24 agosto 2012

EDITORIAL

"Não ter pensamentos e ser capaz de expressá-los - eis
um jornalista."  -  Karl Kraus




... e assim se passaram dois anos!


Este blog surgiu, há dois anos, após uma conversa com a minha filha. Quando expus minha
indignação com a cobertura da chamada "grande imprensa" da campanha presidencial de
2010, ela sugeriu: crie um blog!

Bom, estamos aqui, eu e o blog, dois anos depois. A cobertura jornalística das grandes
corporações midiáticas continua deixando a deseja, fazendo das suas: mentiras, distorções e
omissões de acordo com as suas conveniências.

Faz o papel que não lhe cabe: a de um partido de oposição. A oposição, diga-se de passagem,
que está sem rumo. 

Apela até, parte da imprensa, para o crime ao se aliar com um contraventor, como é sabido
por todos, para criar escândalos e destruir reputações.

Modestamente, a intenção do blog é repercutir artigos e opiniões de jornalistas, colunistas e outros intelectuais, cuja linha de pensamento esteja ao lado da verdade e das aspirações
populares e progressistas.

Os mervais, os jabores, os reinaldos, as catanhêdes e outros do mesmo naipe, já possuem
suas folhas, estadões, jns, globos e que tais,  bem mais poderosos, para espalhar suas
opiniões nem sempre baseadas na verdade factual.

Aqui, Mino Carta, Leandro Fortes, Luís Nassif, Mauro Santayana, Emir Sader, Venício
Lima e outros de igual quilate, têm espaço e vez. 

Faço minhas as opiniões deles, e indico aos meus amigos a leitura dos seus artigos. Com
todo o direito de discordarem, coisa que a "grande imprensa" não permite e nem aceita.

Boa parte da mídia está prestando um desserviço ao País, ao criminalizar a Política e
denegrir as instituições democráticas. 

O combate deve ser contra a politicagem e contra quem desrespeita as instituições das
quais faz parte. Não devemos generalizar. A Política faz parte da vida do ser humano. As
instituições são necessárias e precisam ser fortalecidas. Nós sabemos o que pode
acontecer com elas, caso sejam desmoralizadas. E, sabemos também, a quem interessa
tal tipo de coisa.

A luta continua!

(AB)



"Os jornalistas escrevem porque não têm nada a dizer.
E têm algo a dizer porque escrevem."  - Karl Kraus


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O País traído



Por Mino Carta, na Revista CartaCapital 



Paisagem corriqueira. Vinte e oito por cento da população brasileira vive em favelas. E não é porque queira. Foto: Wilton Junior/AE
Em São Paulo, tempos ásperos. Leio: uma residência particular é assaltada a cada hora, o roubo de carros multiplica-se nos estacionamentos dos shopping centers. Entre parênteses, recantos deslumbrantes, alguns são os mais imponentes e ricos do mundo. Que se curva. Um jornalão, na prática samaritana do serviço aos leitores, fornece um receituário destinado a abrandar o risco. Reforce as fechaduras, instale um sistema de alarme etc. etc.
Em vão esperemos por algo mais, a reflexão séria de algum órgão midiático, ou de um solitário editorialista, colunista, articulista, a respeito das enésimas provas da inexorável progressão da criminalidade. Diga-se que uma análise honesta não exige esforço desumano, muito pelo contrário.
Enquanto as metrópoles nacionais figuram entre as mais violentas do mundo, acima de 50 mil brasileiros são assassinados anualmente, e um relatório divulgado esta semana pelas Nações Unidas coloca o Brasil em quarto lugar na classificação dos mais desiguais da América Latina, precedido por Guatemala, Honduras e Colômbia. O documento informa que 28% da população brasileira mora em favelas, sem contar quem vive nos inúmeros grotões do País.
Vale acrescentar que mais de 60% do nosso território não é alcançado pelo saneamento básico. Ou sublinhar a precariedade da saúde pública e do nosso ensino em geral. Dispomos de uma cornucópia maligna de dados terrificantes. Em contrapartida, capitais brasileiros refugiados em paraísos fiscais somam uma extravasante importância que coloca os graúdos nativos em quarto lugar entre os maiores evasores globais.
É do conhecimento até do mundo mineral que o desequilíbrio social é o maior problema do País. Dele decorrem os demais. Entrave fatal para o exercício de um capitalismo razoavelmente saudável. E evitemos tocar na tecla do desenvolvimento democrático. Mas quantos não se conformam? Não serão, decerto, os ricos em bilhões, e a turma dos aspirantes, cada vez mais ostensivos na exibição de seu poder de compra e de seu mau gosto. Não serão os profissionais da política, sempre que não soe a hora da retórica. Não será a mídia, concentrada no ataque a tudo que se faça em odor de PT, ou em nome da igualdade e da justiça.
Nada de espantos, o Brasil ainda vive a dicotomia casa-grande–senzala. CartaCapital e especificamente o acima assinado queixam-se com frequência do silêncio da mídia diante de situações escusas, de denúncias bem fundamentadas, de provas irrefutáveis de mazelas sem conta. Penso no assunto, para chegar à conclusão de que há algo pior. Bem pior. Trata-se da insensibilidade diante da desgraça, da miséria, do atraso. Da traição cometida contra o País que alguns canalhas chamam de pátria.
Exemplo recentíssimo. Há quem lamente os resultados relativamente medíocres dos atletas brasileiros nas Olimpíadas de Londres. Parece-me, porém, que ninguém se perguntou por que um povo tão miscigenado, a contar nas competições esportivas inclusive com a potência e a flexibilidade da fibra longa da raça negra, não consegue os mesmos resultados alcançados em primeiro lugar pelos Estados Unidos. Ou pela Jamaica. Responder a este por que é tão simples quanto a tudo o mais. O Brasil não é o que merece ser, e está muito longe de ser, por causa de tanto descaso, de tanto egoísmo, de tanta ferocidade. De tanta incompetência dos senhores da casa-grande. Carregamos a infelicidade da maioria como a bola de ferro atada aos pés do convicto.
Mesmo o remediado não se incomoda se um mercado persa se estabelece em cada esquina. Basta erguer os vidros do carro e travar as portas. Outros nem precisam disso, sua carruagem relampejante é blindada. Ou dispõem de helicóptero. Impávidos, levantam seus prédios como torres de castelos medievais e das alturas contemplam impassíveis os casebres dos servos da gleba espalhados abaixo. A dita classe média acostumou-se com os panoramas da miséria, com a inestimável contribuição da mídia e das suas invenções, omissões, mentiras. E silêncios.
Às vezes me ocorre a possibilidade, condescendente, de que a insensibilidade seja o fruto carnudo da burrice.


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"Boas opiniões não têm valor. O que importa é quem 
as tem."  -  Karl Kraus
    

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