Dilma enfrenta o país dos 30 Berlusconis: tijolaço contra os velhos donos da mídia
A Dilma não quer fazer a “Ley de Medios”. Acha que isso é “acessório”. Importante pra ela é enfrentar os bancos. Como se as duas batalhas não estivessem casadas.
Reduzir juros, baixar custo da produção (com diminuição das tarifas de energia): são medidas corretas, na linha do capitalismo mais “democrático” (isso existe?) surgido sob Lula no Brasil. Mas nem isso a elite mais atrasada do país aceita.
É inacreditável que colunistas e comentaristas de jornais e TVs (além de editorialistas e mancheteiros) tenham reagido em uníssono: “baixar juros? um risco, isso afeta nossos (?) bancos”; “renegociar contratos com empresas de energia? irresponsável, intervencionismo…”
O Luís Cosme já escreveu sobre a confusão que esse tipo de comentário parece gerar entre o brasileiro médio. Cosme explica aqui como esses colunistas de araque ameaçam o sono de Ubirajara, o brasileiro comum.
Essa turma de colunistas costuma quebrar a cara no muro da realidade. Eles, claro, têm o direito de externar a opinião que tiverem – por mais que ela pareça uma opinião “encomendada” por banqueiros, empresas de energia, ou tucanos à procura de um programa para 2014. O que chama atenção é o monopólio da informação e da opinião. Ninguém quer “controlar” opinião. A não ser um ou outro diretor de Jornalismo mais afoito que corre pra Justiça a processar blogueiros que façam a crítica da velha mídia.
Do lado de cá, o que queremos é regulação para a mídia. Não é controle! Regulação é a palavra. Os artigos da Constituição que tocam nesse ponto permanecem “letra morta”. Não houve aprovação de legislação complementar. Lula no segundo mandato avançou lentamente na direção correta. Mas Dilma parecia ter arquivado qualquer projeto de regulação: mandou Paulo Bernardo guardar na gaveta o projeto do Frankin Martins, e o ministro Bernardo jogou fora a chave da gaveta.
Sobre o erro de não enfrentar o debate, escrevi um texto ano passado
Ontem, Dilma despertou do sono profundo. Enfrentou, finalmente, o uníssono de “opiniões” a dizer que o Brasil vai entrar em racionamento, que o Brasil tem uma economia “intervencionista” (como se isso fosse ruim).
Dilma comprou a briga, convocou cadeia de rádio e TV. E falou. A presidenta deve ter-se lembrado que ela é que foi eleita, e não os colunistas e editorialistas que tentam interditar a mudança no modelo econômico. Dilma olhou no olho de kamels, frias, mesquitas, mervais e outros que tais, e disparou:
- “Hoje podemos ver como erraram feio no passado os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda”
- “Aqueles que são sempre do contra estão ficando pra tras”.
- “Como erraram os que diziam que não podíamos baixar juros”.
De quebra, avisou: preço da energia cai 18% para os consumidores (mesmo nos Estados - São Paulo, Paraná, Minas – que não aceitaram renegociar contratos, por ingerência “tucana”).
Nas redes sociais, o povo comentava: “cadeia, neles, Dilma”. Sim. Cadeia de rádio e TV para enfrentar o oligopólio. É uma ferramenta de emergência. Muito mais construtivo seria enfrentar pra valer a batalha da mídia, regulando o setor onde prevalece o clima de bang-bang. Na Comunicação, o Brasil não fez nem a Revolução de 30. Vivemos numa República Velha da Comunicação.
Dilma passou dois anos falando que “o melhor controle é o controle remoto”. Besteira. O País recisa de regulação para enfrentar o oligopólio.
O pronunciamento de ontem foi uma espécie de “tijolaço tardio”. Tijolaço eram os artigos que Brizola mandava publicar (comprava espaço nos jornais), para resistir à onda de maledicências que os diários cariocas (especialmente “O Globo”) difundiam quando ele era o governador do Rio.
No dia seguinte do tijolaço de Dilma, leio o relatório da ONG (argh) “Repórteres sem Fronteiras”, deixando claro o óbvio: o Brasil é o país dos 30 Berlusconis.
Segundo a ONG, cerca de dez companhias dominam a mídia nacional, quase todas com base em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O relatório denuncia ainda a violência contra jornalistas no Brasil, mencionando que dois repórteres especializados em notícias de polícia tiveram que deixar o país no ano passado por conta de ameaças.
A agência de notícias France Presse distribuiu em todo o Brasil um pequeno resumo do relatório. “O Brasil apresenta um nível de concentração de mídia que contrasta totalmente com o potencial de seu território e a extrema diversidade de sua sociedade civil”, explica a ONG de defesa da liberdade de imprensa. “O colosso parece ter permanecido impávido no que diz respeito ao pluralismo, um quarto de século depois da volta da democracia”, assinala a RSF, recordando que em 2012 houve 11 jornalistas assassinados no país.
Fonte: O Escrevinhador
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