Eternos chapa-branca
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O jornal O Globo toma as dores da revista Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.
Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.
Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril. Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de todos.
O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.
O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.
Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal diferença entre o diretor de Veja e Ben Bradlee, diretor do Washington Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitável impeachment. E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro mafioso.
Recomenda-se um mínimo de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer, de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece, entre outras façanhas de Veja, aquele épico momento em que a revista publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.
Concentro-me em outras miopias deO Globo. Sem citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição, hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.
Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.
Não é por acaso que 64% dos brasileiros não dispõem de saneamento básico e que 50 mil morrem assassinados anualmente. Ou que os nossos índices de ensino e saúde públicos são dignos dos fundões da África, a par da magnífica colocação do País entre aqueles que pior distribuem a renda. Em compensação, a minoria privilegiada imita a vida dos emires árabes.
Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.
Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.
Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois, cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então pelo acima assinado.
Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999, após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade. Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800 milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.
Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa” (eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo. A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem, do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a conveniente distância por sua corte de hienas.
Acreditamos também que entregue à propaganda da linha auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.
MINO CARTA, na Revista CartaCapital
EFEITOS COLATERAIS
Gurgel usa mensalão para se blindar
Miguel do Rosário, em seu Blog O Cafezinho
Uma coisa que os últimos anos têm ensinado à sociedade brasileira é que, numa democracia, não existem cidadãos acima da lei. Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, surpreendeu o país pela dureza com a qual denunciou “os bandidos de toga”, referindo-se à corrupção no judiciário. Bem, procuradores também usam toga. Operações da Polícia Federal vem desbaratando quadrilhas onde operavam as mais graduadas autoridades do Estado: desembargadores, promotores, juízes, governadores, senadores, delegados, deputados. Todos aqueles cargos pomposos a quem o imaginário popular atribuía quase mítica invulnerabilidade, apareceram na imprensa como acusados por graves crimes de corrupção, foram presos, condenados ou estão vias de sê-lo.
A nossa Justiça, de fato, ainda é muito lenta e tolerante quando se trata de manter criminosos do colarinho branco atrás das grades, mas neste primeiro momento de nossa história é importante comemorarmos o fato de que eles, ao menos, estão sendo devidamente processados, seus bens têm sido bloqueados, perdem suas funções públicas e, entre os políticos, ficam desmoralizados perante seus eleitores.
Aliás, uma das consequências positivas da CPI do Cachoeira poderia ser o encaminhamento de mudanças na lei para endurecer as penas de condenados por corrupção, em especial políticos com mandato popular. Por trás do esquema Cachoeira, onde o tráfico de influência figurava como seu maior capital, há um perigosíssimo atentado à democracia.
Digo isso para avaliar a polêmica envolvendo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusado de engavetar, juntamente com sua esposa (sub-procuradora da República), o relatório da Operação Las Vegas, onde apareciam vários indícios importantes de envolvimento do senador Demóstenes Torres com o crime organizado. Eu escrevi aqui que era importante ouvir Gurgel, para que ele pudesse se explicar, visto que a sua argumentação, de que preferiu esperar a conclusão da operação Monte Carlo, desencadeada em seguida, tinha uma lógica, embora eu estranhasse o poder visionário do procurador, de saber, de antemão, que haveriam novas provas contra o senador antes mesmo de iniciada a investigação.
A sua reação descontrolada, no entanto, depõe contra ele. Gurgel jogou pra platéia, ou melhor, pra mídia, ao atribuir a “mensaleiros e protetores de mensaleiros” o esforço para trazê-lo à CPI. Gurgel agiu como o bate-carteira barato que grita “pega ladrão” no meio da muvuca justamente para poder fugir de fininho.
Ora, se Gurgel não tem culpa no cartório, que se defenda com galhardia e firmeza, mas sem perder a postura de imparcialidade que ele tem obrigação de manter. Entrar no jogo político-partidário, como ele fez, constitui uma grave infração ética de sua função. A CPI do Cachoeira produziu tensionamento; os ânimos estão exaltados; Gurgel demonstra portanto uma notável incompetência para os aspectos políticos de seu cargo ao não perceber isso e contribuir para botar fogo na fogueira. Sua estratégia, além disso, é contraproducente, gera ainda mais desconfiança sobre sua idoneidade.
Gurgel deveria entender que é perfeitamente compreensível, dentro da lógica dos trabalhos da CPI, que parlamentares quisessem ouvi-lo, após a acusação, por parte do delegado que chefiou a operação Las Vegas, de que engavetou o inquérito que lhe foi enviado. Ele pode até negar-se a ir, ou negar-se a falar, alegando restrições de ordem constitucional. Quando ele falou que não podia depor, porque isso infringiria o estatuto do MP, eu compreendi perfeitamente. Mas ele não tem o direito de produzir factóides partidários que apenas desviam, como desviaram, o foco da CPI.
Seu proselitismo oportunista, além disso, é mentiroso, visto que até parlamentares da oposição, críticos ferozes do PT, como o Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) passaram a defender sua convocação. Não são apenas os “protetores de mensaleiros”.
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A CPI do Cachoeira se tornou uma espécie de Caixa de Pandora, de onde saem todos os males que já acossaram a política brasileira. É um desafio acompanhar a produção industrial de novas denúncias verdadeiras, falsas, factóides, manipulações, contra-informação, cortinas de fumaça, distorções, mentiras, revelações bombásticas. A imprensa “tradicional” não é mais um filtro confiável. Ao contrário, contribui para alimentar a sensação de entropia.
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A defesa da Veja praticada pelos jornalões se dá porque todos estão envolvidos com o esquema Cachoeira, visto que todos foram pautados por reportagens publicadas na revista cuja fonte era a máfia goiana. Nem todos são criminosos, mas ajudaram a alimentar um esquema criminoso.
Pensando bem, a estratégia de Gurgel é a mesma usada ao longo dos anos por Carlinhos Cachoeira. Quer usar a mídia? Use a palavra mensalão, ou mensaleiro, faça qualquer acusação às forças governistas, mesmo que ancorada em escutas ilegais, denúncias falsas e ilações absurdas: você terá a mídia a seus pés, fotos na capa, será louvado em editoriais, e a revista Veja o transformará em paladino da ética (como fez com Demóstenes).
Como sempre haverá denúncias e casos de corrupção num aparelho estatal enorme como é o da União (enorme não por se inchado, mas porque precisa administrar um país de 8 milhões de quilômetros quadrados e 200 milhões de habitantes), basta montar – como fez Cachoeira – um aparelho de investigação paralela, que pratica grampo clandestino e manipula jornalistas e prepara armadilhas para funcionários públicos, para ter a mídia na mão. É como se um traficante da Rocinha montasse um esquema para denunciar, sistematicamente, a venda de drogas no morro do Vidigal. A polícia apareceria todo dia na mídia prendendo um bandido diferente, posando de herói, mas na verdade estaria a serviço de uma gangue rival, que cresceria na esteira do enfraquecimento do adversário.
O problema maior da máfia Cachoeira é justamente esse envolvimento com a alta política e com a mídia. Um grupo de bandidos atuava em favor da oposição, com auxílio consciente e despudorado da revista Veja. Essas alianças entre corrupção, política e mídia, na verdade, é coisa antiga. Nos EUA, há toda uma literatura sobre o tema. Eu mesmo, por coincidência, estou lendo Washington, de Gore Vidal, cujo personagem principal é um senador acossado por um mafioso, que por sua vez é aliado de um poderoso dono de jornais.
Tão ou mais importante do que responsabilizar criminalmente a revista Veja por associar-se ao crime organizado, é desvendar a trama de interesses que liga empresas de mídia, partidos políticos e uma máfia especializada em desviar dinheiro público. É justamente isso o que está acontecendo. Estamos sendo esclarecidos. A trama está sendo dia a dia desvendada. Cachoeira grampeava políticos ou funcionários públicos, às vezes até lhes preparava armadilhas, e depois chantageava autoridades exigindo-lhes que aceitassem pagar adicionais milionários de obras. Devia fazer isso também com juízes, armando flagrantes comprometedores, para lhes obrigar a emitir esta ou aquela liminar, como foi o caso da que forçou o governo do Distrito Federal a aceitar a Delta como responsável pelo serviço de lixo na região.
Para um Procurador da República,
o Sr. Gurgel tem se revelado um
excelente humorista
O diversionismo de Gurgel para não explicar sua ilegalidade
Para muitos, a melhor defesa é o ataque. Uma tática militar antiga e até mencionada na Arte da Guerra, um escrito do chinês Sun Tzu, por volta do século IV AC.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, parece ser adepto dessa velha e surrada tese militar.
A propósito, a tática é muita usada por políticos brasileiros para se fazer de vítima e mudarem o foco.
Nos tratados sobre “vitimologia” escritos por juristas não há registro sobre aqueles, como Gurgel, que se colocam como vítimas para descumprir a obrigação de informar os cidadãos, algo fundamental nos estados democráticos de Direito.
Gurgel disse que os ataques recebidos, referentes ao inquérito policial nascido com a operação Vegas e que ele colocou na geladeira desde 2009, são de autoria dos que estão “morrendo de medo do mensalão”.
Muitos cidadãos brasileiros não são réus no processo conhecido como “mensalão” e estranharam ter Gurgel “sentado em cima” de um trabalho investigativo que já apontava para o que se sabe agora: o envolvimento do senador Demóstenes Torres com a organização criminosa comandada pelo “capo” Carlinhos Cachoeira.
Que o Partido dos Trabalhadores (PT) e os Zé Dirceus e Jeffersons da vida tenham interesse em desprestigiar Gurgel, é simplesmente constatar uma obviedade. Mas, convenhamos, Gurgel deu de bandeja uma justificativa para os seus desafetos: em alegações finais, no processo do mensalão, o procurador-geral pediu a condenação de mensaleiros de alto coturno da vida político-partidária.
O inquérito referente à operação Vegas só foi desovado por Gurgel depois de cobrado por parlamentares, que não eram só do PT. A carga principal foi de parlamentares do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que não tem acusados de mensaleiros.
Como sabe até a torcida do Flamengo, o procurador Gurgel, se não tinha elementos para propor ação penal ou requisitar novas diligências, deveria, em prazo razoável, ter pedido o arquivamento dos autos de inquérito.
Pelo informado na CPMI pelo delegado Raul Alexandre Marques de Souza, o procurador Gurgel determinou à mulher Cláudia Sampaio, subprocuradora, que, informalmente, participasse ao presidente do inquérito policial federal (Raul Alexandra Marques Souza) a inexistência de indícios com lastro de suficiência com relação ao senador Demóstenes. Ora, um procurador-geral bem sabe que, em casos tais, o caminho é solicitar o arquivamento ou novas apurações. Jamais colocar no “freezer” um inquérito. No “freezer” de Gurgel permaneceu o inquérito da operação de 2009 até ser cobrado por parlamentares em 2012.
Nesse período de “freezer”, e como destaquei no post de ontem, Demóstenes fez pressão (para manter no freezer” o inquérito supracitado) contra a recondução de Gurgel a um segundo mandato. Gurgel contava, na recondução, com o apoio do então ministro Antonio Palocci, de triste memória. Palocci é aquele da violação do sigilo do bancário do caseiro e do aumento pantagruélico do patrimônio pessoal, que Gurgel, para usar uma expressão popular, “deixou barato” e deu tratamento, agora com expressão mais erudita, de “vela de libra”.
Quanto ao mensalão, é de se observar que a acusação (denúncia) não foi formulada por Gurgel, mas pelo então procurador-geral Antonio Fernando Souza. Caberá aos ministros do Supremo Tribunal Federal, e não a Gurgel, o julgamento.
No caso, o Ministério Público, representado por Gurgel, é parte processual. Parte acusadora e no mesmo pé de igualdade com as partes acusadas, ou melhor, com os réus.
Nenhum cidadão brasileiro é idiota a ponto de confundir o processo do mensalão com inquérito da operação Las Vegas, colocado por Gurgel, contra a lei, no “freezer”.
Na verdade, Gurgel foge ao dever de explicar a razão de não ter, de 2009 a 2012, pedido, nos autos do inquérito gerado pela operação, arquivamento ou novas diligências.
Até agora, as suas explicações sobre o atraso não encontram suporte jurídico.
Pano rápido. Gurgel usa de um diversionismo e coloca todos os que o cobram, como acontece neste blog, como petistas. O titular desse espaço nunca foi petista e, com 65 anos de idade, jamais se filiou a partidos políticos.
Wálter Maierovitch, na Revista CartaCapital
OS SANTINHOS DE "PAU-OCO"
Testemunha acusa Agripino Maia de receber propina
Leandro Fortes, na Revista CartaCapital
Há pouco mais de um mês, em 2 de abril, um grupo de seis jovens promotores de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte organizou uma sessão secreta para ouvir um lobista de São José do Rio Preto (SP), Alcides Fernandes Barbosa, ansioso por um acordo que o tirasse da cadeia. Ele foi preso com outras nove pessoas, em 24 de novembro de 2011, durante a Operação Sinal Fechado, que teve como alvo a atuação do Consórcio Inspar, montado por empresários e políticos locais com a intenção de dominar o serviço de inspeção veicular no estado por 20 anos. A quadrilha pretendia faturar cerca de 1 bilhão de reais com o negócio. Revelado, agora, em primeira mão, por CartaCapital, o depoimento de Barbosa aponta a participação do senador Agripino Maia, presidente do DEM, acusado de receber 1 milhão de reais do esquema.
O depoimento de Barbosa durou 11 horas e reforçou muitas das teses levantadas pelos promotores sobre a participação de políticos no bando montado pelo advogado George Olímpio, apontado como líder da quadrilha, ainda hoje preso em Natal. De acordo com trechos da delação, gravada em vídeo, Barbosa afirma ter sido chamado, no fim de 2010, para um coquetel na casa do senador Agripino Maia, segundo disse aos promotores, para conhecer pessoalmente o presidente do DEM. O convite foi feito por João Faustino Neto, ex-deputado, ex-senador e atual suplente de Agripino Maia no Senado Federal. Segundo o lobista, ele só foi chamado ao encontro por conta da ausência inesperada de outros dois paulistas, um identificado por ele como o atual senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e o outro apenas como “Clóvis” – provavelmente, de acordo com o MP, o também tucano Clóvis Carvalho, ex-ministro da Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso.
Apontado como um dos principais articuladores do esquema criminoso no estado, Faustino Neto foi subchefe da Casa Civil do governo de São Paulo durante a gestão do tucano José Serra. Na época, era subordinado a Aloysio Nunes Ferreira.
De acordo com os promotores, o papel de Barbosa na quadrilha era evitar que a Controlar, uma empresa com contratos na prefeitura de São Paulo, participasse da licitação que resultou na escolha do Consórcio Inspar. Em conversas telefônicas interceptadas com autorização da Justiça potiguar, Barbosa revela ter ligado para o prefeito Gilberto Kassab (PSD), em 25 de maio de 2011, quando se identificou como responsável pela concessão da inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Aos interlocutores, o lobista garantiu ter falado com o prefeito paulistano e conseguido evitar a entrada da Controlar na concorrência aberta pelo Detran local. Em um dos telefonemas, afirma ter tido uma conversa “muito boa”. Embora não se saiba o que isso significa exatamente, os promotores desconfiam das razões desse êxito. Apenas em propinas, o MP calcula que a quadrilha gastou nos últimos dois anos, cerca de 3,5 milhões de reais.
Aos promotores, Alcides Barbosa revelou que foi levado ao “sótão” do apartamento do senador Agripino Maia, em Natal, onde garante ter presenciado o advogado Olímpio negociar com o senador apoio financeiro à campanha de 2010. Na presença de Faustino Neto e Barbosa, diz o lobista, George prometeu 1 milhão de reais para o presidente do DEM. O pagamento, segundo o combinado, seria feito em quatro cheques do Banco do Brasil, cada qual no valor de 250 mil reais, a ficarem sob a guarda de um homem de confiança de Agripino Maia, o ex-senador José Bezerra Júnior, conhecido por “Ximbica”. De acordo com Barbosa, Agripino Maia queria o dinheiro na hora, mas Olímpio afirmou que só poderia iniciar o pagamento das parcelas a partir de janeiro de 2012.
O depoimento reforça um outro, do empreiteiro potiguar José Gilmar de Carvalho Lopes, dono da construtora Montana e, por isso mesmo, conhecido por Gilmar da Montana. Preso em novembro de 2011, o empreiteiro prestou depoimento ao Ministério Público e revelou que o tal repasse de 1 milhão de reais de Olímpio para Agripino Maia era “fruto do desvio de recursos públicos” do Detran do Rio Grande do Norte. O empresário contou história semelhante à de Barbosa. Segundo ele, Olímpio deu o dinheiro “de forma parcelada” na campanha eleitoral de 2010 a Carlos Augusto Rosado, marido da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), e para o senador Agripino Maia. E mais: a doação foi acertada “no sótão do apartamento de José Agripino Maia em Morro Branco (bairro nobre de Natal)”.
Com base em ambos os depoimentos, o Ministério Público do Rio Grande do Norte decidiu encaminhar o assunto à Procuradoria Geral da República, pelo fato de Agripino Maia e ser senador da República, tem direito a foro privilegiado. Lá, o procurador-geral Roberto Gurgel irá decidir se uma investigação será aberta ou não.
Procurado por CartaCapital, o senador Agripino Maia negou todas as acusações. Afirma que nunca houve o referido coquetel no apartamento dele, muito menos repasse de 1 milhão de reais das mãos da quadrilha para sua campanha eleitoral, em 2010. Negou até possuir um sótão em casa. “Sótão é aquela coisinha que a gente sobe por uma escadinha. No meu apartamento eu tenho é uma cobertura”, explicou. Agripino Maia afirma ser vítima de uma armação de adversários políticos e se apóia em outro depoimento de Gilmar da Montana, onde ela nega ter participado do coquetel na casa do senador.
De fato, dias depois de o depoimento do empreiteiro ter vazado na mídia, no final de março passado, o advogado José Luiz Carlos de Lima, contratado posteriormente à prisão de Gilmar da Montana, apareceu com outra versão. Segundo Lima, houve “distorções” das declarações do empresário. De acordo com o advogado, o depoimento de Montana, prestado a dois promotores e uma advogada dentro do Ministério Público, ocorreu em condições “de absoluto estresse emocional e debilidade física” do acusado, que estaria sob efeito de remédios tranquilizantes. No MP potiguar, a versão não é levada a sério.
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