Chile: o outro 11 de setembro
Por Valter Pomar, em seu blog:
A grande imprensa vem dedicando grande espaço para falar do 11 de setembro de 2001, quando ocorreu o ataque contra as torres do World Trade Center, em Nova Iorque.
Nós da esquerda devemos analisar aqueles fatos e suas repercussões.
Mas devemos, também, analisar o 11 de setembro de 1973, quando um golpe militar derrubou o governo da Unidade Popular chilena.
Hoje, em diferentes países da América Latina, as forças de esquerda enfrentam dilemas estratégicos parecidos com aqueles enfrentados pela “via chilena para o socialismo”.
Por exemplo:
1. Os Estados Unidos (e seus aliados) continuam se opondo a governos que busquem democracia, bem-estar social, soberania nacional e integração da região. E não têm compromisso efetivo com a legalidade institucional e eleitoral, nem tampouco com a soberania e autodeterminação dos povos;
2. A grande burguesia segue alérgica a pagar os “custos sociais” de uma elevação constante na qualidade de vida do povo. E, por isto mesmo, está sempre disposta a financiar e participar de movimentos oposicionistas, desestabilizadores e golpistas;
3. As camadas médias seguem tratadas como massa de manobra, ideológica, social, política e eleitoral, dos setores conservadores. Os que têm algo a perder, mesmo que seja relativamente pouco, são mobilizados contra os que têm menos ainda, em defesa dos que têm muito mais do que necessitam;
4. As forças armadas e a alta burocracia estatal não são neutras. Sua origem social, seu processo de seleção, treinamento e funcionamento resultam num comportamento geneticamente conservador;
5. Na política, a indústria de cultura e comunicação equivale ao papel da indústria de armamentos para a guerra. O controle das televisões, rádios, jornais, revistas, editoras de livros, provedores e sítios eletrônicos ajuda na mobilização de hoje e forja as mentes de amanhã;
6. Não adianta pintar-se de ouro. Mesmo que a esquerda abra mão, na teoria e na prática, do socialismo e da revolução, ainda assim a direita vai enxergar intenções comunistas por trás de cada política compensatória. E agirá conforme esta visão;
7. A Europa demonstrou que não é possível a coexistência de longo prazo entre capitalismo, bem-estar social, democracia e paz. Na América Latina, os limites da social-democracia e do reformismo são ainda maiores;
8. É decisivo não confundir estratégia com tática, assim como medir a correlação de forças faz toda a diferença. Mas correlação de forças não é pretexto para a imobilidade. Correlação se altera. E se não a alteramos em nosso favor, eles a alteram em favor deles.
A “via chilena” não desembocou no socialismo. E, até hoje pelo menos, não conseguimos construir uma “via eleitoral” para sair do capitalismo.
Por outro lado, a combinação entre luta ideológica, mobilização social, auto-organização das classes trabalhadoras e disputa eleitoral produziu uma situação política inédita na América Latina e em muitos dos países da região.
E isto está ocorrendo numa situação internacional também inédita: ampla hegemonia das relações capitalistas e, por isto mesmo, uma brutal crise do capitalismo neoliberal.
Nessas condições, a América Latina pode ser não apenas território de resistência ou de um capitalismo não-neoliberal. Pode ser, também, espaço de construção de uma alternativa ao capitalismo.
Motivos de sobra para estudar e aprender com a experiência da Unidade Popular chilena.
Fonte: http://www.altamiroborges.blogspot.com/
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Um mártir da "informação verdadeira"
Por Iroel Sánchez, no blog cubano La Pupila Insomne:
O diário espanhol El País, do Grupo Prisa, publicou editorial com o título “Ordem para calar” (1) – e tentou transformar seu ex-correpondente em Cuba, Mauricio Vicent, em um mártir da liberdade de expressão.
O editorial acusa o governo cubano – que decidiu não renovar a credencial de Vicent como correspondente do El País na Ilha – de pretender privar de “uma informação verdadeira e comprovada” os que têm interesse pela realidade da nação caribenha.
Contudo, não existiu mentira, calúnia ou campanha midiática contra Cuba que Mauricio Vicent não tenha colocado sua assinatura. De fato, um de seus principais destaques deste ano foi o lançamento infundado da notícia “morre dissidente após ser golpeado pela polícia”, mentira desmascarada por médicos, testemunhas e familiares da suposta vítima (2). Após quatro meses de seu artigo “verdadeiro” ainda estava sem escrever uma palavra.
Mas, além dos temas estritamente políticos, vale um par de pérolas para apreciar a informação “verdadeira e comprovada” do senhor Vicent sobre Cuba.
Em 11 de junho passado, contando sobre a visita à Ilha do vice-presidente chinês, Mauricio Vicent escreveu: “há planos para realizar a remodelação e ampliação da capacidade da refinaria de Matanzas” (3). Surpreendente! Permanecendo por mais de 20 anos na Ilha, não foi possível ao correspondente do El País interar-se de que em toda a província cubana de Matanzas jamais existiu uma refinaria.
Em agosto de 2010, a propósito de uma de suas obsessões – a morbidade com a saúde de Fidel –, Vicent deu a seus leitores uma obviedade que revela seu profundo desconhecimento de nosso país e a carência do mais elementar sentido comum: “o sangramento foi tão severo que precisou ser traslado a Havana em uma aeronave” (4) (desde Holguín), como se a maneira utilizada fosse diferente – em pleno século XXI e tratando-se de um chefe de estado – para percorrer cerca de 1.000km que separam as duas cidades.
E assim poderíamos seguir até o infinito com as façanhas jornalísticas do mártir do Prisa, o grupo midiático que dispensará 2.500 trabalhadores e que conta com a exclusão de figuras como o ensaísta Ignácio Ramonet, o escritor Alfonso Satre, o crítico literário Ignácio Echeverría e, mais recentemente, o jornalista Carlos Carnicero.
Juan Cruz, da editora Alfaguara– também de propriedade do Prisa – alguém que assina como sendo responsável pela proibição de publicar escritores residentes em Cuba e habitual responsável pelas campanhas contra a Ilha, escreveu em seu blog sobre o trabalho de Vicent: “Sua informação foi vital para entendermos a evolução social em Cuba”.
E talvez sem saber, Cruz nos deu a chave para compreender por que há algum tempo o mesmo cometeu o absurdo de confundir Elpidio Valdés (5) – um dos personagens mais populares do imaginário cubano – com um vampiro. Parece que de tanto ler os despachos de seu admirado colega foi capaz de ter tantos efeitos divertidos como esse.
Assim, graças a uma nota sem assinatura, o artigo de Juan Cruz, o combativo editorial do Prisa e o protesto dessa filial da CIA que são os Repórteres sem Fronteira, Mauricio Vicent ascendeu a mártir do jornalismo, como entendem as transnacionais da informação. Na mídia, explodiu as escandalosas revelações do Wikileaks (6) sobre Yoani Sánchez, o monstro de Frankenstein que Vicent ajudou a construir e que há algum tempo vinha afastando, cada vez mais, de suas escassas coberturas. Nós perguntamos se todo este escândalo não é precisamente para ocultar o que o El País – titular dos cabos do Departamento de Estado desde o final de 2010 – já sabia há algum tempo.
Dizem que ninguém sabe para quem trabalha, mas pelo menos Mauricio teve o privilégio de descobrir, após ter cumprido disciplinadamente a “Ordem para calar” sobre esse e muitos outros assuntos.
1- “Orden de callar”: http://www.elpais.com/articulo/opinion/Orden/callar/elpepiopi/20110906elpepiopi_1/Tes
2- http://lapupilainsomne.wordpress.com/2011/05/12/testigos-y-familiares-de-soto-garcia-desmienten-campana-mediatica/
3- http://www.elpais.com/articulo/internacional/Cuba/China/consolidan/alianza/estrategica/elpepuint/20110609elpepiint_5/Tes
4- http://www.elpais.com/articulo/internacional/Fidel/Castro/da/alta/elpepuint/20100807elpepuint_9/Tes
5- Elpidio Valdés: personagem criado em 1970, por Padrón, ver em http://www.lajiribilla.cu/2008/n389_10/pueblomocho.html
6- http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09HAVANA527&q=obama%20yoani
* Tradução de Sandra Luiz Alves.
Fonte: http://www.altamiroborges.blogspot.com/
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