09 setembro 2011

BRASIL

Marcha contra corrupção: acorda Brasil




Por Matheus Pichonelli, na CartaCapital:Um dia o Brasil despertou. Cansado das imoralidades promovidas pelo governo eleito, resolveu ir às ruas em marchas que deixavam claro o descontentamento da população com a condução política do País. Igrejas, representantes da sociedade civil e das indústrias engrossavam o coro no ato realizado em 19 de março, dia de São José, o padroeiro da família.

Entre a praça da República e a praça da Sé, 300 mil pessoas marchavam pedindo mudanças. Que não demoraram a surgir. Treze dias depois, em 1º de Abril, o presidente que propunha as reformas de base era apeado do poder. E os militares, atendendo aos apelos de quem via o País à beira da imoralidade e do perigo comunista, ganhavam um tapete vermelho para fazer o que bem entendessem durante os 20 anos seguintes.

Como hoje, muitas senhoras daquela passeata, que ficou conhecida como a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, também gritavam a seu modo: “Acorda, Brasil”. Em outras palavras: “Cansei”.

Direito de se manifestar todos têm. Goste-se ou não, a pressão dos sem-terra pelas ruas e campos, nas duas últimas décadas, deixou os ouvidos dos governantes tão quentes que hoje parece impossível pensar numa estrutura de Estado que não conte com ao menos uma secretaria de Desenvolvimento Agrário e políticas públicas pensadas para atender demandas que não existiriam sem uma mobilização anterior. E haja mobilização, encontros, bandeiras, passeatas, muitas, todos os anos. O mesmo aconteceu com o movimento negro, o movimento feminista, o movimento em defesa das crianças e dos adolescentes.

Em todos esses casos, as ruas foram apenas o meio pelo qual o recado foi consolidado. Discussões, encontros, estudos e conscientização precediam a mais simplória das mobilizações.

E as mobilizações antecediam os mais simples projetos de lei ou escolha de lideranças eleitas para defender determinadas causas.

A experiência histórica leva a crer que toda transformação tem início num sentimento de indignação. Existe, no entanto, uma única diferença entre os indignados de 64 que legitimaram – muitos sem saber – um golpe de Estado e os indignados que foram às ruas 20 anos depois, pedindo as eleições diretas para presidente.

É que somente estes últimos de fato pediam mudanças. Mudanças no sistema de representação, mudanças na lei, mudança nos diretos sociais, políticos e civis.




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O Globo que serviço público sem servidor
público?



A manchete de O Globo – Governo Lula contratou três vezes mais servidores do que Fernando Henrique – serve para fazer “onda”, mas não serve para os leitores entenderem coisa alguma sobre a política do Governo Federal em relação ao funcionalismo.
Não conta que Lula deixou o Governo com menos funcionários que FHC recebeu de Itamar. Nem que gasta menos com eles do que FHC gastou no último ano de seu, digamos, governo. Quatro e meio por cento do PIB, contra 5% do último ano de FHC, como você vê no gráfico
Postei, no blog Projeto Nacional , uma análise dos números da pesquisa divulgada ontem à tarde pelo IPEA, de onde tirou a sua manchete.
Lá, pergunto o que aconteceria se a redução do número de funcionários fosse como FHC fazia e O Globo aplaudia:
“Imagine o caro leitor que a notícia fosse dada da seguinte forma: Polícia Federal tem menos agentes que em 2003 ou Universidades federais dobram matrículas mas não contratam professores ou Número de ações duplica, mas União tem os mesmos advogados que em 2003.”
O número de servidores públicos no Brasil, em relação ao número de trabalhadores no setor privado, apresentava, em 2006, proporção menor até do que os EUA e da maioria dos países latinoamericanos; 12,5%, contra 14,8% dos americanos.E como o número de funcionários federais crescei à modestíssima taxa de 1,5% ao ano no Governo Lula, enquanto o de trabalhadores em geral cresceu quase 3%, essa proporção ainda deve ter se reduzido ainda mais.
Mas o leitor de O Globo, não precisa saber disso, não é mesmo? Basta acreditar no dogma neoliberal de que não precisamos de serviços públicos. Só de um Banco Central para pagar juros à turma da grana.

Fernando Brito, no Blog O Tijolaço




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08
Sep

Não é mau jornalismo. É má-fé

Hoje de manhã, quem leu a manchete do Estadão, certamente pensou: “Uai, a Dilma dando uma de FHC”?
Não era para menos: o jornal estampou em quatro colunas, embaixo de uma foto de uma faixa, onde estava escrito corrupção a seguinte chamada: “BC perdoa R$ 18,6 bi para que bancos do Proer quitem dívidas”. Na internet, o “perdão” foi remendado para “abre mão”.
Nem uma coisa nem outra.
Ao ler a matéria, só no quinto paragrafo, começa-se a notar que o Banco Central está apenas cumprindo uma Lei que vale para toda e qualquer empresa que pague as dívidas com a Receita Federal dentro do Programa de Recuperação Fiscal, que existe desde o ano 2000, que foi reformulado em 2009, com critérios absolutamente claros e universais.
O BC, portanto, não perdoou, dívida alguma dos bancos quebrados e, ao contrário, recusou o pagamento em “moedas podres”, aceitando apenas o uso de títulos públicos como moeda no pagamento.
Não apenas o Banco Central agiu exclusivamente dentro da lei, como resistiu a todas as pressões – e nessa área as pressões costumam tilintar- como recusou qualquer beneficio extralegal para facilitar a devolução, pelos bancos do que levaram do governo com a injeção de recursos públicos no período FHC.
A atitude do Estadão não é apenas mau jornalismo. É desonestidade para com os seus leitores. O jornal sabe que a autoridade pública não pode deixar de cumprir o que está previsto na lei e sabe, também, que é condição para se beneficiar do Refis, pagar o que se deve, sem discussões e protelações administrativas.
Insinuar que houve um “perdão” discricionário em favor destes bancos é brincar com a honradez da autoridade monetária. O dinheiro público não é para brincadeira, mesmo que sejam “gracinhas” de jornal.


Fernando Brito, no Blog O Tijolaço



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A língua das imagens



Analisando a foto acima, tirada durante o IV Congresso Nacional do PT, escapo a um sentimento de profunda simpatia por Dilma Rousseff e seu desconforto. É ela quem mantém a postura digna da situação. Foto: Rennato Testa




As imagens falam por si, há quem diga. Talvez não seja o caso de levar a assertiva ao pé da letra, quem ouve a voz das imagens entende-as a seu talante e cada um é cada um. A verdade factual, a única indiscutível, assenta que a foto acima foi tirada dia 2 passado, em Brasília, durante o IV Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, e que focaliza o ex-presidente Lula, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e a presidenta da República Dilma Rousseff.

Que diz a mim com razoável clareza? Lula parece entregue a remotos, insondáveis pensamentos. Dirceu produz uma apreciável imitação de Jack Nicholson em As Bruxas de Eastwick, over-acting em deboche. A presidenta, entre preocupa-da e vexada, inspira uma imediata solidariedade. Os três estão próximos, na linha de frente do Congresso, e ao mesmo tempo infinitamente distantes, entre si e da plateia, cada qual em atuação-solo.

É o que me diz a foto na língua do instante fugidio, com muita força, porém, agressivamente. Não me permito maiores interpretações, mas não escapo a um sentimento de profunda simpatia por Dilma Rousseff e seu desconforto, por mais momentâneo. É ela quem mantém a postura digna da situação, e esta sua maneira sempre responsável de ficar à altura dos acontecimentos conforta a mim e a CartaCapital.

Sua expressão soletra a consciência da tarefa (talvez missão), da sua imponência e do significado disso tudo.




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