14 setembro 2012

POLÍTICA INTERNACIONAL



ESPANHA




"Coisa que passa, qual é o teu nome"?



Saul Leblon, no Blog das Frases


Setembro de 2012: 

1) A 'Falange', organização de extrema direita, criada em 1933 por Primo de Rivera, uma milícia que serviu como capanga do franquismo, está de volta às ruas naquela que é a sua especialidade histórica: provocar a violência contra os movimento sociais. Os fascismo espanhol programou uma manifestação para este sábado, em Madrid, no mesmo dia em que organizações sociais e sindicatos fazem um ato público contra o 'ajuste' imposto pelo governo do PP. A palavra de ordem da Falange é: 'O nome da crise é Democracia'. 

2) Inspetores do comissariado do euro e do FMI desembarcam em Atenas para exigir do governo grego a adoção da semana de trabalho de seis dias, com liberalidade para o patronato impor uma carga diária de 11 horas.

3) A direita no poder em Portugal corta a contribuição previdenciária dos patrões e eleva a dos empregado de 11% para 18%, em média; a manobra equivale, na prática, à expropriação do 13º salário dos trabalhadores. 

4) O Banco Central Europeu não mede recursos e malabarismos para garantir liquidez à banca ,mas o facão da austeridade na zona do euro ameaça os 204 bancos de alimentos que garantem comida de 19 milhões de europeus em pleno século XXI. 

5) 116 milhões de europeus vivem atualmente na ante-sala da pobreza: 2 milhões mais que em 2010. 

6) A democracia no pós-guerra, ao contrário do que diz a palavra de ordem macabra da Falange, deu a solução para a crise ao disciplinar os mercados para abrir espaço aos direitos sociais. O desmonte progressivo do Estado do Bem-Estar Social, a partir dos anos 70, com Tatcher , e a rendição socialdemocrata generalizada (indagada sobre a sua maior obra, a dama-de-ferro respondia: 'Tony Blair'), terceirizou o destino da economia e da sociedade à lógica rentista, origem da crise atual. 

7) A Falange, como acontece às vezes com o fascismo e o nazismo, acerta na problemática, mas erra na causalidade e na solução. A democracia, de fato, é a questão central da crise. Mas não porque seja a origem dos problemas gerados pelo capitalismo. Ela é o núcleo do impasse exatamente por ter se enfraquecido a ponto de não servir mais como contrapeso aos impulsos suicidas dos ditos livres mercados. 

8) Desarmada pelo conluio entre o conservadorismo político, a ganância financista e a socialdemocracia adestrada no chicote neoliberal, a democracia representativa deixou de ser o canal de transmissão da vontade popular no interior do aparelho de Estado e, sobretudo, na condução da política econômica. 

9) As sucessivas rupturas entre os programas sufragados nas urnas e o emparedamento dos eleitos pela 'governabilidade financeira' anularam o poder soberano da democracia representativa, sequestrado pelos bancos, os acionistas, os fundos especulativos, as tesourarias das grandes corporações; enfim, endinheirados em geral que orbitam em torno do capital a juro. 

10) O esfarelamento da Falange e dos partidos fascistas no ciclo de alta da financeirização, dos anos 70 até a crise de 2008, decorre justamente dessa substituição do papel coercitivo exercido pelas milícias pela institucionalização do golpe de Estado branco do capital financeiro contra governos, urnas, direitos econômicos e sociais.

11) O ressurgimento da extrema direita agora --e, num certo sentido, a retomada do discurso udenista extremado em terras tropicais-- evidencia o movimento inverso: a implosão desse arranjo que já não consegue subordinar a sociedade aos seus desígnios sem conflitos recorrentes, quase diários,cada vez mais externos a parlamentos obsequiosos, congestionado ruas e praças do mundo. 

12) A volta da Falange em provocação aberta ao protesto massivo marcado pelos sindicatos e movimentos sociais para este sábado, em Madrid, certamente não tem o peso e o significado observado nos anos 30. Da mesma forma, o lacerdismo júnior em ação na campanha municipal de São Paulo não se nivela ao titular e ao que ele representou nos anos 50/60. Mas são vapores de um cargueiro que já cruzou alinha do horizonte e apita para se anunciar. 

13) O nome da crise é Democracia; mas o sobrenome é capitalismo, turbinado pela intrínseca hegemonia financeira que distingue a sua particularidade universal em nosso tempo; e cuja 'reprodução consensual' entrou em parafuso.






ORIENTE MÉDIO


É hora de desarmar Deus



por Mauro Santayana

O grande problema de Deus é que não o conhecemos senão na mente e no coração dos homens. E os homens constroem a sua fé com a frágil experiência de seus limitados sentidos, suficientes apenas para o trânsito no mundo em que vivemos. Os olhos podem crescer nos telescópios e ir ao fundo dos universos, ou na perscrutação das moléculas e átomos, mas isso é pouco para encontrar Deus, e menos ainda para construí-lo. 

Sendo assim, e desde que há comunidades políticas, o monoteísmo tem servido para identificar ou acerbar as razões ou desrazões nacionais.

O Ocidente judaico-cristão não assimilou a chamada terceira revelação, a de Maomé, embora ela não tenha significado nenhuma apostasia essencial ao hebraísmo. O problema se tornou político, com a expansão dos povos árabes pelo norte da África e a invasão da Península Ibérica. Os islamitas sempre toleraram os cultos judaicos e cristãos nas áreas sob sua jurisdição política, mas a política recomendava aos reis cristãos a expulsão dos árabes da Europa e a guerra, continuada, fosse para contê-los, fosse para fazê-los retroceder ou para eliminá-los.

As cruzadas ainda não acabaram, e se tornaram menos românticas e mais cruéis por causa do petróleo.

Agora, um filme de baixa qualidade técnica e artística – conforme a opinião de especialistas – traz novo comburente às velhas chamas. Sem nenhum fundamento histórico, um fanático israelita (é o que se sabe) produz  película eivada de insultos e ódio contra o fundador do islamismo, como se Maomé tivesse sido o mais infame e desprezível personagem da História. Como o filme foi produzido nos Estados Unidos, a reação imediata foi contra as representações diplomáticas nos países islâmicos. Essa reação, que culminou com a morte do embaixador norte-americano na Líbia, ainda não se encontra contida, e é provável que ainda se agrave, apesar das declarações do governo norte-americano, que busca distanciar-se dos insultos. 

Os republicanos, em plena campanha eleitoral, devem ter exultado. A morte do Embaixador (asfixiado no incêndio do Consulado em Benghazi) pode ter sido uma baixa para os seus quadros, mas representa um trunfo contra Obama: sua política não tem conseguido dar segurança absoluta aos cidadãos norte-americanos. É essa a mensagem de Romney ao eleitorado dos Estados Unidos. A resposta de Obama, enviando dois destróieres à Líbia, não foi a melhor para reduzir as tensões; ela pode intensificá-las. 

O que o governo de Washington e os republicanos não dizem é que o apoio, incondicional, aos radicais de Israel, que pregam abertamente a eliminação dos muçulmanos do mundo — assim como os nazistas desejavam a eliminação de todos os judeus – estimulam os insultos infamantes ao Islã e a resposta espontânea e violenta dos fanáticos do outro  lado contra aqueles a quem atribuem a responsabilidade maior: os norte-americanos. E há ainda a hipótese, tenebrosa, mas provável, diante dos precedentes históricos, de que as manifestações tenham partido de agentes provocadores dos próprios serviços ocidentais – ou israelistas, o que dá no mesmo.

A mentira de Blair e Bush – dois homens que o bispo Tutu, da África do Sul, quer ver no banco dos réus em Haia – custou centenas de milhares de civis mortos no Iraque e no Afeganistão, e muitos milhares de jovens norte-americanos mortos, feridos, enlouquecidos nos combates inúteis. Nada é pior para os capitalistas do que a paz – e nada melhor do que a guerra, que sempre os enriquece mais, e na qual só os pobres morrem.  


Fonte: www.conversaafiada.com.br 

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