Miguel do Rosário, no blogue O Cafezinho
Ver análise ao final do post.
Tenho que admitir. Jogada de mestre do Eduardo Campos! Não sei se tão interessante para Marina. De qualquer forma, foi muito melhor, para ela, do que se filiar ao PPS, decadente e raivoso. Mas ela terá que explicar a seus eleitores porque entra num partido que conta com Heráclito Fortes, família Borhausen, e conta com tanto apoio de Ronaldo Caiado.
Marina decide se filiar ao PSB para concorrer em 2014
FÁBIO ZAMBELI, NATUZA NERY, RANIER BRAGON
NA FOLHA, DE BRASÍLIA
NA FOLHA, DE BRASÍLIA
A ex-senadora Marina Silva decidiu se filiar ao PSB do governador Eduardo Campos (PE). A decisão foi tomada após conversas iniciadas na noite de ontem e concluídas na manhã deste sábado (5).
Assim como Marina, Campos é virtual candidato à Presidência da República. Há, entretanto, um desejo do PSB de ter a ex-senadora, que recebeu 19,6 milhões de votos na disputa presidencial de 2010, como vice na chapa do governador.
A união entre Marina e Campos tem o objetivo de formar uma consistente terceira via na corrida ao Planalto, em contraposição à candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) e à postulação do oposicionista Aécio Neves (PSDB).
Em sua entrevista ontem, Marina já havia dito que sua decisão levaria em conta o desejo de “quebrar” a polarização política existente no país. Desde 1994, PT e PSDB são os principais antagonistas no cenário político nacional.
Na sexta-feira, enquanto Marina Silva discutia seu futuro com aliados, o primeiro contato de Eduardo Campos foi feito. Em seguida, ele pegou um avião para Brasília para uma conversa pessoalmente.
A decisão de migrar para o PSB foi tomada após a Rede Sustentabilidade não ter passado no teste das assinaturas, conforme decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última quinta-feira.
Depois do naufrágio no TSE, Marina passou a discutir o convite recebido por oito legendas, tendo centrado seu foco no PSB e no PPS devido a dois fatores: serem duas legendas com integrantes e atuação relativamente similar à da Rede Sustentabilidade e terem já estruturas montadas nacionalmente e nos Estados.
De acordo com a última pesquisa do Datafolha, do início de agosto, Dilma lidera a corrida para 2014, com 35% das intenções de voto. Marina tinha 26%. Aécio (13%) e Campos (8%) vêm logo em seguida.
Leia também o post do Tijolaço, Rede e PSB montam coligação fantasma.
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Análise:
Eduardo Campos fez um golaço. Até então, prometia ser um candidato nanico nas eleições de 2014. Agora, provavelmente ele irá crescer, herdando os votos de Marina Silva. As coisas ainda estão confusas, mas os discursos de Campos e da própria Marina revelam que Campos é o candidato. Marina, provavelmente, virá como vice. Mas Campos insistiu que seu partido só irá oficializar sua candidatura em 2014.
Marina Silva fez acusações irresponsáveis contra o TSE e contra os cartórios. Mencionou cartórios do ABC onde mais de 80% das assinaturas foram rejeitadas. Alguém precisa checar a veracidade dessa informação. Nâo vejo muita lógica nisso. Que cartório ou servidor cometeria uma insanidade deste tipo, sem nenhuma garantia de que o total de assinaturas seria suficiente, a nível nacional?
Seu discurso de vitimização e agressão à justiça eleitoral, ele sim, é um ataque à democracia. Ela poderia criticar, mas com prudência, e não da forma ressentida e agressiva que fez.
A decisão de Marina de ingressar no PSB revela que ela pôs o ódio a seu antigo partido acima de qualquer outro ideal. E que seu objetivo maior é, sim, alcançar o poder.
Entretanto, não se pode negar que ela marcou um ponto: produziu um factóide político importante, que subverteu todas as expectativas e ganhou enorme projeção midiática.
Por enquanto, Eduardo Campos é o candidato oficial do PSB, mas nada garante que o partido não possa optar por Marina Silva em seu devido momento, sobretudo se ela continuar alcançando uma boa pontuação nas pesquisas de intenção de voto. Em breve, começará uma guerra, surda, talvez muda, em torno de quem será o candidato do PSB em 2014. U
A principal vítima da decisão de Marina é Aécio Neves e o PSDB, que dificilmente conseguirão chegar ao segundo turno. Este fato pode gerar uma guerra dentro da oposição, com os tucanos trabalhando contra a candidatura de Eduardo Campos e Marina. O PSDB talvez seja obrigado a romper com a política de paz e amor com o PSB, se não quiser ser completamente substituído pelo partido de Campos como o contraponto à direita. É isso, ou então arriscar uma radicalização do discurso político, adotando um extremismo conservador que, apesar de repercutir bem na mídia, não me parece ter muito futuro na prática.
Para Dilma, não muda muito. A dobradinha Campos e Marina forma um tipo de chapa “dois em um”, mais competitiva, mas nada diferente, ou talvez ainda mais fraca, do que aconteceria se os dois tivessem candidaturas independentes.
Será um desafio explicar aos militantes da Rede essa “coligação fantasma” com o PSB, que é talvez o partido mais pragmático do país, mais até do que as legendas conservadoras, porque esteve, durante muitos anos, aliado ao PT em plano federal, e ao PSDB nos estados. O PSB é aliado a quase todos os governos estaduais, independente de partido ou ideologia. E recentemente, a legenda se aliou à família Bornhuasen, em Santa Catarina, e a Heráclito Fortes, no Piauí. Em Goiás, Campos tem se articulado com Ronaldo Caiado, uma das personalidades mais raivosamente antiambientalista da política nacional. Sem contar que o PSB votou em peso a favor do Código Florestal, conjunto de leis contra a qual Marina Silva e sua Rede vêem como nocivas a sua ideologia.
Enfim, estamos diante de uma novidade que precisará ser decantada, mas que espelha, na contramão de todo o discurso de Marina Silva, uma aliança explicitamente pragmática e eleitoreira. Para Eduardo Campos, é um trunfo eleitoreiro. Para Marina, uma saída pragmática para se manter viva politicamente.
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