Jânio de Freitas, no jornal Folha de São Paulo
O choque de objetivos se complica e se acirra entre Marina Silva e Eduardo Campos no PSB. Os grupos de ambos acusam a existência apenas de intrigas da imprensa, mas Eduardo Campos e sua corrente partiram para iniciativas que os recuperem da noticiada perda de força na sua relação com Marina Silva. Tudo sugere, porém, que as iniciativas adotadas não levarão ao resultado pretendido, e, sim, à permanência mais agravada do choque.
A maneira como Eduardo quis invalidar a recusa de Marina a apoiar a recandidatura de Geraldo Alckmin –doou ao PSDB uma secretaria e um cargo de segundo nível no governo de Pernambuco– nem arranhou a intenção da Rede de lançar candidato próprio em São Paulo. E, atraindo peessedebistas de Aécio Neves para a sua candidatura, leva o comando nacional do PSDB a reagir com a proibição de acordos estaduais sem a sua concordância prévia. O que pode trazer danos indiretos ao PSB em outros Estados.
O entendimento com o PSDB de Pernambuco, sem entendimento a respeito com Marina, teve a desculpa de ser ato do governo. Já a planejada reunião, na próxima sexta-feira, de dirigentes do PSB sem a participação de Marina, tem, por si só, um ingrediente inegável de animosidade. E vai muito além disso, com os já antecipados propósitos de acelerar o compromisso de apoio à recandidatura de Alckmin e cravar Marina Silva como candidata a vice de Eduardo Campos.
Por ora, o pretendido avanço da corrente de Eduardo Campos parece pouco para demover Marina Silva de suas posições e propósitos. Mas suficiente para criar novos embaraços na relação em que Eduardo Campos ainda está por demonstrar algum ganho com sua apressada criação do PSB-Rede.
CRIMINOSOS
É esperada para hoje a divulgação do gordo dossiê que denuncia ao Tribunal Penal Internacional os crimes de morte, tortura e brutalidades sexuais cometidos por militares do Reino Unido, sobretudo ingleses e australianos, durante seis anos no Iraque ocupado. Se o tribunal tiver, enfim, a decência de efetivar um processo contra chefes políticos e militares de uma potência ocidental –o que a melhor imprensa europeia acha improvável– veremos ministros e generais ingleses nos bancos dos réus.
Em certa medida, seria uma satisfação moral dada também ao Brasil. Quando se fala, aqui, dos crimes da ditadura, os ingleses jamais são citados. Muitos dos métodos torturantes de interrogatório e castigo aqui usados foram criados pela associação de ingleses e israelenses, como as maneiras de desestruturar mentalmente o preso, muitas vezes de modo irreversível. A exemplo das celas com sons altos e iluminação permanentes. Além das torturas físicas. Tudo adotado pelos ingleses para aplicar contra os irlandeses na segunda metade do século passado.
SEM IRONIA
Em carta de ontem no Painel do Leitor, o desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, de Belo Horizonte, queixa-se dos leitores que o criticaram por sua carta anterior, contra a ministra Maria do Rosário, Paulo Sérgio Pinheiro, contra mim "e outros tantos admiráveis defensores dos direitos humanos no Brasil", por criticarmos as monstruosidades em presídio maranhense. Apenas, diz ele agora, "indaguei, com ironia, o que esses 'paladinos dos direitos humanos' têm a oferecer além de retórica e tinta de impressora".
Que coisa feia, um desembargador mentiroso. Leitores o criticaram por escrever, isso sim, a bobice de que cada um dos citados levasse "para casa um preso carente de direitos humanos". Sua carta nada "indagou", ou, em resposta, eu lhe ofereceria uma sugestão: tomar conhecimento da Constituição brasileira.
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