Serra foi campeão de votos nas áreas de maior desmatamento. Uma
análise mais detida sobre o sucesso do candidato na região pode ser
feita a partir dos mapas eleitorais dos municípios que foram mais
atingidos pela operação Arco de Fogo. Esta operação foi deflagrada
pela Polícia Federal em 2008, com o apoio da Força Nacional, a partir
de uma demanda do Ministério do Meio Ambiente, quando Marina Silva
ainda era ministra, e incidiu sobre as localidades onde a prática das
queimadas e da retirada de madeira era mais crítica (veja o mapa aqui)
A magnitude da operação, a dimensão do apoio federal e os resultados
colhidos, em conjunto com outras políticas - como a de implantar os
Territórios da Cidadania em toda a extensão do arco do desmatamento -
contradizem a afirmação de Marina Silva de que sua saída do Ministério
do Meio Ambiente (MMA) deveu-se a que o Governo Federal não a teria
apoiado na luta contra o “desenvolvimento a qualquer custo”. A
operação Arco de Fogo foi a maior luta já travada no Brasil contra tal
desenvolvimento desenfreado, com resultados significativos na redução
do desmatamento. Resultados, aliás, que Marina exibiu como feitos de
um trabalho iniciado em sua gestão. Estranha essa forma de boicote.
O PV, a começar por Gabeira, Sirkys e Feldman, sabe o quanto Serra é o
candidato do Arco de Fogo. Nenhum deles desconhece que Marina foi
severamente punida nas urnas da faixa que vai do Acre (terra natal da
candidata) ao Maranhão, apelidada de Arco do Desmatamento.
Considerados os 18 municípios mais afetados pela operação Arco de Fogo
e que a ela ofereceram maior resistência, Serra ganhou em 14 deles
(78%). Dilma, em 4. Marina, em nenhum. As vitórias de Dilma se deram
em áreas da política de reforma agrária, com maior organização dos
trabalhadores sem terra ou dos assentados, ou em localidades que
passaram a depender menos da economia do desmatamento.
Em Tailândia, sul do Pará, cidade que foi palco da primeira operação
Arco de Fogo, Serra teve 61% dos votos, contra apenas 32,75% de Dilma
e míseros 5,70% de Marina. Em cidades pólo da atividade madeireira e
da expansão predatória do agronegócio, como Alta Floresta e Sinop, no
Mato Grosso, e Altamira e Paragominas, no Pará, Serra não teve menos
de 50% dos votos (foram quase 60% em Alta Floresta). Dilma oscilou
entre cerca de 34% (Altamira) e 38% (Paragominas), e Marina ficou
entre 3,3% (Alta Floresta) e 11% (Paragominas) (Veja as tabelas e os gráficos)
O trabalho de fiscalização realizado pelo Ministério do Trabalho e os
levantamentos feitos pela Comissão Pastoral da Terra e pela
organização Repórter Brasil mostram também que há uma relação direta
entre o agronegócio predatório e a prática do trabalho escravo.
Diga-se de passagem, ao contrário de Dilma, Serra não assinou até
agora a Carta-Compromisso contra o trabalho escravo.
Quando o governo Lula deu início à operação Arco de Fogo, 26 dos 36
municípios (72,22%) que faziam parte da lista prioritária de combate
ao desmatamento tinham ocorrência de trabalho escravo . A fiscalização
e o resgate de trabalhadores em situação análoga à que a OIT define
como de escravidão produzem números que demonstram uma grande
diferença de esforços entre o governo FHC e o governo Lula. Em 8 anos,
o Governo FHC resgatou em média pouco mais de 736 trabalhadores nessas circunstâncias (ao todo, 5.893 pessoas). De 2003 a 2008, conforme
dados do Ministério do Trabalho, o governo Lula retirou da escravidão
quatro vezes e meia mais pessoas (26.670), com uma média de quase
4.500 por ano (veja o gráfico).
Os dados corroboram as suspeitas levantadas por Arlete Sampaio, em artigo na Carta Maior, e por Marilena Chauí, que apontaram a coincidência entre as votações majoritárias obtidas por Serra em alguns Estados e a presença do agronegócio predatório.
Altamiro Borges, no Blog do Miro,
lembrou que a maior votação proporcional de Serra no país ocorreu em Marcelândia (MT), com 75,1% dos votos. “O município é reduto pecuarista e tem altos índices de desmatamento”. Flávio Aguiar também destacou que Serra ganhou nos estados do chamado “espinhaço do agrobusiness”, de Santa Catarina a Rondônia.
A posição de “independência” do PV para o 2º turno - pelo que se sabe,
costurada por Marina a duras penas - não tem impedido que uma parcela
de seus dirigentes entenda a posição de neutralidade como um aval para
subir no muro dos tucanos. Mas o eleitorado que votou em Marina por
razões ambientais tem elementos de sobra para compreender a dimensão
da luta que se trava na Amazônia e perceber a opção antiecológica dos
que preferem por lenha na fogueira do candidato do Arco de Fogo, custe
o que custar.
ANTONIO LASSANCE
(Extraído do site www.cartamaior.com)
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