14 abril 2012

ECONOMIA, FUTEBOL.

FUTEBOL    FUTEBOL   FUTEBOL    FUTEBOL    FUTEBOL




O Santos Futebol Clube acaba de completar seu centenário. No meu entendimento, o
Santos de Pelé, como é muitas vezes nomeado, é um time de futebol sui generis. Os
brasileiros, amantes do futebol, pelo menos uma vez na vida já torceram pelo Santos. É um
time que, invariavelmente, pratica um futebol mais "moleque" (como se dizia 
antigamente), mais inconsequente., que dá gosto de se ver, mesmo sem torcer por ele.
Falta, no Brasil, mais times assim. (AB)












G O O O O O O O O O O O O L







Hoje todos somos Santos Futebol Clube


Fernando Vives, na Revista CartaCapital 


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Pelé faz um dois oito gols que anotou contra o Botafogo-SP na goleada por 11 a 0 pelo Campeonato Paulista de 1964. Pelé e Santos se confundem e o futebol agradece. Foto: Folhapress
Quando um brasileiro hoje viaja para a Europa, China, África do Sul ou qualquer outro lugar do globo, é grande a chance de ele receber, em troca, um sorriso e uma palavra: Pelé.
Quando o Brasil ainda era pouca coisa no mundo, os doze anos que separaram 1958 de 1970 bastaram para termos ao menos um orgulho internacional: o futebol. O que unia aqueles times fantásticos de 58, 62 e 70? Pelé.
Pelé foi único e, para uma existência assim, só um clube único faria sentido naqueles literários tempos do futebol: o Santos Futebol Clube. Não há como dissociar Santos de Pelé, não há como não lembrar de Pelé ao falar do Santos.
O Peixe entrou sem ninguém convidar no hall dos grandes clubes paulistas e tornou-se o único gigante brasileiro não sediado numa capital. O uniforme de um branco total e iconicamente simples foi durante os anos 50, 60 e parte dos 70 o símbolo máximo do futebol técnico, plástico e transcendental. Havia ali na Vila Belmiro todo um sentido artístico do esporte.
Até o início dos anos 1950, o futebol brasileiro era um pouco como O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, o médico e o monstro. Tínhamos talento a beça, tínhamos um futebol bonito, mas também éramos esquentados, não tínhamos nervos para os grandes duelos e sempre entrávamos em campo já um pouco derrotados.
Antes do Santos e da seleção brasileira do fim dos anos 1950, se enfrentávamos os europeus, temíamos porque eram eles quem tinham inventado o futebol e era de lá que vinham as inovações táticas. Se era contra os argentinos, eles que excursionavam no Brasil goleando nossos times a mostrar como se jogava futebol. Se era contra os uruguaios, eles nos irritavam e ganhavam na raça e na catimba. Tínhamos futebol e beleza, mas as coisas acabavam saindo errado. Éramos, como cunhou em definitivo Nelson Rodrigues, uma nação de vira-latas.
Depois daquele Santos, nos tornamos vira-latas exemplares. São vários os clubes que forjaram o jeito brasileiro de jogar futebol: o Vasco do fim dos anos 40, o Fluminense do início dos 50, as academias do Palmeiras dos anos 30 aos 70, o Botafogo dos 50 e 60. No entanto, ninguém foi mais importante que o Santos da década de 60 bicampeão do mundo que curvou os poderosos Benfica e Milan, o Santos que parou uma guerra na África, o Santos cujo manto alvo resplandecia a tela em preto e branco do Canal 100 nos cinemas do Brasil.
Com o passar dos anos, o Peixe acabou minguando-se. As sucessivas más administrações do clube diminuíram sua importância nos anos 80 e 90 – coincidência dessas que fazem as histórias dramáticas, isso ocorreu ao mesmo tempo em que transformaram o futebol em negócio, muito mais negócio que diversão.
Hoje o Alvinegro está de volta, ganhando títulos. Tem Neymar para lembrar que o futebol pode ser belo e imprevisível, mesmo na era das altas finanças esportivas e do marketing. É um bastião que ainda dá esperanças de erguer o futebol brasileiro agoniado pelos Joões Havelanges e Ricardos Teixeiras da vida e cujo brilho se perdeu.
Hoje o Santos completa 100 anos de existência. Não importa para qual time torcemos, é um dia que todos os que gostam de futebol devem comemorar.







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economia ECONOMIA ECONOMIA economia






Sistema Financeiro






Público agindo como público







João Sicsú, na Revista CartaCapital(*)



Pela primeira vez a presidente Dilma Rousseff tomou medidas que causaram arrepios e calafrios na turma neoliberal financista. A presidente já tinha adotado vários remédios homeopáticos desenvolvimentistas durante os seus primeiros 15 meses de governo.
Mas grande parte dos neoliberais desconsiderou a homeopatia desenvolvimentista.
Calcularam que não valia a pena se opor por pouca coisa a uma presidente tão bem avaliada. E, doses específicas e pequenas de políticas econômicas, de fato, não têm efeito macroeconômico contundente.

'Pela primeira vez a presidente Dilma Rousseff tomou medidas que causaram arrepios e calafrios na turma neoliberal financista' Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Um exemplo de homeopatia desenvolvimentista: a presidenta lançou, no ano passado, o programa “Brasil Maior”, que cobra juros nos empréstimos para projetos de inovações de 4% ao ano.
Alguns, isoladamente, criticaram a medida dizendo que haveria, embutidos nos empréstimos, a concessão de subsídios para setores específicos. Tudo passou despercebido: o programa e a crítica.
Agora, não vai dar para ficar calado ou fazer uma crítica tangencial. Afinal, por orientação da presidente e do ministro da Fazenda, os bancos públicos, Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica enfrentaram o mercado da “lógica natural” dos juros elevados. O Brasil tem um conjunto de taxas de juros elevadíssimas para os padrões do mero bom senso ou para os padrões internacionais, como gostam de salientar os especialistas.
O mercado de crédito para a pessoa física e de capital de giro para as empresas é muito concentrado no Brasil. Apenas poucos bancos dominam quase todo esse mercado. São eles: o Santander, o Unibanco, o Bradesco, a Caixa e o Banco do Brasil.
Em qualquer mercado concentrado, o consumidor fica a mercê do lado mais forte. Contudo, banqueiros dizem que os juros são altos por conta da inadimplência, dos impostos, do elevado compulsório etc. Obviamente, não dizem que seus lucros bilionários decorrem dos juros elevados que podem cobrar por atuarem em um mercado que não há concorrência.
Entre os maiores bancos que atuam no mercado de crédito para pessoa física e empresas estão dois grandes bancos públicos. E, se bancos públicos agem como entidades públicas, devem objetivar aumentar a funcionalidade do sistema financeiro e maximizar a satisfação dos clientes. Os bancos públicos, nos últimos anos, exceto durante a crise de 2008/9, agiram como bancos privados, ou seja, buscavam principalmente a maximização do lucro.
Se um banco público age com fins privados é melhor privatizá-lo. Mas, melhor é ter banco público agindo como banco público. Para aumentar a funcionalidade do sistema, os bancos públicos devem ampliar o crédito e oferecer produtos variados de investimento financeiro. Para aumentar a satisfação do cidadão, os bancos devem reduzir os custos de transação das operações (isto é, reduzir tarifas e tempo de atendimento), reduzir taxas de juros e atender bem o cliente. Para que seus programas tenham efeito macroeconômico, é preciso que tenham tamanho significativo dentro do sistema financeiro.
O Banco do Brasil e a Caixa lançaram esta semana programas ousados de redução de suas taxas de juros. Há bons exemplos dentro dos programas. A taxa máxima cobrada pelo BB no crédito pessoal caiu de 4% ao mês para 1,98%. Na Caixa, a taxa do cheque especial caiu de 8,25% ao mês para 4,27% e a taxa do empréstimo para o capital de giro de pequenas empresas caiu de 2,72% ao mês para 0,94%.
Nos últimos anos, os bancos públicos têm ampliado a sua participação no mercado de crédito. Em janeiro de 2008, o crédito público representava 34,1% do total do crédito ofertado. Em janeiro de 2012, subiu para 43,8%. A partir da crise financeira internacional de 2008/9, os bancos públicos foram francamente “estatizados”, ou seja, passaram a ser dirigidos pelo governo com base no interesse público. Contudo, no passado recente, quase a sociedade perdeu esses bancos para o sistema financeiro privado.
O governo do neoliberal Fernando Henrique Cardoso (FHC) negociou com o FMI a privatização do Banco do Brasil, da Caixa e do BNDES. Em documento do governo brasileiro dirigido ao FMI, de março de 1999, o Ministro Pedro Malan informou que “o governo dará continuidade à sua política de … redução do papel dos bancos públicos na economia.” E continuou: “ademais o Governo solicitou à comissão de alto nível encarregada do exame dos … bancos federais (Banco do Brasil, Caixa …) a apresentação … de recomendações sobre … possíveis alienações de participações nessas instituições, fusões, vendas de componentes estratégicos ou transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda linha”.
Agora, aqueles que não conseguiram privatizar os bancos públicos vão fazer muitas críticas aos programas de redução de juros do BB e da Caixa. Talvez as críticas não venham diretamente de ex-ministros ou ex-dirigentes do Banco Central. Afinal, estão em posições desconfortáveis para fazê-las. São diretores, membros do conselho ou donos de entidades financeiras que serão atingidas pela política dos bancos estatais. Os bancos privados terão que reduzir os juros também. Do contrário, continuarão a perder mercado. E agora, de forma mais acelerada.
Os neoliberais, órfãos dos governos de FHC, dirão que isto tudo reduzirá o lucro dos bancos públicos e prejudicará os acionistas do Banco Brasil. Dirão que a Caixa perderá capacidade de investimento em equipamento e pessoal. Dirão que as duas entidades estão sendo usadas politicamente pelo governo.
São críticas impertinentes. Afinal, acionistas só têm a ganhar porque o BB vai ganhar mercado e, ademais, possuem ações de uma instituição que visa à satisfação do cliente – o que é socialmente correto. Hoje, empresas poluidoras que visam somente o lucro veem em trajetória de queda suas ações e dividendos distribuídos.
Os bancos públicos (e os privados também) estão bastante capitalizados e em condições de investir em pessoal, equipamento, serviços e novas agências. Os bancos públicos só existem porque são instrumentos de governo para dar estímulos e desenvolver mercados. Se chamam de “uso político” as medidas de governo que vão nessa direção é porque estão motivados pelo embate ideológico e pela necessidade de defesa de interesses puramente financeiros.









(*)Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA entre 2007 e 2011.






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A queda de Demóstenes e a estratégia
do financismo


Paulo Kliass (*)










O naufrágio político que acometeu o Senador Demóstenes Torres tem sido comemorado por todos aqueles que identificavam naquele parlamentar a encarnação do falso moralismo e do discurso conservador. Ele se revelava como o representante típico de parcela das elites que haviam sido parcialmente deslocadas do centro do poder, desde 2003 em nosso País.

Eleito pelo Estado de Goiás, marcou sua atuação como um dos mais fiéis integrantes da tropa de choque da oposição aos governos de Lula e Dilma. Iniciou sua carreira no Senado Federal, exatamente no momento em que a coalizão liderada pelo PT ganhava as eleições presidenciais. Quis a ironia do destino que o “ardoroso defensor da ética e da moralidade” viesse a ser denunciado por práticas ilícitas com o mesmo personagem que esteve na base das primeiras denúncias que levaram ao escândalo do mensalão e à renúncia de José Dirceu. O conhecido e pluripartidário Carlinhos Cachoeira.

Ascensão e queda de Demóstenes
O destrambelhamento do parlamentar - eleito pelo antigo PFL, reconvertido ao DEM e agora sem legenda - reflete de forma adequada a incapacidade da oposição conservadora em encontrar um prumo para balizar sua ação política e sua estratégia eleitoral. Girando de forma aleatória, feito biruta de aeroporto, esses indivíduos parecem se deixar levar pelas correntes de vento e não conseguem traçar uma rota para si mesmos. E encontram na benevolência dos grandes órgãos de comunicação uma tábua de salvação para orientar sua ação no cotidiano. Tudo se passa como se a grande imprensa terminasse por dar a linha de ação dessa oposição, ainda sempre tão saudosa dos tempos da hegemonia neoliberal.

Mas quando a situação de Demóstenes esquentou, esse passado de ajuda foi esquecido num piscar de olhos. Dos píncaros da glória ao rés do chão do ostracismo, tudo foi uma questão de horas. Isolamento das demais forças da direita oposicionista, ameaça de expulsão de seu próprio partido e sério risco de perda do mandato. E dá-lhe as TVs e os jornais a reforçarem as denúncias contra aquele que sempre havia contado com seu apoio para chegar aonde tinha chego, pelo menos até anteontem. Até o momento, não consegui encontrar uma única notinha do tipo “erramos”, uma desculpa mínima a respeito de tanta propaganda enganosa, levada aos leitores desde o início de 2003.

É longa a lista das sucessivas derrotas sofridas por esses representantes políticos durante os últimos tempos. Por exemplo: i) eleição presidencial em 2010; ii) não reeleição de lideranças como Senador Arthur Virgílio (AM); iii) ruptura da turma liderada por Kassab e criação do neo-governista PSD. Com isso, a estratégia do financismo teve que sofrer alguns ajustes de conduta.

Até então, a tarefa de bater duro e publicamente no governo vinha pelo lado de tais personagens. Isso porque é sempre necessário e interessante desgastar um governo no qual eles não se sentem assim tão confortavelmente representados. Por mais que os sucessivos governos, desde a estréia de Lula na Presidência e Demóstenes no Senado, tenham desenvolvido políticas econômicas conservadoras e atendido às demandas do capital financeiro, parece evidente que não se trata de um governo composto de pessoas de total confiança da banca. Que saudades de um Palocci ou de um Henrique Meirelles...

A estratégia do financismo
Ora, na impossibilidade de fazer ecoar suas pretensões pela boca de parlamentares autênticos na defesa do manual de sobrevivência do financismo, os representantes do capital financeiro ampliam sua penetração pelos órgãos de comunicação. Artigos, colunas, editoriais, pauta de reportagens especiais. Por aí são destilados os venenos em pequenas doses ou lançados os petardos retumbantes contra o governo e suas tentativas mais recentes de operar mudanças em alguns detalhes da orientação da política econômica. Tudo se passa como se os oráculos do capital financeiro estivessem a bradar, temendo que sua mamata esteja chegando ao fim. Na verdade, eles mesmos sabem que não é bem assim. Afinal, como diz a letra do funk, ainda “tá tudo dominado”. Eles não têm muito com o que se preocupar no essencial. Mas que eles devem ter umas saudades enormes do tempo da ortodoxia plena e radical, de antes de 2008, disso não existe a menor dúvida.

Uma linha de atuação é a tentativa de desacreditar a política econômica em termos gerais. De acordo com essa argumentação, o governo estaria promovendo uma grande enganação contra nossa sociedade, pois as premissas básicas do Plano Real e da estabilidade econômica teriam sido abandonadas, sem que ninguém percebesse. E tentam fazer seu alerta, fazendo uso de seu catastrofismo de plantão, que lhes é tão peculiar quando têm seus interesses contrariados. Terrível: o tripé do Plano Real de 1994 teria desaparecido. Senão, vejamos: i) o regime de metas de inflação não existe mais, pois o governo não se preocupa com o centro da meta; ii) o regime de liberdade cambial também é inexistente, pois o governo vive intervindo no mercado de câmbio e não deixa a taxa se afundar de vez, como os especuladores gostariam; iii) o regime de superávit primário seria para inglês ver, pois a gastança pública continuaria a todo vapor. Por dever de ofício, sou obrigado a dar o contraponto.

Como se pode perceber, são argumentos risíveis, típicos do sujeito que se encontra encostado no canto do ringue e não vê saída a curto prazo. Como a realidade demonstra outra coisa, ele abusa do recurso à retórica e cai no descrédito. Ora, o regime de inflação está muito bem mantido, sim senhor. Como sempre esteve desde o início, com um intervalo de 2 pontos percentuais para baixo e para cima do centro da meta, atualmente fixada em 4,5% ao ano. Em nenhum momento desses 18 anos a meta foi deixada de lado. A crítica generalizada da sociedade ao processo de valorização de nossa moeda, o real, existe exatamente pelo fato do governo manter um pé preso na crença da liberdade cambial. Na verdade, o governo deveria mesmo é abandonar essa ilusão e estabelecer mecanismos de controle sobre o fluxo de capital financeiro especulativo. A maioria do País agradeceria e os escribas do financismo, aí sim, teriam razão em sua choradeira, hoje ainda injustificada.

Quanto ao superávit primário, tampouco há dúvida a respeito de sua vigência plena e absoluta. Quase a metade do Orçamento da União de 2012 está comprometida com rubricas financeiras e os representantes do governo se orgulham, a cada instante, em bater no peito, todos orgulhosos de seus compromissos com a responsabilidade fiscal.

Inconformados com a concorrência
Mas o que parece estar realmente incomodando a banca privada é a decisão recente da Presidenta Dilma de obrigar os bancos federais - Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF) - a reduzirem seus “spreads” e oferecerem taxas de juros menos abusivas aos seus clientes. Aliás, a primeira questão que chama a atenção, nesse debate, é o fato dos sucessivos governos eleitos pelo PT terem esperado quase uma década para tomar uma decisão tão simples e ordinária como essa! E, em mais uma dessas coincidências da história, foi necessário que o Demóstenes caísse em desgraça política, mais de 9 anos depois de sua estréia no Senado, para que o governo resolvesse começar pelo óbvio. Baixar os juros.

Afinal, não se trata de nenhuma medida “revolucionária” ou desestruturadora do sistema financeiro. Nada disso! Aliás, o BNDES pratica linhas de crédito a juros reduzidos para os grandes conglomerados há muito tempo. E ninguém reclama. Agora, apenas foi recomendado aos bancos subordinados ao governo federal que deixassem de atuar como agentes comerciais privados e passassem a se comportar como rezam seus estatutos: instituições públicas. Simples assim. Ah, mas isso a banca privada não agüenta. Onde é que já se viu? Agora eles sendo obrigados a se adaptar à concorrência promovida pelo setor público e sendo obrigados a reduzir suas margens de ganho fácil? Que absurdo, não é mesmo?

E como não têm mais tantas vozes cativas, como a de Demóstenes, para proferir os discursos que desejariam ecoar no Parlamento, continuam a investir nas tintas e nas telas. A última safra de artigos procura mostrar que não são os elevados “spreads” que mantêm as taxas de juros das operações de crédito nas alturas. A culpa é dos impostos, da alta inadimplência, do custo Brasil e por aí vai. E que, portanto, (reparem na sofisticação do argumento!), o governo estaria promovendo uma “concorrência desleal e irresponsável” ao baixar “artificialmente” a taxa de juros na ponta do balcão do BB e da CEF. Ou seja, criando insegurança e gerando incerteza no mercado financeiro.

É risível, concordo. Mas não subestimemos a capacidade de reação, de influência e de “lobby” dos representantes desse setor junto aos tomadores de decisão. O governo precisa ainda avançar muito no detalhamento e regulamentação desse tipo de postura, para garantir que a taxa de juros baixe para o tomador no balcão e seja um fator de concorrência, obrigando finalmente os bancos privados a trilharem o mesmo caminho. Uma necessidade, por exemplo, é assegurar condições plenas de portabilidade aos correntistas e oferecer ampla transparência a respeito das taxas e condições oferecidas pelas instituições do mercado financeiro. Veremos.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.




Fonte: www.cartamaior.com.br 










  

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