24 março 2012

POLÍTICA

Governar é administrar chantagens

por Álvaro Rodrigues dos Santos
Houve o tempo em que governar significou abrir estradas ou eleger prioridades. Hoje é outro o desafio: “governar é administrar chantagens”.
Dentro da onipresente cultura da chantagem, chantageadores não faltam: partidos da base, partidos de oposição, governadores, prefeitos, vereadores, deputados, senadores, minorias várias, órgãos rais sindicais de trabalhadores, associações empresariais e patronais, bancada ruralista, bancada ambientalista, bancada das empreiteiras, bancada dos banqueiros, mídias de todos os quilates, legislativos vários, Judiciário, Forças Armadas das Três Armas, bancada nordestina, bancada do centro-oeste, bancada do sul, bancada do sudeste, bancada do norte, Esquerda, Direita, Centro, igrejas, pessoal do álcool, pessoal dos grãos, pessoal da pecuária, pessoal da mineração, dos sem isso e sem aquilo, professores e estudantes, aliados eleitorais eventuais, Universidades e mundo acadêmico, mundo das artes, aposentados, etc., etc.
As exigências sobre os poderes executivos envolvem vantagens de todos os tipos: cobiçados postos de governo, cargos e funções remuneradas, regalias corporativas, regalias legais, regalias fiscais, desobrigações e desonerações camaradas, empregos para correligionários, liberação de verbas, liberação de emendas ao orçamento, aumentos de dotações orçamentárias para isso ou aquilo, atendimento de reivindicações de lobbies setoriais, suporte eleitoral, direcionamento de verbas públicas de investimento ou publicidade, sancionar ou reprovar projetos, e por aí vamos.
As ameaças em caso de não atendimento dos pleitos somente não são passadas em cartório, mas são escancaradas, e pesadas: retirada de apoio eleitoral e/ou de apoio político parlamentar por parte de partidos, igrejas ou categorias, detratação da imagem pública, não aprovação de projetos de interesse do executivo, desestabilização de administradores, imposição de derrotas jurídicas, insatisfação nos quartéis, desestabilização política, rompimento de alianças políticas locais, regionais ou nacionais, etc., etc., etc.
E os poderes executivos, ao menos aqueles que gostariam de resistir, não encontram saída. Em nome de uma buscada governabilidade obrigam-se a ceder anéis e dedos, além de sua diuturna atenção aos chantageadores. Que energia, que tempo, que recursos e que humor sobram para serem dedicados ao plano de governo, às estratégias de desenvolvimento, àquela velha intenção de revolucionar a educação e a saúde, à decisão de profissionalizar a gestão pública, ao enfrentamento de nossas carências crônicas?
Haverá alguma possibilidade de se resistir à ditadura das chantagens dentro das regras democráticas? Haverá alguma possibilidade do interesse coletivo impor-se aos interesses particulares de indivíduos e grupos? Que caminhos para tanto podem ser apontados para a sociedade brasileira?
Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br) é geólogo. Foi diretor de Planejamento e Gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo.


Fonte: www.viomundo.com.br (Blog de Luiz Carlos Azenha)




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Demóstenes ficava com 30% do que Cachoeira arrecadava com jogatina

por Leandro Fortes, em Carta Capital
A Polícia Federal tem conhecimento, desde 2006, das ligações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.
Três relatórios assinados pelo delegado Deuselino Valadares dos Santos, então chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (DRCOR), da Superintendência da PF em Goiânia, revelam que Demóstenes tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema de jogo clandestino, calculada em, aproximadamente, 170 milhões de reais nos últimos seis anos.
Na época, o império do bicheiro incluía 8 mil máquinas ilegais de caça-níqueis e 1,5 mil pontos de bingos. Como somente no mês passado a jogatina foi desbaratada, na Operação Monte Carlo, as contas apresentadas pela PF demonstram que a parte do parlamentar deve ter ficado em torno de 50 milhões de reais. O dinheiro, segundo a PF, estava sendo direcionado para a futura candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás, via caixa dois.
A informação, obtida por CartaCapital, consta de um Relatório Sigiloso de Análise da Operação Monte Carlo, sob os cuidados do Núcleo de Inteligência Policial da Superintendência da PF em Brasília. Dessa forma, sabe-se agora que Demóstenes Torres, ex-procurador, ex-delegado, ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, mantinha uma relação direta com o bando de Cachoeira, ao mesmo tempo em que ocupava a tribuna do Senado Federal para vociferar contra a corrupção e o crime organizado no País.
O senador conseguiu manter a investigação tanto tempo em segredo por conta de um expediente tipicamente mafioso: ao invés de se defender, comprou o delegado da PF.
Deuselino Valadares foi um dos 35 presos pela Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Nas intercepções telefônicas feitas pela PF, com autorização da Justiça, ele é chamado de “Neguinho” pelo bicheiro. Por estar lotado na DRCOR, era responsável pelas operações policiais da Superintendência da PF em todo o estado de Goiás. Ao que tudo indica, foi cooptado para a quadrilha logo depois de descobrir os esquemas de Cachoeira, Demóstenes e mais três políticos goianos também citados por ele, na investigação: os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).
Ao longo da investigação, a PF descobriu que, nos últimos cinco anos, o delegado passava informações sigilosas para o bando e enriquecia a olhos vistos. Tornou-se dono de uma empresa, a Ideal Segurança Ltda, registrada em nome da mulher, Luanna Bastos Pires Valadares. A firma foi montada em sociedade com Carlinhos Cachoeira para lavar dinheiro. Também comprou fazendas em Tocantins, o que acabou por levantar suspeitas e resultar no afastamento dele da PF, em 2011.
O primeiro relatório do delegado Deuselino Valadares data de 7 de abril de 2006, encaminhado à Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat) da PF em Goiânia. Valadares investigava o escândalo da Avestruz Master, uma empresa que fraudou milhares de investidores em Goiás, quando conheceu o advogado Ruy Cruvinel. Cruvinel chamou Valadares para formar uma parceria a fim de criar “uma organização paralela” à de Carlinhos Cachoeira. O suborno, segundo o delegado, seria uma quantia inicial de 200 mil reais. Ele, ao que parece, não aceitou e decidiu denunciar o crime.
Em 26 de abril de 2006, o relatório circunstanciado parcial 001/06, assinado por Deuselino Valadares, revelou uma ação da PF para estourar o cassino de Ruy Cruvinel, no Setor Oeste de Goiânia. Preso, Cruvinel confessou que, dos 200 mil reais semanais auferidos pelo esquema (Goiás e entorno de Brasília), 50%, ou seja, 100 mil reais, iam diretamente para os cofres de Carlinhos Cachoeira.
Outros 30% eram destinados ao senador Demóstenes Torres, cuja responsabilidade era a de remunerar também o então superintende de Loterias da Agência Goiânia de Administração (Aganp), Marcelo Siqueira. Ex-procurador, Siqueira foi indicação de Demóstenes e do deputado Leréia para o cargo. Curiosamente, ao assumir a função, um ano antes, ele havia anunciado que iria “jogar duro” contra o jogo ilegal em Goiás.
Em 31 de maio de 2006, de acordo com os documentos da Operação Monte Carlo, Deuselino Valadares fez o relatório derradeiro sobre o esquema, de forma bem detalhada, aí incluído um infográfico do “propinoduto” onde o bicheiro é colocado ao centro de uma série de ramificações criminosas, ao lado do senador do DEM e do ex-procurador Marcelo Siqueira. Em seguida, misteriosamente, o delegado parou de investigar o caso.
“Verificado todo o arquivo físico do NIP/SR/DPF/GO não foi localizado nenhum relatório, informação ou documentos de lavra do DPF DEUSELINO dando conta de eventual continuidade de seus contatos com pessoas ligadas à exploração de jogos de azar no Estado de Goiás”, registrou o delegado Raul Alexandre Marques de Souza, em 13 de outubro de 2011, quando as investigações da Monte Carlo estavam em andamento.
A participação do senador Demóstenes Torres só foi novamente levantada pela PF em 2008, quando uma operação também voltada à repressão de jogo ilegal, batizada de “Las Vegas”, o flagrou em grampos telefônicos em tratativas com Carlinhos Cachoeira. Novamente, o parlamentar conseguiu se safar graças a uma estranha posição da Procuradoria Geral da República, que recebeu o inquérito da PF, em 2009, mas jamais deu andamento ao caso.



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Simon  diz que Dilma não pode ficar
"refém" de partidos

Do JBonline

Em discurso no Plenário nesta quinta-feira (22), o senador Pedro Simon (PMDB-RS) voltou a condenar a corrupção e a impunidade, e aconselhou a presidente daRepública, Dilma Rousseff, a escolher os melhores técnicos para os cargos do governo. Ele elogiou a presidente e disse que ela não pode ficar “refém de partidos”.

Simon afirmou que ser “muito triste” o momento que o Brasil está vivendo, com desvios no setor da saúde. O senador comentou matéria exibida pelo programaFantástico, da TV Globo, no último domingo (18), em que representantes de empresas foram gravados tentando fraudar uma licitação no Hospital de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo o senador, o trabalho jornalístico é digno de prêmio.
"A corrupção está tão bem organizada que existe até ética entre os corruptos", disse o senador, ironizando uma das conversas gravadas na reportagem.
O senador também comentou a rejeição, por parte do Senado, do nome de Bernardo Figueiredo ao cargo de diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A razão, segundo o senador, foi que os senadores não o consideraram apto para o cargo, com base em relatório do Tribunal de Contas da União (TCU). Mesmo assim, segundo Simon, a imprensa se limitou a publicar que foi uma retaliação do Senado à Presidência da República.
Ministérios
Segundo o senador, a presidente da República, Dilma Rousseff, ainda não mostrou “a linha real” de seu governo. Simon disse que o ministério de Dilma não é o ideal, mas ressaltou que a maioria das decisões da presidente têm sido acertadas. Na visão de Simon, com a força partidária e com o respaldo de milhões de votos recebidos, Dilma poderia escolher os melhores nomes, do ponto de vista técnico, para ocupar os ministérios.
"Dilma foi uma grande secretária estadual e uma grande ministra. Agora, com um ano e pouco de governo, ela tem um prestígio que nunca outro presidente teve", afirmou o senador.
Para Pedro Simon, Dilma não deve ficar refém de negociações de interesses de partidos, mas deve governar buscando o bem comum. De acordo com o senador, a bancada do PMDB nunca se reuniu para discutir indicação de ministros.
Notáveis
Pedro Simon ainda afirmou que foi muito feliz a escolha dos nomes da comissão especial de especialistas incumbida de debater e propor um novo pacto federativo. O senador, no entanto, sugeriu que alguns senadores sejam indicados como suplentes dos membros da comissão, para conhecer o que está sendo debatido.
"Que cada notável que vai ocupar um cargo tenha um senador como suplente. É uma forma de o Senado participar desse debate", declarou.






















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