26 agosto 2015

SÍNDROME DE ESTOCOLMO



O que leva Dilma a dar entrevistas para jornais que vão sacaneá-la? 



Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo



Síndrome de Estocolmo?
Síndrome de Estocolmo?
Leio na internet que há 43 anos, num dia 23 de agosto, o mundo cunhou a expressão Síndrome de Estocolmo.
Como todos sabemos, é aquela aberração psicológica pela qual vítimas podem desenvolver laços amorosos com seus agressores.
Pensei nisso ao saber que Dilma decidira dar uma entrevista à Folha, ao Globo e ao Estadão.
Os editores iriam aproveitar qualquer chance para colocá-la em situação constrangedora.
E foi exatamente o que ocorreu.
Os textos dos jornais se centraram no seguinte: Dilma admitiu que demorou para perceber o tamanho da crise.
Apenas o El País, não interessado em arrasar Dilma, sublinhou um fato essencial para compreender a admissão: Dilma se referia à crise internacional.
Mais especificamente, aos efeitos dela na economia brasileira.
São duas coisas completamente diferentes.
Dilma foi sacaneada, mas onde a surpresa?
Do jeito que a coisa foi apresentada pela mídia, ficou a impressão de que Dilma confessou que os jornais estavam certos e ela errada.
Comentaristas e políticos da oposição aproveitaram para atacá-la. Merval disse que Dilma fez, enfim, uma autocrítica.
No G1, um leitor, que assina Almada, postou um comentário em que dizia que ele vinha alertando o governo fazia meses. O bom Almada deu até o endereço para que outros leitores leiam as preciosas advertências econômicas que ofereceu, nos últimos meses, a Dilma.
Quer dizer: os jornais conseguiram se autocongratular, como voluntarioso Almada, pela cobertura sinistra que fizeram da crise econômica.
O que houve de fato foi o seguinte.
A Bolsa de Valores da China teve que explodir para os jornais reconhecerem, com enorme atraso, que a crise é mundial, e não local.
Era estratégico restringi-la ao Brasil porque ficava mais fácil definir Dilma como incompetente.
O dólar subiu no mundo inteiro nestes primeiros meses do ano, e você lia a imprensa brasileira e tinha a sensação de que isso ocorria apenas no Brasil.
Idem para a crise do petróleo. Era coisa nossa. Quer dizer, dela, Dilma.
Éramos uma ilha problemática num mundo repleto de soluções, na tese farisaica da mídia.
A China teve que tropeçar para que a farsa fosse abandonada.
Mas eis que Dilma decide conceder uma entrevista a jornais que tratam de massacrá-la todos os dias.
Síndrome de Estocolmo, me ocorre.
E então no noticiário que sai da entrevista Dilma é tratada como inepta.
Quem deveria fazer uma autocrítica é a imprensa, que manipulou por meses seguidos seus leitores com a versão falsa de que a crise se restringia ao Brasil.
Mas isso não virá.
Com a contribuição de Dilma, a versão que a mídia propagará é que os jornais cansaram de avisar que a coisa estava feia.
É definitivamente um mistério o que leva Dilma a conversar com publicações que jamais surpreenderão por tratá-la com decência.



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