CRISE NUCLEAR JAPONESA, ACREDITAR EM QUÊ?
Tomi Mori (*) - Esquerda.net
Entrando na quarta semana após o início da tragédia, já que ela ainda está longe de terminar, temos alguns dados já relativamente estabilizados. As mortes oficiais somam 11.620, os desaparecidos 16.444 (não há muita possibilidade de que sejam encontrados vivos depois de tantos dias), 2.877 feridos e 191.625 construções destruídas ou danificadas. Esses números podem ser considerados como a primeira parte da tragédia. A outra parte diz respeito às casas, plantações e vidas desorganizadas pela tragédia nuclear, que continua sem que possamos dizer em que estágio da crise nos encontramos. Estima-se que serão necessários 300 bilhões de dólares para reparar os estragos causados. Estamos no início, no meio ou próximos do final da crise?
Falta de credibilidade
A maior crise existente no Japão hoje é a crise de confiança. Essa crise fenomenal de confiança, no mais amplo sentido da palavra, deriva da atitude das autoridades envolvidas na crise nuclear, ou seja, a Tóquio Eletricidade (Tepco) e o governo do primeiro-ministro Naoto Kan.
A Tóquio Electricidade, operadora da central nuclear Fukushima 1, desde que começou a tragédia, tem agido de tal maneira que já não é possível acreditar em nenhum comunicado que faz. O próprio primeiro-ministro japonês, no início da crise, foi ao escritório da empresa, em Tóquio, para reclamar da maneira como havia sido comunicado. Foi o último a saber, já que a empresa havia se manifestado na imprensa primeiro. Os primeiros vazamentos, que a operadora alegou serem "inofensivos", acarretaram entre outras coisas uma situação na qual os moradores próximos à unidade não mais poderão voltar às suas casas. Vários trabalhadores foram contaminados pela radioatividade, ocasionada pela falta de segurança no trabalho, fruto de informações erradas ou, quem sabe, literalmente mentirosas.
Desde que se iniciou a tragédia nuclear, a operadora fornece dados das medições de radioatividade, mas ninguém é capaz de dizer quais são os critérios utilizados. Se esses critérios são adequados, se os equipamentos utilizados são apropriados, ninguém está em condições de julgar. Mesmo com toda a artimanha utilizada para não agravar o que já era grave, as ações da empresa despencaram. E só não viraram pó, como se diz no jargão financeiro, porque continuam a jogar às escondidas, sem dizer claramente o que deveria ser dito numa situação tão grave como é a atual. Não restam dúvidas que, em primeiro lugar, vêm as motivações económicas e só depois as sociais, como a segurança e a vida das pessoas. As semanas estão a passar, mas não há nenhuma informação concreta de como tudo isso irá terminar.
Durante a semana, foi anunciada a desativação de quatro reactores. Em qualquer situação, é um trabalho que vai levar algumas décadas. Era o óbvio, depois que deitaram água salgada, na tentativa desesperada de refrigerar os reatores. Mas ao invés de diminuir as dúvidas, o que temos à nossa frente é uma quantidade ainda maior de questões não respondidas. Quanto tempo irá levar para que a situação esteja sob controle? A operadora tem como impedir uma fuga que coloque em risco a vida das pessoas? Agora que entramos na Primavera e a temperatura aumenta, como substituir a água do mar? O exército vai deitar sorvete em cima dos reatores com helicópteros?
Neste momento, nas proximidades de Fukushima 1, a temperatura ainda é baixa, provavelmente oscilando até aos 5 graus. Mas, o que será feito quando a temperatura ambiente atingir mais de 30 graus? O governo aventa a possibilidade de jogar resina, mas o que isso significa?
Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala. Não se sabe com que critério científico o governo determina o perímetro de 30 km de evacuação. Mas não resta dúvida de que esse perímetro não é aumentado pois isso representará milhares de milhões de ienes de indenizações. Quanto maior o perímetro, maior a indenização a ser paga e o governo, claramente, faz essas contas, mesmo que isso signifique o risco de milhares de pessoas. O governo, como qualquer governo, tem de falar alguma coisa, mas é incapaz de encontrar uma solução rápida que possa evitar um tragédia de grandes proporções. Na inexistência de explicações confiáveis, sou forçado a especular e tudo indica que a situação hoje é pior e mais dramática do que no dia 11 de março, quando houve o terremoto.
Falta de confiança afeta economia
A visita do presidente Sarkozy ao Japão corresponde ao temor existente, em todo o mundo, de que a crise japonesa possa causar problemas ainda maiores num mundo que já está bastante complicado. Os otimistas diziam que o mundo estava saindo da crise de 2008. Outros mais críticos, diziam que estávamos a caminho, não da recessão mas, sim, da depressão. Independente de estar a favor desta ou daquela opinião, a atual crise japonesa, sem sombra de dúvidas, só faz piorar a situação mundial. A dependência da energia nuclear de alguns países é gritante, basta ver a França de Sarkozy. A França, que sonhava vender centrais nucleares até para os marcianos, se fosse possível, viu o seu projecto despedaçar-se. E, mais do que isso, pode ocorrer um indesejável e poderoso movimento anti-nuclear, coisa que o presidente francês pretende evitar, antecipando-se aos acontecimentos e tentando se transformar no paladino da segurança nuclear, como se isso fosse possível...
A falta de um posicionamento claro por parte do governo tem acarretado uma paralisia em todas as áreas da atividade social. Ainda é cedo para se fornecer números, mas além de várias empresas já terem sido afetadas, com falta de peças e componentes, ainda estamos apenas no início de problemas maiores na economia japonesa. No próximo verão, já está claro que a falta de energia irá causar graves problemas. O maior deles será a falta de energia em Tóquio, coração da economia japonesa. Como resolver essa questão?
Este ano, os japoneses poderão exercer amplamente a sua criatividade, mas é pouco provável que isso impeça que marchemos para uma situação recessiva. Setores da burguesia imperialista japonesa acreditam que na tragédia surge a oportunidade de auferir grandes lucros. Tem algum sentido, já que as pessoas terão de comprar frigoríficos, televisões,camas, construir casas, etc... Mas não se pode dizer que isso vá revitalizar a economia japonesa. Em função da crise nuclear, do seu prolongamento e desdobramentos, a palavra que sintetiza a atual situação japonesa é "volátil". Qualquer que seja a próxima tragédia, ela já não será uma surpresa.
(*) Correspondente em Tóquio do Esquerda.net
Falta de credibilidade
A maior crise existente no Japão hoje é a crise de confiança. Essa crise fenomenal de confiança, no mais amplo sentido da palavra, deriva da atitude das autoridades envolvidas na crise nuclear, ou seja, a Tóquio Eletricidade (Tepco) e o governo do primeiro-ministro Naoto Kan.
A Tóquio Electricidade, operadora da central nuclear Fukushima 1, desde que começou a tragédia, tem agido de tal maneira que já não é possível acreditar em nenhum comunicado que faz. O próprio primeiro-ministro japonês, no início da crise, foi ao escritório da empresa, em Tóquio, para reclamar da maneira como havia sido comunicado. Foi o último a saber, já que a empresa havia se manifestado na imprensa primeiro. Os primeiros vazamentos, que a operadora alegou serem "inofensivos", acarretaram entre outras coisas uma situação na qual os moradores próximos à unidade não mais poderão voltar às suas casas. Vários trabalhadores foram contaminados pela radioatividade, ocasionada pela falta de segurança no trabalho, fruto de informações erradas ou, quem sabe, literalmente mentirosas.
Desde que se iniciou a tragédia nuclear, a operadora fornece dados das medições de radioatividade, mas ninguém é capaz de dizer quais são os critérios utilizados. Se esses critérios são adequados, se os equipamentos utilizados são apropriados, ninguém está em condições de julgar. Mesmo com toda a artimanha utilizada para não agravar o que já era grave, as ações da empresa despencaram. E só não viraram pó, como se diz no jargão financeiro, porque continuam a jogar às escondidas, sem dizer claramente o que deveria ser dito numa situação tão grave como é a atual. Não restam dúvidas que, em primeiro lugar, vêm as motivações económicas e só depois as sociais, como a segurança e a vida das pessoas. As semanas estão a passar, mas não há nenhuma informação concreta de como tudo isso irá terminar.
Durante a semana, foi anunciada a desativação de quatro reactores. Em qualquer situação, é um trabalho que vai levar algumas décadas. Era o óbvio, depois que deitaram água salgada, na tentativa desesperada de refrigerar os reatores. Mas ao invés de diminuir as dúvidas, o que temos à nossa frente é uma quantidade ainda maior de questões não respondidas. Quanto tempo irá levar para que a situação esteja sob controle? A operadora tem como impedir uma fuga que coloque em risco a vida das pessoas? Agora que entramos na Primavera e a temperatura aumenta, como substituir a água do mar? O exército vai deitar sorvete em cima dos reatores com helicópteros?
Neste momento, nas proximidades de Fukushima 1, a temperatura ainda é baixa, provavelmente oscilando até aos 5 graus. Mas, o que será feito quando a temperatura ambiente atingir mais de 30 graus? O governo aventa a possibilidade de jogar resina, mas o que isso significa?
Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala. Não se sabe com que critério científico o governo determina o perímetro de 30 km de evacuação. Mas não resta dúvida de que esse perímetro não é aumentado pois isso representará milhares de milhões de ienes de indenizações. Quanto maior o perímetro, maior a indenização a ser paga e o governo, claramente, faz essas contas, mesmo que isso signifique o risco de milhares de pessoas. O governo, como qualquer governo, tem de falar alguma coisa, mas é incapaz de encontrar uma solução rápida que possa evitar um tragédia de grandes proporções. Na inexistência de explicações confiáveis, sou forçado a especular e tudo indica que a situação hoje é pior e mais dramática do que no dia 11 de março, quando houve o terremoto.
Falta de confiança afeta economia
A visita do presidente Sarkozy ao Japão corresponde ao temor existente, em todo o mundo, de que a crise japonesa possa causar problemas ainda maiores num mundo que já está bastante complicado. Os otimistas diziam que o mundo estava saindo da crise de 2008. Outros mais críticos, diziam que estávamos a caminho, não da recessão mas, sim, da depressão. Independente de estar a favor desta ou daquela opinião, a atual crise japonesa, sem sombra de dúvidas, só faz piorar a situação mundial. A dependência da energia nuclear de alguns países é gritante, basta ver a França de Sarkozy. A França, que sonhava vender centrais nucleares até para os marcianos, se fosse possível, viu o seu projecto despedaçar-se. E, mais do que isso, pode ocorrer um indesejável e poderoso movimento anti-nuclear, coisa que o presidente francês pretende evitar, antecipando-se aos acontecimentos e tentando se transformar no paladino da segurança nuclear, como se isso fosse possível...
A falta de um posicionamento claro por parte do governo tem acarretado uma paralisia em todas as áreas da atividade social. Ainda é cedo para se fornecer números, mas além de várias empresas já terem sido afetadas, com falta de peças e componentes, ainda estamos apenas no início de problemas maiores na economia japonesa. No próximo verão, já está claro que a falta de energia irá causar graves problemas. O maior deles será a falta de energia em Tóquio, coração da economia japonesa. Como resolver essa questão?
Este ano, os japoneses poderão exercer amplamente a sua criatividade, mas é pouco provável que isso impeça que marchemos para uma situação recessiva. Setores da burguesia imperialista japonesa acreditam que na tragédia surge a oportunidade de auferir grandes lucros. Tem algum sentido, já que as pessoas terão de comprar frigoríficos, televisões,camas, construir casas, etc... Mas não se pode dizer que isso vá revitalizar a economia japonesa. Em função da crise nuclear, do seu prolongamento e desdobramentos, a palavra que sintetiza a atual situação japonesa é "volátil". Qualquer que seja a próxima tragédia, ela já não será uma surpresa.
(*) Correspondente em Tóquio do Esquerda.net
(Transcrito do site http://www.cartamaior.com.br/)
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SUBSÍDIOS, O PRINCIPAL COMBUSTÍVEL NUCLEAR
Alejandro Nadal – La Jornada
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SUBSÍDIOS, O PRINCIPAL COMBUSTÍVEL NUCLEAR
Alejandro Nadal – La Jornada
Para esconder sua falta de vergonha, os porta vozes da indústria nuclear agora afirmam que todas as fontes de energia têm seus riscos próprios. Assinalar os defeitos alheios para esconder as próprias falhas é um velho recurso retórico. Ele é empregado quando alguém está acuado e é especialmente útil quando os argumentos se esgotaram. Mas é particularmente estúpido quando os erros próprios são expressamente ofensivos e estão à vista de todos.
As notícias desde Fukushima seguem sendo alarmantes. Nesta semana descobriu-se a presença de plutônio nas instalações danificadas, o que indica que o reator 3 (o único em Fukushima que utiliza uma mistura de urânio e plutônio) provavelmente sofreu danos importantes. Isso não surpreende se se leva em conta a violência da explosão de hidrogênio, dia 14 de março, neste reator.
Ainda assim, os porta-vozes da indústria nuclear seguem insistindo que esta tecnologia é segura, eficiente e competitiva do ponto de vista econômico. O certo é que se trata da tecnologia mais perigosa já inventada pelo ser humano. Se hoje existem 442 reatores em operação no mundo, isso não se deve a sua aceitação, mas sim à imposição destes artefatos sobre a população. Participaram deste processo as granas corporações, governos e o establishment militar. Um ingrediente importante nesta manobra foi, desde cedo, a falta de informação. A opacidade se converteu em costume e a mentira em rotina.
O engano sobre a suposta eficiência econômica da indústria nuclear é quiçá tão perverso quanto o ocultamento de informação sobre os danos à saúde e a periculosidade desta tecnologia. A realidade é que a indústria nuclear mundial não poderia funcionar se não fosse pelos astronômicos subsídios que tem recebido ao longo de sua história.
Os subsídios e ajudas econômicas impactaram todas e cada uma das fases de qualquer projeto nuclear, desde as garantias para obter financiamento, a pesquisa científica e tecnológica para desenvolver os componentes medulares desta tecnologia, a construção e a ativação das plantas, o enriquecimento do combustível e desembocam no manejo do lixo nuclear.
Se isso não fosse suficiente, o subsídio mais importante consiste em limitar ou eliminar tal responsabilidade. O objetivo destes subsídios foi retirar ou reduzir a carga de riscos para investidores e transferi-la para os contribuintes.
Todas as plantas nucleares em operação no mundo (incluindo obviamente aquelas instaladas nos Estados Unidos, França, Japão, Rússia e China) foram construídas e entraram em funcionamento graças a importantes subsídios. Claro, em países como França e China, onde a indústria nuclear está intimamente relacionada com um projeto militar, é quase impossível ter acesso à informação sobre subsídios. No México tampouco há dados públicos confiáveis sobre o custo do projeto de Laguna Verde (central nuclear mexicana).
Nos Estados Unidos, com 104 reatores em operação, o montante total de subsídios para indústria foi calculado em aproximadamente 105 bilhões de dólares. A intensidade do subsídio (equivalente ao apoio governamental por quilowatt/hora produzido) chega a exceder o valor comercial do produto em 30% (segundo dados da organização Global Subsidies Initiative). Em seu estudo sobre subsídios para a indústria nuclear, a Union of Concerned Scientists calcula que esses apoios equivalem ou superam em 100% o valor da produção. Vale a pena lembrar que a UCS não é nem pró, nem anti-nuclear.
Um exemplo de subsídios opacos por trás destas cifras é o subsídio por meio de garantias para obter financiamento. Em dezembro de 2007, o Congresso autorizou apoios de até 38 bilhões de dólares para esta finalidade e o Departamento do Estado começou a canalizar fundos em meados de 2008. Para ter uma ideia das magnitudes envolvidas, vale a pena lembrar que em 1995 o Departamento do Tesouro comprometeu cerca de 20 bilhões de dólares para o resgate da economia mexicana (na verdade os resgatados foram os credores estadunidenses que tinham investido em bônus mexicanos).
Por que o setor privado não entra para financiar totalmente os custos associados a esta indústria? Porque os riscos são tão importantes que simplesmente não podem ser assumidos por nenhum plano financeiro. Nos mercados financeiros, os swaps de descumprimento creditício sobre a indústria nuclear provavelmente estariam no segmento superior de encargos financeiros.
A conclusão é imediata. A eficiência econômica das plantas nucleares é inexistente. O corolário disso é que o principal combustível nos cilindros de zircaloy em um reator nuclear não é nem o urânio enriquecido, nem a perigosa mistura denominada MOX. Não, o combustível mais importante é o dinheiro que vem dos contribuintes.
As notícias desde Fukushima seguem sendo alarmantes. Nesta semana descobriu-se a presença de plutônio nas instalações danificadas, o que indica que o reator 3 (o único em Fukushima que utiliza uma mistura de urânio e plutônio) provavelmente sofreu danos importantes. Isso não surpreende se se leva em conta a violência da explosão de hidrogênio, dia 14 de março, neste reator.
Ainda assim, os porta-vozes da indústria nuclear seguem insistindo que esta tecnologia é segura, eficiente e competitiva do ponto de vista econômico. O certo é que se trata da tecnologia mais perigosa já inventada pelo ser humano. Se hoje existem 442 reatores em operação no mundo, isso não se deve a sua aceitação, mas sim à imposição destes artefatos sobre a população. Participaram deste processo as granas corporações, governos e o establishment militar. Um ingrediente importante nesta manobra foi, desde cedo, a falta de informação. A opacidade se converteu em costume e a mentira em rotina.
O engano sobre a suposta eficiência econômica da indústria nuclear é quiçá tão perverso quanto o ocultamento de informação sobre os danos à saúde e a periculosidade desta tecnologia. A realidade é que a indústria nuclear mundial não poderia funcionar se não fosse pelos astronômicos subsídios que tem recebido ao longo de sua história.
Os subsídios e ajudas econômicas impactaram todas e cada uma das fases de qualquer projeto nuclear, desde as garantias para obter financiamento, a pesquisa científica e tecnológica para desenvolver os componentes medulares desta tecnologia, a construção e a ativação das plantas, o enriquecimento do combustível e desembocam no manejo do lixo nuclear.
Se isso não fosse suficiente, o subsídio mais importante consiste em limitar ou eliminar tal responsabilidade. O objetivo destes subsídios foi retirar ou reduzir a carga de riscos para investidores e transferi-la para os contribuintes.
Todas as plantas nucleares em operação no mundo (incluindo obviamente aquelas instaladas nos Estados Unidos, França, Japão, Rússia e China) foram construídas e entraram em funcionamento graças a importantes subsídios. Claro, em países como França e China, onde a indústria nuclear está intimamente relacionada com um projeto militar, é quase impossível ter acesso à informação sobre subsídios. No México tampouco há dados públicos confiáveis sobre o custo do projeto de Laguna Verde (central nuclear mexicana).
Nos Estados Unidos, com 104 reatores em operação, o montante total de subsídios para indústria foi calculado em aproximadamente 105 bilhões de dólares. A intensidade do subsídio (equivalente ao apoio governamental por quilowatt/hora produzido) chega a exceder o valor comercial do produto em 30% (segundo dados da organização Global Subsidies Initiative). Em seu estudo sobre subsídios para a indústria nuclear, a Union of Concerned Scientists calcula que esses apoios equivalem ou superam em 100% o valor da produção. Vale a pena lembrar que a UCS não é nem pró, nem anti-nuclear.
Um exemplo de subsídios opacos por trás destas cifras é o subsídio por meio de garantias para obter financiamento. Em dezembro de 2007, o Congresso autorizou apoios de até 38 bilhões de dólares para esta finalidade e o Departamento do Estado começou a canalizar fundos em meados de 2008. Para ter uma ideia das magnitudes envolvidas, vale a pena lembrar que em 1995 o Departamento do Tesouro comprometeu cerca de 20 bilhões de dólares para o resgate da economia mexicana (na verdade os resgatados foram os credores estadunidenses que tinham investido em bônus mexicanos).
Por que o setor privado não entra para financiar totalmente os custos associados a esta indústria? Porque os riscos são tão importantes que simplesmente não podem ser assumidos por nenhum plano financeiro. Nos mercados financeiros, os swaps de descumprimento creditício sobre a indústria nuclear provavelmente estariam no segmento superior de encargos financeiros.
A conclusão é imediata. A eficiência econômica das plantas nucleares é inexistente. O corolário disso é que o principal combustível nos cilindros de zircaloy em um reator nuclear não é nem o urânio enriquecido, nem a perigosa mistura denominada MOX. Não, o combustível mais importante é o dinheiro que vem dos contribuintes.
Tradução: Katarina Peixoto
(Transcrito do site http://www.cartamaior.com.br/)
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A URNA SEMPRE CORRIGE
Delfim Netto (*)
A economia de mercado não foi inventada. Ela é produto de um processo que começou há 150 mil anos, quando os homens abandonaram a África para ocupar o resto da Terra. Sendo um processo, foi encontrando mecanismos flexíveis para satisfazer os objetivos sempre mutáveis dos homens. Esses, lentamente, transcenderam às suas necessidades materiais. É esse caminho da “humanização” do homem, a rigor explorado apenas nos últimos 300 anos, que permitiu sextuplicar a população mundial; que aumentou em mais de sete vezes a disponibilidade per capita de bens e serviços; e aumentou (graças à ciência e à tecnologia) sua expectativa de vida ao nascer, de 35 para 70 anos.
É claro que essa organização está longe de ser plenamente satisfatória, mesmo porque, sendo um processo, a cada momento criam-se novas “necessidades”: a civilização sempre exige mais civilização… Ela está longe de ser perfeita e terminada, mas todas as opções construídas por cérebros peregrinos que imaginaram construir a “sociedade perfeita”, habitada pelo “homem perfeito”, fracassaram miseravelmente. O século XX é um cemitério dessas aventuras. O século XXI promete mais alguns cadáveres…
Os economistas estão sempre atentos a relações entre eventos e, quando as encontram, inventam histórias para “explicá-las”. Uma história que tem sobrevivido desde Adam Smith (que esclarece bem o caso da Holanda e da Inglaterra) é que aquela “economia de mercado” só aparece e se desenvolve quando a sociedade aceita e dá dignidade à atividade exercida pelos que têm iniciativa e os benefícios de suas “inovações” podem ser apropriados por eles. Isso, obviamente, exige um Estado Indutor com mãos leves e amigável com relação a eles.
Certamente, isso explica melhor do que as “funções de produção” o fenomenal desenvolvimento da China a partir de 1978 e da Índia a partir de 1991. Os fatores de produção (terra, mão de obra e capital) e as funções de produção inventadas pelos economistas já estavam lá em estado latente há dezenas de anos e a produtividade total dos fatores, medida estatisticamente, era muito próxima de zero. O que faltava era um Estado Indutor que: 1. Respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado. 2. Libertasse o “espírito animal” dos empresários para utilizar e dar mais oportunidades de progresso à mão de obra. 3. Garantisse que cada um poderia se apropriar dos benefícios de sua iniciativa.
O mesmo fenômeno talvez se repita na República Russa, onde o governo promete remover o “entulho” que sobrou depois da queda da URSS, quando a transferência da atividade estatal para o setor privado foi entregue aos feudos do velho Partido Comunista. Houve, até agora, simples transferência da ineficiência estatal para uma cleptocracia, que destruiu até os setores tecnológicos de ponta do país. Diante da necessidade imposta pelo resultado das eleições de 2012, Vladimir Putin apela para uma reabilitação moral da atividade econômica privada. A nova “meta” é dar dignidade ao lucro honestamente obtido e libertar o espírito empreendedor pela ampliação da competição; privatizar 50 bilhões de dólares de ativos (inativos) que estão nas mãos do Estado (vender até mesmo os hotéis e times de futebol); cortar as asas dos oligopólios (que estão ainda nas mãos de velhos companheiros da KGB); estimular a abertura de novos investimentos diminuindo a burocracia; diminuir a dependência do setor energético, com fontes alternativas ao petróleo; proteger com tarifas e estimular, com subsídios, os setores automotivos e aeroespacial, a agricultura e diversificar a exportação de petróleo.
Para quem ainda tem dúvida de que é fundamental o respeito à dignidade da atividade industrial de bens e serviços (que nada tem a ver com os predadores financeiros), basta observar os movimentos de Barack Obama também diante da ameaça das urnas, buscando apressadamente a reaproximação com o setor real da economia americana. Seu maior erro foi a pirueta inicial para agradar os democratas: salvar os desonestos do sistema financeiro internacional que produziram a crise, sob as vistas complacentes das autoridades monetárias, à custa de 17 milhões de desempregados que ganhavam a vida honestamente. Como os EUA já deviam saber, a URNA corrige o excesso do falso tecnicismo econômico. Às vezes com algum atraso, mas antes tarde…
Os economistas estão sempre atentos a relações entre eventos e, quando as encontram, inventam histórias para “explicá-las”. Uma história que tem sobrevivido desde Adam Smith (que esclarece bem o caso da Holanda e da Inglaterra) é que aquela “economia de mercado” só aparece e se desenvolve quando a sociedade aceita e dá dignidade à atividade exercida pelos que têm iniciativa e os benefícios de suas “inovações” podem ser apropriados por eles. Isso, obviamente, exige um Estado Indutor com mãos leves e amigável com relação a eles.
Certamente, isso explica melhor do que as “funções de produção” o fenomenal desenvolvimento da China a partir de 1978 e da Índia a partir de 1991. Os fatores de produção (terra, mão de obra e capital) e as funções de produção inventadas pelos economistas já estavam lá em estado latente há dezenas de anos e a produtividade total dos fatores, medida estatisticamente, era muito próxima de zero. O que faltava era um Estado Indutor que: 1. Respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado. 2. Libertasse o “espírito animal” dos empresários para utilizar e dar mais oportunidades de progresso à mão de obra. 3. Garantisse que cada um poderia se apropriar dos benefícios de sua iniciativa.
O mesmo fenômeno talvez se repita na República Russa, onde o governo promete remover o “entulho” que sobrou depois da queda da URSS, quando a transferência da atividade estatal para o setor privado foi entregue aos feudos do velho Partido Comunista. Houve, até agora, simples transferência da ineficiência estatal para uma cleptocracia, que destruiu até os setores tecnológicos de ponta do país. Diante da necessidade imposta pelo resultado das eleições de 2012, Vladimir Putin apela para uma reabilitação moral da atividade econômica privada. A nova “meta” é dar dignidade ao lucro honestamente obtido e libertar o espírito empreendedor pela ampliação da competição; privatizar 50 bilhões de dólares de ativos (inativos) que estão nas mãos do Estado (vender até mesmo os hotéis e times de futebol); cortar as asas dos oligopólios (que estão ainda nas mãos de velhos companheiros da KGB); estimular a abertura de novos investimentos diminuindo a burocracia; diminuir a dependência do setor energético, com fontes alternativas ao petróleo; proteger com tarifas e estimular, com subsídios, os setores automotivos e aeroespacial, a agricultura e diversificar a exportação de petróleo.
Para quem ainda tem dúvida de que é fundamental o respeito à dignidade da atividade industrial de bens e serviços (que nada tem a ver com os predadores financeiros), basta observar os movimentos de Barack Obama também diante da ameaça das urnas, buscando apressadamente a reaproximação com o setor real da economia americana. Seu maior erro foi a pirueta inicial para agradar os democratas: salvar os desonestos do sistema financeiro internacional que produziram a crise, sob as vistas complacentes das autoridades monetárias, à custa de 17 milhões de desempregados que ganhavam a vida honestamente. Como os EUA já deviam saber, a URNA corrige o excesso do falso tecnicismo econômico. Às vezes com algum atraso, mas antes tarde…
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