Mino Carta, na Revista CartaCapital
A julgar pelas pesquisas, o segundo turno das próximas eleições presidenciais seria possível se Marina Silva fosse cabeça de chapa. É a observação que cabe nas circunstâncias. Falta, porém, um ano para o pleito e é tempo longo, tanto mais porque a agenda não inclui apenas a campanha, decerto muito acirrada, mas também a disputa de um Mundial de futebol, aqui mesmo, nos nossos estádios bilionários.
Nunca me sai da cabeça o argumento de Marcos Coimbra desenvolvido em uma coluna de tempos atrás: a Copa pode influenciar o resultado eleitoral, independentemente do desempenho da Seleção Canarinho. Não excluo que Coimbra tenha dons proféticos. Escrevia ele bem antes da Copa das Confederações, e, quando este torneio aconteceu, sabemos das suas consequências políticas. Começaram ali as manifestações de rua, aparentemente despidas de razões nítidas e precisas e, ainda assim, habilitadas a levar para o asfalto uma insatisfação difusa.
Os motivos que, entre outros, precipitaram as manifestações valeriam mais ainda em relação à Copa do Mundo, sem contar o efeito daninho para o Brasil de uma organização desastrada do evento, trombeteada planeta afora. Nada disso favoreceria a candidatura de Dilma Rousseff. Donde, vale anotar, 2014 pode durar mais que um ano comum. Além de tudo, um comando mafioso, capaz de representar uma exceção global, anuncia, diretamente do presídio (eis a novidade) propósitos sombrios a curto e longo prazo, sem exclusão de razias federais durante a Copa.
Conclusão: há muito chão pela frente. De todo modo, fôssemos às urnas hoje, a presidenta Dilma se reelegeria, e o único risco de segundo turno se daria se Marina Silva também surgisse como candidata à Presidência. Possibilidade válida? Pois é, eis aí uma das questões a serem resolvidas daqui em diante. A mídia nativa por ora enxerga na adesão da ex-senadora ao PSB a cartada sedutora por semear obstáculos no caminho da candidata petista. E vive o momento com grande intensidade. Não dá palpites quanto à composição da chapa socialista, mas confere a Marina Silva uma espécie de primazia, destaque especial.
São os meus inquietos botões que agora me puxam pela manga. Perguntam: será que Eduardo Campos aprecia esta clangorosa valorização da aliada? Se às vezes não parece que está sendo escanteado, nestes dias claramente passou para o segundo plano. Sintomático o editorial do Estadão de quarta 16, intitulado “A voz da oposição”. Pinta-se ali o retrato empolgante de Marina Silva, a acentuar nela, inclusive, um profundo conhecimento da economia que os meus botões desconheciam. Leram, boquiabertos.
A voz da oposição. Reconheça-se ao Estadão a capacidade de dar nome ao generalizado sentimento midiático. E quem se atribuía até ontem talento e determinação para desempenhar o papel? Sem esquecer José Serra, está claro, determinado até a obsessão, não duvidem. Em um relâmpago, Marina ganha a ribalta. Shakespeare já declamava: estar preparado é tudo. Estava preparado Eduardo Campos no exato instante em que se concretizou o acordo com Marina Silva? E estava preparado Aécio Neves com a súbita aparição da ex-senadora, arrepiante talvez, como nos filmes de terror?
O governador de Pernambuco quem sabe não imaginasse o espaço que a aliada ganharia em um piscar de olhos, e, no jogo das cadeiras, lhe tomasse a sua própria, ao menos por longos dias. Quanto a Aécio, já prejudicado pelo aval de Fernando Henrique, fica rebaixado a murmúrio remoto, em surdina, de uma oposição derrotada de saída. A seu modo, o efeito Marina é devastador. E outra conclusão é inevitável: a ex-senadora pouco sabe de economia, mas é, politicamente, de competência inesperada. No confronto com Eduardo, Aécio, e quem mais quiser entrar no páreo.
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