12 novembro 2011

ECONOMIA

Nov

BC baixa juros. Mas bancos, exceto o BB, não


Fernando Brito, no Blog Tijolaço


No último dia 7, escrevi um texto no blog Projeto Nacional, demonstrando que, embora o Banco Central tenha – apanhando por todo lado – começado a baixar os juros, os bancos privados não o faziam:

(…) spread bancário – a diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro e o que cobram para emprestá-lo – cobrado nos empréstimos bancários não baixou, ao contrário. Em dezembro de 2009, ele representava 61% do dos juros cobrados ao tomador de empréstimos. Em setembro passado, 72%. Como os custos administrativos, em média, reduziram-se neste período, assim como caiu a inadimplência – que baixou, no conceito de atrasos superiores a 90 dias, de 4,3% do total para 3,5% do total de crédito – aí está a explicação sobre os sucessivos recordes de lucros apresentados pelos bancos brasileiros.”

O que se disse ali e se registrou num gráfico, foi confirmado hoje por uma pesquisa realizada pelo Procon, e publicada pelo Estadão, a taxa média cobrada por um grupo de sete grandes bancos para empréstimo pessoal “subiu 0,05 ponto porcentual em novembro ante outubro”, exceto a do Banco do Brasil, que se reduziu em 0,04%.

E os valores registrados pelo Procon são absolutamente inaceitáveis como prática bancária, muito mais próximos da agiotagem do que de qualquer coisa. Quase 7% ao mês num empréstimo pessoal, no Itaú, 12% ao mês num cheque especial, no Banco Safra.

Os bancos públicos, mesmo com taxas mais baixas, não podem entrar nesta toada. Em 2009, o Presidente Lula teve de trocar a direção do Banco do Brasil para que a instituição passasse a “peitar” o cartel financeiro e praticar taxas mais baixas, o que obrigou-os, a contragosto a abaixar os juros que praticavam.

Na época, o presidente do Itaú, Roberto Setúbal, chegou a criticar publicamente os bancos estatais, dizendo que “as taxas que estão (estavam) sendo praticadas não são sustentáveis em muitos casos”.
Tanto podiam ser mais baixas que, sendo, foram responsáveis pela imensa expansão do BB e da CEF, que aumentaram muito suas carteiras de crédito e seus lucros, cobrando menos juros.

Está na hora de fazer os dirigentes dos nossos bancos públicos recordarem que suas instituições visam, também, fomentar a atividade econômica do país e oferecer crédito em condições acessíveis a pessoas e empresas. Porque dirigir banco é algo tão ruim para a alma humana que, depressinha, os executivos dos bancos públicos são tentados a olhar o resultado de sua administração pelas taxas de lucratividade e não pelo pelo papel indutor do desenvolvimento e do bem estar que um sistema financeiro tem como finalidade.



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O governo da intervenção financeira
 
 
 
Antonio Lassance (*)


Lucas Papademos, ex-diretor do Banco Central Europeu (BCE), é o novo primeiro-ministro grego. A data de validade de seu gabinete interino é fevereiro de 2012, quando um novo parlamento deverá ser eleito.

A escolha de um tecnocrata faz todo o sentido. Enquanto se preparam para enfrentar as eleições e se digladiam dentro do governo supostamente de união nacional, os dois principais partidos dão carta branca ao novo dirigente para que cometa todas as macroatrocidades econômicas, o mais rapidamente possível.

Permitem assim que a Grécia receba o dinheiro prometido, em troca de um ajuste ainda mais duro do que o feito até agora, e deixam o país, na prática, sob intervenção do Banco Central Europeu (BCE).

Fecha-se um ciclo

Ocorreu na Grécia algo muito similar a vários países. Governos conservadores, eleitos na onda neoliberal dos anos 1990, empregaram a fórmula de vilanizar os gastos públicos (não todos, só os sociais e os da organização do Estado), reduzir impostos (dos mais ricos), e liberalizar as relações econômicas, sob a justificativa de fazer com que suas economias ficassem mais competitivas e seu Estado pesasse menos. Com pompa e circunstância, os conservadores levaram seus países para o buraco, dando até hoje os exemplos mais rotundos de irresponsabilidade fiscal. Os socialdemocratas eram em seguida chamados para administrar a bancarrota. Fizeram isso, sem pompa, só com circunstância.

Essa brincadeira, na qual uns arrombavam a porta e os outros vinham apenas para colocar um cadeado, durou tempo demais na Grécia, tanto que seu déficit é proporcionalmente o maior de todos na União Europeia (UE).

Prometeu

Depois de adentrar o Olimpo da UE , o país melhorou o desempenho de sua economia. Passou a crescer a taxas superiores à média do Continente. De brinde, ficava aberta uma das alternativas mais úteis para europeus pobres do bloco: emigrar. Mas essa entrada se fez por uma trapaça. O governo mentiu sobre os números de suas contas públicas. A Grécia seria duramente castigada por isso.

Antes, um rogar de pragas. Ela foi escalada no time dos países malditos da UE, apelidados de PIGS (“porcos”) pela coincidência do acrônimo derivado de Portugal, Itália (a Irlanda também tem sido incluída), Grécia e Espanha. Depois que eclodiu a crise, a nota de classificação dos títulos gregos foi rebaixada para BB+ (podres). Suas vísceras estavam expostas e oferecidas ao escárnio, tal e qual o mito de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses para trazer os mortais à civilização.

Presente para os gregos

Quando a crise se alastrou pela Europa, a Grécia foi pega em cheio. A saída oferecida, como uma dádiva, era um pacote de ajuda financeira imediata. Um ótimo negócio, como aquele cavalo de madeira presenteado aos troianos. O povo grego reagiu desconfiado. A aceitação dos empréstimos implicaria, em contrapartida, cortar a própria carne.

Por um bom punhado de Euros (130 bilhões, mais a dedução de 100 dos 350 bi devidos), Papademos precisa agora implementar a redução de direitos trabalhistas, demitir 30 mil servidores públicos, achatar o pagamento a aposentados e pensionistas, ampliar a idade mínima de aposentadoria, aumentar impostos, cortar gastos (inclusive dos que poderiam ajudar a fazer o país crescer), congelar dos salários e flexibilizar (lembram dessa palavra?) direitos, dando liberdade para que o setor privado possa fazer o mesmo: demitir, reduzir salários, diminuir encargos de toda ordem.

O desmonte do Estado

O atual Estado grego será depenado, em poucos meses. Não era um bom Estado. Se fosse, a situação não teria chegado aonde chegou. Mas, como em qualquer destruição dessa natureza, os escombros caem sobre as cabeças daqueles que não conseguem fugir, que não têm onde se refugiar. São esses que terão de pagar a conta para evitar o chamado “risco moral” (“moral hazard”, no jargão econômico), isto é, a necessidade de que os maus pagadores sofram punições severas, para que o calote não seja visto como um bom negócio.

A mitologia grega insiste em personagens teimosos, mas lhes dá destinos cruéis. Sísifo, por exemplo, foi condenado a fazer rolar uma imensa pedra, montanha acima. Sempre que julgava estar próximo de alcançar seu objetivo, a pedra escorregava ladeira abaixo.

A Grécia está diante de um problema parecido. Precisa retomar o crescimento, para arrecadar mais impostos e quitar suas dívidas. Porém, ao cortar investimentos, para gerar superávits para o serviço da dívida, drena de sua economia recursos essenciais para voltar a crescer. Para voltar a crescer, a Grécia deveria parar de pagar sua dívida, mas aí não receberia a ajuda financeira de que precisa, e as portas se fechariam de vez.

Conforme o figurino

Se obtiver sucesso em sua missão, Papademos terá lançado aos infernos vários setores de sua economia e enviado milhares de cidadãos ao pior dos mundos. Mas será aplaudido pelas autoridades do sistema financeiro internacional, que é o que importa para seu currículo. Não foi ele escolhido justamente por seu currículo?

Para o alto comando da UE, a Grécia deve ser tratada como o elo mais fraco do circuito financeiro europeu, não mais do que isso. Alías, um elo em curto-circuito.

A tarefa de Papademos é reforçar esse elo para que a Grécia deixe de ser um risco sistêmico, recolha-se à periferia do capitalismo e volte a ser lembrada, apenas, nos livros de História.


(*)Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.








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