06 abril 2012

ECONOMIA E CRISE MUNDIAL


Governo anuncia medidas para injetar R$ 57,8 bi na economia

O governo anunciou, nesta terça (3), um conjunto de medidas que irá injetar R$ 57,8 bilhões na economia, ainda neste ano, para aumentar a competitividade da indústria, em retração acelerada desde o início da crise internacional. O pacote prevê desoneração da folha de pagamento, redução de impostos e crédito mais barato, dentre outras medidas. “O governo não vai abandonar a indústria brasileira”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff.

Brasília - O governo anunciou nesta terça (3) um pacote de medidas que irá injetar R$ 57,8 bilhões na economia, ainda neste ano. O objetivo é aumentar a competitividade da indústria, em retração acelerada desde o início da crise internacional. “O governo não vai abandonar a indústria brasileira”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff, durante cerimônia no Palácio do Planalto.

A maior parte dos recursos virá do aporte de R$ 45 bilhões que o Tesouro destinará ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). E o restante, de uma série de desonerações anunciadas. O pacote reforça o Programa Brasil Maior, lançado em agosto do ano passado, com o objetivo de aumentar a competitividade da indústria nacional.

A medida mais comemorada foi a desoneração da folha de pagamento para 15 setores, a partir da eliminação da contribuição previdenciária de 20%. A perda será compensada, em parte, pela cobrança de uma nova alíquota sobre o faturamento das empresas. Para os exportadores, a desoneração é total. Já para 11 setores da indústria destinada ao mercado interno, a nova alíquota sobre o faturamento será de 1% e, para quatro setores de serviços, de 2%.

“O ônus dos ajustes não recai sobre os trabalhadores. Não retira direitos ou reduz salários. Nós definimos uma forma de tributação mais adequada ao fluxo de receita das empresas. E o Tesouro vai compensar sempre eventuais perdas de arrecadação decorrentes das contribuições previdenciárias e ao mesmo tempo tomará todas as medidas para que não se crie a distorção de transformar em déficit uma política de governo de desoneração da folha de pagamento”, explicou a presidenta.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acrescentou que a medida beneficiará também os trabalhadores. Segundo ele, com a redução do custo da mão de obra, novos empregos serão gerados. O ministro reforçou, ainda, que a desoneração não acarretará prejuízos à Previdência. “O Tesouro Nacional compensará as perdas, estimada em R$ 7,2 bilhões por ano”. Como as medidas passarão a valer em junho, as perdas estimadas para este ano são de R$ 4,9 bilhões.

Dentre as medidas tributárias previstas no pacote, o ministro destacou a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para vários setores, já anunciada anteriormente. E acrescentou a postergação do pagamento do PIS/Confins, de março para novembro, para os setores mais atingidos pela crise. “Este recurso poderá ser usado como um capital de giro barato”, esclareceu.

Mantega incluiu no pacote, também, a desoneração do Imposto de Renda (IR) para pessoas físicas e jurídicas que façam doações para entidades que trabalham com pesquisa para o tratamento de câncer. O impacto fiscal da medida estimado para o próximo ano é de R$ 305,8 milhões.

O ministro reforçou a iniciativa do governo de investir na preferência de compra de produtos nacionais. “O produto importado pode custar até 25% mais barato que nós compraremos o nacional”, explicou. Anunciou, também, dentre várias outras iniciativas, o aumento dos recursos para o Programa de Financiamento à Exportação (Proex), que passarão de R$ 1,24 bilhão para R$ 3,1 bilhões.

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, informou que o aporte de R$ 45 bilhões do Tesouro Nacional pra as operações da instituição financeira permitirão maiores investimentos em inovação, além do barateamento dos jurados praticados. “Nós queremos mais investimentos e investimentos com mais qualidade”, disse ele.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, anunciou a implementação de um novo regime automotivo, que irá vigorar de 2013 a 2017. Segundo ele, o regime estabelece metas para as montadoras que, caso sejam cumpridas à risca, podem proporcionar uma redução de até 30% do IPI. Essas metas incluem investimentos em pesquisa, inovação, conteúdo nacional e eficiência energética.

Conjuntura econômica
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o decréscimo da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) dos países é um fenômeno mundial observado desde 1991, mas que foi agravado com a crise econômica mundial. “Mesmo os países emergentes, como China e Índia, terão redução do Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil é um dos poucos países que continuará crescendo, com a perspectiva de passar de 2,7% para 4,5% ”, explicou.

Segundo o ministro, o Brasil tem condições para responder à recaída da crise internacional porque possui um mercado interno dinâmico, depende menos dos mercados externos, possui grandes programas de investimento, demonstra forte solidez fiscal e acumulação de reservas, além de manter a inflação sob controle.

Mantega destacou a importância das ações de monitoramento e controle do câmbio, que já vem sendo tomadas em caráter permanente, para evitar que o chamado “tsunami monetário” atinja o país. “O câmbio se transformou em um dos principais instrumentos de competitividade entre os países. Hoje, todo mundo quer desvalorizar suas moedas para que seus produtos tenham maior competitividade”, justificou.

A presidenta Dilma Rousseff reforçou que o governo está atento à desvalorização das moedas, prática que ela classificou como “competição predatória”. “Vamos agir com firmeza nos organismos internacionais e adotar todas as salvaguardas possíveis para defender nossas empresas, nossos empregos e a renda de nossos trabalhadores. Nós sabemos que uma forma de competição predatória é a que usa medidas de desvalorização das moedas. Nós estamos atentos a essas práticas e vamos agir sempre dentro dos limites das normas internacionais”, afirmou.


Fotos: Wilson Dias/ABr 




Fonte: www.cartamaior.com.br 












A CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO,  O SUICÍDIO
E A REBELIÃO EM ATENAS


por Mauro Santayana 


O homem que prenderam, interrogaram, torturaram, humilharam, escarneceram e crucificaram, na Palestina de há quase dois mil anos, foi, conforme os Evangelhos, um ativista revolucionário. Ele contestava a ordem dominante, ao anunciar a sua substituição pelo reino de Deus. O reino de Deus, em sua pregação, era o reino do amor, da solidariedade, da igualdade. Mas não hesitou em chicotear os mercadores do templo, que antecipavam, com seus lucros à sombra de Deus, o que iriam fazer, bem mais tarde, papas como Rodrigo Bórgia, Giullio della Rovere, Giovanni Médici,  e cardeais como os dirigentes do Banco Ambrosiano, em tempos bem recentes. O papa reinante hoje, tão indulgente com os gravíssimos pecados de muitos de sua grei, decidiu, ex-catedra, que as mulheres não podem exercer o sacerdócio.


Ao longo da História, duas têm sido as imagens daquele rapaz de Nazaré. Uma é a do filho único de Deus, havido na  concepção de uma jovem virgem, escolhida pelo Criador. Outra, a do homem comum, nascido como todos os outros seres humanos, em circunstâncias de tempo e lugar que o fizeram um pregador, continuador da missão de seu primo, João Batista, decapitado porque ameaçava o poder de Herodes Antipas. Tanto João, quanto Jesus, foram, como seriam, em qualquer tempo e lugar, inimigos da ordem que privilegiava os poderosos. Por isso – e não por outra razão – foram assassinados, decapitado um, crucificado o outro.


Um e outro tiveram dúvidas, segundo os evangelistas. João Batista enviou emissário a Jesus, perguntando-lhe se era mesmo o messias que esperava, e Cristo, na agonia, indagou a Deus por que o abandonava. Os dois momentos revelam a fragilidade dos homens que foram, e é exatamente nessa debilidade que encontramos a presença de Deus: os homens sentem a presença do Absoluto quando as circunstâncias o negam. João Batista sentia-se movido pela fé, ao anunciar a vinda do Salvador.


Era um ativista, pregando a revolução que viria, chefiada por outro, pelo novo e mais poderoso dos profetas. Ao saber que Cristo pregava e realizava milagres, supôs que ele poderia ser aquele que esperava, mas duvidou. Nesse momento, moveu-se pela esperança de que o jovem nazareno fosse o Enviado – o que confirmaria a sua fé. Cristo, na hora da morte, talvez levasse a sua dúvida mais adiante, e se perguntasse se a sua morte, que previra e esperara, serviria realmente à libertação dos homens – desde que salvar é libertar. O Reino de Deus, sendo o reino da justiça, é a libertação. Daí a associação entre essa felicidade e a vida eterna, presente em quase todas as religiões. Na pregação de Cristo, a libertação começa na Terra, na confraternização entre todos os homens. Daí o conselho aos que o quisessem seguir, e ainda válido – repartissem com os pobres os seus bens, como fizeram, em seguida, os seus apóstolos, ao criar a Igreja do Caminho. Se acreditamos na vida eterna, temos que admitir que a vida na Terra é uma parcela da Eternidade, que deve ser habitada com a consciência do Todo. Assim, a vida eterna começa na precariedade da carne.


Quarta-feira passada – quando em São João del Rei, em Minas, a Igreja celebrou o Ofício das Trevas no rito antigo – um grego, Dimitris Christoulas, chegou pela manhã à Praça Syntagma, diante do Parlamento Grego, buscou a sombra de um cipreste secular, levou o revólver à têmpora, e disparou. Em seu bilhete de suicida estava a razão: aos 77 anos, farmacêutico aposentado, teve a sua pensão reduzida em mais de 30%, ao mesmo tempo em que se elevou brutalmente o custo de vida. As medidas econômicas, ditadas pelo empregado do Goldman Sachs e servidor do Banco Central Europeu, nomeado pelos banqueiros primeiro ministro da Grécia, Lucas Papademos,  não só reduziram o seu cheque de aposentado, como o privaram dos subsídios aos medicamentos. “ Quero morrer mantendo a minha dignidade, antes que me veja obrigado a  buscar comida nos restos das latas de lixo” – escreveu em seu bilhete de despedida, lido e relido pelos que tentaram socorrê-lo, e que se reuniam na praça.


“Tenho já uma idade idade que não me permite recorrer à força –  mas se um jovem agora empunhasse um kalashinov, eu seria o segundo a fazê-lo e o seguiria”.


No mesmo texto, Christoulas incita claramente os jovens gregos sem futuro à luta armada, a pendurar os traidores, na mesma praça Syntagma, “como os italianos fizeram com Mussolini em Milão, em 1945”. O tronco do cipreste se tornou  painel dos protestos escritos. Em um deles, o suicídio de Christoulas é definido como um “crime financeiro”.


A morte de Christoulas, em nome da justiça, pode trazer nova esperança ao mundo, como a de Cristo trouxe. Não importa muito se ainda não foi possível construir o reino de Deus na Terra, e tampouco importa que o nome de Cristo tenha sido invocado para justificar tantos e tão repugnantes crimes. No coração dos homens de boa vontade, qualquer que seja o seu calvário – porque todos os homens justos o escalam, onde quer que nasçam e morram – a felicidade os visita quando comungam do sentimento de amor de Cristo pela Humanidade. Nesses momentos, ainda que sejam apenas segundos fugazes, habitamos o Reino de Deus.


Nunca, em toda a História, tivemos tanto desdém pela vida dos homens, como nestes tempos de ditadura financeira universal. Estamos vivendo vésperas densas de medo, mas dentro do medo, há centelhas de esperança. A morte do aposentado, quarta-feira de trevas, em Atenas, é, com toda a carga trágica de seu gesto,  partícula de uma dessas centelhas.


Estamos cansados de sangue, mas o que está ocorrendo hoje – teorizem como quiserem economistas e sociólogos – é a etapa seguinte do grande projeto dos neoliberais, que vem sendo executado sistematicamente pelos que realmente mandam no mundo e que assumiram sua governança (para usar o termo de seu agrado), mediante a Trilateral e o Clube de Bielderbeg, controlados, como se sabe, por meia dúzia de poderosas famílias do mundo. Esse projeto é o de dizimar, por todos os meios possíveis, a população, e transformar a Terra no paraíso dos 500.000 mais poderosos, ricos e eleitos, em oposição à utopia cristã. Mas é improvável que os pobres, que são a maioria, não identifiquem seu real inimigo, e se sacrifiquem, sem resistência, ao Baal contemporâneo – esse sistema financeiro que acabou com a antiga sacralidade da moeda, ao emitir papéis sem nenhuma relação com os bens reais do mundo, nem com a dignidade do trabalho. A força da mensagem do nazareno deve ser retomada: os oprimidos – negros, brancos, mestiços, muçulmanos, cristãos, budistas e ateus – devem compreender que os habita o homem, e não animais distintos, destinados à violência em proveito dos promotores da barbárie.


Ao expirar, depois de torturado, ultrajado seu corpo, humilhado, escarnecido, Cristo se tornou a maior referência de justiça.  Aos 77 anos, o aposentado grego, ao matar-se, transformou-se em bandeira que ameaça iniciar, na Grécia, novo movimento em favor da igualdade – a mesma idéia que levou Péricles a fundar o primeiro estado de bem-estar social, ao reconstruir Atenas, empregar todos os pobres, e dotar os marinheiros do Pireu do pioneiro conjunto de casas populares da História.


Vinte séculos podem ter sido apenas rápido intervalo – um pequeno descanso da razão.





Fonte: JBonline 









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