09 abril 2011

MEIO AMBIENTE

Cerca de 1500 diplomatas e ministros ouviram segunda-feira (4) o pedido da presidente da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Christiana Figueres, de que é preciso colocar em prática urgentemente os compromissos firmados no ano passado na Conferência do Clima de Cancún (COP16) e de que uma decisão sobre a extensão do Protocolo de Quioto deve ser alcançada o quanto antes.

“É fundamental que as nações cumpram os compromissos firmados no passado para que em 2012 tenhamos um acordo climático global em funcionamento. Os governos precisam chegar a um consenso de uma vez sobre o futuro de Quioto, para que possamos avançar”, declarou Figueres na abertura da primeira rodada climática do ano, que está sendo realizada em Bangcoc, Tailândia.

A presidente ainda salientou que mesmo essas metas, que nem saíram do papel, não são o suficiente para frear o aquecimento global, pois realizam o corte de apenas 60% das emissões necessárias para limitar o aquecimento em 2°C, valor considerado pelos cientistas como o máximo para que não soframos as piores consequências das mudanças climáticas.

“É preciso que todos entendam esta diferença entre as medidas que estão sendo prometidas e o que seria realmente necessário. Em 2011, temos que consertar isso e buscar uma solução coletiva e ambiciosa para lidar com as transformações do clima”, explicou Figueres.

O diretor de estratégias climáticas da Comissão Européia, Artur Runge-Metzger, considerou justo o “puxão de orelhas” que Figueres deu nos negociadores e afirmou que a prioridade em Bangcoc deve ser a implementação dos Acordos de Cancún.

“As decisões tomadas no México, em especial as metas assumidas pelos países, devem ser finalizadas para que possam se transformar em legislações domésticas”, afirmou Runge-Metzger.

Japão
Talvez a mais importante dessas decisões, a criação do “Fundo Verde do Clima” para promover a distribuição de US$ 100 bilhões anuais em ajuda climática para os países mais vulneráveis, está sob risco devido ao desastre natural do Japão.

Os japoneses seriam grandes financiadores do Fundo, mas irão precisar de todos os recursos disponíveis, inclusive empréstimos estrangeiros, para a reconstrução das cidades afetadas pelo terremoto seguido de tsunami.

“O Japão sempre ocupou um papel importante no financiamento climático e é bastante provável que abandone completamente essa função agora que possui tantos problemas internos”, explicou Sven Harmeling, da ONG Germanwatch.

Além desse aspecto, existe a crise nuclear causada pelo vazamento de radiação da usina de Fukushima, que está gerando dúvidas sobre o futuro desse tipo de geração de energia e até sobre a continuidade das metas de emissões de diversos países, o que pode afetar também a extensão do Protocolo de Quioto.

Sem a energia gerada por Fukushima e com os planos de expansão nuclear suspensos, o Japão deverá optar pelas termoelétricas a gás e carvão para suprir a demanda. Dessa forma, as metas do país sob Quioto, de reduzir em 25% as emissões de gases do efeito estufa até 2020 com relação aos níveis de 1990, já estão sendo revistas.

“Com certeza nossos objetivos serão afetados e estamos analisando qual a melhor saída, se ampliar o prazo ou diminuir a porcentagem de redução. Mas ainda é muito cedo para tomar esse tipo de decisão”, afirmou Hideki Minamikawa, vice-ministro de Meio Ambiente japonês.

Não será apenas o Japão que pode rever suas metas. Vários países europeus estão reavaliando suas políticas energéticas e apesar da maioria apontar que pretende adotar uma maior parcela de fontes renováveis é bem provável que em um curto prazo as emissões na União Européia cresçam pela utilização de termoelétricas.

Os negociadores em Bangcoc estão, portanto, com um grande abacaxi no colo. Além das atuais metas representarem apenas 60% dos cortes necessários das emissões, elas aparentemente irão ficar ainda menores.

Nesse cenário, é muito difícil traçar o que deverá acontecer com o Protocolo de Quioto nesta rodada de negociações, mas o que se espera é que pelo menos haja algum direcionamento para que a próxima Conferência do Clima (COP 17), em novembro, na África do Sul, consiga finalmente dar uma resposta sobre o futuro do acordo.


(Transcrito do site www.cartamaior.com.br) 

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