20 outubro 2010

O chope de Aécio Neves

Aparentemente, estaria de volta a política do café com leite. São Paulo e Minas querem comandar a política nacional. Ou melhor, seus caciques.

O ideal da República Velha é perseguido conscientemente desde o governo anti-getulista (!!!) de FHC, que quis fazer o Brasil percorrer 80 anos em 8 – só que para o passado, ao contrário do de Juscelino.

Agora, estaríamos diante de um acordo de bastidor entre o cacicato paulista e o mineiro. De algum modo se organizariam as coisas para que a sucessão de Serra, em quatro ou cinco anos, ficasse a cargo de Alckmin e de Aécio.

Com sobras para aliados no Rio de Janeiro, como Gabeira. Carguinhos para PVs apressados em subir escadarias ao invés de rios preservados.

Assim como antes isso valeria o Palácio do Catete, no Rio (embora apenas Getúlio o tenha habitado), agora valeria o do Planalto. Tudo isso, é claro, apoiado na sórdida canalhice que manda apaches para as portas de milhares de igrejas em todo o país distribuírem santinhos contra Dilma.

Vão chupar o chope de Aécio de canudinho. Nada vai deter a ambição que parte do Palácio dos Bandeirantes, que é a de reduzir o Brasil a uma província do cacicato de S. Paulo – desde que o mesmo cacicato permaneça no seu comando, é claro.

Mas vai haver mais conseqüências. Os novos grotões brasileiros – a parte da classe média crente que lê Veja e acredita, ou finge ou quer acreditar,
mais o restante da mídia golpista – vai cobrar o preço da vitória. Menos investimento para guindar pobres ao consumo, mais gasto público com subsídios para seu próprio consumo, sob a forma de liberação de impostos (inclusive para supérfluos). É o fim para programas sociais, pro-unis, etc.

Isso vai levar a rupturas graves no tecido social. Os DEMs depostos de seus cargos legislativos vão querer prebendas e sinecuras. E, se o pretenso acordo com Minas exigir o salamaleque de uma reforma constitucional, mudando o mandato de quatro para cinco anos, imagine-se a que negociações isso levará, como no caso da mudança que permitiu a FHC concorrer a um segundo mandato. Mas tudo isso será para beneficiar Alckmin – ou o próprio Serra se, diante da “impossibilidade” de mudar a Constituição, ele “for forçado” a concorrer a um segundo mandato.

De qualquer modo, nesse cenário, adeus Aécio. Aécio, adeus. De quebra, tchau, Marina: Marina, tchau.



Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.


(Extraído do site www.cartamaior.com)

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