E o que fala a Presidenta está desaparecendo do alcance do povo, porque os canais formais da grande mídia o minimizam, a comunicação direta inexiste e as pequenas estruturas de informação de que dispomos são subutilizadas e nem sequer esclarecidas das posições do Governo.

A Presidenta disse que não negociará com os desmatadores, que vai estimular a Petrobras, que não abre mão de investir na democratização das telecomunicações, que não haverá sigilo algum, nem de um, nem de mil anos, para documentos que tratem de violação de direitos humanos e…quem a ouviu?

Qual foi o principal momento de comunicação do Governo, o que o simboliza? O ótimo plano “Brasil sem Miséria”? Quem sabe dele? O desemprego em queda? A afirmação da Petrobras como grande alavanca de nosso desenvolvimento?

Infelizmente, o “grande momento” de comunicação foi, até agora, a malfadada entrevista do ministro Palocci no Jornal Nacional, que não deixou nada, senão a sensação de mal-estar e, de quebra, roubou a atenção do lançamento da primeira plataforma de petróleo quase toda construída no Brasil ( assunto do próximo post) e  da firmeza  com que a presidenta ali se expressou.

Falou com ênfase, com paixão, com simplicidade. Não precisou deixar de ser a técnica, a capaz, a administradora para ser, acima de tudo, alguém que acredita nos destinos do Brasil e na justiça para o povo brasileiro.

Os últimos dias mostraram que a Presidenta percebeu que, no jogo da política, é ela própria quem terá de conversar mais e já está fazendo isso. Mas, no jogo da mídia, ainda não está claro se já se percebeu que a protagonista da comunicação tem de ser ela, não a personagem que a mídia faz dela.

Quando Brizola escrevia seus longos “tijolaços”, muitos de nós o questionávamos sobre a eficácia daqueles textos que pouca gente tinha fôlego para encarar. Era o único espaço que tinha, naqueles tempos de comunicação restrita aos jornais e ás televisões. E ele o usava como podia, e explicava: “pode ser que não seja lido por muita gente, mas dá munição para o nosso pessoal debater. Porque se a gente não tem como encarar o debate, está frito”.

Hoje – e no Governo – as condições são incomparavelmente melhores do que naquele tempo. Mas continuamos precisando de munição.


Fonte: Blog o Tijolaço




 
 
 
 
 

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