21 maio 2011

DEBATE ABERTO

Mídia democrática e limites da internet

Por Jaime Sautchuk, no sítio Vermelho:

A Internet é apontada, hoje, como a redenção, o alvorecer da era da verdadeira democratização da mídia, os meios de comunicação no mundo. Está mais do que claro, porém, que essa é mais uma ilusão, de tantas que a história nos guardou.


No varejo, tudo bem, todo mundo pode acessar e trocar lá suas mensagens. Fazer páginas, blogs, redes e tudo o quanto quiser para falar de política ou sexo é fácil e até banal. É como se fosse uma válvula de escape para as angústias dos viventes. No atacado, porém, a história é muito diferente. O buraco é mais embaixo.

Como no passado, com outras mídias, esta também está sob controle das forças que dominam o mundo. Em temas de importância estratégica para o centro do mundo, em especial os Estados Unidos, as redes são monitoradas e conduzidas. E em momentos de crise, há a possibilidade de controle total. E aí, babau democracia.

Muitos exemplos têm sido mostrados até na grande mídia, meio sem querer, mas que deixam claras as tendências do sistema internético. Um deles é o caso do Egito, onde foram bloqueadas as linhas de celular e o acesso via computador, pelos técnicos do regime então em vigor.

No entanto, os gerentes das redes mundiais intervierem e as desbloquearam. O motivo pode ser qualquer um. O que nos chama atenção, contudo, é a possibilidade de isso ser feito. Tanto o bloquear quanto o desbloquear, como era alardeado, seriam coisas impossíveis. Para usar a linguagem dessa mídia, ksksksks...

Por outro lado, há incontáveis páginas alocadas na rede que não são passíveis de acesso. É o caso, por exemplo, da página das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs), que existe, mas que no Brasil ou nos Estados Unidos, ninguém consegue acessar, por motivos “técnicos”.

Isso nos remonta à própria história dos modernos meios de comunicação. Desde a sua primeira etapa, que foi a da luta pela liberdade de imprensa. Esta era pelo direito de se possuir uma máquina impressora, até então estatais, como forma de, a partir dela, exercer outra liberdade, a de expressão.

Transferiu-se apenas o controle das máquinas das mãos do estado para as mãos dos setores privados que controlam inclusive o estado. Ou seja, os meios seguirem nas mãos das elites. E estas sempre estiveram a favor do colonialismo, da dominação do mundo, do subjugo de povos, da exploração de recursos naturais e assim por diante.

Veio então o rádio, no limiar do século 20, e com ele a mesma esperança de democratização do acesso e liberdade de expressão. Doce ilusão. Nas frequências do rádio voaram as ideologias das forças colonial-imperialistas, com enorme importância especialmente no período da segunda Grande Guerra e, depois, na chamada guerra fria.

A influência de emissoras como a BBC de Londres, na Grã-Bretanha, e da Voz da América, nos EUA, para citar dois exemplos, foi brutal no período pós-guerra. É claro que, de outra lado, havia a rádio de Moscou, também com potentes transmissores em Ondas Curtas, e, já na década de 60, a rádio de Havana, em Cuba, que entrava rachando em toda a América Latina, especialmente na região amazônica.

Mas, também aí era possível ter controle. A BBC e a Voz praticaram incontáveis vezes o recurso do jamming, que significa “engarrafamento” e, no caso, expressa o ato de entrar com uma onda magnética sobre outra, na mesma frequência, e assim picotar a transmissão indesejada.

Nós temos um grande exemplo disso aqui no Brasil. A Rádio Nacional da Amazônia, estatal, foi criada durante a ditadura militar para embananar as ondas da Rádio de Havana. O objetivo foi plenamente atingido. Não havia essa preocupação, por exemplo, com a BBC da Jamaica, que era colônia britânica, e isso explica a influência da música caribenha na região norte do País, especialmente no Maranhão.

O fato é que, também no caso do rádio, a mídia ficou nas mãos de estados e de grandes grupos econômicos com a mesma coloração ideológica. E é esta a situação que até hoje vigora.

Com o advento da TV, de novo se esperava alguma forma de abertura. Mas, a TV incorporou, no caso dos EUA, a prática que já vinha em curso no cinema desde antes da guerra, com o conhecido uso de Hollywood como base de difusão da ideologia ianque.

Mesmo no Brasil, onde a matriz da TV foi o rádio e não o cinema, ocorreu o mesmo processo, já que ainda hoje boa parte da programação televisiva daqui é de enlatados, termo que vem das latas redondas que traziam os filmes do cinema e, depois, os programas de TV.

O processo que se vê agora segue o mesmo caminho. É certo que a Internet abre chances que eram inexistentes e amplia a possibilidade de acesso. Não há dúvida sobre isso. A questão, no entanto, é que os limites já estão bastante bem desenhados.
 
 
Fonte: Blog do Miro (altamiroborges.blogspot.com)
 
 
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Quem gera emprego no campo é a
              agricultura familiar
 
Por Valmir Assunção (*)
 
 
 
 
 
Novamente, a revista Veja traz um artigo de Maílson da Nóbrega, colocando que o agronegócio é quem produz e, ao mesmo tempo, gera muito emprego neste País. É a terceira semana em que a revista traz ataques contra o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e contra a reforma agrária.

Agora, ao menos, deixaram explícita a sua verdadeira tese: tentar convencer que a Reforma Agrária não deve ser uma política prioritária do Estado brasileiro. No entanto, Maílson da Nóbrega se engana ao afirmar que a Reforma Agrária perdeu o encanto. Ao contrário, a Reforma Agrária, mais que nunca, pauta a vida de milhares de agricultores e agricultoras sem terras que, cada vez mais, organizam-se para reivindicar junto ao Estado brasileiro esta dívida histórica.

A prova está não só na militância firme do MST, mas também no surgimento de tantos outros movimentos sociais camponeses nas últimas três décadas, sem falar dos sindicatos de trabalhadores rurais que, desde muito antes da ditadura, trazem esta pauta para a sociedade. São mais de 70 movimentos de trabalhadores rurais espalhados pelo Brasil: todos querem e reivindicam a Reforma Agrária. A presidenta Dilma já declarou, há dias atrás, que nosso Governo assentará milhares de famílias, pois a política traz cidadania e bem-estar para o campo brasileiro.

Ao afirmar que o agronegócio gera empregos, a revista e seu colunista se equivocam: dados mostram que este modelo, na verdade, gera poucos empregos, mais de 10 vezes menos que a agricultura familiar, utiliza grandes extensões de terra para a monocultura para exportação, baseada em baixos salários, no uso intensivo de agrotóxicos e de sementes transgênicas. Além disso, desrespeitam as leis trabalhistas e ambientais, inclusive com a utilização de trabalho escravo.

O agronegócio tem como lógica a exploração da terra, dos recursos naturais, do trabalho e da vida das mulheres. Além disso, empresas estrangeiras passam a controlar o território brasileiro, por meio da associação com os latifúndios improdutivos, e se apropriando de terras que deveriam ser destinadas à Reforma Agrária. Não produzem alimentos para o povo brasileiro. Deterioram o ambiente com o uso da monocultura, como de soja, eucalipto, cana-de-açúcar e pecuária intensiva. Em meio o debate do Código Florestal brasileiro, todas estas questões vem à tona, mostrando a verdadeira face deste modelo de agricultura.

A Reforma Agrária é ainda política fundamental para a erradicação da pobreza: Um levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) aponta que a insegurança alimentar é maior na área rural do que na urbana: enquanto 6,2% e 4,6% dos domicílios em área urbana apresentavam níveis moderado e grave de insegurança alimentar, respectivamente, na área rural as proporções foram de 8,6% e 7%.

Esses dados mostram o quão importante é a Reforma Agrária no atual contexto. Distribuição de terras, resultado da desconcentração fundiária, somado a políticas para o desenvolvimento dos assentamentos, com um forte programa de agroindustrialização da produção, é a resposta para enfrentar a pobreza, porque gera renda, cria empregos e aumenta a produção de alimentos.

O Parlamento, por outro lado, tem criar condições e formas que retirem todo entulho autoritário que burocratiza uma ampla e irrestrita Reforma Agrária. Cito o exemplo da atualização dos índices de produtividade do campo, projeto de lei que protocolei aqui na Câmara, não só para cumprir o que a nossa constituição já prevê, mas também como forma de estabelecermos uma real desconcentração fundiária no Brasil.

(*) Deputado federal (PT-BA), vice-líder do PT na Câmara e militante do MST.



 
 
 

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