19 maio 2012

HISTÓRIA, POLÍTICA, IMPRENSA










LÂMPADA OU LANTERNA?




Por Mino Carta, na Revista CartaCapital 









Caçador de marajás. Fórmula exitosa explorada por Veja e pela Globo para fazer do senhor acima o anti-Lula. Foto: Protasio Nene/AE
Roberto Civita é dotado exclusivamente de certezas. Talvez se deva ao QI. Há 52 anos, em um dia de abril ou maio, vinha ao lado dele pela calçada de uma rua central de São Paulo a caminho da Editora Abril, onde eu aportara pouco antes, e eis que pergunta qual seria meu quociente de inteligência. Declaro ignorar, de fato nunca me submeti a exames psicotécnicos. Sorriso cesáreo, pronuncia um número e esclarece: “É o meu”. “Satisfatório, imagino”, comento. Mais que isso, premia um ser humano a cada 25 milhões de semelhantes. O Brasil tinha então 70 milhões de habitantes, donde deduzo: “Só pode haver mais dois iguais a você”. “Pode – admite, plácido –, mas a estatística inclui todos os terráqueos, de sorte que eu poderia ser o único.”
Roberto Civita tende mesmo a se considerar único, um Moisés chamado a conduzir a Abril à terra prometida. Pronto a pôr em prática, assim como o herói bíblico dividia as águas, as artes da mídia nativa, inventar, omitir, mentir. Tropeço entre atônito e perplexo na última edição da revista Veja, a qual impavidamente afirma, entre outras peremptórias certezas, a autoria da derrubada de Fernando Collor da Presidência da República em 1992. Comete assim, entre a invenção e a mentira, o enésimo lance clássico do jornalismo nativo ao contar um episódio tão significativo da história do País.
Um ex-diretor da Veja, Mario Sergio Conti, escreveu um livro, Notícias do Planalto, para sustentar que Collor foi eleito pelos jornalistas. Não sei se Conti é mais um dos profissionais que no Brasil chamam o patrão de colega. Claro está, de todo modo, que a mídia naquela circunstância executou a vontade dos seus barões, a contarem com a obediência pronta e imediata dos sabujos. E à eleição de Collor Veja ofereceu uma contribuição determinante não menos do que a das Organizações Globo. Agora gabam-se pelo dramático desfecho do governo interrompido e omitem que lhes coube a criação do monstro.
Os leitores recordam certamente a expressão “caçador de marajás”. Pois nasceu no berço esplêndido da TV Globo e foi desfraldada à exaustão pela capitânia da esquadra abriliana. Ocorre que o naufrágio collorido não foi obra desta ou daquela, e sim do motorista Eriberto, que prestava serviço entre o gabinete presidencial do Planalto, o escritório de PC Farias e a Casa da Dinda. Localizado pela sucursal de IstoÉ em Brasília ao cabo de uma exaustiva investigação, trouxe as provas que a CPI não havia produzido. É a verdade factual, oposta à versão da última edição de Veja.
Lembro aquele sábado de 1992 em que IstoÉ foi às bancas com as revelações decisivas, de sorte a obrigar os jornalões, a começar pelo O Globo, a reproduzir as informações veiculadas pela semanal que então eu dirigia. A entrevista de Pedro Collor a Veja, do abril anterior, não bastaria para condenar o irmão presidente, tanto que a CPI se encaminhava para o fracasso. Pedro, de resto, nada de novo dissera na entrevista, a não ser a referência a certos, surpreendentes supositórios de cocaína. No mais, repetira, um ano e meio depois, uma reportagem de capa de IstoÉ.

Manual da arte midiática nativa, incluídas mediocridadem parvoíce e ignorância
No fim de setembro de 1990, Bob Fernandes passou a acompanhar os movimentos de PC Farias por mais de um mês para desnudar, ao fim da tocaia, que o levou inclusive a hospedar-se no mesmo apart-hotel da eminência parda do governo, a culpa em cartório do presidente e seu preposto à corrupção. No dia do fechamento deIstoÉ, tarde de uma sexta-feira, fui visitado por um ex-colega, intermediário da tentativa de impedir a publicação. Veio ele melífluo, portador de um pedido partido de altos escalões (depois naquelas alturas identificaria a ministra Zélia, mais talhada para dançar bolero do que carregar a pasta da Economia), e eu prontamente apontei-lhe o caminho da rua. Nem por isso deixei de declinar a minha condição de empregado e admitir que meu patrão quem sabe pudesse ser seduzido com ouro, incenso e mirra. Não sei por que evoquei os magos na noite de Belém.
Logo, na prática, a sedução foi ensaiada em dólares, a bem da contemporaneidade, e Domingo Alzugaray, dono da Editora Três, recusou dignamente de 1 milhão a 5 milhões, até hoje ignoro o nível atingido pela derradeira oferta. Constatei depois, na costumeira troca de opiniões com meus botões, que os dólares teriam sido gastos inutilmente. A reportagem de capa caiu como pedra no pântano, não houve quem a repercutisse. Foi um daqueles momentos em que se recomenda o recurso à omissão.
Era cedo demais, teve de passar um ano e meio para que a mídia da casa-grande se convencesse de que o pedágio cobrado por Collor e PC era exorbitante. Apelou-se para o Pedro rebelde. Este episódio, desdobrado em pouco mais de dois anos de governo do “caçador de marajás”, é simbólico dos comportamentos dos nossos donos do poder, a partir da própria opção por Collor como anti-Lula. A tigrada em risco se dispõe a agarrar em fio desencapado.
O emblema é, porém, mais abrangente. Na sua patética edição desta semana Veja consegue demonstrar apenas que a lâmpada da capa é a enésima mentira. A série de textos pendurada no varal vejano estica-se na treva mais funda. Não se trata simplesmente de um manual de como o jornalismo pátrio atua, a inventar, omitir e mentir, mas também de mediocridade, parvoíce e ignorância. Em matéria, nos deparamos com uma obra-prima recheada por capítulos extraordinários na sua capacidade de suscitar tanto a hilaridade quanto o espanto.
Sem pretender hierarquizar na avaliação do ridículo e do grotesco, vale a afirmação de Vejaque se apresenta como vítima do ataque conjunto da imprensa ligada aos setores radicais do PT e pela internet, entregue a robôs de militância petista. Programados pelos cientistas (aloprados?) do partido da presidenta e do ex-presidente? O Brasil, segundo a semanal da Abril, confunde-se com Rússia, Cuba e Venezuela, onde a liberdade de imprensa é violentamente cerceada, e com a China, de internet robotizada. Talvez a rapaziada de Vejatenha de racionar suas idas ao cinema para assistir à ficção científica estilo Matrix. Claríssima é, contudo, uma área que a Skuromatic não logra alcançar: a proposta de censura à internet, estampada com todas as letras por quem se apresenta como paladino da liberdade de expressão.
Passagem empolgante aquela em que Veja define Antonio Gramsci, notável pensador do século passado morto na cadeia fascista às vésperas da Segunda Guerra Mundial depois de 11 anos de cativeiro, autor de uma obra monumental intitulada Cadernos do Cárcere, que ele considerava como ensaio daquela a ser escrita em liberdade. A revista da Abril decreta: Gramsci é um terrorista vermelho, não menos que Lenin e Stalin. Pois é do conhecimento até do mundo mineral que Gramsci plantou as raízes da transformação do partidão italiano, enfim capaz de abjurar os dogmas marxista-leninistas e de se afastar do Kremlin para desaguar no eurocomunismo de Enrico Berlinguer, de pura, autêntica marca social-democrática. Permito-me propor à redação de Veja os nomes de um punhado de terroristas: Sócrates, Jesus Cristo, Montano, Lutero, Maquiavel, Pascal, Voltaire, Caravaggio, Daniel Defoe, Jonathan Swift, Garibaldi, Bolívar, Dostoievski, Espinoza. Há muitos outros, mas são estes que me ocorrem de chofre.
Não faltam, para fechar o círculo, as omissões. Por que não consta entre as façanhas vejanas a fantástica revelação das contas clandestinas no exterior de figurões variados do governo Lula, encabeçada por aquela do próprio presidente? E por que não se evoca a reportagem de sete anos atrás, sobre os dólares destinados a abastecer as burras petistas, chegados de Cuba em garrafas, com as mensagens dos náufragos? De rum, imaginariam vocês. Nada disso, de uísque. Nunca fica tão evidente, de limpidez ofuscante, que Veja é a revista do inventor da lâmpada Skuromatic.
Quando me demiti da direção da redação de Veja e de integrante do conselho editorial da Editora Abril, disse ao chairman of the board, Victor Civita: “Por nada deste mundo hoje trabalharia na Abril, entre outros motivos porque seu filho Roberto é um cretino”. O patrão retrucou, sem irritação evidente: “Não diga isso, diga ingênuo”. Dois dias antes, fevereiro de 1976, o filho me confessara, candidamente, que o então ministro da Justiça (Justiça?) Armando Falcão pedia a minha cabeça como condição do fim da censura e de um empréstimo de 50 milhões de dólares pela Caixa Econômica Federal.
É uma longa história, que já contei mais de uma vez. E eu me demiti, ao contrário do que escreveu Mario Sergio Conti, sabujo emérito, pronto a adotar a versão patronal, porque não queria um único, escasso centavo do inventor da lâmpada Skuromatic. Ou não seria lanterna, com a vantagem de ser carregada onde o usuário bem entenda?
P.S.: Não consigo entender por que Marco Antonio Barbosa, figura altamente confiável, não está entre os integrantes da Comissão da Verdade, alguns altamente inconfiáveis.




NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA


Por Roberto Amaral, na Revista CartaCapital 





Leitor da seção "O Globo há cinquenta anos", recomendo sua leitura por alunos e professores em sala de aula. 

Ali quase diariamente, encontra-se um repositório notável do atraso de  nossa vida republicana, o que nos possibilita conhecer o papel de nossa imprensa corporativa como eficiente correia de transmissão da ideologia da  Guerra Fria (importando um embate que não nos dizia respeito e trazendo para cá a visão estadunidense), invariavelmente de costas para os interesses nacionais, avessa aos interesses populares e sempre atenta aos  negócios do grande capital, principalmente o capital internacional.

os grandes jornais sempre se opuseram ao nacional e ao popular, e assim combateram a campanha do “Petróleo é nosso” e ainda hoje rejeitam a Petrobrás. Foto: José Vieira Trovão / Ag. Petrobras
Escrevo “nossa imprensa” de forma proposital, pois O Globo não era, não foi e não é uma exceção nesse servilismo aos interesses antinacionais e, sobretudo, contrários ao desenvolvimento do país e a tudo que diga respeito ao povo. O cheiro dos marmiteiros sempre ofendeu ao olfato sensível dos comensais dosLe bec fin.
Por coerência, os grandes jornais sempre se opuseram ao nacional e ao popular, e assim combateram a campanha do “Petróleo é nosso” e ainda hoje rejeitam a Petrobrás e se arrepiam, irritadiços, sobressaltados, diante de qualquer movimento que lhes possa sugerir o menor sintoma de nacionalismo (ou defesa dos interesses nacionais) que possa pôr em risco o projeto do grande Império. Ou de defesa do Estado. E sempre que este submerge, quem paga o pato são os interesses da Nação  e dos mais pobres.
Exemplar do que afirmo é a primeira página  da edição do Globo do dia 26 de abril de 1962. Depois de anunciar com alegria a “Primeira explosão nuclear no Pacífico”, sem danos ambientais (embora também diga que “o engenho lançado de um avião que voava a grande altitude, desencadeou numa força explosiva calculada entre 20.000 e um milhão de toneladas de TNT”), o jornal condenava a ameaça de aprovação do projeto do deputado Aarão Steinbruch que instituía o 13º salário: “Os meios financeiros consideram altamente inflacionária e de consequências desastrosas para a economia nacional a implantação de um 13º salário”.
A previsão catastrofista vem no discurso do oráculo do conservadorismo de então: “Deixando de lado a agricultura, para a qual faltam dados positivos, o economista Eugênio Gudin calcula em cerca de Cr$ 80 bilhões a sobrecarga que o aumento representaria no orçamento das empresas”.
Contam os fatos que o projeto foi aprovado e que sua aplicação acumula, hoje, 50 anos de sucesso. Nenhuma empresa faliu por conta dele, o comércio ganhou (e ainda hoje festeja a iniciativa) e começávamos ali a investir no que até os ortodoxos reconhecem ser a alternativa de nossa economia, a saber, o fortalecimento do mercado interno.
Na contramão da História, a mesma imprensa combatia, desde sua instituição, tanto o salário mínimo (Decreto-Lei n.2 2.162 , de 12 de maio de 1940), quanto seus reajustes anuais, sempre apontados como inflacionários. Assim, em 1954, o anúncio de um reajuste de 100%, afinal concedido, provocou grande campanha de imprensa, a edição de um famoso e subversivo “Memorial dos Coronéis” e, afinal, a demissão do Ministro do Trabalho, João Goulart. Jamais aumentar salários, jamais regular a remessa de lucros para o exterior, taxar as grandes fortunas e as grandes heranças. Jamais estabelecer alíquotas crescentes do Imposto sobre a Renda. Derrubar a CPMF e assim desfalcar o orçamento de nada menos que o ministério da Saúde, ah! isso, sim… Para “destravar a economia”? Não. Seu objetivo era reduzir o controle das movimentações financeiras.

Lembremo-nos de que um dos primeiros atos dos golpistas de 1964 foi a revogação da lei de remessa de lucros…
Agora, já começa a mesma imprensa a dizer que o combate aos juros altos, aumentando o crédito ao consumidor, pode constituir-se em agente inflacionário. Todos os países do mundo podem ter juros mais baixos que o nosso e  muitos deles crescer em índices superiores ao nosso. Mas o Brasil, não. Esquecem-se os catastrofistas, e esquecem propositalmente, que nosso país sempre cresceu por força da expansão de seu mercado interno, responsável, ademais,  pela resistência de nossa economia ao abalos exógenos, de que é exemplo  esta última (no sentido de a mais recente) crise do capitalismo financeiro.
O panorama internacional é de desaceleração (e sabemos hoje que as potências europeias não conhecem vacina para a crise, cenário persistente ainda por muitos anos), principalmente na medida em que insistem na suicida política recessiva, imposta unilateralmente (contra os países e suas populações) por uma Alemanha governada pelos interesses dos banqueiros.
A desaceleração das grandes economias, seja qual for o comportamento da China, cuja taxa de crescimento tende a decair sob controle (felizmente), indica, para países como o Brasil, uma queda de suas exportações, principalmente em setores como a exportação de produtos primários, commodities e minérios.
Esse panorama, que assim se descreve desde a aceleração da crise, cobra da economia brasileira o fortalecimento do mercado consumidor interno. Consumidor, bem entendido, na medida em que tiver trabalho e renda.
O fortalecimento desse mercado interno – antigo e permanente pleito da esquerda brasileira – é uma das mais significativas conquistas do governo Lula. Para tal objetivo foi importante o Bolsa Família, foram importantíssimas as políticas de transferências previdenciárias e de assistência social e o apoio à agricultura familiar. Mas fundamental foi o aumento de algo como 60% do salário mínimo. Essas medidas foram responsáveis, em seu conjunto, pela criação do que se chama de Classe C (ou de uma nova classe C), cujo poder de compra é equivalente a 12% do PIB.
Essa política é aprofundada pela presidente Dilma quando, corajosamente, decide enfrentar a ganância do sistema financeiro insaciável e irresponsável, impondo uma política de juros consentânea com nossa realidade e as necessidades de nosso mercado, a saber, aumentando o acesso ao crédito, de que decorre o aumento do poder de compra do mercado interno, a reativação do comércio e da indústria, transformando em virtuoso o círculo vicioso da recessão que aumentaria a recessão.
Nesse ponto identificamos um salto de qualidade da atual política, na medida em que se livra dos grilhões do sistema financeiro (parasita por definição) e se associa ao capital produtivo, construindo novas perspectivas de vida para as grandes massas, sempre marginalizadas pelos monetaristas de plantão.
Sabe-se, porém, que a nova política de Dilma, nada obstante sua decisão pessoal, não seria exequível se o governo não dispusesse do tripé Banco do Brasil-Caixa Econômica Federal-BNDES, quase privatizados pela insânia neoliberal.
A política Lula-Dilma, assim, incorpora ao desenvolvimento sua fundamental dimensão social, o acesso à cidadania das populações mais pobres.
Enquanto isso, do outro lado do Equador, as economias classicamente desenvolvidas (EUA, Inglaterra e Japão, para não lembrar Grécia, Irlanda, Espanha e Itália…) convivem com altas taxas de desemprego, baixíssimas taxas de crescimento (tendendo para a estagnação) e no limiar da recessão, com seu perverso custo político, as restrições ao Estado do bem-estar, a xenofobia, as restrições ao livre-trânsito dos nacionais em suas fronteiras, e, mesmo, a realimentação da direita, na França com o fortalecimento da herdeira de Le Pen e na Grécia com o reaparecimento de um arremedo de nazismo, e como tal tanto abjeto quanto grotesco.
A combinação de recessão,  miséria e desemprego foram sempre o caminho mais curto para a instauração das tiranias.
De outra parte, os países que se afastaram do monetarismo e do catecismo neoliberal, como o Brasil, retomaram o crescimento, aumentaram suas taxas de emprego e até aqui mantêm sob controle a ameaça da recidiva inflacionária, e, assim, em situação melhor que os “ricos” a enfrentar a crise global, uma crise do sistema privado que estourou no colo do setor público.
Por isso mesmo, cada vez mais consolidamos a opção democrática e começamos a transitar da democracia formal (política), para o que, num amanhã ainda distante, poderemos chamar de democracia real (à falta de denominação mais adequada), aquela que realizará a justiça social.





FHC, o midiático bailarino da 
pós-política


Por Gianni Carta, na Revista CartaCapital 



FHC prega que o "poderio do governo sobre a pequena mídia é crescente". Esquece que venceu pleitos com apoio da mídia golpista
“O poderio do governo (de Dilma Rousseff), sobretudo sobre a pequena mídia, é crescente.” Palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no Instituto FHC na terça-feira 15.  Autor de alguns livros acadêmicos de sociologia lidos por um punhado de gatos pingados há mais de três décadas, FHC continua sendo “a principal referência intelectual” da oposição partidária (leia PSDB) e dos seus simpatizantes (leia elites), escreveu Marcos Coimbra, colunista de CartaCapital.
Nesse trono dos intelectuais da direita, FHC esmera-se em semear contradições mil. Eis mais uma vez a acima citada (e haverá outras abaixo): o poder da pequena mídia é crescente. O ex-presidente esqueceu que foi eleito em grande parte graças à mídia conservadora, e principalmente pela tevê Globo, cria da ditadura? Naquela primeira eleição em 1994, o candidato de Roberto Marinho era FHC. O povo, ainda despreparado para votar no torneiro mecânico, votou no intelectual de gravata.
Em seguida, os supostos experts em economia da tevê global e de todos aqueles semanários conservadores como Veja e mais os diários FolhaEstado, Globo etc. inventaram que o presidente sociólogo foi o criador do plano real – e assim ele tirou o Brasil do buraco. A mídia internacional, especialmente a anglo-saxônica, comprou a versão dos colegas canarinhos. Vale acrescentar o seguinte: essas revistas e jornalões, assim como a tevê da família Marinho, estiveram por trás do golpe de Estado de 1964 e do golpe dentro do golpe.
Pergunta: o sociólogo presidente, que ganhou fama mundial com sua Teoria da Dependência, teve suposta formação marxista, e se autoexilou na França (ele poderia ter ficado aqui sem nenhum temor), reconhece como se contradiz? Apoiado pelas elites e uma mídia que distorce fatos, FHC agora culpa Dilma, que se opôs de verdade contra a ditadura, por ser defendida por uma “pequena mídia”. Pior seria como a defende o pessoal da blogosfera? Blogosfera, diga-se, também povoada por reacionários e mesmo assim Veja quer censurá-la. Um adendo já manjado, mas é bom repeti-lo para podermos refletir sobre o nível do jornalismo canarinho: o chefe da sucursal da Veja em Brasília trabalhou em parceria com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, agora atrás das grades, para produzir furos contra a esquerda. Os dois trocaram 200 telefonemas. O que leremos nas transcrições dessas “entrevistas”?
Provavelmente não leremos nada. A mídia que FHC aprova fecha-se em copas para que Roberto Civita, o dono da Veja, não compareça à CPI do Cachoeira. E o bicheiro de Goiás que corrompeu deputados e governadores gostaria de contar tudo…
De corrupção, aliás, FHC entende. Ele não disse, em outra manchete de jornalão tucano, que o governo de Dilma roubou mais que os seus dois governos? Dito de outra forma, os governos de FHC também roubaram, mas menos. É algo como dizer: você matou 100 pessoas, eu somente 25.
Convenhamos: faro para o que interessa à mídia FHC tem. É preciso falar de corrupção. O assunto, como diz Vladimir Safatle, colunista da CartaCapital, é “grave” e temos de lidar com ele. Mas e os outros assuntos? Por exemplo, como vai a social-democracia hoje?
Não espere a resposta de FHC, o líder intelectual da oposição. Na verdade, o Partido da Social-Democracia Brasileiro (PSDB) nunca foi social-democrata. E nem seu fundador-mor. Alguns meses atrás FHC disse a algum jornalão que ele deveria ser julgado pelo seu legado, não pela sua linhagem ideológica. De qualquer forma, essa linhagem ideológica é límpida como as águas do Mediterrâneo.
Mais recentemente, num artigo intitulado “Política e moral”, no qual FHC analisa um recente livro do seu amigo sociólogo Alain Touraine, os partidos estariam “petrificados”. “Lideranças respeitadas podem despertar a confiança perdida.” Indagou Marcos Coimbra: “Será que ele está se oferecendo para o papel?”
Claro que sim.
Fernando Henrique Cardoso se apresenta como apóstolo da pós-política para debater a corrupção, e em particular o Mensalão. (Será que FHC leu A Privataria Tucana, de Amaury Jr.?) E assim o ex-presidente quer despolitizar ainda mais quem o ouve.
Enquanto isso, os franceses elegeram para a Presidência François Hollande, um socialista.
Social-Democrata de verdade, Michel Rocard, o mais popular premier da V República da França, disse a CartaCapital: “Podemos dizer que agora nos aproximamos da social-democracia na França… De qualquer forma, a esquerda francesa está tomando uma responsabilidade na economia de mercado”.
Em outro encontro com Rocard, o ex-premier observou: “Importante não é o balé dos indivíduos, mas sim a correntes coletivas”.
FHC é apenas um bailarino.




MÍDIA E CPI                     MÍDIA E CPI






A JIBÓIA E A CPI



Miguel do Rosário, no Blog O Cafezinho

Esta semana, encontraram uma enorme jibóia de dois metros na rua do Resende, onde eu moro. Segundo testemunhas, ela saiu de um carro que passava, depois se escondeu na caçamba de um caminhão estacionado na calçada. É um exemplo perfeito para o adjetivo “inusitado”. E, no entanto, são tantas coisas surpreendentes acontecendo a toda hora que poderíamos afirmar que a nossa rotina é composta de uma sucessão de fatos inusitados. Eu acho que o Rio de Janeiro é particularmente rico neste sentido. Uma cidade maravilhosa onde bueiros explodem qual minas de guerra e prédios desabam sem aviso prévio, como que atingidos por mísseis de alta precisão.
O jornalismo, a política, a arte, todos vivem do inusitado.  E há inusitado para todos os gostos. Escolher um e transformá-lo em notícia é uma prerrogativa ética de editores, blogueiros e comentaristas das redes. Naturalmente, estão em jogo interesses comerciais e/ou políticos em cada palavra que dizemos, pensamos ou escrevemos. Aristóteles dizia que o homem é um animal político, eu diria que o homem é um bicho com interesses.  Até aí nada demais, desde que meus interesses não atrapalhem os vossos e vice-versa, ou desde que meus interesses sejam afins do interesse coletivo.
A política visa promover a felicidade, ensinava o Mestre já citado, embora o processo da luta política raramente seja prazeroso.  Em alguns lugares, é um processo sangrento, traumático , brutal. Na Síria, por exemplo. Ou no bairro de Pinheirinho, em São José dos Campos.  Bem, estou tentando falar da CPI, ou CPMI, do Cachoeira…
Os jornalões todo dia mostram uma jibóia à sociedade, mesmo que tenham que trazer uma de plástico. Hoje eles amanheceram com acusações à CPI por “blindar governadores e o comando da Delta” e festejaram, ao que parece de maneira precipitada, a não-convocação do jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja.
Agora, cuidado!
Eu leio vários jornais por dia, dezenas de blogs, e mesmo assim volta e meio dou comigo mesmo de boca aberta diante da última cobra gigante trazida pela mídia.
Ontem eu dei umas bordoadas na CPI, chamei os parlamentares de covardes para baixo, mas hoje, ao ler mais sobre o assunto, vejo que estava errado. Não se conseguirá nada com afobação. Os deputados e senadores estão fazendo seu trabalho de maneira cuidadosa, mas firme.  A CPI vai durar 180 dias, podendo ser prorrogada se for necessário. Muitas jibóias serão encontradas, ou mesmo outra raça de cobras, mais venenosas. A pressa, como disse a mulher experiente para seu namoradinho de dezoito anos, é inimiga da perfeição.
Collor pediu uma relação separada das gravações entre Poli e membros da quadrilha de Cachoeira. O requerimento não foi aprovado, mas decidiu-se por uma solução ainda melhor: foram requeridas todas as gravações da Polícia Federal, inclusive as não degravadas, como é o caso da maioria que envolve a Veja, de maneira que será possível, em breve, esquadrinhar a fundo as relações de setores da imprensa com o crime organizado.  O Nassif escreveu um post esclarecedor sobre o tema.
A bipolaridade da imprensalona prossegue avançando. Numa dia fala em CPI explosiva, repete frases ameaçadoras (CPI sabe como se começa, mas não como termina); no início desta semana, Noblat terminou sua coluna advertindo a presidenta:
Cuide-se Dilma para um eventual desfecho desastroso da CPI – afinal, sua base de apoio no Congresso já foi maior e mais fiel.
E agora, de repente, diz que a CPI perdeu força, que já virou pizza. Eles querem é mostrar uma jibóia gigante ao povo, e deixá-lo confuso, talvez com medo, diante da aparição absurda.
Acontece que a jibóia está viva, e pode muito bem morder o jornalista que a está filmando.
A CPI está só começando. Os parlamentares e suas equipes ainda estão estudando as toneladas de provas que compõem os inquéritos Vegas e Monte Carlo. E falta a PF entregar mais material. São vídeos, aúdios, computadores, hds, boa parte do qual ainda foi sequer vistoriado pela polícia.
Torçamos para que o máximo de informação possível caia na rede, para que a esquerdalha robótica (termo cunhado pelo blogueiro Rodrigo Vianna) possa processar a informação em suas aceleradas memórias virtuais.
Uma notícia curiosa que merece alguns comentários é o flagra no celular do Vacarezza. A mensagem do petista, enviada por SMS, e captada visualmente por um cinegrafista bem olhudo, é uma comunicação de caráter político, não tem nada demais. Vacarezza não disse nada que não seja público: a CPI pode azedar a relação entre PMDB e PT, e o governador Sérgio Cabral é um aliado do PT. Mas que foi uma trapalhada do pior tipo, isso foi. Pelo jeito, Dilma foi uma visionária ao tirar Vacarezza da liderança do governo.
Na verdade, a oposição, que politicamente está encarnada antes na mídia do que nos combalidos partidos que a representam, conseguiu marcar um importante ponto na CPI. Por semanas, os jornalões estamparam fotos e exibiram vídeos do governador Sérgio Cabral em companhia de Fernando Cavendish. As imagens não mostram nenhum crime. Cavendish era então um respeitado empresário da construção civil, cuja empresa, a Delta, tinha contratos em diversos estados, municípios e era uma das principais empreiteiras do PAC.
O código de ética do servidor público diz que ele não pode receber presentes, então o que poderia ter havido, naquele momento, era uma infração de ordem ética, caso Cavendish tenha patrocinado a festa.
Cabral acrescentou ao código de conduta a recomendação que os servidores evitem participar de eventos sociais na companhia de agentes privados que tenham contratos com o governo.
Na minha opinião, porém, não vamos resolver o problema da corrupção instituindo uma cultura de hipocrisia e segredo. Um administrador político, como é um governador, deve ter a liberdade de poder jantar com quem quiser, de preferência em lugar público. Proibir só vai empurrar esses encontros para a clandestinidade. Não é porque vai jantar ou deixar de jantar que um governador será menos corrupto, até porque possíveis negociatas nunca serão feitas em público. O código de ética orienta o servidor a não deixar que lhe paguem uma conta no restaurante, mas seria uma violação da liberdade individual do representante político proibi-lo sequer de sentar-se à mesa com empresários. Para mim, isso é um moralismo absurdo e contraproducente.
Um caso parecido é o novo escândalo ministerial envolvendo Fernando Pimentel, titular da pasta de Desenvolvimento. Ele estava na Bulgária, na companha da presidente, e teve que sair às pressas para participar de uma importante conferência em Roma, para industriais italianos. A Itália é um dos países mais industrializados do mundo, ainda é uma potência econômica, apesar de seus problemas, e a palestra de Fernando Pimentel tinha como objetivo promover o Brasil junto aos empresários italianos, tentando lhes despertar o interesse de investir em nosso país. O código de ética do servidor permite que ele use o transporte cedido por eventos deste tipo. Pimentel pegou o avião cedido por João Dória Junior e foi à Roma prestigiar a conferência, onde sua presença constava da programação. Agiu certo. Pimentel não usou um avião de empresário para ir passar férias nas praias da Sicília. A mídia mais uma vez se comportou maliciosamente. Acabamos de ver, por exemplo, que enquanto a imprensa se apegava a picuinhas como esta, tentando desestabilizar o governo, elegeu um bandido como Demóstenes Torres em “mosqueteiro da ética”. O governador Arruda, do Distrito Federal, também era um ídolo da Veja.
Enfim, mídia e oposição partidária conseguiram blindar Marconi Perillo, o único governador envolvido com o esquema Cachoeira, através das ameaças a Sérgio Cabral. É a mídia, mais uma vez, manipulando a informação em benefício de bandidos. A jibóia agradece pela exposição gratuita. Mas qualquer dia desses, ela se cansa da câmera e engole o cinegrafista…










CPI está no caminho certo

18/05/2012 OPINE!

Hora da freada de arrumação na CPMI de Cachoeira
Por Luis Nassif, em seu blog.
A CPMI fez bem em não convocar Policarpo Jr para depor. E a sessão de ontem deveria servir de lição para os próximos passos.
Nos últimos anos a perda de legitimidade da velha mídia – encabeçada pela Veja – se deveu à sua arrogância e absoluto desprezo pelas instituições e pelos preceitos legais. Foi isso que a levou à aliança com o crime organizado, à disseminação da intolerância, aos ataques desmedidos à reputação de quem atravessasse seu caminho. E são esses procedimentos que estão na raiz do profundo processo de descrédito que atinge a revista.
O que de pior poderia acontecer para todos os que querem uma mídia limpa seria a repetição dos mesmos métodos pela CPMI. Só faltava, a esta altura do campeonato, atitudes que possam ser utilizadas para vitimizar a revista ou legitimar seu álibi de que defende o país contra manobras autoritárias da esquerda.
Em que pese o clima passional e de acerto de contas que cerca toda CPMI, não se pode fugir das boas técnicas de investigação nem recorrer a qualquer método que possa ser utilizado para comprometer a credibilidade das investigações.
Por exemplo, há suspeitas fundadas de que a revista participava de um conluio criminoso com Carlinhos Cachoeira. Se há suspeitas, mesmo baseadas em indícios veementes, investigue-se antes. E existem todas as condições na própria análise do material a ser fornecido pela Polícia Federal – as 47 gravações de conversas diretas de Cachoeira e Policarpo e as infindáveis de Policarpo com outros membros da quadrilha.
Ouvidas as conversas, haverá um trabalho de relacioná-las com matérias da própria revista e com os ganhos diretos e indiretos das duas organizões: Cachoeira e Abril. Não há lógica em produzir um escândalo por dia, mas a necessidade de construir diligentemente todas as amarras que comprovem os procedimentos criminosos da revista.
Deve-se escutar, analisar e divulgar, sem pressa, sem arrogância. Se, de fato, mostrarem provas contundentes de envolvimento criminoso, que se convoque Policarpo e Roberto Civita. Mas sem colocar o carro antes dos bois. E por dois motivos: para impedir que o sentimento de vingança se sobreponha ao da justiça; e para ouvir Policarpo apenas quando se dispuser de elementos consistentes para um bom interrogatório.
Quando o senador Pedro Taques passa a engrossar a tal Bancada da Veja há alguma coisa de errado – e não propriamente com ele. Miro Teixeira e Álvaro Dias dependem umbilicalmente da aliança com a mídia para sua própria sobrevivência. Taques tem uma biografia impecável e é fundamentalmente um legalista.
A CPMI deveria amainar o espírito de vingança e ensinar à própria Veja como utilizar técnicas de investigação correta e consistentes, com direito ao contraditório e sem ceder ao clamor das ruas.
A punição de Veja ocorrerá seguindo todos os procedimentos legais e analisando-se seu papel com um senso de justiça que sempre faltou à ela própria. Baixe-se a fervura e que os parlamentares comportem-se com a dignidade que sempre faltou à revista.




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O vampiro ataca outra vez

18/05/2012 OPINE!
A sinceridade de José Serra
Por Marco Aurélio Mello, no Do Lado de Cá (Via Azenha).

Às vezes o patrão se distrai no fechamento. Noutras, o fechador não se atém muito ao que a foto informa. Ponto para o editor de fotografia, que consegue dar mais informação visual do que aquele monte de letrinhas que a foto, em tese, deveria ilustrar.Mas o mérito mesmo, neste caso, é do fotografo. Só ele pode captar o instante mágico. Neste caso, golaço do veterano Juca Varella, um dois mais importantes repórteres fotográficos em atividade no país. A foto que ilustra a pág. A10 da Folha de S. Paulo de hoje é um primor.
Um político é abraçado calorosamente por uma correligionária. Ele tenta resistir com repulsa, até mesmo certo asco. É sabido, Serra não gosta do contato físico com eleitores. Outra foto que correu o país mostra o candidato na campanha presidencial de 2010 beijando a própria mão. Veja:
Mas aqui (abaixo), Varella foi além. A foto dá dupla leitura. Induz o leitor a acreditar que, com a careca e a mão pálidas, e um meio sorriso de regozijo, o que Serra faz, na verdade, é atacar uma vítima, como faria o consagrado conde Drácula, nas clássicas cenas do cinema.
A foto é uma obra prima e traz ao fundo, de quebra, a colega jornalista Marcela Rocha, que poderia muito bem significar, distraída, a próxima vítima do político. Parabéns Varella! É difícil censurar ou manipular o trabalho de um jornalista, quando material produzido é genial! E cuidado, Marcela, ele pode estar querendo de pegar, heim! Fiquem com a foto:




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