NA MESMA NOITE, DUAS DERROTAS
DA ALEMANHA
Flávio Aguiar, de Berlim
Berlim - Enquanto a hiper-confiante equipe da Alemanha,
comandada por Joachim Löw, naufragava perante a hiper-sagaz equipe italiana, em
Varsóvia, na Eurocopa 2012, uma outra hiper-confiante equipe alemã começava a
naufragar perante uma outra equipe, também capitaneada por um italiano, a 1160
km. de distância, em Bruxelas. Tratava-se da equipe do governo alemão
capitaneada pela chanceler Angela Merkel.
A idéia de Merkel e sua equipe era sair da cúpula da União Européia com a aprovação do chamado “pacote de crescimento” acordado na sexta-feira da semana anterior em Roma (logo antes da chanceler ir à Polônia assisitir a vitória da Alemanha sobre a Grécia por 4 x 2), de 130 bilhões de euros, entre ela, François Hollande, Mario Monti e Mariano Rajoy, sem fazer mais concessões quanto ao tipo de ajuda e a natureza dos empréstimos.
Entretanto Mario Monti, o tecnocrata posto em Roma depois da deposição de Berlusconi pelo comando da União Européia e a artilharia da Zona do Euro, bloqueou o movimento. E foi secundado por Mariano Rajoy, ambos em revolta contra a posição fechada da chanceler alemã. Os motivos desta eram óbvios: no dia seguinte, sexta à tarde, ela deveria comparecer perante o Bundestag, em Berlim, para comandar a aprovação dos pacotes fiscal e de ajuda acordados meses antes, sob sua liderança férrea e ferrenha. Queria fazer isso apresentando a mesma imagem de força que vem caracterizando sua atuação na União Européia e na Zona do Euro.
Mas Monti declarou – e foi apoiado por Rajoy – que só aprovaria o novo pacote se houvesse garantia da mudança nas regras dos novos empréstimos, a saber, permitir que o Banco Central Europeu empreste dinheiro diretamente aos bancos naufragados ou adernados, sem passar pelos governos envolvidos. Esse movimento envolve uma mudança nos poderes da chamada Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI), pois com o empréstimo direto aos bancos evita-se que ela monitore a adoção de medidas mais draconianas, restritivas e recessivas pelos governos dos países envolvidos. Outra mudança exigida por Monti era a de flexibilização dessas medidas ditas de “austeridade”, sufocantes de governos, orçamentos, países e povos, além da promessa de atuação mais efetiva do BCE no sentido de baixar os juros das rolagens da dívida pública italiana, e, por tabela, da espanhola também.
Merkel se mantinha firme na negativa, enquanto estava previsto que pelas 10:30 (hora em que a equipe alemã agonizava em Varsóvia) Hermann van Rampuy, o presidente do Conselho Europeu ali reunido, daria uma entrevista coletiva sobre o andamento das negociações. Segundo a Spiegel International, nessa altura, Merkel sugeriu que Rampuy anunciasse que havia acordo quanto ao “pacote de crescimento”, sem fazer referência ao resto. Neste momento, François Hollande, que também favorecia a posição de Monti, se interpôs e aconselhou Rampuy a dizer “a verdade”. Este assim procedeu, anotando o primeiro gol contra a meta de Markel, anunciando que havia a oposição condicionada de “dois países” quanto à aprovação do dito pacote, sem mencionar quais eram.
A discussão prosseguiu, num tom acre, segundo os relatos. Tão acre, parece, que lá pela meia-noite, enquanto havia comemorações em Roma e lágrimas em Berlim, os demais países da UE, que não pertencem à Zona do Euro, se retiraram, indo seus representantes para os respectivos hotéis ou delegações. Com o círculo reduzido, ele se apertou mais em torno da chanceler, que começou a dar sinais de capitulação, mas esta ainda era contida por membros de sua equipe, que insistiam na necessidade de não ceder. Compreende-se a preocupação destes: com novas condições aprovadas para Itália e Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal vão insistir mais ainda na revisão das suas.
Por fim, lá pelas 4 da manhã (11h da noite em Brasília) veio a já esperada capitulação, e Rampuy pode então fazer o anúncio de que o pacote fora aprovado conjuntamente com a adoção de novas regras para o socorro ao euro. Também houve a aprovação de um controle fiscal maior de Bruxelas, Estrasburgo (sede do Parlamento Europeu) e Frankfurt-am-Main (sede do B CE) sobre os bancos europeus, cujas regras deverão ser definidas até o final do ano.
No momento em que escrevo este relato, ainda não se sabe como a chanceler vai sar dessa, nem o que fará, exatamente, perante o Bundestag. Mas se sabe que as coisas não serão mais exatamente como estavam previstas para ser. Nem em Bruxelas, nem em Roma, nem em Berlim. Nem na Eurocopa tampouco.
A idéia de Merkel e sua equipe era sair da cúpula da União Européia com a aprovação do chamado “pacote de crescimento” acordado na sexta-feira da semana anterior em Roma (logo antes da chanceler ir à Polônia assisitir a vitória da Alemanha sobre a Grécia por 4 x 2), de 130 bilhões de euros, entre ela, François Hollande, Mario Monti e Mariano Rajoy, sem fazer mais concessões quanto ao tipo de ajuda e a natureza dos empréstimos.
Entretanto Mario Monti, o tecnocrata posto em Roma depois da deposição de Berlusconi pelo comando da União Européia e a artilharia da Zona do Euro, bloqueou o movimento. E foi secundado por Mariano Rajoy, ambos em revolta contra a posição fechada da chanceler alemã. Os motivos desta eram óbvios: no dia seguinte, sexta à tarde, ela deveria comparecer perante o Bundestag, em Berlim, para comandar a aprovação dos pacotes fiscal e de ajuda acordados meses antes, sob sua liderança férrea e ferrenha. Queria fazer isso apresentando a mesma imagem de força que vem caracterizando sua atuação na União Européia e na Zona do Euro.
Mas Monti declarou – e foi apoiado por Rajoy – que só aprovaria o novo pacote se houvesse garantia da mudança nas regras dos novos empréstimos, a saber, permitir que o Banco Central Europeu empreste dinheiro diretamente aos bancos naufragados ou adernados, sem passar pelos governos envolvidos. Esse movimento envolve uma mudança nos poderes da chamada Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI), pois com o empréstimo direto aos bancos evita-se que ela monitore a adoção de medidas mais draconianas, restritivas e recessivas pelos governos dos países envolvidos. Outra mudança exigida por Monti era a de flexibilização dessas medidas ditas de “austeridade”, sufocantes de governos, orçamentos, países e povos, além da promessa de atuação mais efetiva do BCE no sentido de baixar os juros das rolagens da dívida pública italiana, e, por tabela, da espanhola também.
Merkel se mantinha firme na negativa, enquanto estava previsto que pelas 10:30 (hora em que a equipe alemã agonizava em Varsóvia) Hermann van Rampuy, o presidente do Conselho Europeu ali reunido, daria uma entrevista coletiva sobre o andamento das negociações. Segundo a Spiegel International, nessa altura, Merkel sugeriu que Rampuy anunciasse que havia acordo quanto ao “pacote de crescimento”, sem fazer referência ao resto. Neste momento, François Hollande, que também favorecia a posição de Monti, se interpôs e aconselhou Rampuy a dizer “a verdade”. Este assim procedeu, anotando o primeiro gol contra a meta de Markel, anunciando que havia a oposição condicionada de “dois países” quanto à aprovação do dito pacote, sem mencionar quais eram.
A discussão prosseguiu, num tom acre, segundo os relatos. Tão acre, parece, que lá pela meia-noite, enquanto havia comemorações em Roma e lágrimas em Berlim, os demais países da UE, que não pertencem à Zona do Euro, se retiraram, indo seus representantes para os respectivos hotéis ou delegações. Com o círculo reduzido, ele se apertou mais em torno da chanceler, que começou a dar sinais de capitulação, mas esta ainda era contida por membros de sua equipe, que insistiam na necessidade de não ceder. Compreende-se a preocupação destes: com novas condições aprovadas para Itália e Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal vão insistir mais ainda na revisão das suas.
Por fim, lá pelas 4 da manhã (11h da noite em Brasília) veio a já esperada capitulação, e Rampuy pode então fazer o anúncio de que o pacote fora aprovado conjuntamente com a adoção de novas regras para o socorro ao euro. Também houve a aprovação de um controle fiscal maior de Bruxelas, Estrasburgo (sede do Parlamento Europeu) e Frankfurt-am-Main (sede do B CE) sobre os bancos europeus, cujas regras deverão ser definidas até o final do ano.
No momento em que escrevo este relato, ainda não se sabe como a chanceler vai sar dessa, nem o que fará, exatamente, perante o Bundestag. Mas se sabe que as coisas não serão mais exatamente como estavam previstas para ser. Nem em Bruxelas, nem em Roma, nem em Berlim. Nem na Eurocopa tampouco.
Fonte: www.cartamaior.com.br
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