21 maio 2011

NOSSO MUNDO

"Para que haja paz Israel precisa reconhecer dor
palestina"


Gideon Levy




Vejam o que algumas centenas de militantes podem fazer num dia: 1948 está na agenda. A quebra da cerca nas Colinas de Golã foi o suficiente para romper uma cerca muito mais antiga e complexa, trazendo 1948 ao centro da discussão política.

Ainda estávamos estragando tudo e nos enganando até a morte a respeito de 1967 – o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu pronunciaria as palavras “fronteiras de 1967” como se fizesse alguma diferença o que ele diz. Ainda estávamos nos enganando que o mal vindo do norte, que na verdade pode ser bom, está se aproximando, e a discussão de repente mudou de direção. Netanyahu, que está bastante ciente da situação, está se fazendo de mudo: ele toma para si a responsabilidade pelo estado das coisas, juntamente a todos os seus predecessores.

É assim que acontece quando se adia as coisas, faz pouco caso e engana, quando você pensa que a inação é a solução, quando você se mantém indolente frente à decisão de pôr um fim à ocupação. Depois de 44 anos de dominação militar cujo fim não está à vista, depois de um punhado de migalhas em Oslo que não melhorou a situação dos palestinos, os planos de paz que acumulam poeira nas gavetas são falas vazias e inumeráveis, sem levar a cabo uma só ação corajosa, salvo a evacuação da Faixa de Gaza, o gênio está fora da lâmpada.

Todos os que não quiseram 1967 agora estão levando 1947. Todos os que não quiseram evacuar os assentamentos de Ariel agora serão forçados a discutir Carmiel. Os que não quiseram um compromisso histórico agora estão com o portfólio de 1948 nas suas portas de entrada. A direita está eufórica, não está claro a respeito de quê, a esquerda há muito que está morta e a caravana segue adiante, deixando Israel numa situação que se deteriora dia após dia.

1948 recebeu o enterro de um jumento em Israel [Jeremias, 22:19]; nunca houve uma genuína discussão pública a esse respeito aqui, mas seu espírito nunca morreu, nem por um minuto, na Palestina e na diáspora palestina. Seus sobreviventes, os refugiados e seus netos carregam sua memória e sua dor até hoje, assim como os judeus carregam suas próprias memórias e dor. Isso deveria ter sido reconhecido há muito tempo atrás. É nesse sentido que realmente apreciamos o comportamento dos militantes da Síria: eles lembraram aos israelenses de acontecimentos esquecidos.

Podemos prendê-los e interrogá-los o quanto quisermos, mas o olhar dos jovens palestinos da Síria que chegaram a Jaffa para visitar seus lares ancestrais foi uma visão extremamente impressionante da história do conflito. Pode ser que agora nós comecemos a entender suas raízes e soluções. Pode ser que comecemos a entender que, para o povo palestino, as fronteiras de 1967 são a mãe de todos os acordos e concessões, uma aceitação muitíssimo mais dolorosa para eles do que para nós. Não apenas porque significa desistir de três quartos de seu país, mas principalmente desistir de anseios e desejos.

Durante anos, palestinos e seus líderes estiveram prontos para concessões. Quando começaram a se desesperar, depois de todos esses anos escandalosos de estagnação, sua demanda voltou à tona com força total. O presidente palestino Mahmoud Abbas, o maior dos transigentes, jamais teria publicado o artigo recente no New York Times, em que discute a narrativa histórica palestina, tivéssemos implementando um acordo. Agora os americanos sabem o que acontece quando não fazem nada. Agora um anúncio vazio do gabinete do primeiro ministro de que Israel está comprometido com a solução de dois estados não é mais suficiente. Está “comprometido” exatamente com o quê? E o que fez para implementar essa solução? Só mais e mais assentamentos.

É difícil exagerar a importância da mudança que está tomando lugar diante de nossos olhos arregalados, que estiveram bem fechados todos esses anos. Os territórios ainda estão longe de serem evacuados, a terceira intifada não está para começar, ainda, e Netanyahu está confortavelmente sentado na sua cadeira, jogando com o tempo com palavras fazias e fórmulas ocas. Mas a partir de agora Israel, inclusive seu primeiro ministro, será forçado a entender que toda solução deve estar atenta aos anseios do outro lado do conflito.

Chegou o tempo de remover o abcesso e de arejar o ferimento. Não estamos falando em parar a roda da história, no retorno de milhões e no fim do Estado de Israel, como a direita está tentando nos amedrontar para acreditar. Estamos talando de entendimento do outro lado e da garantia de alguns de suas expectativas – aceitar a responsabilidade moral por 1948, uma solução para o problema dos refugiados e, é claro, o mínimo dos mínimos, as fronteiras de 1967. Quem ainda não entendeu isso está convidado a dedicar mais tempo ao assunto e ver como isso é benéfico para nós e para eles.



Tradução: Katarina Peixoto





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Cresce na Espanha a Revolução dos Indignados


Armando G. Tejeda





A Junta Eleitoral Central da Espanha proibiu em todo o país qualquer manifestação desde a zero hora de sábado até às 24 horas de domingo, dia das eleições municipais, em uma clara alusão às mobilizações do movimento cidadão Democracia Real Já que, desde o último domingo, ocorrem em repúdio ao modelo político e econômico vigente e que já se espalharam em escala nacional.

Alfredo Peréz Rubalcaba, ministro do Interior, declarou que o governo só esperava o pronunciamento da junta eleitoral para decidir se ordena à polícia dispersar os manifestantes. Enquanto isso, milhares de cidadãos indignados na Porta do Sol, em Madri, na Praça da Catalunha, em Barcelona, na Praça do Pilar, em Zaragoza, e no Parasol da Encarnação, em Sevilla, entre outras, voltaram a romper o cerco policial e, uma vez mais, repudiaram a política, banqueiros e empresários.

O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a “revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora. Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades para os mais jovens e acabou se estendendo para a comunidade espanhola na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e México, entre outros países.

No quinto dia de mobilizações a afluência aumentou sensivelmente, sobretudo em Madri e Barcelona, onde dezenas de milhares entoaram palavras de ordem durante horas. Uma delas advertia: se vocês não nos deixam sonhar, nós não os deixaremos dormir.

Os manifestantes desenvolveram métodos de organização através de comissões por setores – saúde, alimentação, meios de comunicação, etc. -, que decidem cada atividade. Nas assembleias gerais decide-se a estratégia e busca-se uma mensagem política unificada que mostrem as principais razões de descontentamento e protesto. Na quinta-feira, por exemplo, decidiu-se manter a mobilização até o próximo domingo, quando ocorrem as eleições locais, e, o mais importante, confirmar a convocatória para a manifestação deste sábado.

Mais tarde, a Junta Eleitoral Central declarou ilegais as concentrações, ao considerar que elas não se ajustam à lei eleitoral e excedem o direito de manifestação garantido constitucionalmente. De fato, desde o início da semana, todas as mobilizações, concentrações e marchas da “revolução espanhola” foram declaradas ilegais pela Junta Eleitoral de Madri. Em resposta, o número de indignados se multiplicou.

Depois de conhecer a decisão da Junta Eleitoral Central, o movimento cidadão decidiu simplesmente manter o acampamento, ao mesmo tempo em que ecoou um grito unânime: não nos tirarão daqui, vamos ganhar esta revolução. Em seguida, foi lido o manifesto original do movimento em uma dezena de idiomas. O texto aponta a classe política e os meios de comunicação eletrônicos como os grandes aliados dos agentes financeiros, os causadores e grandes beneficiários da crise. Advertem que é preciso um discurso político capaz de reconstruir o tecido social, sistematicamente enfraquecido por anos de mentiras e corrupção. “Nós, cidadãos, perdemos o respeito pelos partidos políticos majoritários, mas isso não equivale a perder nosso sentido crítico. Não tememos a política. Tomar a palavra é política. Buscar alternativas de participação cidadã é política”.

A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual, o Fundo Monetário Internacional, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: o direitista Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda.

A reação da direita
Desde a esquerda, há tentativas de aproximação aos indignados. O líder do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, disse que é preciso escutar e ter sensibilidade porque há razões para a expressão desse descontentamento e dessa crítica. O líder da Esquerda Unida, Cayo Lara, defendeu o fim da submissão e do bipartidarismo, propiciado pela atual lei eleitoral.

Mas o setor duro da direita política e midiática reclamou com insistência a atuação policial para acabar com todas as mobilizações, sobretudo na Porta do Sul, e pediu inclusive ao Ministério do Interior para que adotasse meios violentos para assegurar esse fim. Uma das imagens do dia (quinta-feira) foi a do ex-ministro da Defesa durante o governo de José María Aznar, Federico Trillo, insultando com o dedo um grupo de cidadãos da revolução dos indignados.

As desqualificações mais fortes vieram, porém, dos meios de comunicação conservadores e da televisão pública de Madri, que acusaram o movimento de ser comunista, socialista, antissistema e de ter relação com o ETA. Um dos ideólogos da direita, César Vidal, foi mais além e depois de chamar, depreciativamente os manifestantes de “perroflautas” (tribo urbana também conhecida como ‘pés pretos’, formada por punks, anarquistas, hippies e ‘gente desocupada’), assegurou que estes jovens mantém contato regular com o Batasuna-ETA e que receberam cursos de guerrilha urbana, da Segi (organização de juventude da esquerda basca).

O movimento cidadão tem seu próprio canal de televisão, que transmite sem cessar as imagens da Porta do Sul (http://www.soltv.tv/soltv2/index.html).

Tradução: Katarina Peixoto


Fonte: http://www.cartamaior.com.br/



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"Não vale a pena rejubilar-se..."


Uri Avnery (*)



“Não a vale a pena rejubilar-se quando o teu inimigo cair, nem deixes que o teu coração se alegre quando ele tropeçar, / Não deixes que Deus o veja, pois isso irá desagradá-lo, e voltará a sua ira contra ti.”

Esta é uma das mais belas passagens da Bíblia (Provérbios 24:17-18) e até mesmo da língua hebraica. É igualmente bela em outras línguas, de tal forma que nenhuma tradução se aproxima da beleza do original.

Efetivamente, é natural que nos alegremos quando o nosso inimigo é derrotado e a sede de vingança é uma característica humana. No entanto, expressar satisfação é algo totalmente diferente. Algo muito feio.

Uma lenda hebraica muito antiga conta que Deus se enfureceu quando os Filhos de Israel rejubilaram quando os seus perseguidores egípcios se afogaram no mar. “As minhas criaturas estão a afogar-se no mar,” advertiu-lhes Deus com total reprovação, “e vós cantais?”

Estas ideias atravessaram o meu pensamento quando vi as imagens na TV de multidões rejubilantes de jovens americanos a cantar e a dançar nas ruas. É natural, mas inconveniente. Os rostos contorcidos e a linguagem corporal agressiva não eram diferentes daqueles das multidões no Sudão ou na Somália. Os lados mais feios da natureza humana parecem ser muito semelhantes em qualquer parte.

* * *

A alegria pode ser prematura. Muito provavelmente a Al-Qaeda não morreu com Osama bin-Laden. A consequência pode ser totalmente diferente.

Em 1942, os britânicos mataram Abraham Stern, a quem apelidaram de terrorista. Stern, cujo nome de guerra era Ya’ir, estava escondido num armário de um apartamento em Tel Aviv. Também neste caso foram as idas e vindas do seu correio que o denunciaram. Depois de se assegurarem que correspondia ao homem que procuravam, o agente da polícia britânica alvejou-o.

Não foi esse o fim do seu grupo – pelo contrário, foi o início. Transformou-se na maldição do domínio britânico na Palestina. Conhecido como o “Gang de Stern” (o seu verdadeiro nome era “Lutadores para a Liberdade de Israel”), levou a cabo os ataques mais terríveis sobre as instalações britânicas e desempenhou um papel muito significativo na tentativa de fazer com que o poder colonial abandonasse o país.

O Hamas não morreu quando a força aérea israelense matou o Sheikh Ahmad Yassin, o fundador paralítico, ideólogo e símbolo do Hamas. Enquanto mártir, ele foi bem mais eficaz que durante a sua liderança em vida. O seu martírio atraiu muitos mais apoiadores para a causa. Matar uma pessoa não mata uma ideia. Os cristãos chegaram mesmo a adotar a cruz como o seu símbolo.

* * *

Qual foi a ideia que transformou Osama bin Laden numa figura mundialmente conhecida?

Ele pregava a restauração do Califado do início dos tempos muçulmanos, que era não só um vasto império, como também um centro das ciências e das artes, poesia e literatura, quando a Europa era ainda bárbara e um continente medieval. Todas as crianças árabes estudam as suas glórias e não podem evitar de as comparar com a situação atual.

(De certa forma, estas lembranças assemelham-se aos sonhos românticos sionistas da ressurreição de um reino de David e Salomão.)

Um novo Califado no século XXI é tão improvável quanto a criação mais extravagante da nossa imaginação. Teria sido diametralmente oposto ao Zeitgeist, não fosse pelos seus opositores – os americanos. Eles precisavam mais deste sonho – ou pesadelo – que os próprios muçulmanos.

O Império Americano necessita sempre de um antagonista para o manter vivo e em quem focar as suas energias. Este tem de ser um inimigo mundial, um advogado sinistro de uma filosofia do Mal.

Tal como foram os Nazis e o Japão Imperial, mas duraram pouco tempo. Para felicidade deles, havia na altura o Império Comunista, que se enquadrava perfeitamente nesse papel.

Havia comunistas por toda a parte. Todos eles orquestraram a queda da liberdade, da democracia e dos Estados Unidos da América. Eles escondiam-se inclusivamente dentro dos EUA, como J. Edgar Hoover e o Senador Joe McCarthy demonstraram de forma tão convincente.

Durante décadas, os EUA prosperaram na guerra contra a Ameaça Vermelha; as suas forças espalharam-se por todo o mundo, as suas naves espaciais chegaram à Lua, as suas mentes mais brilhantes travaram uma batalha de ideias titânica, os Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas.

E subitamente tudo isso colapsou. O poder soviético desapareceu como se nunca tivesse existido. As agência americanas de espionagem, com as suas tremendas capacidades, foram surpreendidas. Aparentemente, elas não tinham qualquer ideia de quão desmantelada estava já a estrutura soviética. Como é podiam ver isso, cegos como estavam pelas suas próprias ideias preconcebidas?

O desaparecimento da ameaça comunista deixou um vazio na psique americana, que ansiava por ser preenchido. Osama bin Laden ofereceu os seus préstimos prontamente.

Era necessário, como é óbvio, um acontecimento que chocasse o mundo para garantir a credibilidade a esta utopia precipitada. O 11 de Setembro foi o tal acontecimento. Produziu inúmeras mudanças no estilo de vida americano. E um novo inimigo global.

Subitamente, os preconceitos anti-islâmicos medievais foram retirados das gavetas para todo o mundo. Islã o terrível, o assassino, o fanático. Islã o anti-democrático, o anti-liberdade, o anti-todos-os-nossos-valores. Homens bomba suicidas, 72 virgens, jihad.

Os EUA voltam a renascer. Estão por todo o mundo soldados, espiões e forças especiais para derrotar o terrorismo. O Bin Laden está em todo o lado. A Luta Contra o Terrorismo é uma luta apocalíptica contra Satã.

É preciso restringir as liberdades americanas e a máquina militar americana cresce por todos os lados. Os intelectuais com fome de poder falam sobre o confronto de civilizações e vendem as suas almas pela fama instantânea.

Para produzir a dor sensacionalista a partir de uma imagem de tal forma distorcida da realidade, os grupos religiosos islâmicos são todos postos no mesmo saco – os Talibãs no Afeganistão, os Aiatolás no Irã, o Hezbolá no Líbano, o Hamas na Palestina, os separatistas indonésios, a Irmandade Muçulmana no Egito e, em qualquer parte, quem quer que seja. Todos são a Al-Qaeda, apesar dos objetivos totalmente diferentes de cada um, focados no seu próprio país, enquanto se acredita que o bin Laden deseja abolir todos os estados muçulmanos para criar um Império Islâmico Sagrado. Detalhes, detalhes.

A Guerra Santa contra a Jihad encontra combatentes em toda a parte. Demagogos ambiciosos, para quem isto promete servir para enfurecer as massas, espalhar-se por muitos países, desde a França à Finlândia, passando pela Holanda e pela Itália. A histeria da islamofobia afasta o antigo preconceito anti-semita, recorrendo praticamente à mesma linguagem. Os regimes tiranos apresentam-se como baluartes contra a Al-Qaeda, como antes se apresentavam como baluartes contra o comunismo. E, claro, Benjamin Netanyahu explora a situação como pode, viajando de capital em capital, vendendo as suas ideias de anti-Islamismo.

Bin Laden tinha boas razões para se sentir orgulhoso e provavelmente estava.

* * *

Quando vi a fotografia dele pela primeira vez, brinquei dizendo que ele não parecia uma pessoa real, mas sim um ator saído de um casting de Hollywood. Parecia demasiado bom para ser verdade – exatamente como apareceria num filme de Hollywood – um homem charmoso, com uma grande barba preta, em pose com uma Kalashnikov. As suas aparições na TV foram cuidadosamente encenadas.

Na realidade, era um terrorista totalmente incompetente, um verdadeiro amador. Nenhum verdadeiro terrorista teria vivido numa mansão que sobressaia daquela forma na paisagem. Stern estava escondido num pequeno sótão num apartamento algures num bairro pobre de Tel Aviv. Menachem Begin viveu com a sua esposa e o seu filho num modesto rés-do-chão, disfarçado de um rabi solitário.

A mansão de Bin Laden tinha tudo para atrair as atenções dos vizinhos e de outras pessoas. Qualquer um ficaria curioso acerca deste estranho misterioso instalado entre eles. Na verdade, deveria ter sido descoberto há muito tempo. Ele estava desarmado e não retaliou. A decisão de o matarem no local e lançarem o seu corpo ao mar foi claramente tomada muito antes.

Por isso, não existe qualquer campa, nem túmulo sagrado. Porém, para milhões de muçulmanos, e especialmente para os árabes, ele era e permanece ainda como uma fonte de orgulho, um herói árabe, o “leão dos leões”, como um pregador em Jerusalém o designou. Praticamente ninguém se atreveria a sair à rua e afirmar tão abertamente, para terror dos americanos, mas até mesmo aqueles que consideravam as suas ideias impraticáveis e as suas acções perigosas, nos seus corações tinham-lhe respeito.

Será que isso significa que a Al-Qaeda tem futuro? Não acredito. Pertence ao passado – não porque o Bin Laden foi morto, mas porque a sua ideia principal é obsoleta.

A Primavera Árabe personifica um novo conjunto de ideais, um novo entusiasmo, que não glorifica nem anseia por um passado já distante, mas que olha corajosamente para o futuro. Os jovens homens e mulheres da Praça Tahrir, com o seu desejo pela liberdade, relegaram Bin Laden para a história meses antes da sua morte física. A sua filosofia apenas tem futuro caso o Despertar Árabe falhe por completo e deixe para trás um profundo sentimento de desilusão e desespero.








Tradução de Sara Vicente para o Esquerda.net

(*)Uri Avnery é jornalista, membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense).



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