DEBATE ABERTO
A verdade, a justiça e o perdão
Em nome dos homens firmes e honrados, que não conseguiram resistir, e falaram, mais do que daqueles que foram capazes de suportar a tortura, é que a verdade deve ser conhecida. Essa verdade redimirá a alma dos que já se foram e aliviará o peso dos que conduzem, ainda vivos, sua alma dilacerada.
Mauro Santayana
Quando se discute sobre a responsabilidade e os limites da Comissão da Verdade, as razões e as emoções de todos se dirigem ao ponto mais doloroso daqueles tempos: a tortura. Por ser tão anti-humana, e nem mesmo corresponder ao instinto animal da caça, que recomenda a rapidez do golpe, a fim de eliminar qualquer reação, o ato da tortura é incompreensível. Só um torturador poderia explicar a natureza de seu comportamento. Os torturados lembram o prazer dos algozes e a sua frustração animalesca, quando encontram a resistência das vítimas.
Ao se referir à violência da extrema-direita na Europa, Theodor Adorno dá uma explicação, que já se encontrava no núcleo do pensamento freudiano: o fascista é, na verdade, um masoquista, que só a mentira transforma em sádico, isto é, em agente da repressão.
Em um de seus inquietantes relatos sobre o auge do totalitarismo nazista, Arthur Koestler – o mesmo autor de “O Zero e o Infinito” – conta, em “Ein Mann springt in die Tiefe" (“Um homem salta no abismo”) uma história de torturas na Hungria, sob a ditadura de Miklós Horthy. Um jovem prisioneiro é torturado sempre à mesma hora da tarde, e sua astúcia para a resistência é a de masturbar-se várias vezes ao dia. Estando debilitado pela subnutrição, o esforço reduz a resistência física ainda mais: assim, aos primeiros golpes do torturador, desmaia – e é devolvido à cela com o seu silêncio.
Um dos aspectos menos discutidos da Revolução Francesa é o da ausência de atos de tortura. Houve a violência no ato de prisão de algumas personalidades, por ordem do Comitê de Salvação Pública e dos reacionários termidorianos, como foi o caso de Robespierre, alvejado e ferido na mandíbula, na noite de 27 de julho de 1794, ao resistir na Prefeitura de Paris. No dia seguinte sem ter sido ultrajado, foi guilhotinado.
A tortura sempre fora empregada na História, e tivera seu momento mais forte durante a Inquisição e a Reforma Protestante. A hierarquia católica e os reformistas luteranos e calvinistas (sobretudo os calvinistas) nada ficaram devendo a seus inimigos teológicos. A partir da Revolução Francesa, ela foi virtualmente abandonada pela repressão, até ressurgir durante a Primeira Guerra Mundial.
Em um de seus escritos, Hélio Pellegrino define a tortura como uma tentativa do torturador em colocar o corpo do torturado em conflito com a sua alma: o objetivo da dor é o de vencer o espírito. Antes do poeta e psicanalista mineiro, Albert Camus usaria a mesma imagem, a do conflito entre o corpo e o espírito, em um de seus mais incisivos libelos contra a barbárie dos ocupantes alemães.
Na série dos artigos que escreveu, logo depois da libertação, para Le Combat, destacam-se os dedicados aos torturados e mortos pelos colaboracionistas franceses, a serviço dos ocupantes. No texto publicado em 30 de agosto de 1944 – quando se refere a uma das muitas denúncias de tortura daqueles quatro anos de abjeção – Camus se espanta de que torturadores e torturados tivessem a mesma face humana. E lembra a figura de Himmler, que fizera da tortura uma ciência e um ofício, e que entrava em silêncio em sua casa à noite, depois dos crimes perpetrados durante o dia, para não acordar o canarinho amado, que serenamente dormia em sua gaiola.
E descreve os torturadores, os torturados, a natureza justa do castigo e do perdão:
“Eles acreditavam que há sempre uma hora do dia ou da noite na qual o mais valente dos homens se sente covarde. Souberam sempre esperar essa hora. E nessa hora, buscaram a alma, por meio das feridas do corpo, e a tornaram selvagem e demente, e, às vezes, traidora e mentirosa. Quem se atreveria a falar, aqui, de perdão? Já que o espírito compreendeu por fim que só podia vencer a espada com a espada, já que tomou as armas e obteve a vitória, quem lhe queria pedir que esqueça? Amanhã não falará o ódio, senão a justiça mesma, baseada na memória. E é justiça, a mais eterna e sagrada, perdoar, talvez em nome de todos os que, entre nós, morreram sem ter falado, com a paz superior de um coração que jamais traiu: mas também é justiça castigar terrivelmente, em nome dos mais valentes de nós, que foram convertidos em covardes, quando degradaram sua alma, e morreram desesperados, levando em seu coração, devastado para sempre, seu ódio aos torturadores e seu desprezo por si mesmos”.
Em nome dos homens firmes e honrados, que não conseguiram resistir, e falaram, mais do que daqueles que foram capazes de suportar a tortura, é que a verdade deve ser conhecida. Essa verdade redimirá a alma dos que já se foram e aliviará o peso dos que conduzem, ainda vivos, sua alma dilacerada. Uns por terem sido capazes de resistir, apesar da cicatrizes no espírito, e os outros, por haverem sucumbido ao flagelo da tortura.
Lembrar Camus e seu texto pungente, nestes dias de Natal, pode não ser adequado, mas essas reflexões tristes são necessárias. Ocorre que Cristo foi também torturado - por interesse do Império daquele tempo – até o momento da morte, quando o sofrimento do corpo fez com que a alma perguntasse, na agonia: “Pai, por que me abandonaste?”
Ao se referir à violência da extrema-direita na Europa, Theodor Adorno dá uma explicação, que já se encontrava no núcleo do pensamento freudiano: o fascista é, na verdade, um masoquista, que só a mentira transforma em sádico, isto é, em agente da repressão.
Em um de seus inquietantes relatos sobre o auge do totalitarismo nazista, Arthur Koestler – o mesmo autor de “O Zero e o Infinito” – conta, em “Ein Mann springt in die Tiefe" (“Um homem salta no abismo”) uma história de torturas na Hungria, sob a ditadura de Miklós Horthy. Um jovem prisioneiro é torturado sempre à mesma hora da tarde, e sua astúcia para a resistência é a de masturbar-se várias vezes ao dia. Estando debilitado pela subnutrição, o esforço reduz a resistência física ainda mais: assim, aos primeiros golpes do torturador, desmaia – e é devolvido à cela com o seu silêncio.
Um dos aspectos menos discutidos da Revolução Francesa é o da ausência de atos de tortura. Houve a violência no ato de prisão de algumas personalidades, por ordem do Comitê de Salvação Pública e dos reacionários termidorianos, como foi o caso de Robespierre, alvejado e ferido na mandíbula, na noite de 27 de julho de 1794, ao resistir na Prefeitura de Paris. No dia seguinte sem ter sido ultrajado, foi guilhotinado.
A tortura sempre fora empregada na História, e tivera seu momento mais forte durante a Inquisição e a Reforma Protestante. A hierarquia católica e os reformistas luteranos e calvinistas (sobretudo os calvinistas) nada ficaram devendo a seus inimigos teológicos. A partir da Revolução Francesa, ela foi virtualmente abandonada pela repressão, até ressurgir durante a Primeira Guerra Mundial.
Em um de seus escritos, Hélio Pellegrino define a tortura como uma tentativa do torturador em colocar o corpo do torturado em conflito com a sua alma: o objetivo da dor é o de vencer o espírito. Antes do poeta e psicanalista mineiro, Albert Camus usaria a mesma imagem, a do conflito entre o corpo e o espírito, em um de seus mais incisivos libelos contra a barbárie dos ocupantes alemães.
Na série dos artigos que escreveu, logo depois da libertação, para Le Combat, destacam-se os dedicados aos torturados e mortos pelos colaboracionistas franceses, a serviço dos ocupantes. No texto publicado em 30 de agosto de 1944 – quando se refere a uma das muitas denúncias de tortura daqueles quatro anos de abjeção – Camus se espanta de que torturadores e torturados tivessem a mesma face humana. E lembra a figura de Himmler, que fizera da tortura uma ciência e um ofício, e que entrava em silêncio em sua casa à noite, depois dos crimes perpetrados durante o dia, para não acordar o canarinho amado, que serenamente dormia em sua gaiola.
E descreve os torturadores, os torturados, a natureza justa do castigo e do perdão:
“Eles acreditavam que há sempre uma hora do dia ou da noite na qual o mais valente dos homens se sente covarde. Souberam sempre esperar essa hora. E nessa hora, buscaram a alma, por meio das feridas do corpo, e a tornaram selvagem e demente, e, às vezes, traidora e mentirosa. Quem se atreveria a falar, aqui, de perdão? Já que o espírito compreendeu por fim que só podia vencer a espada com a espada, já que tomou as armas e obteve a vitória, quem lhe queria pedir que esqueça? Amanhã não falará o ódio, senão a justiça mesma, baseada na memória. E é justiça, a mais eterna e sagrada, perdoar, talvez em nome de todos os que, entre nós, morreram sem ter falado, com a paz superior de um coração que jamais traiu: mas também é justiça castigar terrivelmente, em nome dos mais valentes de nós, que foram convertidos em covardes, quando degradaram sua alma, e morreram desesperados, levando em seu coração, devastado para sempre, seu ódio aos torturadores e seu desprezo por si mesmos”.
Em nome dos homens firmes e honrados, que não conseguiram resistir, e falaram, mais do que daqueles que foram capazes de suportar a tortura, é que a verdade deve ser conhecida. Essa verdade redimirá a alma dos que já se foram e aliviará o peso dos que conduzem, ainda vivos, sua alma dilacerada. Uns por terem sido capazes de resistir, apesar da cicatrizes no espírito, e os outros, por haverem sucumbido ao flagelo da tortura.
Lembrar Camus e seu texto pungente, nestes dias de Natal, pode não ser adequado, mas essas reflexões tristes são necessárias. Ocorre que Cristo foi também torturado - por interesse do Império daquele tempo – até o momento da morte, quando o sofrimento do corpo fez com que a alma perguntasse, na agonia: “Pai, por que me abandonaste?”
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
Fonte: www.cartamaior.com.br
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DEBATE ABERTO
Outro ano que não terminou
Nunca houve um ano tão – vamos dizer – dramático para a imprensa mundial como este que tem as horas contadas. Tudo indica que 2011 irá se juntar a 1968 para ser – na feliz expressão de Zuenir Ventura – mais um ano que não terminou.
Washington Araújo
(*) Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa
Nunca houve um ano tão – vamos dizer – dramático para a imprensa mundial como este que tem as horas contadas. Janeiro de 2011 viu o poderio das mídias sociais a serviço da liberdade e dando um basta à opressão e às diversas formas de tirania em países como o Egito, a Tunísia, a Líbia, o Iêmen. E continuam balançando os que exercem o poder fundado unicamente na força dos tanques, como os da Síria e os da Jordânia.
Manifestações políticas – e quase sempre pacíficas – foram convocadas através do uso do Twitter em larga escala e dos torpedos disparados de celulares como os smartphones produzidos pela Blackberry, Apple e Motorola. As imagens foram instantaneamente registradas e atravessaram em segundos continentes, regiões e nações, abastecendo em sua travessia sites e blogues, frequentando milhões de murais de usuários do Facebook, Orkut e MySpace. É como se a liberdade do mundo virtual tomasse de assalto, como epidemia, o mundo real.
Boas notícias
Um ano em que os jornais ditos sérios do mundo – El País, Le Monde, Frankfurten Allgemeine, The New York Times e The Guardian – praticamente se transformaram em diários inteiramente dedicados à economia. Isto porque a economia mundial ficou literalmente de pernas para o ar. A Grécia engolfada em crise aparentemente insolúvel, com gregos se imolando em praça pública, governo mudando às pressas. A Itália também começando a falar grego, vendo o vendaval financeiro balançar sua frágil credibilidade e Silvio Berlusconi saindo de cena de maneira atabalhoada.
A Espanha com suas muitas greves e estonteante nível de desemprego, mudando de governo para manter-se como está, em estágio pré-falimentar. França e Alemanha buscando dar equilíbrio à economia do euro e com muitas incertezas quanto à manutenção de sua saúde financeira, à medida que franceses e alemães ouvidos em pesquisas preferem rejeitar os estatutos da Europa Unida e o euro como sua moeda comum.
Não é descabido pensar que o regime cruel e perverso dos aiatolás iranianos está com os dias contados: não é razoável proibir 78 milhões de iranianos de acessar a internet por tempo indeterminado. Seria necessário “clonar” cada iraniano com o seu Avatar-Vigia. E isso sim, é de todo impensável e impossível.
O mesmo acontece com os cerca de 1,4 bilhão de chineses que parecem – ainda – bem conformados com uma web sujeita a restrições de acesso, engessada que é por diversos filtros ideológicos. Mesmo este cenário chinês não resistirá à lufada de ar puro, com sabor de liberdade, que haverá de soprar de baixo para cima, do coração para a mente de tantos milhões de seres humanos.
Quem viver acessará essas boas notícias – ou melhor, quem viver, verá tão estupendas transformações nos murais das redes sociais, nos sites e blogues independentes, esses mesmos que, no Brasil, são chamados pela grande imprensa de “blogues sujos”.
Denúncia letal
No Brasil, este observador detectou sintomas profundos de uma imprensa que renunciou de vez a missão de ser espelho da sociedade:
** Potencializou pequenos escândalos em megaescândalos, resultando na demissão de seis ministros do governo Dilma Rousseff;
** Criou escândalos para todos os gostos, como se esses surgissem em pencas, mas não conseguiu seu tento maior: derrubar quem, por direito, poderia nomear e demitir ministros: a presidenta da República. E, bem ao contrário, e a contragosto, se viu impelida a divulgar os mais elevados índices de aprovação de um presidente ao fim de seu primeiro ano de governo. A verdade é que a aprovação de Dilma superou, em muito, a excelente avaliação de seu antecessor Lula da Silva;
** Deixou de divulgar ou minimizou ao máximo todos os escândalos de corrupção existentes no governo do estado de São Paulo, com uma dúzia de CPIs propostas na Assembleia Legislativa paulista sendo sumariamente barradas, arquivadas, abortadas;
** Tirou proveito, de forma mesquinha, quando não extremamente grosseira e desrespeitosa, do anúncio do ex-presidente Lula da Silva de que se submeteria a tratamento de um câncer na laringe; e até o apoio subliminar para que Lula se tratasse no SUS foi amplamente repercutido por colunistas das grandes revistas semanais;
** Minimizou a boa fase da economia brasileira se comparada à economia mundial, sempre optando (ou seria torcendo?) para que o país desandasse com decisões econômicas erráticas que trouxessem à tona o velho flagelo da inflação e os habituais índices de desemprego em alta, tão comuns nos anos 1980 e 1990;
** Se fez de morta ante a mais letal denúncia de maracutaias jamais publicada no Brasil, envolvendo personagens por ela sempre blindados, como o ex-governador paulista José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os seus bem-sucedidos (empresarialmente) herdeiros, Verônica Serra e Paulo Henrique Cardoso; e tudo isso publicado na forma de livro – A Privataria Tucana –contendo dezenas de documentos dos malfeitos com o dinheiro público, escrito pelo jornalista, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, Amaury Ribeiro Jr.
Tudo indica que 2011 irá se juntar a 1968 para ser – na feliz expressão de Zuenir Ventura – mais um ano que não terminou.
Feliz 2012 a todos.
Nunca houve um ano tão – vamos dizer – dramático para a imprensa mundial como este que tem as horas contadas. Janeiro de 2011 viu o poderio das mídias sociais a serviço da liberdade e dando um basta à opressão e às diversas formas de tirania em países como o Egito, a Tunísia, a Líbia, o Iêmen. E continuam balançando os que exercem o poder fundado unicamente na força dos tanques, como os da Síria e os da Jordânia.
Manifestações políticas – e quase sempre pacíficas – foram convocadas através do uso do Twitter em larga escala e dos torpedos disparados de celulares como os smartphones produzidos pela Blackberry, Apple e Motorola. As imagens foram instantaneamente registradas e atravessaram em segundos continentes, regiões e nações, abastecendo em sua travessia sites e blogues, frequentando milhões de murais de usuários do Facebook, Orkut e MySpace. É como se a liberdade do mundo virtual tomasse de assalto, como epidemia, o mundo real.
Boas notícias
Um ano em que os jornais ditos sérios do mundo – El País, Le Monde, Frankfurten Allgemeine, The New York Times e The Guardian – praticamente se transformaram em diários inteiramente dedicados à economia. Isto porque a economia mundial ficou literalmente de pernas para o ar. A Grécia engolfada em crise aparentemente insolúvel, com gregos se imolando em praça pública, governo mudando às pressas. A Itália também começando a falar grego, vendo o vendaval financeiro balançar sua frágil credibilidade e Silvio Berlusconi saindo de cena de maneira atabalhoada.
A Espanha com suas muitas greves e estonteante nível de desemprego, mudando de governo para manter-se como está, em estágio pré-falimentar. França e Alemanha buscando dar equilíbrio à economia do euro e com muitas incertezas quanto à manutenção de sua saúde financeira, à medida que franceses e alemães ouvidos em pesquisas preferem rejeitar os estatutos da Europa Unida e o euro como sua moeda comum.
Não é descabido pensar que o regime cruel e perverso dos aiatolás iranianos está com os dias contados: não é razoável proibir 78 milhões de iranianos de acessar a internet por tempo indeterminado. Seria necessário “clonar” cada iraniano com o seu Avatar-Vigia. E isso sim, é de todo impensável e impossível.
O mesmo acontece com os cerca de 1,4 bilhão de chineses que parecem – ainda – bem conformados com uma web sujeita a restrições de acesso, engessada que é por diversos filtros ideológicos. Mesmo este cenário chinês não resistirá à lufada de ar puro, com sabor de liberdade, que haverá de soprar de baixo para cima, do coração para a mente de tantos milhões de seres humanos.
Quem viver acessará essas boas notícias – ou melhor, quem viver, verá tão estupendas transformações nos murais das redes sociais, nos sites e blogues independentes, esses mesmos que, no Brasil, são chamados pela grande imprensa de “blogues sujos”.
Denúncia letal
No Brasil, este observador detectou sintomas profundos de uma imprensa que renunciou de vez a missão de ser espelho da sociedade:
** Potencializou pequenos escândalos em megaescândalos, resultando na demissão de seis ministros do governo Dilma Rousseff;
** Criou escândalos para todos os gostos, como se esses surgissem em pencas, mas não conseguiu seu tento maior: derrubar quem, por direito, poderia nomear e demitir ministros: a presidenta da República. E, bem ao contrário, e a contragosto, se viu impelida a divulgar os mais elevados índices de aprovação de um presidente ao fim de seu primeiro ano de governo. A verdade é que a aprovação de Dilma superou, em muito, a excelente avaliação de seu antecessor Lula da Silva;
** Deixou de divulgar ou minimizou ao máximo todos os escândalos de corrupção existentes no governo do estado de São Paulo, com uma dúzia de CPIs propostas na Assembleia Legislativa paulista sendo sumariamente barradas, arquivadas, abortadas;
** Tirou proveito, de forma mesquinha, quando não extremamente grosseira e desrespeitosa, do anúncio do ex-presidente Lula da Silva de que se submeteria a tratamento de um câncer na laringe; e até o apoio subliminar para que Lula se tratasse no SUS foi amplamente repercutido por colunistas das grandes revistas semanais;
** Minimizou a boa fase da economia brasileira se comparada à economia mundial, sempre optando (ou seria torcendo?) para que o país desandasse com decisões econômicas erráticas que trouxessem à tona o velho flagelo da inflação e os habituais índices de desemprego em alta, tão comuns nos anos 1980 e 1990;
** Se fez de morta ante a mais letal denúncia de maracutaias jamais publicada no Brasil, envolvendo personagens por ela sempre blindados, como o ex-governador paulista José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os seus bem-sucedidos (empresarialmente) herdeiros, Verônica Serra e Paulo Henrique Cardoso; e tudo isso publicado na forma de livro – A Privataria Tucana –contendo dezenas de documentos dos malfeitos com o dinheiro público, escrito pelo jornalista, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, Amaury Ribeiro Jr.
Tudo indica que 2011 irá se juntar a 1968 para ser – na feliz expressão de Zuenir Ventura – mais um ano que não terminou.
Feliz 2012 a todos.
Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com
Extraído do sítio www.cartamaior.com.br
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