17 janeiro 2014

A PONTE

Eduardo Campos e a Ballotage


Por Theófilo Rodrigues, em seu blogue
Janeiro de 2014. Faltam cerca de nove meses para as eleições presidenciais no Brasil e até o momento três candidatos competitivos despontam no cenário político nacional: Aécio Neves (PSDB); Dilma Rousseff (PT); e Eduardo Campos (PSB). Se por um lado é intuitivo apontar o favoritismo da candidata à reeleição Dilma Rousseff, por outro ainda há uma certa imprevisibilidade sobre se haverá segundo turno.
No Brasil, a eleição presidencial – bem como a de prefeitos e governadores – é realizada através da Ballottage, ou, em nossas palavras, do escrutínio de dois turnos. Caso nenhum dos candidatos alcance 50% dos votos válidos no primeiro turno os dois melhores votados disputam um segundo turno. Esse sistema de Ballottage, nascido na França de Napoleão III e importado para a margem de cá do oceano, garante que apenas um governante com real maioria da sociedade seja eleito. Reforça, portanto, em grande parte a representatividade e a governabilidade, ainda que muitas vezes não seja o suficiente.
Há certo consenso dentre os analistas políticos de que, caso haja segundo turno nas eleições presidenciais desse ano, uma das duas vagas estará com Dilma Rousseff. Mas e a outra vaga? Bem, até o momento Aécio Neves parece possuir vantagem sobre Eduardo Campos na corrida por essa segunda vaga. Além de possuir enorme vantagem sobre Campos no sul e sudeste – o PSDB governa hoje importantes estados do ponto de vista eleitoral como São Paulo, Minas Gerais e Paraná – Aécio conta ainda com um partido nacional bem estruturado, enorme capacidade de captação de recursos financeiros e simpatia dos grandes meios privados de comunicação.
Ainda que tenha conquistado um apoio de peso para sua chapa presidencial com a entrada da ex-candidata Marina Silva e como consequência ampliado suas fontes de recursos privados – Marina traz consigo o banqueiro Roberto Setúbal dono do Itaú – a vida de Campos não será fácil. O governador de Pernambuco ainda não conta com um partido nacionalmente forte e estruturado capaz de lhe oferecer palanques competitivos em todos os estados. Razões que indicam a maior possibilidade da segunda vaga estar com Aécio Neves num possível segundo turno.
A questão que assim se coloca é: caso haja um segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, para onde irá Eduardo Campos? Qual dos dois o pernambucano apoiará?
Considerada apenas a coerência política, programática e ideológica o PSB rumará com o PT num segundo turno. Os dois partidos estiveram juntos desde a primeira eleição de Lula em 1989 e dentre as lideranças do PSB está Roberto Amaral, vice presidente nacional do partido e um dos maiores quadros da esquerda brasileira, adversário feroz dos tucanos. Além disso, nada de tão grave ocorreu até agora para que os dois históricos aliados se distanciem.
Contudo, reparem bem no “até agora”.
A inacreditável carta publicada em uma rede social do PT em que o partido ofende Campos com adjetivos diretos como “tolo” e indiretos como oportunista e traidor não contribuem para essa aliança no segundo turno. Pelo contrário, ampliam a tensão dos nervos e abrem brechas para Aécio posicionar-se solidariamente ao lado do pernambucano.
Os dirigentes, líderes, militantes e aliados do PT devem se preocupar mais com a Ballottage. A política não deve ser feita apenas com a temperatura da paixão, mas também com a frieza da razão. Se o apoio de Campos e do PSB num segundo turno são desejáveis, então que mirem suas baterias para seus verdadeiros inimigos: Aécio Neves e o PSDB. Do contrário estarão apenas colocando um tapete vermelho para o embarque do velho aliado na nau tucana.
 
(Extraído do O Cafezinho, de Miguel do Rosário)
 
 
 

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