11 maio 2012

DIREITOS HUMANOS, ECONOMIA, FUTEBOL


DIREITOS HUMANOS, ECONOMIA, FUTEBOL




A verdade, para quem mais precisa da
verdade 

Por Emir Sader, em seu Blog



O poeta alemão Bertold Brecht, em seu texto “As dificuldades para dizer a verdade” enumera uma série dessas dificulades, até concluir pela última e mais importante: fazer chegar a verdade para quem mais precisa da verdade.

Como disse a Presidenta Dilma no seu histórico depoimento no Senado, na ditadura não há verdade, só mentira. A verdade só pode existir na democracia, porque é objeto da livre vontade das pessoas de dizer as coisas como realmente säo.

O Brasil tinha uma dívida com sua democracia: dizer a verdade do que aconteceu quando a democracia foi violentada, saqueada, sangrada, por militares golpistas e por todos os que os apoiaram e se beneficiaram da aventura ditatorial. A transição democrática necessita, para se completar, da versão oficial do que realmente aconteceu quando foi instaurado o pior momento da história republicana do Brasil.

A aprovação da Comissão da Verdade - e agora a nomeação dos membros que a compõem, - coloca a democracia brasileira em condições de conhecer a verdade do que foi feito, em nome do Estado brasileiro, durante a ditadura. Como, alguns valendo-se da força selvagem, em nome dos supostos interesses da “segurança nacional”, usurparam o Estado e todo seu poder – de armas a impostos, de capacidade de espionagem à de assassinato e desaparição dos corpos das vítimas, de cerceamento da verdade e imposição da mentira – liquidaram a democracia a duras penas construída pela cidadania e impuseram o reino do terror durante mais de duas décadas no Brasil.

Precisam da verdade, antes de tudo, as vítimas e seus familiares, que têm o direito de saber o que foi feito, quais os responsáveis por tudo o que foi feito em nome do Estado brasileiro contra os que resistiam à ditadura militar. Precisam saber o destino dos seus seres queridos, encontrar seus corpos e dar-lhes a respeitosa sepultura, honrando-os para sempre como mártires da luta pela democracia no Brasil.

Precisam da verdade os meios de comunicação que não se vergaram à convocação ao golpe militar, ao apoio ao terrorismo de Estado – a sua quase totalidade naquele época -, para cumprirem com seu dever democrático de dar a informação veraz dos fatos e resgatar a liberdade democrática a toda a informação, conspurcada por órgãos de imprensa que se dobraram diante do regime de terror, prosperaram com ele e se fizeram seus porta-vozes.

Precisa da verdade, sobretudo, a democracia, que só pode existir quando passa a limpo o que foi feito dela, em nome supostamente da sua defesa. Precisa da verdade, porque a democracia só existe com a verdade e a transparência.

Os membros da Comissão da Verdade nomeados pela Presidenta Dilma tem todas as qualificações e as condições de resgatar a verdade para a democracia brasileira e podemos estar certo que farão isso. O Brasil sairá melhor do seu trabalho, que merece todo o apoio, porque a democracia não tem medo da verdade e só existe plenamente na verdade.






Dilma anuncia nomes para a Comissão
da Verdade





Brasília - A presidenta Dilma Rousseff anunciou na noite desta quinta (10) os sete nomes que vão integrar a Comissão da Verdade (CV), criada há quase seis meses para investigar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988).

São eles: José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique), Gilson Dipp (ministro do Superior Tribunal de Justiça), Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada da presidenta e do seu ex-marido durante a ditadura), Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República no governo Lula), Paulo Sérgio Pinheiro (diplomata com farta experiência em legislação internacional da ONU e da OEA), Maria Rita Kehl (psicanalista e escritora) e José Cavalcante Filho (jurista).

Confira aqui a biografia dos escolhidos

O presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-ministro dos Direitos Humanos no governo Lula, Nilmário Miranda, avalia que o conjunto vai atender perfeitamente aos objetivos da Comissão. Ele, que chegou a ter seu nome indicado por familiares dos mortos e desaparecidos da ditadura militar, elogiou cada uma das pessoas escolhidas pela presidenta, em especial os advogados José Carlos Dias e Rosa Maria, que o representaram quando sofria perseguições do regime.

“Quando meu nome foi cotado, eu mesmo afirmei que não tinha o perfil comum aos membros escolhidos para as comissões dos outros países, que é o de personalidades que não representam setores específicos. Além de que os remanescentes dos porões da ditadura começaram a criticar que a instalação da comissão se transformaria em revanchismo. Os perfis escolhidos pela presidenta evitarão estas acusações”, afirmou à Carta Maior.

O ex-ministro destacou também que a instalação da Comissão se dará em um momento de importante mobilização da sociedade civil. De acordo com ele, é a primeira vez, desde o período pré-anistia, que há movimentos de rua motivados pela causa. Além de que dois estados já instalaram comissões estaduais, em onze outros tramitam propostas de criação e há comitês e fóruns sendo montados em universidades, sindicatos e organizações civis. “Essa movimentação é muito importante, porque uma Comissão da Verdade só dá certo se contar com forte participação da sociedade civil”, observou.

O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Brito, que se destacou na luta pela criação da CV, disse que tinhas expectativas de que as indicações fossem mais ousadas. “Nós esperávamos nomes ligados à CNBB [Confederação Nacional dos Bispos do Brasil], à família do Vladimir Herzog [jornalista morto durante a ditadura] e de militantes históricos como o ex-ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda”, esclareceu.

Segundo ele, o perfil dos indicados é mais técnico do que militante. Entretanto, ressaltou que os nomes são irrelevantes diante da importância do trabalho que os membros terão a frente. “O principal é o compromisso com o nosso direito fundamental à memória e à verdade, direito já cristalizado pela legislação internacional. O importante mesmo é que a Comissão cure o Brasil da amnésia que nos impuseram ao negar a verdade histórica sobre a ditadura militar”, disse.

Ex-exilada política e representante do Comitê pela Verdade, Memória e Justiça do Distrito Federal, Iara Xavier Pereira destacou que, apesar de não haver nenhum nome que justifique um veto, se sentiu “pouco acolhida” entre os indicados. Ela criticou, principalmente, o perfil majoritariamente jurídico dos escolhidos. “Com exceção da Maria Rita, que é psicanalista, e do Paulo Sérgio, que é sociólogo, todos os demais têm formação em Direito. São pessoas não muito afeitas ao tema, sem muita intimidade. Nossa expectativa era que a CV tivesse comprometimento, bagagem e conhecimento suficiente para enfrentar as dificuldades que deverão surgir. Afinal, será um trabalho enorme para um grupo pequeno e em um curto espaço de tempo”, justificou.

Iara afirma os comitês e as associações dos familiares dos desaparecidos políticos farão uma reunião para avaliar, conjuntamente, o perfil dos indicados e, só aí, definir se apoiarão ou não a Comissão. Segundo ela, nenhum dos nomes indicados pelos familiares consta na lista. E dos nomes propostos pelos comitês, apenas o de Maria Rita Kehl.

Beatriz Affonso, representante no Brasil do Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil), entidade signatária da ação que levou a Organização dos Estados Americanos (OEA) a condenar o Brasil pelos crimes ocorridos na Guerrilha do Araguaia, disse ter muitas expectativas que o trabalho da comissão ajude a garantir justiça às vítimas do período. “A criação da CV não faz parte do resolutivo da sentença, mas temos esperanças de que possa vir a somar com o trabalho que vem sendo feito por justiça às vítimas da ditadura”, afirmou.

Ela afirmou ter ótimas referências sobre a advogada Rosa Maria, que representou não só a presidenta Dilma, como vários outros ex-presos políticos durante o regime. Entretanto, manifestou preocupação com a indicação do ministro do STJ, Gilson Dipp, que atuou como testemunha de defesa do estado brasileiro no caso Araguaia, manifestando posição favorável à interpretação da Lei da Anistia, de 1979, que favorece aos militares, perdoando-os por todos os crimes praticados. “Nos preocupa muito que pessoas com este tipo de posição estejam na lista, mas esperamos que desvinculem o trabalho que exercerão na Comissão de suas convicções pessoais”, afirmou.

A posse da comissão da Verdade ocorrerá no próximo dia 16, às 11 horas, em cerimônia no Palácio do Planalto, que, segundo o porta-voz da Presidência, Thomaz Traumann, irá contar com as presenças já confirmadas dos ex-presidentes Luís Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Fernando Collor de Mello (PTB) e José Sarney (PMDB).



Fonte: www.cartamaior.com.br




ECONOMIAECONOMIAECONOMIAECONOMIA










Juros: uma página virada?




Paulo Kliass 




Muitos analistas começam a colocar em debate a hipótese de que estaríamos vivendo, a partir das últimas semanas, uma espécie de ponto de inflexão no tratamento que a sociedade e o governo brasileiros vêm oferecendo para a questão da taxa de juros há décadas. Afinal, uma série de medidas foram anunciadas e adotadas recentemente, o que parece realmente apontar na direção de mudanças significativas nesse domínio. Dentre elas, há três elementos que merecem ser destacados.

As três medidas da mudança

O primeiro refere-se à reversão de orientação da política monetária de juros altos, a partir de uma tomada de posição mais firme por parte da Presidenta Dilma. Desde a reunião de 20 de julho de 2011 do COPOM, a taxa Selic passou a ser reduzida de forma contínua a cada 45 dias, saindo do então patamar de 12,5% a.a. para os atuais 9% a.a. E há sinais claros de que a tendência de queda poderia continuar até o final desse ano.

O segundo aspecto diz respeito a uma determinação da chefe do governo para que os bancos oficiais federais rompessem com a prática adotada até então, de seguir de forma obediente os passos da banca privada no mercado financeiro. Assim, a partir das últimas semanas, a Caixa Econômica Federal (CEF) e depois o Banco do Brasil (BB) iniciaram uma política de redução de seus “spreads” nas diversas modalidades de crédito e parecem estar baixando de fato as taxas cobradas em suas operações na ponta, junto a indivíduos, famílias e empresas.

Em terceiro lugar, Dilma resolveu encarar uma difícil – mas necessária - opção política por alterar as regras da caderneta de poupança. Conjuntura semelhante foi apresentada ao Presidente Lula em 2009 e 2010, mas ele preferiu empurrar a coisa com a barriga e a discussão não avançou à época. Isso porque as condições atuais de remuneração da caderneta de poupança, que foram pensadas para a época de inflação e juros elevados, operam agora como empecilho para redução da taxa de juros a níveis inferiores a 9% a.a.

A postura mais forte de Dilma

Além disso, de forma mais ampla, pode-se sentir uma mudança de postura de Dilma na sua relação com o próprio sistema financeiro. Ao contrário de Lula, que optou por manter à frente do BC um legítimo representante dos interesses da banca privada internacional com liberdade total de ação, ela parece ter se decidido por um acompanhamento mais detalhado da política monetária e das ocorrências no sistema financeiro de forma geral. Assim, por exemplo, têm sido as suas declarações a respeito do comportamento dos bancos privados, em sua relutância para baixar as taxas de juros. Às vésperas da comemoração do dia 1° de maio, ela fez a seguinte intervenção carregada de significado:

"É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo" (...) "A economia brasileira só será plenamente competitiva quando nossas taxas de juros, seja para o produtor seja para o consumidor, se igualarem às taxas praticadas no mercado internacional" (...) "Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos" (...) "O setor financeiro, portanto, não tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros".

Portanto, um recado bem direto e ousado, substancialmente diferente da conduta de Lula, a exemplo da famosa declaração de abril de 2005. À época, ele se saiu com um desastrado pronunciamento, quando perguntado a respeito das altas taxas de juros praticadas no País, fato criticado até mesmo por seu vice, José de Alencar. Descartando qualquer possibilidade de ação do governo nesse domínio, o ex-presidente terminou por responsabilizar apenas o povo por aquela situação. Disse:

"Ele [o brasileiro] não levanta o traseiro do banco, ou da cadeira, para buscar um banco mais barato. Reclama toda noite dos juros pagos e no dia seguinte não faz nada para mudar"

No entanto, apesar das evidências colaborarem para as análises mais otimistas, é necessário termos bastante cautela na projeção de cenários futuros. Em primeiro lugar pelo fato de que há muito pouco tempo, a própria taxa Selic chegou a permanecer em nível até mais baixo que o atual. Como não temos uma boa memória para esse tipo de registro, pouco se fala ou se noticia que, entre 23 de julho de 2009 e 28 de abril de 2010, nossa taxa oficial foi de 8,75%. Ou seja, durante 9 meses viveu-se uma situação semelhante à atual, com possibilidades objetivas para romper com a política monetária restritiva. Mas a opção de Lula foi outra e a taxa voltou a subir logo depois. No final do mandato, ele terminou passando a faixa presidencial com a Selic no nível de 10,75%.

As dificuldades para virar a página

Esse alerta é apenas para que não nos esqueçamos de que a sociedade brasileira opera como uma espécie de dependente químico de juros elevados. Isso significa que não apenas os grandes operadores do sistema financeiro contribuem e se interessam por manter juros em patamares altos. Os demais setores e classes sociais também terminam por exibir um comportamento dependente desse verdadeiro vício nacional. As classes populares e de menor renda sempre acreditaram na instituição pública da caderneta de poupança, apesar de todas as perdas e tungadas ocorridas ao longo dos tempos. Assim, mexer nas regras é sempre um risco político – ainda que as perdas ocorressem sem alteração oficial das regras e sim por meio da manipulação dos índices oficiais de remuneração. Os trabalhadores e as instituições do movimento sindical são igualmente beneficiados pelos rendimentos obtidos por seus fundos de pensão em suas aplicações financeiras. Amplos setores da classe média também se acomodaram face aos ganhos proporcionados pelos fundos de investimento e demais alternativas oferecidas pelas instituições financeiras.

Ou seja, esse quadro todo nos sugere uma formação social em que a taxa de juros elevada é uma característica integrante e importante. O dado positivo para a perspectiva mudancista é que as pesquisas de opinião apontam a simpatia da população para com medidas que reduzam as taxas. Esse é o ponto de partida para uma trajetória de maior fôlego e mais longa, que possa significar efetivamente uma histórica virada de página nesse quesito dos juros. 

E aí todos teremos que nos acomodar à nova situação e não ficar achando que 2% de remuneração anual real (descontada a inflação do período) seja muito pouco em termos de rentabilidade, como já começam a avançar alguns “especialistas” do mercado financeiro. Na tentativa de retirar credibilidade ao movimento de baixa dos juros, lança-se mão de todo o tipo de recurso: do terrorismo à baixaria.

A resistência dos bancos

Parece claro que haverá muitas dificuldades em manter essa conduta pela redução dos juros de forma definitiva. Os grandes prejudicados já começam a armar sua estratégia para inviabilizar a intenção de Dilma. Desde o primeiro momento, percebemos que os meios de comunicação repercutem e amplificam a pressão dos bancos e demais agentes do sistema financeiro, que não ficarão passivos frente às ações do governo. Que ninguém se iluda: eles tentarão resistir com unhas e dentes, ainda que sejam obrigados a eventual recuo tático aqui e ali, de acordo com a conjuntura. Foi o caso de uma declaração dura do presidente da Federação dos Bancos (Febraban) no final de abril, logo depois atenuada por outras lideranças da banca privada. Ou agora, no início de maio, outra nota pública da mesma entidade também resistindo a baixar os juros – mas no dia seguinte desmentida por dirigentes de bancos privados, que se disseram dispostos a “colaborar (sic) com o governo”. Aguardemos para ver até quando e até onde vai tal disposição.

Assim, como em outros casos de dependência crônica, o histórico do paciente recomenda cautela na euforia proporcionada por mudanças repentinas. O governo deve continuar com suas ações para desamarrar os obstáculos criados, seja pela utilização do BB e da CEF como pólos mais “saudáveis” do sistema, seja pela ampliação dos mecanismos de concorrência no setor – aumentando as condições de portabilidade dos clientes em sua escolha entre os bancos. Afinal, por mais que os números da queda sejam expressivos, ainda falta muito chão a percorrer. Por exemplo, ao longo da semana, manchetes davam conta que os juros de cheque especial teriam caído de 8% para 4% ao mês. De acordo, foi uma redução expressiva. Mas, ainda assim, a cobrança de 4% ao mês mantém embutido um “spread” elevadíssimo, tendo em vista que a remuneração que o banco oferece para o recurso depositado é pouco maior que 0,5% ao mês. E aqui nem vamos detalhar as absurdas taxas de administração dos fundos e demais serviços cobrados.

Mudança comportamental a longo prazo

Isso significa dizer que a agenda de mudanças é longa e inclui itens de natureza diversa. A sabotagem patrocinada pelos bancos pode, por exemplo, incluir a paralisia articulada na oferta de crédito, apesar da queda na SELIC e nas taxas operacionais. Ou ainda um esforço oligopolista para manter suas margens de ganho. O próprio Ministro Mantega levou mais de 6 anos, desde a sua posse na Fazenda em março de 2006, para ter uma atitude mais incisiva com relação aos abusos dos conglomerados – até então, considerados intocáveis - do sistema financeiro. Apenas há poucos dias atrás, pela primeira vez, ele resolveu ser mais claro em suas declarações: "Tenho certeza que os bancos privados vão baixar os “spreads” bancários que são muito altos no país e que é uma anomalia que tem de ser corrigida". Uma boa medida seria recomendar ao BC que faça uma revisão do projeto “Juros e “spread” bancário”, uma série de estudos anuais que foi lançado em 1999 e durou até 2010, mas que em nada resultou em termos de redução da margem de ganho das instituições sob a tutela do BC.

A experiência mais recente que a sociedade brasileira experimentou, e que nos permite algum grau de analogia com a situação atual, foi o caso da inflação crônica e elevada. Foram muitos planos de estabilização, inúmeros zeros cortados e novas moedas adotadas desde o Plano Cruzado em 1986 até o Plano Real em 1994. Apesar dos equívocos dos planos de ajuste, é inegável que a sociedade sancionava, a cada momento, a retomada da inflação e a indexação absoluta. Ao que tudo indica, a nossa dependência crônica para com a inflação já foi superada, depois de 18 anos de vigência do Plano Real. A memória inflacionária foi razoavelmente debelada e os agentes econômicos conseguem se comportar de maneira distinta daquela irracionalidade dos momentos pré-hiperinflação, com dolarização ou remarcação diária de preços. 

Cabe agora serem criados os padrões comportamentais e culturais de uma vida de negócios e em sociedade diferente, que seja marcada pela aceitação generalizada de índices menores de rentabilidade e remuneração dos ativos. Mas essa mudança requer paciência, persistência e muita luta. E, principalmente, muita resistência e enfrentamento aos futuros saudosistas dos tempos de algumas horas atrás, marcados por elevadas taxas de juros e muito ganho fácil na esfera estéril da especulação, essa área de proliferação do financismo parasita.


Fonte: www.cartamaior.com.br




CONJUNTURA ECONÔMICA




O capital se faz em casa




Ciro Gomes, no sítio da Revista CartaCapital 





Já comentei aqui que uma das premissas do êxito civilizatório é a existência de altos níveis domésticos de poupança vinculada ao investimento.
O que não devemos deixar de enfatizar, entretanto, é que, ao contrario da intoxicação ideológica ainda disseminada entre nós, a taxa interna de poupança das nações não é conseqüência fatalista das forças do acaso. É, claramente, conseqüência de arranjos institucionais que a POLÍTICA, e só ela, é capaz de fazer – repetirei.

Foto: 401K/Flickr
Duas negativas para entrarmos numa proposta de como o Brasil poderia sair dos atuais níveis precários de investimento (menos de 19% do PIB) para taxas mais altas no tempo; mas, pelo menos, e com urgência, para algo ao redor de 23% ou 24% do PIB, os quais, imagino, lastreariam uma taxa sustentável de crescimento acima dos críticos 5 % necessários para cobrir os ganhos de produtividade, e incorporar os ainda cerca de um milhão e meio de jovens que, por ano, chegam ao mercado de trabalho procurando seu ansiado primeiro emprego.
A importantíssima e perigosa (para ela) cruzada da presidenta Dilma Rousseff contra a usura e o rentismo tem que ser apoiada. Por uma questão muito simples: num país onde a taxa de juros que o governo paga pela manutenção de excedentes financeiros é maior que a rentabilidade media dos negócios, a economia tende a parar.
Óbvio ululante, pois quem tem dinheiro prefere especular, sem produzir, porque ganha mais e quem não tem dinheiro – caso da maioria esmagadora de nossos empreendedores – não pode tomar emprestado pra produzir, e ganhar menos que os juros a pagar ao banco. Dedicarei um espaço destes a esta conjuntura, proximamente.
Por isto será referencia para a história se este momento (melhor, esta tendência) for pra valer, como creio que possa ser.
A primeira consequência será uma migração de ativos da agiotagem para negócios mais rentáveis.
A classe média vai pensar agora em usar sua pequena poupança para comprar imóveis e, quem sabe no futuro, passar a crer em capitalização de empresas, por exemplo. Isto é historicamente muito bom, mas ainda não é a construção de uma cultura de poupança e  investimento  para o País.
A outra negativa faço com muito cuidado. E deriva de uma de muitas conversas com o grande brasileiro e patriota professor Carlos Lessa. Em tempos de crise e estagnação econômica o governo deveria pagar aos trabalhadores para abrirem buracos e, ato contínuo, pagar para eles taparem os buracos; em tradução grosseira, Keynes demonstraria nesta frase, a ele atribuída, o fato de que quem promove desenvolvimento é o gasto, o investimento – e não a poupança, emenda cheio de sabedoria Carlos Lessa. Isto foi dramaticamente verdadeiro na experiência de Roosevelt no New Deal. E seria muito conveniente no Japão e na Europa de hoje.
Mas a experiência nacional desenvolvimentista brasileira, lastreada na fundação do endividamento brasileiro (ou seja, na tentativa de acelerar o desenvolvimento do País sem a construção de uma institucionalidade que assentasse nossa sorte em nosso próprio capital) deu no que deu: é verdade que temos a 15ª economia industrial do mundo, mas também temos uma das piores distribuições de renda e um passivo externo que, de tempos em tempos nos prega grandes sustos (temo estarmos, a médio prazo, nos aproximando de outro).
Não sendo eu um economista, posso ser herege. O capital dos outros é tão bem-vindo quanto menos dele necessitarmos. A finança internacional funciona igual dono de banco: quanto menos dele precisamos, mais solícitos são, quanto mais dele precisamos…está em reunião, não pode nos atender.
Assim, ter lastro próprio em alto nível doméstico de poupança é condição sine qua non para participarmos de forma sustentável de um naco da poupança financeira internacional.
Sem se falar da absoluta impossibilidade ainda (e, creio, por muito tempo) de praticarmos déficits orçamentários, mesmo com a melhor intenção de acelerarmos, baseado neles, nosso desenvolvimento. Peculiaridades de nossa história.
Estou que nem Padre Vieira no início de seus belíssimos e intermináveis sermões: desculpem, não posso ser breve.
Feitas as negativas, pretendo propor à discussão algumas pistas para que pudéssemos elevar nossa taxa interna de poupança.
E tenho pra mim que o centro desta institucionalidade nova tem a ver com a forma como organizamos nosso modelo tributário, com a forma com que tratamos nossa lógica previdenciária, com o modo como organizamos nosso mercado de capitais, com o formato tosco de nossa contabilidade pública, e, em última análise, com a cultura de parcimônia e austeridade que nos falta amplamente, na vida privada e, especialmente, na vida pública.
Do mais simples, embora nada trivial, ao mais complexo.
A contabilidade pública. À falta de qualquer planejamento, de curto prazo que seja, a conta pública brasileira é feita pelo ano fiscal que coincide com o ano civil. E nos obrigamos como dogma de fé – depois das sucessivas maluquices do período de Fernando Henrique – a produzir ex ante ,um superávit primário calculado pela simples diferença entre o que arrecada o governo e o que gasta, exceto serviço da dívida. Ponto.
É hora já de corrigirmos esta absoluta falta de senso. Um exemplo melhor que mil palavras: manter preventivamente um quilômetro de estrada custa de 10 a 15 mil dólares por ano. Não o fazemos por “economia”. Aí deixamos as estradas federais se destruírem, matar pessoas, encarecer por 4 vezes o custo do frete rodoviário do País em comparação com o concorrente internacional, para reconstruir a mesma estrada, quatro anos depois, por 200 mil dólares o quilômetro – ou seja, economizamos na melhor hipótese, 60 mil dólares para nos obrigarmos a gastar 200 mil dólares. Que economia é esta?
Foi assim no apagão do setor elétrico, é assim na contabilidade dos juros (o maior gasto corrente do País).
Com a paciência de meus queridos leitores, vamos continuar nesta tecla pelos próximos textos, se uma conjuntura comovente não nos interromper.

Observação do blog: Há quem não goste de Ciro Gomes. Mas, não se pode negar, o cara faz umas
análises bastante pertinentes e oportunas.



L





PAR OU ÍMPAR 


José Roberto Torero




No futuro pode ser que o Brasil também seja um destes países que têm apenas dois clubes que disputam o título nacional. Assim como na Espanha somente Real Madrid e Barcelona brigam pelo título, dentro de algum tempo poderemos ter Flamengo e Corinthians dominando amplamente o futebol nacional. 

Por quê? Por causa da tevê. Ou melhor, por causa do dinheiro da tevê e da exibição concentrada.

Comecemos pelo dinheiro.

Recentemente os clubes fecharam acordos individuais com a Globo. Como Flamengo e Corinthians têm maiores torcidas, receberão mais de R$ 100 milhões por ano. Os valores vão caindo para os outros times, e, mesmo entre os grandes, há quem ganhará menos da metade do que recebem Mengo e Timão. 

O problema é que não importa se estes dois times de massa estarão jogando bem ou não. Ou seja, não há meritocracia. E poderia haver, para incentivar os pequenos e para premiar as boas campanhas, permitindo que clubes como o Figueirense e o Atlético Goianiense, que foram bem no ano passado, não percam muitos jogadores no fim do Brasileiro.

Um exemplo interessante de se observar é o modelo inglês, que recentemente foi adaptado pela UEFA. No campeonato da Ilha, metade do dinheiro vindo da tevê é dividido igualmente entre os times. E a outra metade é repartida segundo critérios como o ranking e o mercado consumidor do clube.

Mas há ainda um outro problema. A concentração de exibição.

A Globo passa muito mais jogos de Corinthians e Flamengo do que dos outros clubes. Claro que eles têm mais torcedores e merecem aparecer mais. Mas não tão mais.

No primeiro turno do campeonato nacional, por exemplo, serão vistos oito jogos do Corinthians. Santos e Palmeiras, depois de reclamarem, deverão ficar com três partidas apenas. Menos da metade. E algo parecido deve acontecer com o Flamengo. O rubro-negro terá pelo menos o dobro do número de jogos transmitidos de Fluminense, Botafogo e Vasco. 

Obviamente um time mais exposto conquistará mais torcedores. Tendo mais torcedores, arrecadará mais dinheiro da tevê. E tendo mais dinheiro poderá trazer melhores jogadores. 

Sem falar que um time mais exposto também pode pedir mais dinheiro de publicidade.

No caso desta centralização da exibição, novamente poderíamos ter uma certa meritocracia, com a tevê mostrando os times em melhores posições. 

Lembro que o campeonato italiano já teve algo semelhante, com os jogos transmitidos sendo os que tinham equipes melhores colocadas, aquelas que somavam mais pontos. Claro que este não deve ser o único critério, porque um jogo entre os já citados Figueirense e Atlético Goianiense talvez não trouxesse grande público. Mas é preciso encontrar um equilíbrio. Mesmo porque os torcedores de outros times podem querer ver o espetáculo do futebol, e não apenas os clubes de maior torcida.

Em resumo, a tevê faz com que caminhemos para uma grande concentração de renda no futebol, e isso pode destruir justamente um dos fatores que fazem nosso campeonato nacional ser tão interessante: a imprevisibilidade. 
Se depender dos atuais critérios de pagamento e exibição, em breve o Brasileirão pode virar um campeonato de par ou ímpar.


Fonte: www.cartamaior.com.br 












RECORDAR É VIVER















E por falar em Mensalão...

...recordar é viver (05/04/2011).



Quando os tubarões brigam, o povo ganha.

O Opportunity, banco de Daniel Dantas, emitiu nota considerando idiota a reportagem da revista Época, ao considerá-lo fonte de pagamentos ao governo, no chamado "mensalão", pois desde que o governo Lula assumiu, o seu banco não teve mais a "generosidade" encontrada no governo FHC, e precisou enfrentar as barras da lei.

Dessa vez, e só desta, temos que concordar em parte com Dantas. A CPI dos Correios apurou que a Telemig Celular e a Amazônia Celular, pagou R$ 152 milhões às empresas de Marcos Valério. A Brasil Telecom, R$ 4,7 milhões. Se esse dinheiro foi para políticos, não foi para o governo Lula (hostil às investidas de Dantas), e sim para a bancada de Dantas, no Congresso ou nos estados.

Mas o curioso é o final da nota: "Na Telemig, segundo informações prestadas à CPI do Mensalão, a maioria dos recursos eram repassados as Organizações Globo. Por isso, a apuração desses fatos fica fácil de ser feita pela Época".

Se o "mensalão" da Telemig foi para a Globo, alguém não contabilizou todo o valor.







Fonte: Blog DoLaDoDeLá 

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