31 março 2011

P O L Í T I C A

O fim da reeleição

 
Os oposicionistas Aécio Neves e Itamar Franco foram os principais inspiradores da proposta aprovada na comissão de reforma política do Senado, que propõe o fim da regra da reeleição, criada a peso de ouro, em 1997, em benefício do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Nada contra a reeleição. A restrição fica por conta do uso do poder para aprová-la em benefício próprio.

Com o fim da reeleição, que vai ter difícil tramitação no Congresso, a presidenta Dilma Rousseff seria a última pessoa, na Presidência da República, a ter o direito de tentar a reeleição, em 2014, com o novo mandato dilatado para cinco anos. Tempo que passaria a vigorar sem a reeleição.
Essa vitória daria a ela o direito a ocupar a Presidência por nove anos. Seria, assim, o mais longo período da história republicana, obtido dentro das regras constitucionais.

Ao destacarem a questão do corpo de uma reforma que se pretende mais ampla, os senadores mineiros conduziram um movimento ousado no tabuleiro do processo sucessório presidencial de 2014.

A proposta parece vantajosa. Guarda semelhança, porém, com o histórico Cavalo de Troia. Ao esticar um eventual segundo mandato de Dilma, ela conduz, internamente, as condições para tentar encurtar o ciclo do PT no poder que, pelas regras em vigor, pode alcançar 24 anos: oito anos iniciais de Lula, mais oito de Dilma e, idealmente para os petistas, outros oito anos de Lula. Uma ambição maior do que a ambição tucana que buscava uma sequência de 20 anos a partir da eleição de FHC em 1994.

O prolongamento do mandato dos quatro anos atuais com reeleição para cinco anos que beneficiaria Dilma, se reeleita a presidenta encontraria Lula um ano mais velho, de 74 para 75 anos, e, caso disposto a concorrer mais uma vez, e eleito, com mandato de apenas cinco anos.

A experiência da reeleição, dois mandatos de FHC e dois de Lula, é bem-sucedida do ponto de vista eleitoral. Antes dela, o eleitor premiava as administrações que considerava ótimas, boas ou até mesmo “as mais ou menos”, como lembra o sociólogo Francisco Meira, do instituto Vox Populi.

“Na impossibilidade de reeleger esses administradores, o eleitor votava no candidato que eles indicavam. Há centenas de exemplos pelo País afora. Dois casos emblemáticos e mais conhecidos foram os de Maluf, em São Paulo, que elegeu Celso Pitta, e o de Cesar Maia, no Rio, que elegeu Luiz Paulo Conde.

Pesquisa feita pelo Vox Populi, em 2008 (tabela), mostra o apoio que o sistema recebe do eleitorado. Incontestável.

O que efetivamente está em jogo é a reeleição. O resto é perfumaria: lista fechada, distrital, distritão etc. É bem verdade que, nesse jogo, também estão aqueles que buscam construir um sistema político-eleitoral perfeito. Expressam o esforço inútil de tentar moldar a realidade à legislação.

De qualquer forma, mesmo os que miram somente a reeleição manifestam um progresso democrático no comportamento recente da oposição. O modo udenista de agir contra Lula por meio de um “golpe branco”, o impeachment, por exemplo, fermentado no episódio do chamado mensalão, foi substituído pela articulação política sensata, mas equivocada. É a diferença do golpismo udenista pela artimanha mineira.


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