SUSAN GEORGE
"Devemos pensar grande"
Susan George é conhecida por suas críticas aos dirigentes da globalização corporativa e pelos livros combativos sobre a fome, o desenvolvimento e a dívida dos países pobres. Agora, argumenta, podemos aprender lições do início dos anos 40 para transformar nossas economias esfaceladas e interromper a mudança climática antes que seja tarde.
Susan George
Nosso pobre e combalido mundo está envolto em múltiplas crises. Há pobreza em massa e desigualdade crescente dentro e entre países pobres e ricos. O desastre financeiro que começou com as hipotecas subprimes se espalhou inexoravelmente pelos EUA e pelo resto do mundo, ameaçando mergulhar a economia global num período prolongado de estagnação tão severa como a Depressão. O pior de tudo é que a mudança climática e a destruição de espécies estão sendo aceleradas mais rapidamente do que muitos cientistas e alguns governos pensavam que fosse possível.
Uma crise retro-alimenta e intensifica a outra. Depois de anos de “inovações” irresponsáveis, grandes instituições financeiras estão sendo resgatadas com dinheiro público e muitos executivos pegam o dinheiro e desaparecem, enquanto milhões perdem seus empregos e frequentemente suas casas. Vejam a explosão da bolha imobiliária, o estouro especulativo das commodities do mercado, impulsionando o aumento do preço dos alimentos e da energia. O aumento dramático do preço dos gêneros de primeira necessidade mergulham outras 150 milhões de pessoas na pobreza. Comunidades pobres em recursos fazem o que podem, derrubam árvores, matam animais e super-exploram a pouca terra que têm, mas os ricos causam, de muito longe, um dano muito maior, com suas dinossáuricas pegadas ecológicas.
Defensor devoto da redução das suas emissões de dióxido de carbono, os EUA destina mais de um terço do plantio de seu milho e soja aos biocombustíveis, pressionando os preços dos alimentos para as alturas. O aquecimento global e a fúria de tempestades que ele provoca atingem mais duramente as regiões mais pobres da Terra, assim como o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) disse há muito tempo.
Então, há um caminho de saída? Sim, mas não o ambientalista bem conhecido e há muito advogado. Desculpem-me, mas “nós” não podemos salvar o planeta nem se amanhã “nós” reduzirmos o nosso consumo de energia pela metade. Eu não estou sugerindo que os indivíduos não devam fazer todas as mudanças que puderem, mas eles não devem nutrir quaisquer ilusões de que o comportamento pessoal, ainda que virtuoso quanto à emissão de dióxido de carbono, possa fazer diferença. Os maiores destruidores não vão desistir e medidas voluntárias são ineficientes. A escala é o problema, e nossa tarefa é promover um quantitativo e qualitativo salto na ação ambiental, reconhecendo que grande pode ser não apenas bonito mas crucial, se pretendemos evitar o pior.
Um passo desses é possível? Está o planeta salvaguardado enquanto o capitalismo internacional prevalece, com seu foco no crescimento e no lucro a todo custo, com a captura predatória de recursos e com a euforia financeira? Como disse um homem sábio: “Tudo para nós e nada para outro povo parece, em todas as épocas do mundo, ter sido a máxima vil dos senhores da humanidade”. Quem disse isso foi Adam Smith, em A Riqueza das Nações, não Karl Marx.
Se Smith estiver certo e nossos “senhores” continuam a exibir voracidade e avareza, devemos organizar uma revolução mundial antes de que possamos salvar a Terra? Há algum ponto único de ataque? Se sim, por favor, diga-me o nome do Czar e o endereço do Palácio de Inverno. Ele não é para ser encontrado em Wall Street, que não apenas sobreviveu ao 11 de Setembro mas parece ter capturado o governo norte-americano, a despeito de algumas das maiores empresas terem virado pó. Nem tampouco alguém iria receber bem o sistema político que cobriu a vasta área em que essa revolução ocorreu. De alguma maneira, contudo, porque nosso sistema atual parece determinado à catástrofe, precisamos de uma alternativa entre o capitalismo “vermelho-no-dente-e-na-garra” (1) e uma insurgência mundial tão improvável como utópica.
Há um precedente histórico. Quando os Aliados enfrentaram o fascismo na Segunda Guerra Mundial, havia um adversário que lhes era tão calamitoso como o é a mudança climática para nós. Os EUA ainda não haviam se recuperado plenamente da Depressão, mas tinham em Franklin D. Roosevelt um presidente que entendeu o que era preciso. Sob sua direção, a economia se transformou espantosamente em pé de guerra num curto espaço de tempo. Minha cidade natal, Akron, em Ohio, a “capital vermelha do mundo” (2), passou a produzir pneus e equipamentos para o exército e para a força aérea. Todos os outros centros industriais também se voltaram para as necessidades militares. Os executivos-chefes se tornaram prestigiados “homens de um dólar por ano” (3), pagos com essa simbólica soma pelo Tesouro por ajudarem ao governo a encontrar objetivos quantitativos e qualitativos. Muitos desses executivos emolduraram os seus cheques de um dólar como um distintivo de honra.
Sim, ainda havia conflito entre patrões e empregados, mas no geral era um tempo de oportunidades, especialmente para as mulheres e as minorias. Os trabalhadores eram bem pagos e exibiam em alto e bom som os seus cultivos de “victory gardens” (4), as crianças usavam suas mesadas para comprar broches de guerra, o petróleo foi racionado. O país nunca tinha estado tão unido antes – ou desde então. A guerra fez o país unir esforços para superar, finalmente, a Depressão. Foi a economia keynesiana, nomeada graças ao economista britânico John Maynard Keynes.
Um esforço parecido seria necessário para enfrentar o derretimento ambiental e isso seria menos difícil do que parece. O ponto político é que o keynesianismo ecológico é um cenário em que todos ganham. As pessoas geralmente se põem frente aos governos reconhecendo o seu perigo, e elas tendem a construir coalizões para convencer os políticos de que elas votarão em quem quer que leve tão a sério uma crise específica como elas o fazem. Os políticos podem vencer com um programa keynesiano ambiental porque agora, como no momento em que o keynesianismo foi experimentado, ele promete uma sociedade altamente especializada, altamente bem paga por empregos qualificados e que renova oportunidades de exportação.
Mas onde está o dinheiro para financiar isso? O mundo está inundado de dinheiro, o problema está em chegar até ele. De acordo com a gigantesca prestadora de serviços financeiros, a norte-americana Merril Lynch, 10 milhões de pessoas no mundo estão sentadas sobre 40 trilhões de dólares em investimento potencial à vista. Os bancos devem ser informados de que, em troca das falências das garantias eles devem destinar X por cento de sua carteira de crédito para produtos ambientalmente comprometidos e tratar esse percentual sob as regras e classificações de mercado. Ele pode fazer a diferença quando concederem empréstimos aos maiores promotores do efeito estufa, em 10%.
Critérios básicos para novas construções devem ser tornar a norma, enquanto outras podem ser reconsideradas em termos simples; famílias e proprietários de terras devem receber incentivos financeiros para construir “casas verdes” e painéis de energia solar – e venderem o excesso de energia para a rede de energia. A pesquisa pode ser orientada em direção das energias alternativas e materiais fortes e ultra-leves para aviões e veículos. Falando tecnicamente, nós já sabemos como fazer essas coisas, ainda que algumas soluções limpas ainda estejam mais caras que as poluentes. A produção em massa poderia alterar isso.
A crise ambiental oferece uma oportunidade ideal para pôr o sistema financeiro global sob controle. Taxar transações financeiras correntes internacionais e outras operações de mercado é uma medida que requer apenas determinação política e algum programa. O cancelamento da dívida dos países pobres pelo G8 por uma década deveria ocorrer, com a exigência da contrapartida de que eles contribuam para o esforço global de reflorestamento, conservação do solo e coisas do gênero. Os paraísos fiscais deixariam de existir. Metade de todo o comércio mundial atual passa por ele; eles permitem que as pessoas ricas e as corporações escondam trilhões em ativos que poderiam prover os governos com pelo menos 250 bilhões de dólares por ano em arrecadação fiscal.
E quanto aos executivos relutantes e hostis? Vamos criar uma ultra-exclusiva Ordem dos Conquistadores de Carbono ou dos Eco-Heróis, dando-lhes fitas brilhantes de seda verde e dourado, para usarem em suas lapelas, e nos cartazes na frente de suas casas energeticamente neutras, e bandeirolas para os seus carros movidos à eletricidade. Poderíamos inclusive pagá-los 1 dólar por ano. Isso não seria melhor do que uma outra guerra?
Susan George é licenciada em filosofia pela Sorbonne e doutora em política pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris). Autora de diversos livros, é dirigente da ATTAC-França (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos) e presidente do conselho de administração do Transnacional Institute (Amsterdã).
Tradução: Katarina Peixoto
(1) Expressão de lingua inglesa, provavelmente derivada do poema “In Memoriam A.H.H.”, de 1849, de autoria de Alfred Lord Tennyson. A passagem do poema se refere ao homem e à natureza selvagem ou violenta frequentemente atribuída à natureza. O trecho do poema em que essa expressão ocorre é este: “Who trusted God was love indeed/And love Creation's final law/Tho' Nature, red in tooth and claw/With ravine, shriek'd against his creed”. No contexto, a autora parece estar se referindo ao que em português se conhece ordinariamente por “capitalismo selvagem”. N. de T.
(2) A capital vermelha significa a capital “republicana”, já que a cor com que o Partido Republicano é identificado nos EUA é o vermelho. N. de T.
(3) Os “homens de um dólar por ano eram executivos que ajudavam o governo norte-americano a reerguer a economia nacional em períodos de guerra, especialmente na Primeira Guerra. A lei norte-americana proibia o governo de aceitar serviços gratuitos de quem quer que fosse. Em função disso, voluntários habilitados a prestar seus serviços ao Estado tinham de ser de alguma maneira pagos, nem que fosse, como ocorreu, com a simbólica quantia de 1 dólar por ano. Assim tornaram-se conhecidos os “dollar-a-year mens”. N.deT.
(4) Victory Gardens ou War Gardens ou Food Gardens for Defense era o cultivo, como esforço de guerra privado, de vegetais, frutas e ervas, nas residências dos EUA, Canadá e Reino Unido, durante as Primeira e Segunda Guerras, a fim de reduzir a pressão sobre o preço dos alimentos. Esses cultivos também eram considerados parte do esforço moral da população – os cidadãos que cultivavam esses “jardins” poderiam sentir o poder de ser recompensados pelo crescimento da produção. Cultivar “victory gardens” se tornou parte da vida cotidiana em pleno quintal, como um front doméstico.
Uma crise retro-alimenta e intensifica a outra. Depois de anos de “inovações” irresponsáveis, grandes instituições financeiras estão sendo resgatadas com dinheiro público e muitos executivos pegam o dinheiro e desaparecem, enquanto milhões perdem seus empregos e frequentemente suas casas. Vejam a explosão da bolha imobiliária, o estouro especulativo das commodities do mercado, impulsionando o aumento do preço dos alimentos e da energia. O aumento dramático do preço dos gêneros de primeira necessidade mergulham outras 150 milhões de pessoas na pobreza. Comunidades pobres em recursos fazem o que podem, derrubam árvores, matam animais e super-exploram a pouca terra que têm, mas os ricos causam, de muito longe, um dano muito maior, com suas dinossáuricas pegadas ecológicas.
Defensor devoto da redução das suas emissões de dióxido de carbono, os EUA destina mais de um terço do plantio de seu milho e soja aos biocombustíveis, pressionando os preços dos alimentos para as alturas. O aquecimento global e a fúria de tempestades que ele provoca atingem mais duramente as regiões mais pobres da Terra, assim como o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) disse há muito tempo.
Então, há um caminho de saída? Sim, mas não o ambientalista bem conhecido e há muito advogado. Desculpem-me, mas “nós” não podemos salvar o planeta nem se amanhã “nós” reduzirmos o nosso consumo de energia pela metade. Eu não estou sugerindo que os indivíduos não devam fazer todas as mudanças que puderem, mas eles não devem nutrir quaisquer ilusões de que o comportamento pessoal, ainda que virtuoso quanto à emissão de dióxido de carbono, possa fazer diferença. Os maiores destruidores não vão desistir e medidas voluntárias são ineficientes. A escala é o problema, e nossa tarefa é promover um quantitativo e qualitativo salto na ação ambiental, reconhecendo que grande pode ser não apenas bonito mas crucial, se pretendemos evitar o pior.
Um passo desses é possível? Está o planeta salvaguardado enquanto o capitalismo internacional prevalece, com seu foco no crescimento e no lucro a todo custo, com a captura predatória de recursos e com a euforia financeira? Como disse um homem sábio: “Tudo para nós e nada para outro povo parece, em todas as épocas do mundo, ter sido a máxima vil dos senhores da humanidade”. Quem disse isso foi Adam Smith, em A Riqueza das Nações, não Karl Marx.
Se Smith estiver certo e nossos “senhores” continuam a exibir voracidade e avareza, devemos organizar uma revolução mundial antes de que possamos salvar a Terra? Há algum ponto único de ataque? Se sim, por favor, diga-me o nome do Czar e o endereço do Palácio de Inverno. Ele não é para ser encontrado em Wall Street, que não apenas sobreviveu ao 11 de Setembro mas parece ter capturado o governo norte-americano, a despeito de algumas das maiores empresas terem virado pó. Nem tampouco alguém iria receber bem o sistema político que cobriu a vasta área em que essa revolução ocorreu. De alguma maneira, contudo, porque nosso sistema atual parece determinado à catástrofe, precisamos de uma alternativa entre o capitalismo “vermelho-no-dente-e-na-garra” (1) e uma insurgência mundial tão improvável como utópica.
Há um precedente histórico. Quando os Aliados enfrentaram o fascismo na Segunda Guerra Mundial, havia um adversário que lhes era tão calamitoso como o é a mudança climática para nós. Os EUA ainda não haviam se recuperado plenamente da Depressão, mas tinham em Franklin D. Roosevelt um presidente que entendeu o que era preciso. Sob sua direção, a economia se transformou espantosamente em pé de guerra num curto espaço de tempo. Minha cidade natal, Akron, em Ohio, a “capital vermelha do mundo” (2), passou a produzir pneus e equipamentos para o exército e para a força aérea. Todos os outros centros industriais também se voltaram para as necessidades militares. Os executivos-chefes se tornaram prestigiados “homens de um dólar por ano” (3), pagos com essa simbólica soma pelo Tesouro por ajudarem ao governo a encontrar objetivos quantitativos e qualitativos. Muitos desses executivos emolduraram os seus cheques de um dólar como um distintivo de honra.
Sim, ainda havia conflito entre patrões e empregados, mas no geral era um tempo de oportunidades, especialmente para as mulheres e as minorias. Os trabalhadores eram bem pagos e exibiam em alto e bom som os seus cultivos de “victory gardens” (4), as crianças usavam suas mesadas para comprar broches de guerra, o petróleo foi racionado. O país nunca tinha estado tão unido antes – ou desde então. A guerra fez o país unir esforços para superar, finalmente, a Depressão. Foi a economia keynesiana, nomeada graças ao economista britânico John Maynard Keynes.
Um esforço parecido seria necessário para enfrentar o derretimento ambiental e isso seria menos difícil do que parece. O ponto político é que o keynesianismo ecológico é um cenário em que todos ganham. As pessoas geralmente se põem frente aos governos reconhecendo o seu perigo, e elas tendem a construir coalizões para convencer os políticos de que elas votarão em quem quer que leve tão a sério uma crise específica como elas o fazem. Os políticos podem vencer com um programa keynesiano ambiental porque agora, como no momento em que o keynesianismo foi experimentado, ele promete uma sociedade altamente especializada, altamente bem paga por empregos qualificados e que renova oportunidades de exportação.
Mas onde está o dinheiro para financiar isso? O mundo está inundado de dinheiro, o problema está em chegar até ele. De acordo com a gigantesca prestadora de serviços financeiros, a norte-americana Merril Lynch, 10 milhões de pessoas no mundo estão sentadas sobre 40 trilhões de dólares em investimento potencial à vista. Os bancos devem ser informados de que, em troca das falências das garantias eles devem destinar X por cento de sua carteira de crédito para produtos ambientalmente comprometidos e tratar esse percentual sob as regras e classificações de mercado. Ele pode fazer a diferença quando concederem empréstimos aos maiores promotores do efeito estufa, em 10%.
Critérios básicos para novas construções devem ser tornar a norma, enquanto outras podem ser reconsideradas em termos simples; famílias e proprietários de terras devem receber incentivos financeiros para construir “casas verdes” e painéis de energia solar – e venderem o excesso de energia para a rede de energia. A pesquisa pode ser orientada em direção das energias alternativas e materiais fortes e ultra-leves para aviões e veículos. Falando tecnicamente, nós já sabemos como fazer essas coisas, ainda que algumas soluções limpas ainda estejam mais caras que as poluentes. A produção em massa poderia alterar isso.
A crise ambiental oferece uma oportunidade ideal para pôr o sistema financeiro global sob controle. Taxar transações financeiras correntes internacionais e outras operações de mercado é uma medida que requer apenas determinação política e algum programa. O cancelamento da dívida dos países pobres pelo G8 por uma década deveria ocorrer, com a exigência da contrapartida de que eles contribuam para o esforço global de reflorestamento, conservação do solo e coisas do gênero. Os paraísos fiscais deixariam de existir. Metade de todo o comércio mundial atual passa por ele; eles permitem que as pessoas ricas e as corporações escondam trilhões em ativos que poderiam prover os governos com pelo menos 250 bilhões de dólares por ano em arrecadação fiscal.
E quanto aos executivos relutantes e hostis? Vamos criar uma ultra-exclusiva Ordem dos Conquistadores de Carbono ou dos Eco-Heróis, dando-lhes fitas brilhantes de seda verde e dourado, para usarem em suas lapelas, e nos cartazes na frente de suas casas energeticamente neutras, e bandeirolas para os seus carros movidos à eletricidade. Poderíamos inclusive pagá-los 1 dólar por ano. Isso não seria melhor do que uma outra guerra?
Susan George é licenciada em filosofia pela Sorbonne e doutora em política pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris). Autora de diversos livros, é dirigente da ATTAC-França (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos) e presidente do conselho de administração do Transnacional Institute (Amsterdã).
Tradução: Katarina Peixoto
(1) Expressão de lingua inglesa, provavelmente derivada do poema “In Memoriam A.H.H.”, de 1849, de autoria de Alfred Lord Tennyson. A passagem do poema se refere ao homem e à natureza selvagem ou violenta frequentemente atribuída à natureza. O trecho do poema em que essa expressão ocorre é este: “Who trusted God was love indeed/And love Creation's final law/Tho' Nature, red in tooth and claw/With ravine, shriek'd against his creed”. No contexto, a autora parece estar se referindo ao que em português se conhece ordinariamente por “capitalismo selvagem”. N. de T.
(2) A capital vermelha significa a capital “republicana”, já que a cor com que o Partido Republicano é identificado nos EUA é o vermelho. N. de T.
(3) Os “homens de um dólar por ano eram executivos que ajudavam o governo norte-americano a reerguer a economia nacional em períodos de guerra, especialmente na Primeira Guerra. A lei norte-americana proibia o governo de aceitar serviços gratuitos de quem quer que fosse. Em função disso, voluntários habilitados a prestar seus serviços ao Estado tinham de ser de alguma maneira pagos, nem que fosse, como ocorreu, com a simbólica quantia de 1 dólar por ano. Assim tornaram-se conhecidos os “dollar-a-year mens”. N.deT.
(4) Victory Gardens ou War Gardens ou Food Gardens for Defense era o cultivo, como esforço de guerra privado, de vegetais, frutas e ervas, nas residências dos EUA, Canadá e Reino Unido, durante as Primeira e Segunda Guerras, a fim de reduzir a pressão sobre o preço dos alimentos. Esses cultivos também eram considerados parte do esforço moral da população – os cidadãos que cultivavam esses “jardins” poderiam sentir o poder de ser recompensados pelo crescimento da produção. Cultivar “victory gardens” se tornou parte da vida cotidiana em pleno quintal, como um front doméstico.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/
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O Fracasso da reunião do G20
Editorial do sítio Vermelho:
A reunião de cúpula do G20 acabou nesta sexta-feira (4) em Cannes, França, deixando no ar mais uma forte sensação de fracasso. O saldo final são declarações de boas intenções, como o estímulo ao mercado interno nos países superavitários, vendidas como um plano de ação para estimular o emprego, ameaças contra os paraísos fiscais e a promessa de injetar novos recursos no Fundo Monetário Internacional, o FMI, cuja principal ocupação no momento consiste em receitar e monitorar a aplicação de pacotes recessivos nos países endividados da Europa.
A crise prossegue, indiferente às deliberações dos chefes de Estado reunidos em Cannes, e na Zona do Euro, seu principal centro de irradiação ao lado dos EUA, terá por resposta a radicalização dos ajustes fiscais. A perspectiva da OCDE é de estagnação do velho continente no próximo ano, mas o futuro pode reservar novas surpresas negativas.
As divergências no interior do G20, destacadamente entre as velhas potências capitalistas e os chamados emergentes, são maiores e mais relevantes que as convergências e não é razoável esperar unidade em torno de questões consideradas centrais.
Os emergentes evitaram o compromisso de investir no fundo de resgate europeu, criado e recentemente ampliado para fazer frente à crise da dívida, o que consternou a senhora Angela Merkel, chanceler da Alemanha. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, obteve o apoio da Argentina e do Brasil para a criação de um imposto mundial sobre operações financeiras, mas o presidente dos EUA, Barack Obama, não gostou e vetou a ideia.
A China sofreu pressões generalizadas para adotar o câmbio flutuante, mas os dirigentes do país não pretendem abrir mão do controle sobre as cotações de sua moeda, o iuan, que tem valorizado ao longo dos últimos anos dentro de limites estabelecidos pelo Estado para proteger a produção industrial.
É preciso ressalvar que os chineses têm razão quando argumentam que estão se protegendo da instabilidade monetária internacional provocada pelos desequilíbrios dos EUA e a política monetária do Federal Reserve. O câmbio flutuante no Brasil é uma causa dos problemas da indústria nacional. A óbvia necessidade de uma nova moeda mundial, em substituição ao dólar, não chegou a ser abordada, embora defendida por Sarkozy.
As contradições que predominam no grupo impõem também seus limites. Cabe recordar que o G20 foi criado em 1999 durante reunião do G7, por iniciativa da União Europeia e de George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos. Significou certamente um reconhecimento constrangido pelos ricos da época das mudanças que estavam em curso objetivamente na economia internacional, decorrentes do desenvolvimento desigual das nações. Mas é apenas uma tentativa um pouco mais ampla de coordenação e preservação de uma ordem internacional que já caducou.
O fortalecimento do FMI, instituição remanescente dos acordos de Bretton Woods que não parece sujeita a reforma, é um caminho errado eleito inclusive pelos emergentes como via de solução para a crise. Basta atentar para a tragédia grega e o drama europeu para ver que as receitas do fundo obedecem exclusivamente aos interesses do sistema financeiro e agravam a crise da economia real com a promessa de solucioná-la.
O mundo demanda uma nova ordem mundial, com um novo sistema monetário e novas instituições. O que não é mais racional, como sugeriu Hegel, não merece subsistir. A solução para a crise, que traduz também o esgotamento da ordem internacional hegemonizada pelos EUA, não virá da reunião de cúpula. Mas é provável que venha das ruas, da guerra de classes que hoje tem como um palco privilegiado as ruas da velha Europa, onde a classe trabalhadora resiste com energia e determinação ao retrocesso social e à ofensiva talvez sem paralelo dos governos capitalistas contra suas históricas conquistas e o chamado Estado de Bem Estar Social.
A reunião de cúpula do G20 acabou nesta sexta-feira (4) em Cannes, França, deixando no ar mais uma forte sensação de fracasso. O saldo final são declarações de boas intenções, como o estímulo ao mercado interno nos países superavitários, vendidas como um plano de ação para estimular o emprego, ameaças contra os paraísos fiscais e a promessa de injetar novos recursos no Fundo Monetário Internacional, o FMI, cuja principal ocupação no momento consiste em receitar e monitorar a aplicação de pacotes recessivos nos países endividados da Europa.
A crise prossegue, indiferente às deliberações dos chefes de Estado reunidos em Cannes, e na Zona do Euro, seu principal centro de irradiação ao lado dos EUA, terá por resposta a radicalização dos ajustes fiscais. A perspectiva da OCDE é de estagnação do velho continente no próximo ano, mas o futuro pode reservar novas surpresas negativas.
As divergências no interior do G20, destacadamente entre as velhas potências capitalistas e os chamados emergentes, são maiores e mais relevantes que as convergências e não é razoável esperar unidade em torno de questões consideradas centrais.
Os emergentes evitaram o compromisso de investir no fundo de resgate europeu, criado e recentemente ampliado para fazer frente à crise da dívida, o que consternou a senhora Angela Merkel, chanceler da Alemanha. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, obteve o apoio da Argentina e do Brasil para a criação de um imposto mundial sobre operações financeiras, mas o presidente dos EUA, Barack Obama, não gostou e vetou a ideia.
A China sofreu pressões generalizadas para adotar o câmbio flutuante, mas os dirigentes do país não pretendem abrir mão do controle sobre as cotações de sua moeda, o iuan, que tem valorizado ao longo dos últimos anos dentro de limites estabelecidos pelo Estado para proteger a produção industrial.
É preciso ressalvar que os chineses têm razão quando argumentam que estão se protegendo da instabilidade monetária internacional provocada pelos desequilíbrios dos EUA e a política monetária do Federal Reserve. O câmbio flutuante no Brasil é uma causa dos problemas da indústria nacional. A óbvia necessidade de uma nova moeda mundial, em substituição ao dólar, não chegou a ser abordada, embora defendida por Sarkozy.
As contradições que predominam no grupo impõem também seus limites. Cabe recordar que o G20 foi criado em 1999 durante reunião do G7, por iniciativa da União Europeia e de George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos. Significou certamente um reconhecimento constrangido pelos ricos da época das mudanças que estavam em curso objetivamente na economia internacional, decorrentes do desenvolvimento desigual das nações. Mas é apenas uma tentativa um pouco mais ampla de coordenação e preservação de uma ordem internacional que já caducou.
O fortalecimento do FMI, instituição remanescente dos acordos de Bretton Woods que não parece sujeita a reforma, é um caminho errado eleito inclusive pelos emergentes como via de solução para a crise. Basta atentar para a tragédia grega e o drama europeu para ver que as receitas do fundo obedecem exclusivamente aos interesses do sistema financeiro e agravam a crise da economia real com a promessa de solucioná-la.
O mundo demanda uma nova ordem mundial, com um novo sistema monetário e novas instituições. O que não é mais racional, como sugeriu Hegel, não merece subsistir. A solução para a crise, que traduz também o esgotamento da ordem internacional hegemonizada pelos EUA, não virá da reunião de cúpula. Mas é provável que venha das ruas, da guerra de classes que hoje tem como um palco privilegiado as ruas da velha Europa, onde a classe trabalhadora resiste com energia e determinação ao retrocesso social e à ofensiva talvez sem paralelo dos governos capitalistas contra suas históricas conquistas e o chamado Estado de Bem Estar Social.
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