08 outubro 2011

ECONOMIA

No Brasil, deputada grega fala da crise e defende auditoria da dívida

Em seminários em Brasília, Sofia Sakorafa diz que crise grega é 'catastrófica' e filha do neoliberalismo. Crítica e único voto contra acordo com FMI, socialista acha 'imoral' e 'desonesto' impor ao povo custo de socorro a bancos e prega auditoria. 'Que paguem os responsáveis', afirma. Comissão de auditagem paralela ao governo já começou.

BRASÍLIA – O acordo do governo grego com o Fundo Monetário Internacional (FMI) recebeu só um voto contra no parlamento, da deputada Sofia Sakorafa. Integrante do Partido Socialista como o primeiro-ministro George Papandreou, Sofia passou por Brasília nos últimos dois dias.

Em eventos públicos, deu um testemunho sobre o drama do país. Culpou o neoliberalismo e o sistema financeiro pela crise que atinge a Grécia e parte da Europa. E defendeu que todos os países com problema de dívidas parem de pagá-las e façam antes uma auditoria nelas.

“Meu país está em uma situação muito difícil”, afirmou Sofia, traduzida por um brasileiro. Paga até hoje empréstimos de 80 anos atrás que, em juros, já consumiram o dobro da quantia original. A situação piorou e tornou-se “castatrófica” depois da crise global de 2008, que exigiu injeção de dinheiro público grego em bancos.

A conta que chegou ao governo, na forma de aumento da dívida pública, levou Papandreau ao FMI e a um acordo que traz consigo corte de gastos sociais, desemprego, recessão, desesperança. “A situação mudou de uma hora para outra, e os cidadãos não têm culpa”, disse. “É imoral e desonesto querer que os cidadãos paguem os oportunistas.”

Por “oportunistas”, leiam-se “banqueiros” que, para a deputada, produziram a crise, com ganância sem regulamentação, e agora tentam lucrar com o socorro recebido do governo. Como as consequências se abaterão sobre a população, seria imperioso auditar a dívida pública, para depurá-la de “corrupção” e “ilegalidade” que a teriam inchado.

Embora tenha sido rejeitada formalmente pelo governo grego, a auditagem está sendo feita por uma comissão que envolve sindicatos e outras organizações sociais. “É direito democrático e sagrado dos cidadãos saber por que e como foi causado isso que eles têm de pagar hoje”, disse Sofia, que acredita que a dívida deve ser paga "pelos responsáveis".

Para a deputada, “os políticos terão de voltar ao método antigo e bater de porta em porta” para mostrar que é possível auditar a dívida e trilhar um caminho alternativo ao aconselhado pelo FMI. A mídia, segundo ela, "joga o jogo do grande capital” e esconde dos gregos que Malásia (1997) e Equador (2007) promoveram auditorias e estão melhores do que antes.

A atual crise da dívida grega seria um capítulo recente de uma história mais velha, que Sofia data do “surgimento do neoliberalismo do estilo Thatcher e Reagan”. A ex-primeira ministra britânica Margareth e o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald teriam tentado “alterar o equilíbrio do poder econômico e social entre a classe capitalista e trabalhista em favor da primeira”.

Com essa postura, a dupla neoliberal teria subvertido a essência da democracia tal qual ela foi definida por um de seus padrinhos, justamente um estadista grego, Péricles: “O nosso regime se chama democracia pelo fato de que o governo do país encontra-se não nas mãos dos poucos, mas sim nas mãos de muitos.”

Sofia participou na quarta-feira (5) de um seminário sobre a crise realizado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por iniciativa de uma série de entidades e que contou com representantes latino-americanos. E, nesta quinta (6), de um seminário promovido em conjunto por três comissões da Câmara.


Fonte: http://www.cartamaior.com.br/



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Países devem US$ 41 tri; Equador inspira grupos por auditoria na UE

No Brasil, europeus revelam que, em países com crise de dívida, já se articulam comitês em defesa de auditagem e moratória. 'Equador é exemplo', diz Eric Toussaint, do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo. Segundo ele, dívida global chega a US$ 158 tri, 25% de governos. Deputada grega diz que mídia esconde experiência equatoriana.

BRASÍLIA – Países europeus que enfrentam crises da dívida pública, como Grécia, Portugal, Itália, Irlanda e Espanha, já assistem à criação de comitês em defesa de auditagem e moratória dos débitos. Os articuladores buscam inspiração na América do Sul, particularmente no Equador, cujo governo fez uma auditoria e, depois disso, conseguiu elevar os gastos sociais.

“Estamos olhando desde a Europa para o Equador como um exemplo a ser seguido”, disse o presidente do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, Eric Toussaint, que participou quarta (5) e quinta-feira (6), em Brasília, de dois seminários sobre a crise internacional – um promovido na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), outro na Câmara dos Deputados.

Presente aos mesmos seminários, a deputada socialista grega Sofia Sakorafa, articuladora de um comitê em seu país, também disse que o Equador é fonte de inspiração. Para ela, infelizmente, a imprensa local não informa à população sobre a experiência equatoriana, o que dificultaria a construção de uma alternativa política ao socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ex-ministro no Equador na época da auditoria, Pedro Páez Pérez participou dos seminários e estimulou a reprodução do caminho trilhado naquele país. “Temos uma situação generalizada de insolvência, não se pode apostar em mecanismos de mercado”, disse. Para ele, há um “capitalismo de crises”, operado por banqueiros com “corrupção e incompetência”, que explora as nações.

Apesar de a crise financeira, em sua forma mais aguda, estar localizada nos países ricos, Toussaint não perdeu a chance de defender o cancelamento da dívida externa dos países pobres. Para o belga, ela é pouco representativa, diante das cifras globais. Somaria US$ 1,4 trilhão, menos de 1% de todo o endividamento planetário, que chegaria a US$ 158 trilhões.

Desse total, US$ 41 trilhões (25%) seriam de governos e US$ 117 trilhões, de empresas “Está claro que o problema são as dívidas privadas e as públicas dos países ricos”, disse.

De acordo com o ex-ministro do Equador, o PIB mundial é de US$ 63 trilhões, ou seja, cerca de metade das dívidas. Para ele, isso mostra como há uma grande desproporção entre a economia real e o sistema financeiro.



Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

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