Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Não foi por falta de aviso que o governo Dilma Rousseff mergulhou na crise política em que se encontra, com a inédita perda de cinco ministros em menos de um ano. Este blog, assim como o ex-presidente Lula, previram, já no início de 2011, que a demissão do ex-ministro Antonio Palocci por pressão da mídia e de setores do PT faria com que milhões de brasileiros que apoiavam o governo anterior deixassem de apoiar a este.
A diferença de apoio popular do governo anterior para o atual, segundo revelam as pesquisas, mostra que parte dos setores da sociedade dispostos a sustentar este governo contra o partidarismo político da mídia – assim como sustentaram o governo anterior –, pulou fora. Apesar de este governo ainda ter bom nível de apoio, esse nível é pelo menos 1/3 menor do que o do governo Lula, o que significa dezenas de milhões de brasileiros.
Não é difícil entender a razão. Se você tem um crítico feroz e as acusações que ele lhe faz o obrigam a tomar medidas que ele prega que tome e que confirmam que suas escolhas foram erradas, você admite a própria incompetência. Daí que grande parte da sociedade deixou de apoiar este governo enquanto afirma que o governo anterior era melhor.
Pesquisa Ibope divulgada no mês passado mostra que o nível de aprovação pessoal de Dilma, neste momento, é de 71%, mas seu governo tem apenas 51% de avaliações como bom e ótimo enquanto que o governo Lula era aprovado por cerca de 80%. Mesmo sendo um governo de continuidade, milhões de cidadãos vêem o governo Dilma como inferior ao de Lula
Muitas pessoas de boa fé compraram a tese da mídia de que Dilma é uma coisa e seu governo é outra, o que é uma impossibilidade física. Quem acha o governo Dilma ruim pode até achar sua titular uma boa pessoa, mas o cargo de presidente da República não é preenchido por simpatia e bondade e, sim, pela expectativa popular de que seja exercido com competência, seriedade e honestidade.
Lula previra, no início do ano, que da queda de Palocci decorreria uma onda de demissões de ministros que, dito e feito, acabou se confirmando. E tudo à toa. Meses a fio após sua queda, só agora um obscuro procurador tenta investigá-lo, certamente para não dar tanto na vista que sua derrubada ocorreu por razões políticas e não por conta de algum crime comprovado. E todos os outros ministros derrubados “por corrupção” foram deixados em paz após desistirem.
A mídia aproveita a fragilidade do apoio popular ao governo Dilma – com 51% de aprovação, está a um passo de ser reprovado pela maioria – para fomentar um movimento “contra a corrupção” que a última capa da Veja mostra que é orquestrado. A revista estampou na capa a imagem da máscara que esse movimento usa como símbolo, a do revolucionário inglês Guy Fawkes, junto a chamada para matéria acusando o ministro “bola da vez”, Orlando Silva.
No próximo dia 15 de novembro, mais uma vez em um feriado, esse movimento oposicionista-midiático sai às ruas com a pretensão de reunir “um milhão de pessoas”. E certamente irá bradar contra o ministério do Esporte.
Apesar de “marchas contra a corrupção” anteriores terem sido um fracasso de público (diante da campanha martelada por todos os grandes meios de comunicação de massa), percebe-se que os fatos políticos gerados pela campanha de desmoralização do governo Dilma, através da temporada de caça aos ministros que a presidente da República nomeou, dão fôlego a esse movimento.
Como antes, mais uma vez vai retornando um discurso suicida entre a base de apoio do governo Dilma na sociedade, de que, apesar de não haver provas, o ministro “bola da vez” não teria mais “condições políticas” de permanecer no cargo. E lá se vai o quinto ministro derrubado “por corrupção”, ainda que, à diferença do ex-chefe da Casa Civil, Orlando Silva não tenha apartamento de milhões de reais para servir como “prova” de que é “corrupto”.
Como em qualquer ministério há milhares de convênios com entidades privadas, tais como ONGs etc., a mídia achou um manancial inesgotável de matéria-prima para novas denúncias. Qualquer irregularidade em qualquer ministério derrubará o titular da pasta e é fisicamente impossível que algum ministério ou secretaria de governo estadual ou municipal não tenha casos questionáveis a serem explorados.
A mídia oposicionista, pois, adquire uma arma para pressionar o governo Dilma que o colocará de joelhos pelos próximos três anos. Qualquer política pública que este governo tentar fazer vingar e da qual a mídia não goste, bastará ela ameaçar com novo escândalo para obrigar o governo a ceder.
A grande pergunta que se faz, portanto, é a seguinte: quanto tempo levará até que a mídia e a oposição decidam culpar a própria Dilma pela “corrupção” que dizem haver em seu governo? E como o cidadão poderá deixar de concluir que ela é a responsável pelo que se passa em seu próprio governo se a própria presidente elogia, afaga e obedece a esses detratores de sua administração?
A manutenção de Orlando Silva no cargo, portanto, é a última chance do governo Dilma de se manter autônomo. Se a Veja, a Folha, o Estadão e a Globo vencerem mais essa queda de braço, e se o PC do B cumprir a promessa de deixar a base de apoio do governo em caso de demissão de seu ministro, rejeitando indicar outro representante para o Esporte, a presidente não governa mais. Terá que pedir a benção da mídia e da oposição para cada medida.
Estamos no décimo mês do governo Dilma e, até agora, o que simboliza a sua administração é a incessante queda dos ministros que, não nos esqueçamos, foi a presidente que nomeou. Sem provas, sob esse mesmo “pragmatismo” que, inocentemente, até pessoas de boa fé acham que deixará o governo “livre para governar”, quando, na verdade, não passa de capitulação.
Agora lhe pergunto, leitor: você votou em Dilma Rousseff ou na mídia? Sim, porque quem está governando é a mídia, com esse poder de criar crises e paralisar o governo. Enquanto isso, as “marchas contra a corrupção”, infestadas por partidos de oposição e infladas pela mídia, caminham para se tornar o que fatalmente se tornarão: campanha pela queda do governo, provavelmente via impeachement.
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A máfia no poder
Quando adolescente, já perguntava aos meus imberbes botões por que o Brasil, país de imigração campana, calabresa e siciliana, entre outras, não conhecia o fenômeno mafioso. Desde logo, formulei uma tese sem qualquer pretensão científica, mas convincente na opinião dos botões. Não temos uma Cosa Nostra no Brasil porque eméritos mafiosos estiveram e estão no poder, líderes em atividades diversas -teoricamente legais, em condições de agir às claras e a salvo dos riscos corridos, e sofridos, por Al Capone ou Totò Riina.
Capone e Riina, e muitos outros do mesmo porte, acabaram na cadeia, aqui os equivalentes viveram e vivem à larga, ou estão soltos, quando não são nome de ruas e praças. Não faltam exemplos -recentes nas -áreas mais diversas, a começar pela política, a qual, a rigor, está em todas porque por trás de tudo. Algo espantoso se deu por ocasião do Panamericano do Rio. Previu-se um orçamento de 400 milhões, gastaram-se dez vezes mais para realizar obras hoje inúteis e entregues ao descaso. Serviços de todo gênero foram encomendados aos familiares e amigos dos organizadores da tertúlia monumental, a despeito dos nítidos conflitos de interesse. Que aconteceu com os responsáveis por tanto descalabro?
É do conhecimento do mundo mineral que quem mandou no Panamericano mandará nas Olimpíadas de 2016. Também é, quanto ao futebol, que a Fifa é um antro mafioso desde os tempos de João Havelange e que Joseph Blatter e Ricardo Teixeira são seus profetas. Desde a posse de Dilma- Rousseff na Presidência da República-, -CartaCapital permite-se chamar a atenção do governo para as péssimas consequências de um Mundial de Futebol desastrado, exposto ao risco do desmando, e várias vezes voltamos à carga no mesmo sentido.
Não nos precipitamos a endossar agora as suspeitas levantadas em relação ao ministro do Esporte, Orlando Silva, mesmo porque apressadamente veiculadas por Veja. CartaCapital jamais deixou de defender o princípio in dubio pro reo e enxerga na reportagem da semanal da Editora Abril insinuações e conjecturas em lugar de provas. Para variar. Certo é, contudo, que um ministro do Esporte chamado a lidar com Ricardo Teixeira e Joseph Blatter deve necessariamente situar-se acima de qualquer suspeita.
A presidenta, tão determinada no combate à corrupção, obviamente -sabe disso e saberá precaver-se, a bem do -País e do seu governo. CartaCapital insiste, de todo modo, em suas preocupações diante da clara presença no gramado e fora dele da máfia do futebol mundial.
Cabe encarar a questão também de outro ângulo, a partir da análise do singular destino da esquerda nativa. Refiro-me neste exato instante ao PCdoB, nascido da costela do Partidão em nome de uma fidelidade ideológica e moral que os discípulos de Luiz Carlos Prestes teriam traído. Outro aspecto da história brasileira que amiúde me levou a convocar os botões diz respeito à efetiva e duradoura existência de uma esquerda brasileira.
Desabrido, Lula já me disse, em entrevista publicada em CartaCapital há seis anos, “você sabe que eu nunca fui de esquerda”. Resta ver o que significa hoje ser de esquerda. Para mim claro está, ao menos, que é de esquerda quem se empenha, clara e honestamente pela igualdade, e sem medir esforços, para a redenção dos herdeiros da senzala. Parece-me que alguns passos neste rumo o ex-presidente deu.
Confirma-os, e com objetivos maiores, Dilma Rousseff ao definir o projeto de acabar com a miséria. Inevitável, entretanto, observar que um sem-número de políticos está a cuidar é da sua própria riqueza, e entre eles, pasmem, não faltam os ex-comunistas do B. Orlando Silva desde os começos de sua atuação ministerial é alvo de inúmeras denúncias de corrupção encaminhada pelas sendas do dinheiro das ONGs, a envolverem não somente o próprio, mas também seu partido. Era de se esperar? Desfecho inescapável de um enredo movido a ganância acima e além de crenças e princípios? O PCdoB já teve, entre outras razões de orgulho, a lisura e a coerência dos seus filiados. No poder, é mais um que se porta como os demais. •
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/
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Quem tem medo da democratização da mídia?
Por Emir Sader, em seu Blog
Nos meses transcorridos desde as acusações a Palocci até esta ofensiva contra Orlando Silva ficou clara a força da velha mídia para pautar a política nacional. A agenda política ficou periodizada pelos ministros que eram a bola da vez das acusações, numa sequência prolongada de “escândalos, que deu a impressão que essa era a cara mais marcante do governo.
A política econômica e sua articulação com as políticas sociais – o tema mais importante do governo, porque isso vai definir a capacidade do Brasil para resistir às consequências da crise no centro do capitalismo – não conseguiu o espaço essencial que deveria ter na agenda nacional. Ficou na sombra da pauta de denúncias produzida pela velha mídia.
Durante os últimos anos do governo Lula – e, em particular durante a campanha eleitoral – foi possível neutralizar relativamente o peso dos monopólios da mídia privada, com Lula – do alto da sua imensa popularidade e com sua linguagem de enorme apelo popular -, ainda mais que contávamos com os horários televisivos e os comícios da campanha.
Passadas essas circunstâncias, a velha mídia monopolista voltou a ocupar seu papel central na definição das agendas nacionais, pautando o governo com seu denuncismo, que visa enfraquecê-lo. Agem como um grande exército regular e nós, da mídia alterantiva, como guerrilhas. Temos credibilidade, rapidez, acesso aos jovens – que eles não dispõem – mas contamos com meios muito menores de difusão.
Temerosos do marco regulatório, difundem que haverá limitação à liberdade de expressão. Ao contrário, o objetivo não será calar ninguém, mas dar voz a milhões de outras vozes, que hoje, apesar de majoritárias no país, não se reconhecem e são excluídas da mídia tradicional.
Não haverá democracia real no Brasil enquanto não forem democratizados os meios de comunicação, enquanto algumas poucas famílias deixarem de querer falar e nome do país e da grande maioria da população, que vota contra e derrota sistematicamente os candidatos que essa mídia apoia.
É urgente iniciar o debate sobre o marco regulatório, mesmo que um Congresso infestado de donos de meios de comunicação privados resista ao máximo a qualquer forma de democratização da mídia. Defendem seus privilégios monopolistas, mas tem que ser derrotados, para que a formação de opinião pública no Brasil possa ser democrática e pluralista.
A política econômica e sua articulação com as políticas sociais – o tema mais importante do governo, porque isso vai definir a capacidade do Brasil para resistir às consequências da crise no centro do capitalismo – não conseguiu o espaço essencial que deveria ter na agenda nacional. Ficou na sombra da pauta de denúncias produzida pela velha mídia.
Durante os últimos anos do governo Lula – e, em particular durante a campanha eleitoral – foi possível neutralizar relativamente o peso dos monopólios da mídia privada, com Lula – do alto da sua imensa popularidade e com sua linguagem de enorme apelo popular -, ainda mais que contávamos com os horários televisivos e os comícios da campanha.
Passadas essas circunstâncias, a velha mídia monopolista voltou a ocupar seu papel central na definição das agendas nacionais, pautando o governo com seu denuncismo, que visa enfraquecê-lo. Agem como um grande exército regular e nós, da mídia alterantiva, como guerrilhas. Temos credibilidade, rapidez, acesso aos jovens – que eles não dispõem – mas contamos com meios muito menores de difusão.
Temerosos do marco regulatório, difundem que haverá limitação à liberdade de expressão. Ao contrário, o objetivo não será calar ninguém, mas dar voz a milhões de outras vozes, que hoje, apesar de majoritárias no país, não se reconhecem e são excluídas da mídia tradicional.
Não haverá democracia real no Brasil enquanto não forem democratizados os meios de comunicação, enquanto algumas poucas famílias deixarem de querer falar e nome do país e da grande maioria da população, que vota contra e derrota sistematicamente os candidatos que essa mídia apoia.
É urgente iniciar o debate sobre o marco regulatório, mesmo que um Congresso infestado de donos de meios de comunicação privados resista ao máximo a qualquer forma de democratização da mídia. Defendem seus privilégios monopolistas, mas tem que ser derrotados, para que a formação de opinião pública no Brasil possa ser democrática e pluralista.
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