O Conversa Afiada publica resenha de Murilo Silva, editor do Conversa Afiada:
“Lincoln” de Steven Spielberg, que estreou essa semana no Brasil, é uma provocação a um mundo em que a política como meio de construção do bem coletivo e a própria democracia encontram-se em xeque.
Cento e cinquenta anos depois do discurso no cemitério de Gettysburg, em que Lincoln lança bases de um Estado democrático – “o governo do povo, para o povo e pelo povo” – nações inteiras, como se vê na Europa, se lançam aos braços de burocratas encastelados nas sedes dos Bancos Centrais. Homens desconhecidos que governam milhões de cidadãos, sem ter recebido um voto sequer.
Lincoln, brilhantemente interpretado por Daniel Day-Lewis, lembra aos descrentes e puristas que a política pode e deve ser o meio para se alcançar grandes feitos.
Lincoln não era um abolicionista radical.
Mas sabia que formar uma única grande nação, estabelecida sobre uma paz real e duradoura, tinha de realizar a Abolição.
Durante a Guerra Civil, em 1863, com e força de uma Lei marcial, Lincoln emancipou os escravos do Sul, que puderam ser incorporados às forças da União.
Advogado, o presidente sabia que agia na exceção da lei e atropelava, em especial, a legislação dos entes federados.
Ele receava que, após a Guerra, os tribunais revogassem o “confisco” do que era, perante a lei, “propriedade privada” dos dissidentes sulistas.
O filme trata do fim do primeiro mandato e do começo do segundo. Mostra um calculista político meticuloso e, em larga medida, pragmático.
Disposto a sujar as mãos no sangue da guerra, adiou um acordo certo com os Confederados, o que custou mais milhares de vidas, naquele que foi o mais sangrento conflito da história americana.
Ao mesmo tempo, disposto a sujar as “bostas na lama de Washington” foi pessoalmente atrás dos votos que lhe faltavam para vencer a Escravidão.
Os movimentos do tabuleiro político posto diante de Lincoln são exuberantemente demonstrados no filme.
De um lado, o presidente acenou à ala mais conservadora do seu Partido – os republicanos tradicionais de Francis Preston Blair, vivido por Hal Holbrook – com a paz pela liberdade. E aceitou negociar em segredo com os Confederados em troca da aprovação da emenda.
Aos republicanos moderados e aos independentes ele procurou vender a liberdade pela paz, já que, uma vez abolida a Escravatura, a guerra seria inócua, e o desgastado sul se renderia.
Os republicanos radicais – comandados por Thaddeus Stevens, líder do partido na Câmara dos Representantes e notável abolicionista, (interpretado por Tommy Lee Jones) – foram convencidos de que, ainda que de forma incompleta – os direitos civis só chegariam um século depois. A 13ª emenda, a Abolição, aprovada um ano antes no Senado, era o que de melhor se podia oferecer à História naquele momento.
Por fim, com Democratas do norte – anti-abolicionistas radicais e ferrenhos oposicionistas – Lincoln barganhou cargos e até comprou votos.
Como se sabe, tortuosos são os caminhos da Política, como foram os Lincoln.
Nem por isso se deve perder a fé na Democracia.
Se a memória do 16º presidente resistiu a 250 anos é porque a História é feita pelos que não se omitem diante dela.
E é a homens como Lincoln que se delega a construção do futuro.
“Lincoln” de Steven Spielberg, que estreou essa semana no Brasil, é uma provocação a um mundo em que a política como meio de construção do bem coletivo e a própria democracia encontram-se em xeque.
Cento e cinquenta anos depois do discurso no cemitério de Gettysburg, em que Lincoln lança bases de um Estado democrático – “o governo do povo, para o povo e pelo povo” – nações inteiras, como se vê na Europa, se lançam aos braços de burocratas encastelados nas sedes dos Bancos Centrais. Homens desconhecidos que governam milhões de cidadãos, sem ter recebido um voto sequer.
Lincoln, brilhantemente interpretado por Daniel Day-Lewis, lembra aos descrentes e puristas que a política pode e deve ser o meio para se alcançar grandes feitos.
Lincoln não era um abolicionista radical.
Mas sabia que formar uma única grande nação, estabelecida sobre uma paz real e duradoura, tinha de realizar a Abolição.
Durante a Guerra Civil, em 1863, com e força de uma Lei marcial, Lincoln emancipou os escravos do Sul, que puderam ser incorporados às forças da União.
Advogado, o presidente sabia que agia na exceção da lei e atropelava, em especial, a legislação dos entes federados.
Ele receava que, após a Guerra, os tribunais revogassem o “confisco” do que era, perante a lei, “propriedade privada” dos dissidentes sulistas.
O filme trata do fim do primeiro mandato e do começo do segundo. Mostra um calculista político meticuloso e, em larga medida, pragmático.
Disposto a sujar as mãos no sangue da guerra, adiou um acordo certo com os Confederados, o que custou mais milhares de vidas, naquele que foi o mais sangrento conflito da história americana.
Ao mesmo tempo, disposto a sujar as “bostas na lama de Washington” foi pessoalmente atrás dos votos que lhe faltavam para vencer a Escravidão.
Os movimentos do tabuleiro político posto diante de Lincoln são exuberantemente demonstrados no filme.
De um lado, o presidente acenou à ala mais conservadora do seu Partido – os republicanos tradicionais de Francis Preston Blair, vivido por Hal Holbrook – com a paz pela liberdade. E aceitou negociar em segredo com os Confederados em troca da aprovação da emenda.
Aos republicanos moderados e aos independentes ele procurou vender a liberdade pela paz, já que, uma vez abolida a Escravatura, a guerra seria inócua, e o desgastado sul se renderia.
Os republicanos radicais – comandados por Thaddeus Stevens, líder do partido na Câmara dos Representantes e notável abolicionista, (interpretado por Tommy Lee Jones) – foram convencidos de que, ainda que de forma incompleta – os direitos civis só chegariam um século depois. A 13ª emenda, a Abolição, aprovada um ano antes no Senado, era o que de melhor se podia oferecer à História naquele momento.
Por fim, com Democratas do norte – anti-abolicionistas radicais e ferrenhos oposicionistas – Lincoln barganhou cargos e até comprou votos.
Como se sabe, tortuosos são os caminhos da Política, como foram os Lincoln.
Nem por isso se deve perder a fé na Democracia.
Se a memória do 16º presidente resistiu a 250 anos é porque a História é feita pelos que não se omitem diante dela.
E é a homens como Lincoln que se delega a construção do futuro.
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