30 outubro 2012

ELEIÇÕES, UM BALANÇO






Um balanço das eleições municipais

Emir Sader, no Blog do Emir




As eleições municipais foram sobredeterminadas pelas eleições de São Paulo. Em primeiro lugar porque é o centro dos dois partidos mais importantes do Brasil nas últimas duas décadas. Em segundo, pelo peso que a cidade tem no conjunto do país – pelo seu peso econômico, por ser sede de dois dos 3 maiores jornais da velha mídia. Esse caráter emblemático foi reforçado porque o candidato opositor ao governo federal foi o mesmo candidato à presidência derrotado há dos anos, enquanto o candidato do bloco do governo federal foi indicado pelo Lula, que se empenhou prioritariamente na sua eleição. E pelo fato de que São Paulo era o epicentro do bloco da direita, que se estendia ao Paraná, Santa Catarina e aos estados do roteiro da soja, no centro oeste do Brasil

As eleições municipais tiveram claros vencedores e derrotados. O maior vencedor foi o governo federal, que ampliou o numero de prefeituras conquistadas pelos partidos que o apoiam, mas principalmente conquistou cidades importantes como São Paulo e Curitiba, arrebatadas ao eixo central da oposição. Ao mesmo tempo que a oposição seguiu sua tendência a se enfraquecer a cada eleição, ao longo de toda a ultima década, perdendo desta vez especialmente a capital paulista, mas também a paranaense e em toda a região Sul, Sudeste e Centro Oeste, em que os tucanos não conseguiram eleger nenhum prefeito nas capitais.

No plano nacional, avança claramente a base aliada, com dois dos seus partidos fortalecendo-se: PT e PSB e enfraquecendo-se relativamente o PMDB. Houve uma certa fragmentação no interior da base aliada e mesmo no bloco opositor, mas nada que mude a tendência, que se consolida ao longo da década, da hegemonia do bloco governamental, apontando a que nas eleições de 2014 Dilma apareça como a franca favorita,

A eleição de São Paulo se dá na contramão da tendência que se havia consolidado nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, em que o Nordeste, de bastião da direita, se havia tornado bastião da esquerda, pelo voto popular dos maiores beneficiários das politicas sociais que caracterizam o governo federal desde 2003. Por outro lado, se havia deslocado o bastião da direita para os estados mais ricos do sul, do sudeste e do centro-oeste, com São Paulo – onde os tucanos tinham a prefeitura e o governo do Estado – como eixo fundamental desse bloco opositor.

A derrota em São Paulo, a nova derrota do seu ex-candidato duas vezes à presidência e a incapacidade de eleger sequer um prefeito em toda essa região, demonstra como a direita se enfraquece também onde concentrava seu maior apoio.

Por outro lado, somando erros do PT e campanhas com forte apoio de governos estaduais que detem, aliados do governo derrotaram o PT em várias cidades importantes entre elas Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza, como as mais significativas. Somente em um caso – Salvador – essa derrota se deu para a direita. Revela erros – em alguns casos gravíssimos do PT, como Salvador e Recife – do PT e limitações da ação de Lula e de Dilma para compensar esses erros. Um grande chamado de atenção sobre fraquezas do PT, sem que afete em nada a projeção eleitoral presidencial para 2014.

A derrota em São Paulo é um golpe duro para os tucanos, que sempre contavam com um caudal grande de votos paulistas para ter chances de compensar os votos do nordeste dos candidatos do PT e agora se veem enfraquecidos em toda a região onde antes triunfavam. Eventuais candidatos presidenciais como Aécio – quase obrigado a se candidatar, embora com chances muito pequenas de um protagonismo importantes, quanto mais ainda de vencer – ou Eduardo Campos – sem possibilidades de se projetar como líder nacional foram dos marcos do bloco do governo, que já tem Dilma como candidata para 2014 -, são objeto de especulações jornalísticas, à falta de outro tema, mas tem reduzidas possibilidades eleitorais.

O julgamento do processo no STF contra o PT foi um dos temas centrais de Serra e revelou sua escassa influência eleitoral diante da imensidade dos problemas das cidades brasileiras e do interesse restrito da população, apesar da velha mídia tentar fazer dele o tema central do Brasil. Nas urnas, o povo demonstrou que sua transcendência é muito restrita a setores opositores e à opinião publica fabricada pelos setores monopolistas da velha mídia. Os implicados no julgamento ao basicamente dirigentes paulistas do PT, mas a eleição em São Paulo demonstrou como o julgamento e a influência da velha mídia continuam a ser decrescentes.

Outros temas podem ser analisados a partir do resultado eleitoral, mas eles não alteram em nada fundamental o transcurso da politica brasileira, que segue centrada em torno da resistência do governo aos efeitos recessivos da crise capitalista internacional, para elevar os índices de crescimento da economia e seguir expandindo as políticas sociais.



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A força dos governos estaduais nas eleições
municipais


Vinícius Mansur


Brasília - A tentativa de um olhar nacionalizado sobre as eleições municipais, apesar de extremamente válida e necessária, pode esconder a importância dos governos estaduais no processo. Um levantamento feito pela Carta Maior demonstra que em 16 dos 26 estados do país os partidos dos governadores são os líderes em número de prefeituras conquistadas em 2012.

São eles: Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo.

Dentre os outros 10 estados, em 6 os partidos dos governadores alcançaram a segunda colocação: Acre, Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Norte,Santa Catarina. Em outros 2, Rio Grande do Sul e Tocantins, eles ficaram em terceiro. Em Sergipe, o partido do governador Marcelo Déda (PT) ficou em quarto. Na Paraíba, o PT, do governador Ricardo Coutinho, ficou apenas em nono, apesar de ganhar a capital João Pessoa. 

O levantamento não inclui o número total de candidatos que, ainda que sendo de outras siglas, venceram com o apoio do governador, dado que provavelmente ampliaria em muito o peso dos governadores. 

Outro dado não levantado, que neste caso ajudaria a contrabalancear o peso da máquina estadual, seria o número de eleitores governados por partido em cada estado. Afinal, o fato de ter o maior número de prefeituras não implica necessariamente em governar o maior número de eleitores. O caso de São Paulo é emblemático. O PSDB, que governa o estado há 18 anos, conquistou 27%, ou 175, das 645 prefeituras paulistas. O PT, porém, com apenas 10,5% das prefeituras, ou 68, entre elas a capital, governará 45,21% do eleitorado.

O levantamento confirma um senso comum: a máquina estadual influi mais sobre os municípios menores, enquanto as capitais tem mais independência.

Nos 16 estados onde os partidos dos governadores alcançaram a liderança em número de prefeituras, somente em 7 capitais ganharam os candidatos do seu partido ou apoiados pelo governador: Macapá, Fortaleza, Belo Horizonte, Belém, Recife, Rio de Janeiro e Boa Vista. Nos outros 10 estados, somente em 4 os governadores conseguiram emplacar seus candidatos em capitais: Rio Branco, Maceió, João Pessoa e Florianópolis. 

Também é interessante notar a capacidade de cada partido em transformar seu poder estadual em municipal. O PSB é líder em número de prefeituras em todos os 5 estados que governa. O PSDB também é líder em 5, porém governa 8. O PMDB lidera em 4 dos 5 estados que dirige. O PSD está na dianteira em 1 dos 2 estados que comanda. O DEM tem 1 estado, mas não é o líder. Já o PT é o primeiro em apenas 1 de seus 5 estados, demonstrando que, apesar do crescimento, ainda tem grandes dificuldades de se interiorizar. 

Confira os16 estados onde os partidos dos governadores são líderes

Amapá
O PSB, do governador Camilo Capiberibe, não tinha nenhuma prefeitura e passou a ter 3, empatando com o PT na liderança. Após muito relutar, o partido ainda apoiou o vencedor do 2º turno da capital Macapá, Clécio Luís (PSOL). O estado tem 16 municípios apenas. Em terceiro está o PMDB com 2 prefeituras.

Amazonas
O PSD, partido do governador Omar Aziz, saiu do zero para chegar a 23 prefeituras. O partido, entretanto, apoiou a candidata do PCdoB na capital Manaus, derrotada pelos tucanos. Em segundo está o PMDB, que caiu de 24 para 18. O PDT está em terceiro com 4.

Bahia
O PT, do governador Jaques Wagner, ainda que tenha perdido o 2º turno na capital Salvador, saltou de 65 para 93 prefeituras no estado. Em segundo está o PSD, com 70, e em terceiro o PP, que saiu de 37 para 52.

Ceará
O PSB, do governador Cid Gomes, passou de 22 para 40 prefeituras, ganhando inclusive a capital Fortaleza, há 8 anos governada pelo PT, partido que tem o segundo maior número de prefeituras no estado: passou de 14 para 30. O PSD vem em terceiro com 27.

Espírito Santo 
O PSB, do governador Renato Casagrande, passou de 13 para 23 prefeituras. O partido, porém, apoiou a candidata petista na capital Vitória que sequer avançou ao 2º turno. A ilha será governada pelo PPS. O PMDB está em segundo, caindo de 22 para 14. O PDT vem em terceiro, passando de 3 para 8. 

Maranhão
O PMDB, da governadora Roseana Sarney, pulou de 16 para 47 prefeituras. A capital São Luiz, entretanto, foi ganha pelo PTC, sem apoio do PMDB. Em segundo vem o PRB, que passou de 10 para 24. Em terceiro, o PV, com 20 prefeituras, uma a mais do que em 2008.

Mato Grosso do Sul
O PMDB, do governador André Puccinelli, caiu de 27 para 23 prefeituras, mas segue na liderança no estado. Em seguida, PSDB e PT aparecem com 12 prefeituras, sendo que na eleição passada os tucanos tinha alcançado 11 e os petistas 10. Na disputa da capital Campo Grande, entretanto, o PMDB foi derrotado pelo PP.

Minas Gerais
O PSDB, que governa o estado de forma ininterrupta desde 2003, ganhou 142 prefeituras, 15 a menos do que as 157 conquistadas em 2008. O PMDB passou de 118 para 119. Em terceiro está o PT, que saiu de 109 para 115. O PSB triunfou na capital Belo Horizonte com o apoio dos PSDB.

Pará
O PSDB, do governador Simão Jatene, saltou de 12 prefeituras em 2008 para 32 em 2012, incluindo a capital Belém. O PMDB caiu de 39 para 28, mas está em segundo lugar. O PT baixou de 27 para 24 e está em terceiro. 

Paraná
O PSDB, do governador Beto Richa, passou de 40 para 76 prefeituras. A capital Curitiba, entretanto, foi ganha pelo PDT (um ex-tucano, Gustavo Fruet), sem o apoio do PSDB. O PMDB está em segundo, mesmo com a queda vertiginosa de 136 para 56. O PT vem em seguida, passando de 32 para 40.

Pernambuco
O PSB, do governador Eduardo Campos, passou de 47 para 58 prefeituras, incluindo a capital Recife. O PTB caiu de 31 para 25, mas é o segundo partido no ranking. O PSD vem logo após, com 21.

Piauí
O PSB, do governador Wilson Martins, pulou de 38 para 53 prefeituras. O partido, entretanto, apoiou o candidato derrotado pelo PSDB na capital Teresina. O PTB é o segundo partido com mais prefeituras, mesmo caindo de 72 para 41. O PMDB é o terceiro, baixando de 35 para 25. 

Rio de Janeiro
O PMDB, do governador Sérgio Cabral, é o líder, ainda que tenha diminuído seu controle de 35 para 22 prefeituras. O partido ganhou também a capital. O PT é o segundo, crescendo de 7 para 10. O PP é o terceiro, caindo de 14 para 8.

Rondônia
O PMDB, do governador Confúcio Moura, passou de 12 a 15 prefeituras sob seu comando. Em seguida vem o PP, que pulou de 2 para 8, e o PT, que passou de 3 para 6. A capital Porto Velho foi vencida pelo PSB sem o apoio do PMDB.

Roraima
Apesar da queda de 8 para 4 prefeituras, o PSDB, do governador José de Anchieta Júnior, é o partido com mais governos municipais no estado. O PR é o segundo, ampliando de 2 para 3, e o PMDB o terceiro, passando de 1 para 2. Roraima tem apenas 15 municípios. A capital Boa Vista foi ganha pelo PMDB com apoio do PSDB.

São Paulo
O PSDB, que governa o estado a 18 anos, se mantém em primeiro, apesar da queda de 202 para 175 prefeituras. Em segundo está o PMDB, que subiu de 68 para 90, e em terceiro o PT, que passou de 60 para 68, incluindo aí capital do estado.

10 estados onde os partidos dos governadores não preponderam

Acre
O PT tem 4 mandatos de governador consecutivos, porém perdeu a hegemonia em número de prefeituras. De 11, em 2008, passou para 5 em 2012, ficando em segundo no estado, atrás do PSDB, que lidera 6 das 22 prefeituras. Em terceiro vem o PMDB com 4. O PT, entretanto, manteve o controle da capital Rio Branco. 

Alagoas
O PSDB, partido do governador Teotônio Vilela, passou de 13 para 19 prefeituras, ficando atrás apenas do PMDB, que passou de 19 para 25. Entretanto, o PSDB ganhou a capital Maceió. O PP vem em terceiro, caindo de 22 para 15. Já o PSD, que não tinha nenhuma, tem 8.

Goiás
O PSDB, do governador Marconi Perillo, manteve exatamente o número de prefeituras conquistadas no pleito anterior: 52. Os tucanos perdem, por pouco, para o PMDB, que mantém a liderança mesmo caindo de 59 para 57 prefeituras. Em terceiro vem o PSD, com 21. O desempenho do PSDB é considerável, tratando-se do principal governador afetado pelo escândalo Cachoeira. Na capital Goiânia, entretanto, a vitória foi do PT. 

Mato Grosso
O PMDB, partido do governador Silval Barbosa, é o segundo no ranking de prefeituras, mas apresentou um crescimento de 21 para 29. Quem lidera é o PSD, com 39. Em terceiro está o PR, que caiu de 32 para 14. Na prática, entretanto, os 3 partidos estão alinhados ao comando do senador Blairo Maggi (PR). Barbosa era vice do ruralista e já considerado maior produtor de soja do mundo, que deixou o governo em 2010 para se candidatar ao Senado. Maggi tem relação íntima com o PSD, partido que congrega grande parte dos representantes do agronegócio e tem como líder a senadora Kátia Abreu, e os rumores sobre sua ida para o partido são constantes. O controle da capital Cuiabá ficou com o PSB, que foi apoiado pelo PR.

Paraíba
O PT, do governador Ricardo Coutinho, ganhou apenas 5 prefeituras, perdendo uma com relação as conquistas de 2008. Porém, elegeu o prefeito da capital João Pessoa. Na liderança estão o PMDB, que se manteve com 58, em segundo está o PSB, que passou de 11 para 35. O PSDB é o terceiro, mesmo tendo caído de 41 para 28.

Rio Grande do Norte
A única governadora do DEM no Brasil, Rosalba Ciarlini, não conseguiu emplacar a liderança nas prefeituras do estado, mas seu partido é o segundo, passando a controlar 24 municípios, ante os 17 conquistados na eleição anterior. A capital foi ganha pelo PDT sem o apoio do DEM. Em primeiro vem o PMDB, que subiu de 37 para 50. Em terceiro está o PSD, com 21.

Rio Grande do Sul
O PT, do governador Tarso Genro, é o terceiro partido em número de prefeituras, passando de 61 para 72. Em primeiro vem o PP, que caiu de 146 para 136, e em segundo está o PMDB, que caiu de 143 para 132. A capital Porto Alegre foi ganha pelo PDT sem o apoio do PT.

Santa Catarina
O PSD, do governador Raimundo Colombo, é o segundo partido com mais prefeituras: 54, incluindo a capital Florianópolis. Em primeiro vem o PMDB, que caiu de 109 para 106, e, em terceiro, o PP, que caiu de 56 para 46.

Sergipe
O PT, do governador Marcelo Déda, é apenas o 4º partido em número de prefeituras, continuando com 7, assim como em 2008. Em primeiro vem o 
PSD, com 12. Em segundo o PSC, que subiu de 8 para 11. Em terceiro o PSB, que caiu de 11 para 10. A capital Aracajú foi ganha pelo opositor DEM.

Tocantins
O PSDB, do governador Siqueira Campos, é a terceira força do estado, passando de 16 para 20 prefeituras. Em primeiro vem o PSD, com 31, e em segundo o PMDB, que caiu de 38 para 24. A capital foi ganha pelo PP sem o apoio do PSDB. 


Fonte: Agência Carta Maior




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