Em relatório recente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) elogiou os “avanços extraordinários nos últimos dez anos” do Brasil, afirmando que “jamais se viu a pobreza e a desigualdade caírem tão depressa”.  Grande parte dessa melhora se deve, segundo a entidade, ao programa Bolsa Família. Mas, apesar dos avanços, a Organização defende que o país ainda deve promover reformas ortodoxas, como da Previdência Social.

Esta visão foi confrontada pelo economista da Unicamp Eduardo Fagnani, no 16º Fórum de Debates Brasilianas.org - O Consumidor Invisível, realizado na última terça-feira (1), em São Paulo. Apesar de concordar com o fato de que a pobreza e a desigualdade caíram, Fagnani não acredita que isto se deve somente ao Bolsa Família.

="ltr">Para o economista, a OCDE reflete a visão pregada pelo Banco Mundial, largamente difundida nos anos 90, de que somente uma estratégia - em geral, um único programa de transferência de renda - seria suficiente para erradicar a pobreza. Esta ideia valoriza uma ação focalizada, de benefício à pessoas de baixa renda, em detrimento de programas universais, como o Seguro Desemprego e a Previdência Social.”O que está por trás disso é um ajuste fiscal. Um programa de transferência, como o Bolsa Família, por exemplo, custa 0,6% do PIB, e a seguridade social custa 8%”, afirmou Fagnani. “Ao enfatizar a importância do Bolsa Família, a OCDE minimiza, por exemplo, o papel do salário mínimo como motor do consumo e, portanto, do desenvolvimento brasileiro”.

Ele não acredita que somente um programa de transferência de renda possa ser capaz de reduzir a pobreza, e cita o exemplo do México, que tem o programa Oportunidades, “que é muito semelhante e anterior ao Bolsa Família, e a pobreza hoje no México é de 44%”. O economista declarou que a redução da pobreza e da desigualdade se devem ao crescimento econômico, ao aumento real do salário mínimo, às políticas universais e às políticas de combate à pobreza.

A pobreza no mundo, entre 1980 e 2001, caiu de 40% para 20%, principalmente na Índia e na China, que teve uma taxa média de crescimento de 9% no período. Em contraste, o Brasil, na década de 90, cresceu em média 1,7%, “uma das quatro piores taxas de crescimento”, completou. Entre 2004 e 2010, a média de crescimento do PIB brasileiro ficou na casa dos 5% anuais.”Pela primeira vez em 25 anos, a questão do crescimento econômico volta a fazer parte da agenda do governo”. Para o palestrante, um dos pontos fundamentais para o crescimento foi o aumento do crédito, que subiu de 20% para quase 45% do PIB. Conjuntamente, foram criados 16 milhões de empregos formais e houve uma queda no desemprego, de 12,7% para 5%.

Em relação ao salário mínimo, o economista da Unicamp explicou que, entre 2000 e 2011, ocorreu um aumento de 100% em termos reais.”Este é outro fator que explica o dinamismo econômico e a melhoria das condições sociais”. O aumento do salário mínimo se reflete diretamente em diversas políticas universais, como na Previdência Social, que beneficia em torno de 33 milhões de pessoas. “Tem estudos que mostram que, se não fossem esses benefícios de seguridade, a linha de pobreza dos idosos, que hoje é em torno de 10%, seria em torno de 70%”.

Os programas de combate à pobreza, não só o Bolsa Família, também influenciaram no avanço social do país

“Há várias políticas de assistência social que estão sendo seguidas: políticas de segurança alimentar, Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], programa de microcrédito produtivo, programa de economia solidária”.

Para Fagnani, o importante é a convergência entre ações universais e focalizadas. “Esse é o legado do Lula: uma política de desenvolvimento econômico solidário com o desenvolvimento social, baseado no emprego, na renda, e convergência entre política universal e a política focalizada, que antes eram vistas como antagônicas”.

O economista também chama a atenção para alguns pontos, como a questão do campo, que tem apresentado taxas de crescimento do PIB e redução da desigualdade maiores que na cidade, além da queda do êxodo rural pela metade. Outra política que ele julgou fundamental foi o Programa Luz para Todos, que atende 13 milhões de pessoas no campo, gerando também um impacto sobre o consumo e a renda. “Quem recebe energia elétrica compra geladeira, televisão, computador, entre outros”




Fonte: Blog Luís Nassif




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Os embalos da opinião econômica

Professor da escola de economia de Paris, Bertrand Rothé abre seu artigo na revista Marianne com uma pergunta: por que os economistas midiáticos defendem com tanto ardor um sistema falido? Ele responde: porque eles são pagos pelos bancos. Um tanto rude, a resposta.

Mas Rothé mata a cobra e mostra o pau. Diz o economista que, em 10 de agosto, o jornal Le Monde publicou no caderno Debates 22 depoimentos de especialistas na matéria. Nesse grupo de sabichões, 16 (76,6%) são ligados a instituições financeiras. A promiscuidade vai longe. Anton Brender, reputado economista da esquerda francesa, hoje diretor de estudos econômicos do Dexia Asset Management usou duas páginas do Nouvel Observateur para concluir que “não são os mercados que estão em causa, mas a impotência política.”

A quase unanimidade, o realejo de opiniões banais encontra na mídia contemporânea um espaço ideal. Um jornalista do L’Expansion justificou a preferência pela ligeireza: “Os economistas de bancos sabem responder rápido, eles são pagos para isso. Esse já não é o caso dos universitários que se entregam à reflexão e cujas nuances são difíceis de transcrever.”

Vamos às relações entre “impotência política”, descuidos midiáticos e captura dos economistas. Até mesmo um idiota fundamental é capaz de perceber que na construção da crise atual a “impotência política” tem origem na ocupação do Estado e de seus órgãos de regulação pelas tropas da finança e dos graúdos interesses, digamos, corporativos, aí incluídos aqueles das megaempresas de mídia. As tropelias do meliante Rupert Murdoch dão testemunho das ligações perigosas entre o mass media, a política e a polícia. No Brasil é o “puder”, já na pérfida Albion it’s power.

O americano Robert Kaiser no livro So Damn Much Money listou 188 ex-congressistas registrados oficialmente como lobistas em Washington. A pesquisa de Kaiser revela como funciona a porta giratória entre os grandes negócios e a política. Estudo realizado por um grupo de advogados, o Public Citizen, flagrou na nobre ocupação de lobistas metade dos senadores e 42% dos deputados que deixaram o Congresso entre 1998 e 2004. No período 1998-2011 o setor financeiro gastou 84,5 bilhões de dólares com essa turma. Há “rachuncho” com o caixa das campanhas políticas.


Não escasseiam relatórios oficiais, depoimentos, documentários e livros de gente oriunda dos mercados a respeito da invasão dos bárbaros na cidadela da política e das políticas. Nesse espaço que, generosamente, me reserva CartaCapital, já publiquei um artigo sobre o relatório do Congresso americano que expõe as tropelias dos agentes da finança na montagem da crise financeira.

“No relatório do Congresso, o percurso em direção à crise é analisado mediante a narrativa de episódios esdrúxulos e de depoimentos patéticos de banqueiros, altos executivos e autoridades. A articulação entre as falas e as narrativas permite uma avaliação do papel desempenhado pelos vários fatores e protagonistas que levaram a economia global da euforia e da depressão: as inovações financeiras geradoras de instabilidade, a omissão sistemática das autoridades encarregadas de supervisionar os mercados de hipotecas e, finalmente, a farra da emissão de securities lastreadas em empréstimos imobiliários.

Before Our Very Eyes, assim é denominado o primeiro capítulo do Relatório do Congresso. Em linguagem popular “Estava na Cara”. É difícil negar que, ao longo dos anos de gestação da crise, os olhos – os da mídia incluídos – estiveram vendados pela trava que os hipócritas apontam na visão alheia (Palavras de Cristo, de admirável sabedoria). Já no caso de muitos economistas eminentes, sempre procura-dos para opinar, os olhos estavam travados, mas as imagens e palavras do documentário de Charles Ferguson, Inside Job, sugerem que os bolsos estavam arreganhados para a grana que escorria das façanhas da haute finance.
Ian Fletcher, autor do livro Free Trade Doesn’t Work, descreve formas mais sutis de cooptação dos economistas. Tais métodos, diz ele, não frequentam o ethos de bordel, com propostas do tipo “diga X e lhe pagarei Y”. Mas na faina de conseguir clientes, muitos economistas devem cultivar a reputação de sempre dizer aquilo que o freguês quer ouvir. “Certas ideias, como o aumento da desigualdade e problemas acarretados pelo livre-comércio devem ser evitadas. Elas não são economicamente corretas.” A mídia, em seus trabalhos de purificação da opinião pública, cuida de retirar tais “excentricidades” de circulação, assim como a polícia leva a enxovias os manifestantes de Ocupe Wall Street, uma súcia de desordeiros desatinados e desordeiras de barriga de fora.

Por Luiz Gonzaga Belluzzo (Revista CartaCapital, edição 670)




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BC expõe apetite dos bancos em meio a onda de lucros recordes

Itaú e Banco do Brasil já lucraram juntos R$ 20 bilhões este ano, com resultados individuais históricos. Segundo relatório anual do Banco Central, setor opera no Brasil com margem bruta acima de 50% e margem líquida de um terço. Para a instituição, lucro é componente 'relevante' do spread e 'há espaço para redução'. Mas defende medida que tira dinheiro dos cofres públicos.

BRASÍLIA – Duas das maiores instituições financeiras do país - uma privada, outra pública - acabam de divulgar ganhos recordes. Na véspera de Finados, o Itaú informara um lucro capaz de levantar defunto, R$ 10,9 bilhões, o maior da história bancária em três trimestres. Na volta do feriado, foi a vez de o Banco do Brasil anunciar um feito particular – embolsou R$ 9,2 bilhões até setembro.

Lucro bancário astronômico não é novidade num país que convive com as mais altas taxas de juros do mundo por um período ininterrupto (16 anos) como nunca se viu antes. Incomum é assistir a um dos principais responsáveis pela situação, o Banco Central - que com seu juro básico campeão influencia todas as taxas do país -, apontar a nudez dos reis do sistema financeiro.

O apetite das instituições está exposto em relatório anual do BC sobre o setor bancário divulgado, por coincidência, nesta quinta (3). O documento disseca a contabilidade das empresas e identifica o destino que dão ao dinheiro arrecadado com uma parte da taxa de juros chamada spread.

Spread é aquele percentual que todo banco adiciona ao juro do BC - e a taxa Selic é uma espécie de custo da matéria prima (dinheiro) das instituições -, na hora de calcular quanto cobrará por um empréstimo. Mais da metade do spread é margem bruta de lucro, diz o relatório. Um terço vira lucro líquido.

Além de enriquecer, o spread também serve para os bancos arranjarem recursos com os quais pagar funcionários e impostos e proteger-se de calotes. Dois anos atrás, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial apontava o Brasil como spread medalha de prata no planeta – o ouro pertencia ao Zimbábue.

Em 2010, a fatia “margem bruta de lucro" subiu dentro do spread total, segundo o BC, de 49% para 54% frente o ano anterior. Descontados os tributos recolhidos sobre tais ganhos, a fatia “margem líquida” também aumentou a participação no spread, chegando a 32% (era de 29% em 2009).

No documento, o BC afirma que a margem bruta é componente “relevante” do spread, “havendo espaço para redução”. Uma das sugestões que faz para baixá-lo mexe, porém, com os cofres públicos, não com o apetite das instituições. O fisco estaria errado ao cobrar delas impostos sobre receitas que nem o BC, como xerife bancário, reconhece como sendo dos bancos.

A gula do sistema financeiro é generalizada, mas, no relatório do BC, observa-se um pouco mais de recato por parte das instituições públicas. Elas trabalham com taxas de juros, spread e lucro menores.

De 2004 em diante, diminuíram-nas bem mais do que as particulares. A queda do juro foi duas vezes maior. O spread, que era mais alto, agora é inferior. Em 2010, a margem bruta de lucro dos bancos públicos equivalia a 50% do spread total. Entre os privados, bateu em 57%. Na fatia “líquida”, outra diferença: 30% nos públicos, 34% nos privados.