18 abril 2012

POLÍTICA, SOCIEDADE


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Cachoeira e Delta: o todo e a parte


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  (em seu Blog)
Tome-se a gravação em que o presidente da Delta fala sobre subornos. Apareceu em todos os jornais e mereceu menção no Jornal Nacional. A fonte era o jornalista assessor de Carlinhos Cachoeira.
A rigor, o diálogo não significa nada. O executivo fala em hipóteses: "se eu" colocasse tantos milhões nas mãos de fulano, ganharia a obra; "se eu" colocasse tantos milhões nas mãos de beltrano, e assim por diante. Ele não falou "eu coloquei" tantos milhões nas mãos de fulano.........
Tem o mesmo valor de uma declaração tipo "se eu fosse Onassis, conquistaria Jackie Kennedy".
Não se tenha a menor dúvida de que a Delta está atolada até o pescoço em subornos e falcatruas. Transformar em mote de cobertura geral um diálogo absolutamente insosso chama atenção.
Mas faz parte de uma estratégia de fogo de encontro que foi bastante utilizada na CPI dos Precatórios, de tirar o foco do todo e colocá-lo na parte. Na época, o todo era Paulo Maluf, Gilberto Miranda e companhia. A parte era o Banco Vetor, elo menor da corrente.
Focando-se no todo, pegar-se-iam todos, incluindo o Vetor; focando-se na parte, apenas o Vetor, livrando Paulo Maluf e companhia.

Durante um mês, toda a cobertura de Brasilia focou na parte. E aí se entra no efeito-manada.
Havia uma sucursal específica empenhada em livrar Maluf. Ela assumiu a liderança da coberturae o restante da mídia foi atrás, pelo efeito-manada.
Vai se tentar repetir o estratagema, agora, em relação ao todo Cachoeira e a parte Construtora Delta. Focando-se na Delta, deixam-se de lado as relações de Cachoeira com políticos de vários estados e funcionários de vários ministérios, com os dossiês, com seus investimentos em genéricos e com suas parcerias na mídia. E fica-se apenas com a parte Delta.
Nessa guerra retórica e de cobertura, um segundo recurso tem sido a insistência nessa versão de que o Planalto teme a CPI e está manobrando para minimizar os estragos. Não teme, mas tem sua estratégia que consiste, justamente, em colocar o foco no todo.
Portanto, o jogo político-midiático em torno da CPI é simples de entender: o Planalto quer apurar o todo Cachoeira; a cobertura da mídia quer apurar apenas a parte Delta.




Opinião do blog: sou a favor da apuração das denúncias, com ou sem
CPI, doa em quem doer. Não podemos compactuar com esse estado
de coisas, onde a chamada "grande imprensa" mergulha no famoso
"mar de lama", manipulando, distorcendo, omitindo por conveniência
e criando escândalos e, hipocritamente, posa de defensora da moral,
da ética e da honestidade. Com que cara?
Precisamos acreditar que existe gente honesta, na política, na mídia,
na justiça. Do contrário, estaremos perdidos. (AB) 





Moralismo a serviço da imoralidade




Por Ciro Gomes, no sítio da Revista CartaCapital


Prometi, e cumprirei, discutir com meus pacientes leitores a questão estrutural brasileira. Neste momento explicaria melhor a idéia de que só prosperam as civilizações que a um só tempo reunissem três premissas desenvolvimentistas: alto nível de investimento doméstico, coordenação estratégica entre governo, empreendedores e academia e alto investimento em gente. Mas o noticiário da semana não permite omissão.
Desculpem, a conjuntura me chama.
Em nosso País, seja pela vigente cultura católica, seja porque nosso povo vive uma vida dura pela sobrevivência, há um sentimento moral muito forte. A tradução simples é que ninguém agüenta mais a contradição da vida dura que vivemos em média, e a notícia malcheirosa da roubalheira generalizada e impune que testemunhamos pela televisão ou pelos jornais e revistas no espaço público…
Pois bem, aproveitando-se disto, despudoradamente, o conflito maniqueísta entre PT e PSDB de São Paulo parece querer impor ao País um novo embate moral, com todo o potencial paralisante (e, pior, desmoralizante) dos costumes democráticos recém conquistados.
A policia federal parece ter descoberto uma relação incestuosa entre um dos chicotes morais da aliança PSDB-PFL, quero dizer, DEM, e o crime vulgar: um bicheiro teria relações comprometedoras com militantes do DEM-PSDB de Goiás com ramificações com sucursais de revistas nacionais. Veja, esta é a acusação preliminar a ser aprofundada pelo ministério público e o judiciário. O PT achou, a meu juízo, oportunisticamente, ocasião ótima para voltar à velha prática de chibata moral da nação da qual havia sido afastado pelas contradições de governar. E incrivelmente associou-se  à idéia de uma CPI no Congresso. Não lembro de ocasião anterior em meus 32 anos de vida pública em que forças governistas apóiam uma CPI, instrumento normalmente associado à agenda de oposição.
Foi o bastante para o dispositivo reacionário brasileiro se armar e partir para a, desculpem o pleonasmo, reação. Moralista também, é claro! A tese é que o PT  “inventou” este escândalo para fazer uma cortina de fumaça em relação ao assim chamado escândalo do mensalão prestes  ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Tenho pra mim que os melhores costumes democráticos e a melhor cultura jurídica recomendavam absoluta autonomia entre as duas “notitia criminis” . Ninguém é anjo nem ninguém é demônio na vida pública. Todos são inocentes até prova em contrário, assegurado julgamento justo, ampla defesa e contraditório no devido processo legal….
Bobagem minha… O efeito político desta repetida prática politiqueira está ferindo de morte a premissa democrática. A crença do povo no sistema já não acha base em que se sustentar. Pior: os jovens estão induzidos a crer que todos são iguais na pilantragem quando se trata da militância política em nosso Brasil.
Explico: nas próximas semanas, possivelmente meses, o Pais será induzido, de novo, a não mais refletir sobre seus desafios centrais, sobre seu pacto reacionário, sobre a insustentável distribuição de renda, sobre o caos em sua saúde pública, sobre sua deprimente educação pública, sobre seus desafios internacionais complexos, sobre a condição de vida de  nossas maiorias cumprindo uma terceira jornada de trabalho dentro de ônibus em nossas cidades mal organizadas… Teremos todos que, a depender da mídia engajada de lado a lado, optar contra qual artificial lado depositaremos nossa repulsa moral.
Antecipo o fim desta novela já repetida: ou se acertam os pilantras de lado a lado, ou, lamentavelmente, acabaremos em mais um episódio demonstrativo de que todos são iguais na safadeza e descompromisso com o interesse do povo.
Este é um falso dilema! Não podemos permitir que a sociedade iguale na percepção de indigência moral TODOS os agentes políticos.
Sei que não será o discurso, mas sim o exemplo concreto, que poderá nos livrar desta conclusão trágica. Ou seja, diante desta falsa disjuntiva, o que nos cabe como fração politizada da sociedade brasileira é uma terceira posição. Em linha com a melhor experiência internacional e com a melhor doutrina.
Toda força à crença de que nossos tribunais, assim como naquela memorável ocasião em Berlim, existem!
Saiamos de  nossas simpatias para a convicção madura e politizada de que distorções morais não são monopólio de nenhuma pessoa ou organização. Vigiemos que este jogo de empate não se consume. Ou seja : cale-se com relação à  minha safadeza que calo-me com relação à sua ( os embaixadores do deixa disso já estão  em marcha).
Porém, mais importante que tudo já dito, vacinemo-nos da tentação justa, mas imprudente e destrutiva, de desacreditarmos na política, a linguagem única da democracia.
O poder não se compraz com o vácuo. A linguagem da luta pelo poder numa democracia é a política. Se aceitarmos a superficial, embora compreensível crença de que a política é um pardieiro de pilantras, os decentes, maioria do povo, mas especialmente dos jovens, não aceitarão mais participar. A quem, isto aproveitaria ?
Certamente não aos decentes, maioria de nosso povo.
Por isto um cuidado sempre, mas especialmente nos próximos momentos da vida pública publicada do Brasil: o moralismo não pode ser posto a serviço da imoralidade!

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CAÇA AOS CORRUPTORES 

Por Maurício Dias, Na Revista CartaCapital
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Na palestra que fez para uma plateia de estudantes na Universidade de Harvard, durante a recém-concluída viagem aos Estados Unidos, a presidenta Dilma Rousseff apontou o dedo num equívoco da sociedade brasileira: “Olhar só para quem é corrupto, sem olhar para o corruptor”.

Concordância. Nada mais entre Montesquieu e Carols Zarattini. Foto: Carlos Moura/D. A Press
Eis um expressivo suporte para essa afirmação de Dilma. Dados da Controladoria-Geral da União mostram que, nos últimos nove anos, mais de 3,6 mil agentes públicos da administração federal foram demitidos. O tempo abrange a data de criação da GGU e coincide com a existência dos governos petistas.
Talvez por isso a presidenta, que já afastou meia dúzia de ministros acusados de ilícitos, tenha citado o sábio Montesquieu – “os homens não são virtuosos, as instituições têm de ser virtuosas” – para, em seguida, concluir: “Temos de garantir o controle institucional dos processos, das práticas”.
Mas vem um antídoto aí, se ele saltar as barricadas que forem erguidas ao longo datramitação no Congresso.
O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) já concluiu o relatório do Projeto de Lei enviado pelo governo Lula em 2010, que, entre outras medidas, responsabiliza as “pessoas jurídicas pelos atos praticados por qualquer agente ou órgão que as represente”.
Esse é um ponto-chave da questão nessa terra de ninguém.
“É difícil responsabilizar o agente corruptor. A empresa sempre argumenta que o funcionário agiu sem autorização. E se livra do problema”, explica Zarattini, relator da Comissão Especial da Câmara, formada para analisar a proposta do Executivo.
No relatório, o parlamentar inclui mais um dado que remete ao problema apontado por Dilma. Segundo ele, o Brasil, no campo do direito internacional, é um dos três países signatários da Convenção Anticorrupção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sem legislação que responsabilize pessoas jurídicas por atos de suborno contra autoridades públicas. Os outros dois são a Argentina e a Irlanda.
O projeto, além de prever a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica, não exclui “a responsabilidade de seus dirigentes” do ato ilícito “ainda que tenha agido sem poderes de representação ou sem autorização superior”. E, mais, cria punições administrativas com multas que variam de 6 mil a 6 milhões de reais e bloqueia por dez anos qualquer relação da empresa corruptora com órgãos públicos ou instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público.
Cria ainda um cadastro nacional de empresas corruptoras, punidas pela administração pública. Obviamente, todo o procedimento se dará com amplo, porém rápido, direito de defesa.
A proposta enviada pelo Executivo sofreu 35 emendas na Comissão Especial criada em 2011 na Câmara. Além de algumas supressões, sofreu acréscimos que ampliaram o poder e o alcance do projeto original, segundo o relator.
É uma arma de efeito letal para funcionários corruptos e para empresários corruptores. “Onde há corruptos há corruptores”, deduziria o redundante Conselheiro Acácio, sabedor de que esse crime tem sempre dois agentes: o ativo e o passivo.
“A meu ver, essa proposta é mais importante contra a corrupção do que a Lei da Ficha Limpa”, afirma Carlos Zarattini.








CRÔNICA CRÔNICA CRÔNICA CRÔNICA


Congresso, imprensa e bandidagem…

publicada terça-feira, 17/04/2012 às 10:04 e atualizada terça-feira, 17/04/2012 às 10:04
Por Izaías Almada

Passou a semana santa, boa semana também para as reflexões. Estas, cada vez mais necessárias nos dias que passam. Dentro de casa, na escola, no trabalho, na nossa cidade, no nosso país, no mundo. Viver no vai da valsa, como muitos gostam de fazer, pode até causar aquela sensação de bem estar, tão ao gosto dos que afirmam de boca cheia: “eu não tenho nada a ver com isso!” Mas…

Começaria por dizer que, exatamente aqueles que se vangloriam de nada ter a ver com o que se passa à sua volta, serão – muito provavelmente – os que mais facilitam a ação dos inescrupulosos, dos pusilânimes, dos bandidos em pele de cordeiro. Viver em sociedade não nos exime de responsabilidades, não é uma atitude de vontade própria, egoísta, ensimesmada, mesmo que tenhamos a ilusória sensação de que isso seja possível.
Trazendo o pensamento para o atual momento político brasileiro é possível, com maior clareza ainda, entender o significado da premissa.

Quantos cidadãos brasileiros, por exemplo, se vangloriaram nos últimos anos em apontar o dedo acusador para adversários políticos com a convicção de que – ao fazê-lo – não só clamavam por justiça contra alguma iniquidade, mas também se colocavam como arautos da moralidade em defesa da decência, da ética, da justiça social, das liberdades fundamentais do ser humano, da democracia?


Nessa ótica, não só o cidadão comum, mas também – e principalmente – os que detêm cargos públicos, como políticos, homens e mulheres que devem zelar pelo cumprimento das leis, formadores de opinião ou que assim se julgam; religiosos dessa ou daquela denominação, jornalistas e proprietários de conglomerados mediáticos, têm trocado o pé pelas mãos e dado, através de palavras e atos, inequívocos exemplos de desatenção ou mesmo de má fé com o exercício mais responsável de sua função social.

Ao tomar conhecimento do criminoso conluio entre um senador, um bicheiro e o diretor da revista Veja em Brasília, a sociedade brasileira pode agora sintetizar neste caso emblemático o lamaçal institucional em que se envolveu o país desde a derrubada do governo democraticamente eleito em 1961, cujo vice-presidente, João Goulart, acabou no exílio e supostamente assassinado.

O desenho dessa caminhada, de origens mais remotas, colonialistas, foi ‘enriquecida’ pela violência repressiva da ditadura de 64/68 e desaguou numa retomada democrática mantida sob o tacão do poder econômico e sustentada por um setor ruralista conservador e reacionário, pela aceitação pura e simples do modelo econômico neoliberal e com o apoio de um poder judiciário classista e de uma imprensa comprometida com o atraso. Alie-se a isso a mesmice e a submissão entreguista de parte da nossa elite cultural.

Demóstenes, o probo, o ético, o supostamente incorruptível, homem de duas caras, mantinha – pelas provas apresentadas até agora – ligações com o representante da Revista Veja em Brasília, essa tradicional e impoluta bandeira da imprensa livre nacional, praticante do jornalismo responsável e também ético. Juntos, Demóstenes e o diretor da sucursal de Veja no DF frequentavam escritório e restaurantes com o ‘empresário’ (afinal, o Crime Organizado pode ser também uma empresa) Carlinhos Cachoeira e nesse mundo de trambiques, negociatas, ameaças, espionagem, chantagens, o país ‘aprendeu’ a pensar a sua realidade política sob a ótica da falsa moralidade, invertendo o fiel daquela balança que já nos acostumamos ver na simbólica imagem da Justiça.

Os porões da espionagem e do crime organizado filtravam e canalizavam seus interesses para a revista semanal de maior tiragem (dizem) e dali fazia-se a cabeça do brasileiro médio, não muito afeito ao exercício do pensamento crítico, já que sua vida passa por dificuldades financeiras, telenovelas de conteúdo cultural sofrível, violência nas grandes cidades e não só, noticiário tendencioso e mesmo mentiroso a respeito de algumas das grandes questões nacionais, a tal ponto que boa parte da esquerda e de liberais progressistas caiu na arapuca da bandidagem.

Bandidagem que não se localiza só em Goiás, no Distrito Federal ou em São Paulo, mas permeia quase todo o território nacional. Com o que se vai apurando nas investigações da Polícia Federal, quem é que vai atirar a primeira pedra? Ainda somos suficientemente idiotas para acreditar nas imagens que vemos em alguns telejornais, noticiários radiofônicos e textos de revistas e jornais.

CPIs disso e daquilo, em ano de eleições? Para quê? A quem querem continuar enganando, se no meio dessa arena enlameada já não conseguimos distinguir os lobos dos cordeiros?


Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros TEATRO DE ARENA, UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA, da Boitempo Editorial e VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS, Editora Caros Amigos.




fonte: www.rodrigovianna.co.br 





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