16 julho 2012

POLÍTICA


Cesar Maia ronda os quartéis



Maurício Dias, na Revista CartaCapital  


Festa nordestina. Até aqui a vã tentativa de imitar Carlos Lacerda. Foto: Reprodução
Nas últimas semanas, o ex-prefeito carioca Cesar Maia assumiu de vez o papel de carpideira de quartéis, para citar expressão usada, nos anos 1960, para identificar políticos envolvidos em golpes militares. Maia tem agido assim. Sistematicamente, vem fazendo denúncias contra ações do governo da presidenta Dilma Rousseff. Para isso ressuscita fantasmas usados contra o presidente Goulart, derrubado no golpe de 1964.
Maia adapta frases adequadas, a uma “guerra fria” inexistente. Os argumentos dele baseiam-se em decisões do governo interna e externamente. Neste último caso, preferencialmente, sobre as relações institucionais amigáveis do Brasil com a Cuba de Fidel, fantasma de outros tempos, e a Venezuela de Chávez, fantasma recente. Dois exemplos publicados no blog dele: “Terceirização Vermelha: em 2013 chegam ao Brasil 1.500 médicos cubanos contratados.”
A denúncia trata de um acordo entre o Brasil e Cuba. Na Ilha foram desenvolvidas experiências de atendimento médico com bons resultados. Elas serão aplicadas aqui por profissionais cubanos. Um trabalho remunerado. Maia dá um colorido de “ameaça vermelha” revivendo os tempos em que dependuravam adversários políticos em “pau de arara”.
Aspas para ele: “Fatos sucessivos indicam que a formação de Dilma na esquerda revolucionária dos anos 1970 estaria incorporando-se a suas ações e decisões”.
Na busca constante e frenética do denuncismo terrorista, Maia atacou o discurso da presidenta do “1º de Maio” quando ela criticou a resistência do sistema financeiro a baixar as taxas de juro. Ele interpretou isso como “polarização política fácil e… oportunista: Dilma x Banqueiros”.
Para entender o jogo calculado de Cesar Maia, basta lembrar que esse tipo de denúncia tem um público cativo, os militares, muito inquieto neste momento em que são recontadas ou reveladas práticas tenebrosas da ditadura.
Não é uma decisão tresloucada de Maia. É loucura calculada. Em livro publicado nos anos 1990, explicou que fazia política com régua e compasso. Foi naquela época que iniciou caminhada-solo após renegar Leonel Brizola.
Passou, então, a se apresentar como “líder da direita”. Para evitar um choque brusco nos eleitores, fez calculadamente uso de um jogo de vogais, com a mesma preposição e a mesma finalidade, de tornar-se “líder de direita”. Ele mudou de lado. Havia uma vaga desde a morte de Carlos Lacerda (1914-1977). Contingente expressivo de eleitores, homens e mulheres, além de setores militares, era identificado como sendo “viúvas de Lacerda”. Por aí ele abriu caminho e, por duas vezes, conquistou a prefeitura do Rio.
Faltou consistência política, carisma e, inclusive, a qualidade intelectual de Lacerda, um dos maiores panfletários brasileiros para se apresentar como líder de direitas. Maia não teve fôlego para voos mais altos. Quando tentou, em 2010, sofreu uma derrota arrasadora como candidato ao Senado apesar de ter abusado dos gestos populistas em busca de votos. O mais representativo deles foi tentar cantar Asa Branca na feira popular nordestina, no Rio.
Agora, apresenta-se em busca de vaga na Câmara de Vereadores.
A disputa é um esforço de Maia para tentar salvar o que resta do DEM no estado do Rio. Nesse sentido, lançou o filho Rodrigo, deputado federal, a prefeito da cidade. Sem chances. É provável, no entanto, que Maia ganhe sobrevida política como vereador.


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ESPECULAÇÕES E FATOS
Por Marcos Coimbra

De uns tempos para cá, começou a ganhar circulação a ideia de que estamos marchando em direção à confluência de duas crises. Ambas graves.
De um lado, uma crise na economia, cujos sinais seriam já evidentes: redução do ritmo do crescimento, diminuição do investimento externo, retração na industria, queda no comércio internacional.
De outro, uma crise política, ainda não explicitada por completo, mas latente. Indicando-a, os recentes problemas no relacionamento político dentro da coalizão governista e uma presumida desarmonia na administração federal.
Não se estabelece com clareza quando as duas se encontrariam. Mas fica subentendido que antes de outubro de 2014. Ou seja, em tempo de influenciar - ou mesmo revolucionar - o ambiente em que ocorrerá a próxima eleição presidencial.
Trocando em miúdos: a sucessão de Dilma, antes previsível, estaria se tornando incerta. O amplo favoritismo que tem hoje seria engolido pelas crises, uma reforçando e amplificando a outra.
É desnecessário dizer que a tese da "crise perfeita que se avizinha" foi elaborada e está sendo difundida pelas oposições, muito especialmente a oposição não-partidária, na sociedade civil e na imprensa.
É difícil, atualmente, ler algum comentário ou interpretação que não a mencione ao discutir o cenário político atual e suas perspectivas. Tudo passou a ser visto em função dela.
Até coisas que nada têm de real.
Só um otimista irracional acreditaria que a economia brasileira poderia atravessar incólume as intempéries que atingem os países avançados. Vamos pagar um preço por elas e já o estamos pagando em alguns setores.
A questão não é, portanto, se teremos ou não dificuldades econômicas no futuro imediato, mas qual sua intensidade e quais suas consequências na política, mais especificamente na eleição de 2014. É isso que alguns pintam com cores sombrias, pois não gostam da perspectiva que sejam menos agudas.
Para estimar o que aguarda Dilma, convém não esquecer que Lula viveu a manifestação anterior dessa crise na economia global sem solavancos na popularidade.
Entre o final de 2008 e os primeiros meses de 2009, as pesquisas mostraram um expressivo incremento das preocupações da população a respeito de inflação, desemprego e perda de capacidade de consumo. Elas atingiram seu pico em dezembro de 2008, quando, em pesquisa da Vox Populi, 58% dos entrevistados disseram esperar a subida da inflação e 63% o aumento do desemprego.
Enquanto isso, a avaliação positiva do governo Lula sempre se manteve elevada, indo, de acordo com dados do Datafolha, de 55% em março de 2008 a 65% um ano depois, em março de 2009. Em outras palavras, atravessando a turbulência em ascensão.
O que vemos é que não há incompatibilidade entre percepção de problemas econômicos e aprovação governamental. Ao contrário do que pensam alguns, as pessoas são perfeitamente capazes de separar as duas coisas.
Quanto à "crise política", o que estamos presenciando agora nada tem de diferente do que sempre acontece às vésperas de eleições municipais. Nelas, as alianças e coligações raramente repetem, em cada lugar, os acordos nacionais. Quem anda junto na hora de escolher presidente pode caminhar separado quando se discutem prefeituras.
Assim, as desavenças pontuais entre os partidos da base governista nada sinalizam quanto ao comportamento que adotarão daqui a dois anos. Lá, avançarão unidos - ou não - em função do que estiver acontecendo no momento, sem nem se lembrar que se enfrentaram neste ou naquele município.
Quem lê a imprensa internacional fica com impressão bem diferente do horizonte à nossa frente. Ninguém aposta - ou deseja - a "crise perfeita".
No fundo, a tese nada mais é que a admissão de que, se nada de catastrófico ocorrer, a política brasileira continuará fundamentalmente como está.
O que equivale a reconhecer a força e a capacidade do "lulopetismo" e a julgar com severidade as oposições e suas lideranças.




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