17 agosto 2012

CIDADES


QUANTO MAIS GRADES, MAIS

PROTEÇÃO? NÃO!



Quanto mais altos os muros e grades, mais proteção, certo? Errado!

Por Raquel Rolnik, em seu blog


Primeiro grades e portões cercaram prédios e casas, e guaritas foram instaladas nos limites entre os edifícios e as ruas. Depois, muros altos passaram a cercar não apenas quadras inteiras, mas, às vezes, várias delas, fechando pedaços de cidade com exclusividade para seus moradores e visitantes. O modelo — identificado principalmente com a ideia de segurança contra a violência das ruas — acabou se disseminando tanto que virou norma obrigatória em algumas cidades e até em alguns programas habitacionais.

O pressuposto de que quanto mais muros e grades são colocados, mais segurança existe alimentou, durante mais de duas décadas, a transformação dos modos de morar. A ideia, que parece óbvia, é a de que, ocultando o máximo possível o que se passa intramuros, evita-se a invasão e o roubo. Entretanto, a mais nova onda de furtos e roubos, pelo menos na cidade de São Paulo, contraria esta ideia. Já são 20 os condomínios de luxo, muradíssimos, que sofreram arrastões apenas este ano na capital paulista.

O último caso ocorreu esta semana no bairro do Itaim-Bibi e foi noticiado pelo “Estadão”. O porteiro do condomínio contou à reportagem que os bandidos entraram pelos fundos, escalando um muro de 4 metros de altura. De acordo com a Delegacia de Investigação de Crimes Patrimoniais, a cada mês são registrados, em média, dois arrastões em condomínios de luxo em São Paulo.

Recentemente, a “Folha de S. Paulo” divulgou dados de uma pesquisa realizada pela Polícia Militar do Paraná que revela que 60% das casas assaltadas em Curitiba são cercadas por muros. Apenas 15% são “abertas” para a rua. Além disso, a pesquisa colheu depoimentos de detentos com participação em assaltos. Dos entrevistados, 71% afirmaram que casas com muros são preferíveis para a realização de assaltos e 54% disseram que os muros ocultam a ação.

O fato é que transformar a lógica do modo de morar e de organizar a cidade não resolve o problema da violência nas ruas. As estratégias de furtos, roubos e assaltos também se adaptam. Uma das técnicas que vem sendo utilizadas por criminosos hoje, por exemplo, é clonar ou roubar controles remotos de portões automáticos, o que lhes permite entrar e sair de residências tranquilamente, sem alarde e, ironicamente, “protegidos” por muros.
Moral da história: os muros fragmentaram cidades, destruíram a relação dos edifícios com o espaço público, empobreceram a paisagem e, como estamos vendo, não resolveram o problema da segurança. Pra que servem então?



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V I E N A !


Alberto Villas, na Revista CartaCapital


A primeira coisa que me veio à cabeça quando sai andando pelas ruas de Viena foi uma velha canção de Gilberto Gil, lá dos idos de 69, Volks-Volkswagen-Blue: “Zeca meu pai comprou/um Volks-Volkswagen Blue/Zeca meu pai comprou/Um carrinho todo azul”. Isso porque avistei estacionado ali na Concordiaplatz um carrinho azul, um Volkswagen Blue. Carrinho é o modo de dizer. Xadrez, cool, cheio de bossa, a cara de Viena.  Quem teria comprado aquele carrinho todo azul?
Quem teria comprado aquele carrinho todo azul? Por Alberto Villas
Esperando o dono aparecer só pra ver a cara dele, tomamos uma cerveja Ottakringer no Café Mozart observando Viena. Como pode uma cidade ser tão organizada? Tão bonita, tão clean, tão design? Tudo aqui funciona. O metrô sem catraca, o bonde vermelho que desliza suavemente pelas ruas e avenidas,  as bicicletas maneiras, os automóveis silenciosos, os motoristas que param para os pedestres sem que eles peçam.
Por que será que Viena tem um asfalto que é um tapete, as calçadas que não têm um buraquinho sequer, as discretas placas nos lugares, tem parques e jardins maravilhosos no centro da cidade, um ar puro e um céu azul cheio de nuvens brancas?  Por que será que tudo funciona por aqui? O comerciante tem troco para qualquer nota, as latas de lixo de alumínio com compartimento para cigarro e o metrô que oferece revista de graça aos passageiros. Por que será que Viena tem até banheiros públicos ao som de ópera?  Sim, estava escrito lá no luminoso: Opera Toilete mit musik!
O que vimos pelas ruas de Viena? Dezenas de homens fantasiados de Mozart para que o turista saia bem na foto. Além do Volkswagen  xadrez, lambretas azul piscina, verde água e rosa shock. Vimos centenas de stickers colados nos postes inclusive um que – acho eu – tinha a ver conosco: Alle Journalisten Sind Archlocher! Vimos também um cartaz escandaloso anunciando o Volksbeat Tour da performática cantora Nina Hagen. Pra ser sincero, nem me lembrava mais da linda garota de Berlim.
Foi andando pelas ruas de Viena que encontramos um mercado de frutas, legumes e especiarias desses que a gente tem vontade de passar o dia. Tinha arroz do Suriname, pepino da Grécia, pitaia do Vietnã, tamarilo da Colômbia, banana da Martinica, quiabo do Gabão e jaca do Brasil. Sim, jaca do Brasil tinha lá. Foi nesse mercado que compramos cheirosos saquinhos de páprica da Hungria, pimenta da Síria, canela da Índia e harrissa do Marrocos.
Foi andando pelas ruas de Viena que encontramos a loja Comic & Toys, paixão de quem gosta de games, bonequinhos e brinquedos antigos. Foi também andando pelas ruas dessa cidade maravilhosa que vimos nas vitrines a rainha Elizabeth dando um tiauzinho movido a energia solar.
Viena é pura paixão. Bancas de flores nas calçadas exalam cheiro de begônias e enfeitam a cidade com tulipas, orquídeas, copos de leite, cravos e rosas de todas as cores. Viena são os cafés com seus petits fours, com seus brownies e suas tortinhas de amora. Viena e seus museus maravilhosos: o Albertina, o Mumok, o Leopold…
Viena merece sim uma Serenata em Sol, uma Sonata para Piano, uma Fantasia em Dó Menor de Wolfgang Amadeus Mozart. Merece sim um beijo tipo aquele que pintou na tela do austríaco Gustav Klimt em 1862 e que vimos no Museu Belvedere numa manhã de verão, julho de 2012.




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