20 novembro 2011

BRASIL

Uma comparação e suas lições


Por Mino Carta

As seis capas que ilustram esta página contam uma história de várias lições, ou morais. As seis são o rosto de semanais de informação publicadas ao mesmo tempo no fim da semana passada, quatro de revistas brasileiras, uma britânica, outra americana. Estas duas últimas são de repercussão mundial. Time é o incunábulo dos news magazines do planeta todo. Fundada em 1923, provocou o nascimento da Newsweek dez anos depois e influenciou todas as demais publicações do gênero continentes afora. The Economist, com a qual CartaCapitalmantém honrosa parceria, é tida há tempo a semanal mais importante do mundo.

The Economist
Time












Três capas focalizam o mesmo assunto e estampam a imagem da mesma personagem, simbólica da crise econômica e financeira que a ninguém poupa em qualquer latitude e longitude, o premier italiano Silvio Berlusconi finalmente derrubado em um lampejo de senso comum. The Economist, Time e CartaCapital coincidem na mira da informação prioritária, se quiserem na apreensão a respeito do destino de todos. Em oposição, Veja, Época e IstoÉ parecem editadas, nem digo em outro planeta, em outra galáxia.
Desde as primeiras conversas entre dois universitários americanos, Henry Luce e Britton Hadden, empenhados em levar a cabo o projeto da pioneira Time, ficou assentado o propósito de iluminar os leitores ao lhes oferecer o resumo dos fatos da semana devidamente analisados e hierarquizados em ordem decrescente ao sabor da sua influência sobre a vida do mundo e de cada cidadão. Na semana passada, The Economist, Time e CartaCapital foram fiéis ao legado. Veja, Época e IstoÉ prontificaram-se a participar de um capítulo especial de Jornada nas Estrelas. Não são deste mundo, com o risco de que o Brazil-zil-zil também não seja, ao menos aquele da chamada classe média à qual se refere Veja na sua capa. O que vem a ser, exatamente, de limites nítidos, a classe média nativa não sei.

Época
IstoÉ













Sei dos herdeiros da casa-grande e dos seus capatazes, de uma minoria de ricaços estabelecidos em rincões esfuziantes na imitação de Abu Dabi e de um largo número de cidadãos que gostariam de lhes seguir os passos. Sei também que esta classe média habilita-se a achar graça no mulherão Pereirão e a digerir outras lições de infatigável alienação pontualmente ministradas.

Veja
CartaCapital












Em termos de civilização, classe média significa, no bem e no mal, conhecimento, ideias, crenças. Cultura. Classe média é o burguês na acepção política e representa, na Europa, por exemplo, a porção mais conspícua de uma população também em termos numéricos. Não era, é óbvio, quando fez a Revolução Francesa, mesmo assim foi decisiva para vincar o tempo e dar início oficial à Modernidade. A nossa classe média, em boa parte, e tanto mais em São Paulo, o estado mais reacionário da federação, ainda mantém ligações com a Idade Média,  com a inestimável contribuição da mídia nativa, inclusive de semanais nascidas com outros, nobres, republicanos intuitos.
Se recordo a Veja que tive a honra de dirigir à testa da equipe fundadora, experimento um forte abalo entre o fígado e a alma. Precipitado também por uma constatação: o jornalismo brasileiro, entre o imediato pós-guerra e o golpe de 64, foi bem melhor do que o atual, se não no conteúdo pelo menos na forma, e mesmo durante a ditadura algumas publicações  souberam ter momentos de grande dignidade. Na convicção de que as tiragens fermentam ao baixar o nível de sorte a secundar a parvoíce do público, com o pronto respaldo da publicidade mais abundante, acabou por enredar-se em suas próprias artimanhas e os profissionais, salvo notáveis exceções, assumiram o estágio intelectual inicialmente atribuído aos seus leitores.
Costuma-se dizer que Deus é brasileiro, não somos porém o povo eleito, enquanto o Brasil é uma terra prometida que por ora não merecemos. E a classe que haveria de ditar rumos, salvo raros oásis de sabedoria e boa visão da vida e do mundo, gosta de viver de aparência, de consumir em desvario, de cultivar alegremente sua ignorância.


Fonte: http://www.cartacapital.com.br/






‘Dilma optou por não lutar contra os fatos’

O professor Fabiano Santos, da UERJ. Foto: Brizza Cavalcante/Agência Câmara
A avaliação do governo baseia-se em muitas variáveis e não apenas no tratamento
que se dá ao tema da moralidade”, afirma o cientista político Fabiano Santos,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Segundo ele, o ministério vem assumindo um perfil mais próximo do desejado por Dilma Rousseff.

CartaCapital: Se cair, Carlos Lupi (PDT) será o sexto ministro afastado por possível envolvimento com corrupção. O Brasil está acostumado a ver escândalos se esvaírem no ar, de cansaço, sem quedas. Por que isso não tem ocorrido com os ministros de Dilma, sem exceção?
Fabiano Santos: Porque os mecanismos de controle têm se aperfeiçoado e mudou o conceito a respeito daquilo que é politicamente sustentável. Trata-se de dupla evolução, nas instituições e na cultura política. Também porque os ministros que se foram não compunham o perfil desejado pela presidenta. Ou já vinham do governo anterior, com muito tempo de casa, sujeito a desgastes naturais, ou foram forçados pelo PMDB.

CC: Até agora, Dilma, com sua “faxina”, conseguiu isolar seu governo das máculas, ao que parece graças a um modus operandi, a uma lógica para lidar com os ministérios acusados de corrupção: ela não se pronuncia, deixa o ministro dizer que é inocente, depois parar na berlinda em uma defesa inquisitorial (da mídia, da oposição, dos próprios partidos), até se demitir. Foi essa a fórmula que fez o Planalto não se chamuscar com os casos?
FS: Dilma optou por não lutar contra os fatos. Até o momento, os que foram demitidos o foram por conta de fatos que acabaram por retirar sua sustentação política. Uma coisa é a culpabilidade individual de um político em um caso ou outro. O tempo e o devido processo legal acabarão por definir. Outra coisa é a sustentação política de um ministro. A presidenta tem de tratar, sobretudo, do segundo tipo de fato, e não do primeiro.

CC: O ônus recairá sobre a presidenta em algum momento?
FS: Minha impressão é que o “gabinete” vem assumindo um perfil mais próximo àquele que a presidenta Dilma desejaria desde o início. Se isto é verdade, a tendência é a estabilização do processo após a reforma ministerial do início do próximo ano. De toda forma, o ônus apenas recairá sobre a presidenta a partir do momento em que a capacidade do governo de lhe dar com as coisas importantes da vida for afetado de maneira significativa.
A avaliação do governo baseia-se em muitas variáveis e não apenas no tratamento que se dá ao tema da moralidade.

CC: Essa lógica deve mudar após a reforma ministerial prevista para janeiro, quando, ao menos em tese, Dilma poderá compor seu próprio gabinete?
FS: A lógica após janeiro será a da administração dos efeitos da crise econômica mundial. Conseguirá o governo manter o País crescendo? E os programas sociais, serão afetados?
E os programas de investimentos em infraestrutura, tendo em vista a Copa
e as Olimpíadas, adquirirão o ritmo adequado para chegar a bom termo? Sobre este último ponto, a “faxina”, pode até ser um sinal de que o governo terá pouca tolerância com desvios de finalidade no meio de tantos recursos canalizados para obras.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/


*********************************************************X



Preconceituoso sim, com muito orgulho

Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a Palavra:

Talvez a psicologia ou a sociologia, ou algum ponto de intersecção entre ambas, possa explicar o aumento vertiginoso da intolerância e do preconceito. Ou, numa segunda hipótese, o aumento das manifestações públicas de intolerância e preconceito. Parece que as pessoas estão se sentindo mais à vontade para expressar seu ódio social, racial, e todo o tipo de ódio que houver.

E não venham me dizer que são deslizes manifestações como a do presidente da Fifa ou as vocalizadas pelas socialites paulistas do vídeo. Nem, tampouco, que são apenas caricatas as intempéries de personagens de ficção como Tereza Cristina, vivida por Cristiane Torloni.

O certo é que a mobilidade social dos últimos anos está incomodando verdadeiramente a elite nacional. Numa pesquisa de opinião, perguntas que podem suscitar uma resposta politicamente correta pelo constrangimento de expressar a opinião real geralmente são evitadas ou relativizadas pelos analistas.

Mas parece que o pessoal está perdendo a vergonha de dizer o que realmente pensa. É o que mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Data Popular, que entrevistou integrantes da classe média tradicional. Entre os entrevistados, 16,5% consideram que pessoas malvestidas deveriam ser barradas em alguns estabelecimentos; 26,4% acham que a existência de estações de metrô aumenta a frequência de pessoas indesejáveis em determinadas regiões e, para 17,1%, todos os estabelecimentos deveriam ter elevadores separados. Isso é ou não é apartheid social?

O ingresso de milhões de brasileiros na classe C está atiçando a fúria da elite, que agora compartilha espaços que antes eram reservados para os Very Important People – ou os VIP’s – com gente como a gente. A ideia de não ser mais tão importante assim está chateando muita gente.

Fonte: http://www.argemiroborges.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário