31 março 2012

POLÍTICA, MÍDIA E CORRUPÇÃO

A associação da mídia com o crime






Por Luís Nassif, em seu Blog




Está na hora de se começar a investigar mais a fundo a associação da Veja com o crime organizado. Não é mais possível que as instituições neste país - Judiciário, Ministério Público - ignorem os fatos que ocorreram.
Está comprovado que a revista tinha parceria com Carlinhos Cachoeira e Demóstenes. É quase impossível que ignorasse o relacionamento entre ambos - Demóstenes e Cachoeira.
No entanto, valeu-se dos serviços de ambos para interferir em inquéritos policiais (Satiagraha), para consolidar quadrilhas nos Correios, para criar matérias falsas (grampo sem áudio).
Até que a Polícia Federal começasse a vazar peças do inquérito, incriminando Demóstenes, a posição da revista foi de defesa intransigente do senador (clique aqui), através dos mesmos blogueiros das quais se valeu para tentar derrubar a Satiagraha.
Aproveitando a falta de coragem do Judiciário, arvorou-se em criadora de reputações, em pauteira do que deve ser denunciado, em algoz dos seus inimigos, valendo-se dos métodos criminosos de aliados como Cachoeira. Paira acima do bem e do mal, um acinte às instituições democráticas do país, que curvam-se ao seu poder.
O esquema Veja-Cachoeira-Demóstenes foi um jogo criminoso, um atentado às instituições democráticas. Um criminoso - Cachoeira - bancava a eleição de um senador. A revista tratava de catapultá-lo como reserva moral, conferindo-lhe um poder político desproporcional, meramente abrindo espaço para matérias laudatórias sobre seu comportamento. E, juntos, montavam jogadas, armações jornalísticas de interesse de ambos: do criminoso, para alijar inimigos, da revista para impor seu poder e vender mais.
Para se proteger contra denúncias, a revista se escondeu atrás de um macartismo ignóbil, conforme denunciei em "O caso de Veja".
Manteve a defesa de Demóstenes até poucas semanas atrás, na esperança de que a Operação Monte Carlo não conseguisse alcança-lo (clique aqui). Apenas agora, quando é desvendada a associação criminosa entre Cachoeira e Demóstenes, é que resolve lançar seus antigos parceiros ao mar.







































Quadrilha de Cachoeira mantinha


relações com a imprensa






Najla Passos e Vinicius Mansur

Brasília - O vazamento de trechos do inquérito que resultou na deflagração da Operação Monte Carlo, pela Polícia federal (PF), em fevereiro, mostra que, além de corromper agentes públicos e manter estreitas relações com políticos influentes como o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a organização criminosa chefiada por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, também contava com o apoio da imprensa para viabilizar suas atividades ilícitas.

Na denúncia encaminhada à 11ª Vara da Justiça Federal em Goiás para solicitar a prisão de 81 membros da quadrilha, os procuradores da República Daniel de Resende Salgado, Léa Batista de Oliveira e Marcelo Ribeiro de Oliveira comprovam que Lenine Araújo de Souza, o principal braço operacional de Cachoeira, mantinha contato com jornalistas, com o propósito de plantar matérias, mediante pagamento, que favorecessem as atividades criminosas da quadrilha.

Exemplo é um diálogo gravado pela PF, por meio de escutas telefônicas autorizadas, entre Lenine e o jornalista Wagner Relâmpago, repórter do programa DF Alerta, da TV Brasília/Rede TV. Na conversa, Relâmpago promete criticar as autoridades que tentavam coibir os jogos clandestinos no entorno do Distrito Federal, uma das áreas de atuação da quadrilha. Em troca, Lenine lhe oferece dinheiro.

Lenine: Os amigos não teve aula hoje, aí não ouviu.

Wagner: Bati bem... e vou passar uns quatro, cinco dias batendo pra ver se eles desanimam um pouquinho.

Lenine: É isso mesmo. É isso mesmo... né? Segunda-feira eu vou até gravar isso aqui... o programa. 

Wagner: Beleza, grava segunda. Eu vou bater, vou bater terça... até a hora que eles se animarem. Aí o cara vem conversar comigo. Aí eu então... E se ele vier conversar comigo, aí eu arrojo ele no ar, que é pior.

Lenine: Beleza. Beleza. Excelente. Segunda-feira então você toca, e quando for durante o dia, você me chama. Vamos conversar segunda-feira.

Wagner: Beleza. Deixa eu falar um negócio com você. Aquele cheque lá... 
recebi dinheiro do cara. O quê que eu faço? Deposito na sua conta, como é que faz?

Lenine: Não, fica com ele aí. Pode ficar com ele aí. Você tá prestando esse favor pra mim. Tá!

Wagner: Não. Uma coisa aqui não tem nada a ver com a outra. A nossa amizade está acima desse trem aí. Bater no cara eu vou, porque ele tá prejudicando você aí. 

Lenine: Eu sei disso. Sei disso. Tanto é que eu não... como se diz... não cheguei, não falei nada, o quê seria, como seria. Mas isso aí é uma gratidão mesmo. Você sabe disso.

Wagner: Tranquilo. Essa semana eu vou... eu vou dar uma batida nos três dias seguidos pra ver o que acontece.

Lenine: Beleza.

Wagner: Abraço, meu irmão. Bom final de semana pra você. Fica com Deus aí. 


Os procuradores dão a entender, na denúncia, que o grampeamento dos telefones dos membros da quadrilha, durante os cerca de onze meses de investigações, revelam outros episódios, envolvendo outros atores. Afirmam, porém, que tratarão do assunto “mais adiante”. Naquele momento, a prioridade deles era garantir a prisão de Cachoeira e seus principais comparsas, antes que as informações sobre a operação vazassem. 

Ao determinar a prisão dos membros da quadrilha, o juiz da 11ª Vara da Justiça Federal em Goiás, Paulo Augusto Moreira Lima, também destacou o papel da imprensa na organização. 

“Ademais, os meios de proteção ao esquema criminoso alcançou (sic) a utilização e manipulação da própria imprensa, sempre mediante pagamento, tudo com o escopo de tentar desqualificar o trabalho desenvolvido por órgãos sérios de persecução e preservar os negócios espúrio”.

Ainda que sem revelar nomes, em outros quatro trechos o juiz deixa claro que há mais jornalistas envolvidos com a organização criminosa de Cachoeira:

“Detectou-se, ainda, nas investigações os estreitos contatos da quadrilha com alguns jornalistas para a divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime.”

“O poderio era tanto que a organização criminosa contava com o apoio de jornalistas para “bater” em trabalhos sérios que poderiam atrapalhar os “negócios”.”

“...sobressaem das investigações a estrutura empresarial do negócio e o trânsito fácil da organização junto a políticos, jornalistas e empresários.”

“Há provas de que políticos abriram seus gabinetes para os criminosos, jornalistas venderam matérias e empresários apoiaram e contaram com o apoio de membros da quadrilha. Mas isso será tratado num segundo momento.”


Impressionado com a penetração da quadrilha nas diferentes instâncias da sociedade, o juiz Paulo Augusto Moreira Lima descreveu: "interessante notar que o perfil dos criminosos ora observado, em especial Carlos Cachoeira, é completamente distinto daquele estereótipo ordinariamente visto. Não mora na periferia, não está à margem da sociedade nem vive na clandestinidade. Pelo contrário, é estreita a amizade com policiais, políticos, jornalistas e empresários, o que acabou por facilitar sua atuação ao longo do tempo".

Revista Veja
Nesta semana, o jornalista Luis Nassif revelou em seu blog que as gravações feitas pela Operação Monte Carlo “mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista [Veja] com o bicheiro [Cachoeira]”. Seriam mais de 200 telefonemas trocados entre Cachoeira e o diretor da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, nos quais o jornalista informa sobre as matérias publicadas e recebe informações e elogios.

Segundo Nassif, depois da associação com Cachoeira, Policarpo tornou-se diretor da sucursal da revista e, mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação, indicado pelo diretor Eurípedes Alcântara. “Há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos”, conclui Nassif.





Fonte: Agência Carta Maior















Os fundilhos da UDN



Por Fernando Brito

O senador Demóstenes Torres seria apenas mais um caso de promiscuidade entre políticos e interesses privados – criminosos ou “apenas” escusos -, somente  um dos muitos que a gente sabe que há por aí.
Com bicheiros, com empreiteiros e – os mais sofisticados – com banqueiros e outros “financeiros”.
Seria, não fosse a evidente cumplicidade que se formava entre ele e dirigentes do Judiciário e com a mídia.
Demóstenes era um dos “cavaleiros da moralidade”, incensado pela mídia em geral e, como se sabe agora, com “canais particulares” com o núcleo do que Brizola chamava de “Comando Marrom”, a revista Veja, com a mesma intimidade de quem “quebrava galhos” de Carlinhos Cachoeira.
Ele esteve no centro de quase todas as “ondas moralizadoras” da imprensa desde o início do Governo Lula que, curiosamente, começaram com o caso Waldomiro Diniz – Carlinhos Cachoeira, que agora, sabe-se, era saudado por ele como um “Fala, Professor!”
Demóstenes, porém – o legado refere-se à sua auto-admitida morte política -,  deixa  uma lição  para a política brasileira.
Uma lição que, mesmo sendo ensinada desde os anos 40 pela UDN, ainda não foi completamente absorvida pelo nosso pensamento.
Não é raro, nem é exceção que os cruzados da moralidade tenham, eles próprios, os fundilhos imundos.
E não é raro, nem exceção, que estejam sempre associados às causas mais desumanas, antipovo e antipaís, que se possa conceber.
Demóstenes era assim, ao ponto de dizer que conspurcar, sob convite oficial, a Suprema Corte brasileira, dizendo em seus salões que foram os negros os responsáveis pela escravidão e que as negras, no Brasil escravocrata, consentiam em fazer sexo com  seus senhores.
Bem, não dá para dizer que essa visão de “consensualidade”  entre escravo e senhor , infelizmente, esteja desentranhada dos nossos tribunais, não é?
Aliás, ela habita, nesta e em outras variantes, a cabeça da elite brasileira. Porque são assim as mentes que concebem uma modernidade onde exista fome, um cosmopolitismo onde existam colônias, um progresso que consuma gente, uma democracia onde exista uma gentalha inferior, que deva ser grata aos luminares que a condenaram, por séculos, ao atraso e à perda de autonomia.
É esse o mundo digno, honesto e ético que apregoam.
O exemplo dos fundilhos de  Demóstenes, revelados – e ainda só parcialmente – num golpe do acaso e é eloquente como poucos.
Sigam-lhe os outros estreitos laços, além de Cachoeira, e outros se revelarão tão mal-cheirosos, a menos que a mídia se encarregue, como parece provável, de lançá-lo logo ao mar, como um estorvo.
O que nos ensina Demóstenes, pela enésima vez, é que não há moralidade possível em quem rejeita o primeiro princípio da honradez, que é o de que todos os seres humanos são iguais em direitos e que a política não é um jogo de nobres, mas uma ferramenta do bem e do progresso comuns.
Porque não há imoralidade maior que defender a exclusão, o atraso, a desumanidade.









Fonte: www.otijolaco.com.br (Blog do Brizola Neto)

























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