Cadê a mensagem?
Aécio anuncia 12 pontos de campanha, mas não diz como pretende chegar ao eleitor
Paulo Moreira Leite, em seu blogue
Sem esclarecer se estava anunciando um plano de governo ou uma simples compilação de pontos programáticos, Aécio Neves lançou uma plataforma de 12 pontos, ontem, em Brasília.
Apesar da coreografia e da boa figura de Aécio nessas ocasiões, achei o conteúdo imprudente, para falar o mínimo.
Falar em ética e denunciar a corrupção para quem vai entrar na campanha de 2014 com a camisa do PSDB é um exercício arriscado.
No ano que vem o mensalão PSDB-MG irá a julgamento, com dois resultados possíveis.
Ou seus responsáveis serão condenados, o que não irá fazer bem a imagem do partido. Ou serão inocentados, o que pode dar razão a quem diz que o PSDB comete as mesmas delinquências do que seus adversários – a diferença é que tem amigos poderosos capazes de garantir sua impunidade, o que é até um agravante do ponto de vista de quem se apresenta como defensor da moralidade, vamos combinar.
Há outro caso cabeludo em pauta, também.
Até agora não se conseguiu abafar a denúncia do propinoduto tucano, que envolve pagamento de propinas volumosas, contas na Suiça e muito mais – o que pode tornar a pauta “corrupção” e “ética” uma armadilha para Aécio.
O debate não é apenas este.
Embora tenha coincidido com o anúncio de que José Serra desistiu de disputar a presidência, medida que pode contribuir para amenizar a luta interna dentro do PSDB, a cerimônia ocorreu num mau momento de sua campanha.
O PPS de Roberto Freire acaba de anunciar a adesão ao PSB de Eduardo Campos. Aécio também acaba de romper com sua equipe de marketing, o que significa que em 2014 irá começar um trabalho de conquista eleitoral que poderia ter sido iniciado em 2013. No ano que vem, terá dez meses para testar uma nova linguagem e, possivelmente, novas ideias. Não acho que marketing ganha eleição. Mas pode ajudar – e muito.
Num país onde os principais meios de comunicação estão engajados num esforço comum para impedir a reeleição de Dilma, o que inclui um tratamento amistoso a Eduardo Campos e, se for necessário, até a Randolfe Rodrigues, do PSOL. Aécio pode contar com uma ambiente midiático favorável.
Isso inclui um tratamento respeitoso, sem acidez exagerada nem questões artificialmente inconvenientes.
Ninguém lembrou que, deixando de lado detalhes de cenário e coreografia, a cerimonia de ontem foi uma nova versão de um evento já regular no cronograma do PSDB, onde periodicamente se anuncia que “agora” Aécio irá se afirmar como o candidato de oposição.
Mas o fato é que,, Aécio sequer formalizou a candidatura como um fato irreversível. Fraqueza? Astúcia? Você decide.
O certo é que Aécio passou o início de 2013 como terceiro colocado nas pesquisas e só voltou ao jogo depois que ficou claro que Marina Silva não seria capaz de transformar a Rede em partido nem aceitaria ingressar numa legenda que lhe oferecesse a cabeça de chapa. Marina, que era a principal concorrente a um segundo turno, tem mostrado até agora uma grande disciplina tática. Sua prioridade é derrotar Dilma e o PT.
Aécio não possui, até agora, uma mensagem para chegar até lá. Falta-lhe um argumento para falar com as ruas, onde estão aqueles brasileiros que, mesmo tendo uma visão positiva do governo Dilma, e até apontando intenções de votos para uma vitória do governo em outubro, também deixam claro que querem mudanças. Além da denúncia da corrupção – testada e reprovada tanto em 2006 como em 2010 – Aécio ainda não achou um bom motivo para pedir voto para os brasileiros.
Ao contrário do que ele disse ontem, falar de economia não é covardia num país que enfrenta o desemprego mais baixo da história e mantém uma política de distribuição de renda. As taxas de crescimento seguem positivas, ainda que baixas. Para a maioria dos eleitores, é isso o que conta – e seguirá assim enquanto a tragédia que os jornais anunciam diariamente continuar fora da experiência real dos cidadãos.
Ao cobrar direitos autorais tucanos pelo Bolsa Família, como fez ontem, Aécio apenas reforça uma polarização inconveniente para sua candidatura. O esforço já deu errado outras vezes. Se prefeitos tucanos e petistas têm méritos indiscutíveis nessa iniciativa, foi o governo Lula que transformou a distribuição de renda numa política de governo, que beneficia 50 milhões de brasileiros, integrou-se ao crescimento do mercado interno e outras medidas de promoção dos mais humildes.
Nessa situação, toda tentativa de diminuir o papel do governo Lula-Dilma no Bolsa Família ajudará a lembrar a postura tucana dos primeiros anos, quando dizia que era um programa eleitoreiro, que até estimula a preguiça dos brasileiros. Chato, né.
Após três derrotas presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva achou o caminho para o Planalto quando mostrou que poderia fazer mais pelos eleitores brasileiros, especialmente os mais pobres. O colapso do segundo mandato de FHC falava por si.
Expondo sua mensagem, a campanha de 2002 colocou a questão social na agenda do debate eleitoral, lançando um movimento irresistível que já se anunciava vitorioso nos primeiros meses do ano.
Como Lula em 2002, em 2014, a oposição irá realizar uma quarta tentativa para vencer o condomínio Lula-Dilma. Enfrenta uma presidenta muito mais popular do que FHC em seu mesmo momento, como mostra uma comparação de Fernando Rodrigues.
Mesmo longe do patamar anterior a junho, a aprovação atual de Dilma se encontra em 43%. Fernando Henrique tinha 37%, na mesma época.
Em 2002, quando Lula derrotou o candidato do PSDB José Serra, a aprovação de FHC se reduzira a 13 pontos negativos.
Num cenário que se mostra inteiramente diverso, ao menos até aqui, Aécio precisa da atitude humilde necessária para encontrar uma mensagem capaz de atrair milhões de eleitores que procuram mudanças e podem aceitar novidades – mas, agarrados a melhorias obtidas até aqui, não exibem a menor disposição de abandonar conquistas certas em troca de promessas duvidosas.
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