26 novembro 2011

ECONOMIA

Brasil: hospital de multis cambaleantes



Por Luís Nassif



Não consigo entender a lógica do governo nesse enfrentamento da crise.
Blindou-se relativamente a economia brasileira, graças às reservas cambiais e ao mercado interno. E só. Cadê a visão estratégica para aproveitar oportunidades?
No plano externo, permite-se que, com o câmbio apreciado, as exportações asiáticas e europeias se apropriem da maior parte do crescimento do mercado de consumo em diversos setores.
No plano interno, o BNDES tonou-se o financiador de empresas estrangeiras em dificuldades, à custa do consumidor brasileiro.
A matriz da empresa entra em dificuldades, por conta da crise mundial. A empresa então rapela o cofre, envia para a matriz 100% do lucro e ainda juros sobre capital próprio. Desvia recursos que deveria estar investindo aqui.
Parte desse desvio resulta em deterioração dos serviços, um custo indevido pago pelo consumidor. Hoje em dia algumas operadoras de celulares estão em estágio pré-pane.
Parte dos investimentos mínimos é garantido pelo BNDES: a empresa remete o lucro total e se financia no BNDES.
Não tem lógica. O papel do BNDES sempre foi o de suplementar o investimento, de agregar novos ativos ao país. Esse papel substitutivo não é da lógica do banco nem do interesse nacional.
Se o banco continua com o sonho da grande empresa nacional, que monte pools de investidores para adquirir o controle de algumas dessas empresas cambaleantes ou lá fora ou aqui dentro. Se a matriz não dá conta de garantir os investimentos internos, nem à custa de reinvestimento de lucros, que venda o controle para grupos em condições.
Agora, amparar multinacionais dessa maneira é uma ação antinacional.

Fonte: www.cartacapital.com.br 


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Recessão anunciada


Por Delfin Netto 

 
A grande mídia no Hemisfério Norte voltou a especular “se” e quando as três maiores economias (EUA, Alemanha e China)  vão entrar em recessão, apostando que a China não escapa pelo menos de uma forte desaceleração, após a crise zerar o crescimento dos Estados Unidos e em boa parte da Zona do Euro em 2012.

Militantes protestam contra medidas dos governos diante da crise. Foto: Pascal Guyot/AFP
O Brasil tem se conduzido bastante bem diante dessas situações de crise que estão abalando a sociedade mundial. No governo do presidente Lula, enfrentou os efeitos da instabilidade dos mercados financeiros e da súbita extinção das linhas de crédito, em 2007/2008, com políticas de estímulo à produção e de manutenção dos empregos. Enquanto na maioria dos países a prioridade passou a ser a salvação do sistema bancá rio, aqui a intuição do presidente mostrou que o dever sagrado dos governos era garantir às pessoas as condições de continuar trabalhando e consumindo. E tão logo superou a fase crítica tratou de renovar os incentivos aos setores privados para a retomada do crescimento, com ênfase no aumento da produção industrial e nos investimentos na infraestrutura.
Diante da nova crise que se abateu com virulência ampliada nos mercados financeiros da Zona do Euro, o governo da presidenta Dilma Rousseff foi obrigado a adotar medidas prudenciais para aumentar a solidez da política fiscal e flexibilizar a política monetária, mantendo inicialmente a expansão do crédito ao consumo e reduzindo as taxas de juro. O aumento da inflação externa, ameaçando a meta inflacionária, levou o governo a restringir temporariamente a expansão do crédito, que aos poucos está sendo retomada com bastante prudência.
O principal objetivo do governo Dilma – da mesma forma que no governo Lula – é claramente manter a economia brasileira crescendo o mais próximo possível do pleno emprego e, na medida em que as condições externas não se tornem determinantes, acelerar o ritmo do desenvolvimento. Em nenhum instante isso significou leniência diante das pressões inflacionárias, e sim uma atitude mais inteligente de combater a inflação dilatando apenas o prazo para que a taxa retorne ao centro da meta. Hoje, os agentes do mercado financeiro, antes reticentes, já trabalham com a expectativa de que o núcleo da meta seja atingido no fim de 2012.
O Brasil está superando duas das três principais dificuldades que frequentemente interrompiam o seu desenvolvimento: as crises de pagamentos externos e a escassez de energia. O terceiro problema, o da autonomia alimentar, já estava sendo resolvido neste início de século e se consolidou de forma extraordinária por um processo de expansão da fronteira agrícola e de rápido crescimento da produtividade (inclusive na pecuária), fruto dos investimentos em  pesquisa de empresas privadas e públicas, notadamente da Embrapa. Os investimentos desses últimos 30 anos foram premiados com a expansão do comércio exterior (basicamente com o aumento das compras asiáticas e chinesas), que elevou os preços das commodities.
A ameaça de crises de pagamento e de falta de energia foi afastada quase que pelo mesmo fator, a confirmação das reservas petrolíferas do pré-sal. No caso da autonomia energética, é de justiça que se reconheça a participação decisiva e corajosa do presidente Lula e de sua ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, quando derrotaram as objeções das inúmeras organizações (supostamente não governamentais) no Brasil e no exterior, as quais conseguiam retardar o aproveitamento da hidroenergia dos rios da Amazônia.
Muitas dessas ONGs foram sustentadas financeiramente (com mão de gato) por empresas petroleiras, carboníferas e de energia nuclear, a pretexto de defender o ecossistema, graças a incentivos proporcionados por seus governos. Trata-se de entidades estrangeiras interessadas em impedir o desenvolvimento sustentado da Amazônia e a soberania brasileira sobre o enorme potencial de riquezas já identificado num território das dimensões da Europa.
Lula quebrou o tabu, ao apressar os procedimentos e autorizar o licenciamento das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, e a presidenta Dilma reafirmou, em entrevista recente, o caráter estratégico do aproveitamento dos rios da Amazônia para a consolidação da infraestrutura energética brasileira. Ela defendeu a construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, dizendo que é um bom projeto, uma obra importante para o País, e que por isso vai ser feito. E aconselhou seus ministros a não se impressionarem com as habituais críticas na mídia estrangeira. •


Fonte: www.cartacapital.com.br 

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Brasil e a crise 9: os fundos de pensão


Por Luís Nassif


Nos próximos anos, os fundos de pensão e fundos de investimento em geral serão o grande motor do desenvolvimento brasileiro.
Há uma revolução em curso, ainda não percebida.
À medida que as taxas de juros da Selic começam a cair e a dívida pública a reduzir – como proporção do PIB – parte substantiva dos recursos dos fundos de investimento migrarão para a atividade real, inclusive para poder fazer frente às metas atuariais – isto é, aos compromissos futuros com seus associados.
Há seis meses praticamente não há mais inversões da Funcef – o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) – em títulos públicos. Parte se deve à redução relativa da dívida. Parte a uma política competente da Secretaria do Tesouro, de troca do perfil da dívida brasileira, esticando os prazos e reduzindo o risco Brasil.
A Funcef tem um patrimônio de R$ 500 bilhões, dos quais R$ 90 bilhões vencerão nos próximos quatro anos e não serão reaplicados na renda fixa. Somados à arrecadação nova, é uma quantia formidável, atrás de novos perfis de investimento.
Essa mudança do perfil dos fundos começou em 2004. Na época, a Funcef tinha uma carteira de R$ 9 bilhões/ano, dos quais 50% aplicados na Selic. O indexador que acompanhava, para fixar suas metas, era a Selic.
Hoje a carteira está em R$ 50 bilhões/ano e a Selic responde por apenas 9% dela. O indexador a ser seguido é a inflação, saindo da armadilha da Selic.
Essa perspectiva tem virado a cabeça dos fundos de pensão e de investimento. Finalmente, começa-se a entrar no mercado de renda variável, rasgando o manual fácil que seguiram nas últimas décadas, de acompanhar apenas a taxa Selic.
A mitigação de risco exige diversificação de investimentos. Por exemplo, quando as taxas de juros caem há uma tendência natural de valorização dos ativos reais – e vice-versa.
Essa diversificação passará por vários mercados:
1. Renda variável líquida, ou mercado de ações.
2. Renda variável de longo prazo, privete equity, investimentos em empresas não listadas em bolsa.
3. Risco de crédito privado, com as novas ferramentas de captação.
4. Imóveis
Recentemente, a Funcef investiu em títulos de dívida de um porto de Santa Catarina, através de um project finance (um projeto financeiro prevendo faturamento, retorno etc.). O porto foi financiado sem um tostão do BNDES.
Outra mudança relevante é a associação com fundos estrangeiros, mas seguindo os regulamentos nacionais.
A partir do episódio Opportunity, os fundos de pensão brasileiro pressionaram por mudanças na legislação, criando a figura do comitê de investimento fiscalizando e criticando decisões de gestores.
Antes, aqui como fora, o gestor tinha plena liberdade para operar. Era a maneira encontrada por grandes fundos e grandes bancos norte-americanos para atuar fora dos limites da legalidade – em paraísos fiscais, em operações pouco ortodoxas – sem ter envolvimento direto, na esbórnia que caracterizou o mercado internacional nas últimas décadas.


Fonte: www.cartacapital.com.br 


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