19 agosto 2015

COMO É VASTA, INSANA E HIPÓCRITA A FAUNA HUMANA

A negra da Atlântica era a babá…

copacoxa
O termo reportagem, que não se confunde com a mera notícia. a qual querem circunscrever o jornalismo sob a alegação de “neutralidade” (naturalmente, uma neutralidade sempre acorde ao senso comum que a própria comunicação de massas constrói), vem do latim “reportare”, que é “levar de volta” o leitor a algum lugar ou situação onde aquele que reporta esteve ou viveu.

O repórter Bernardo Mello Franco, da Folha, que já nos havia brindado com o clima de “oh, glória” do promotor Deltan Dallagnol, da Lava Jato, dizendo algo como “Deus está com Moro e não abre”, desta vez passeia, de alma leve e olhos abertos pela manifestação “pro-impeachment” de domingo, em Copacabana.

É texto que vale a pena ler, para que a gente relembre  como é inevitavelmente vasta, insana e hipócrita a fauna humana:

Domingo em Copacabana


Bernardo Mello Franco, na Folha


Vi uma multidão de verde e amarelo em Copacabana, com bandeiras do Brasil e cartazes contra o PT. Ouvi palavras de ordem e palavrões contra Dilma e Lula. Não ouvi os nomes de Aécio, Marina, Serra ou Alckmin, que Dilma e Lula derrotaram nas últimas quatro eleições.

Vi faixas contra os senadores Renan Calheiros e Fernando Collor, investigados no petrolão. Não vi nenhuma menção ao deputado Eduardo Cunha, o articulador do impeachment, que é acusado de embolsar US$ 5 milhões no mesmo escândalo.

Vi um desfile de camisas oficiais da seleção. Não vi ninguém citar os cartolas da CBF sob suspeita de corrupção, como Ricardo Teixeira e José Maria Marin, preso na Suíça.

Vi mais de uma centena de manifestantes pedindo a volta dos militares. Vi homens de boina do Exército a bordo de um jipe camuflado. Não vi nada que lembrasse os crimes da ditadura fardada de 1964.

Vi cartazes com a foto do juiz Sergio Moro, que prendeu José Dirceu há duas semanas. Não ouvi o nome de Joaquim Barbosa, que prendeu o petista há menos de dois anos.

Vi faixas contra o comunismo, ouvi que “a nossa bandeira jamais será vermelha”. Vi uma celebridade sumida da TV, o ex-casseta Marcelo Madureira, atacando o PT em um trio elétrico. Não vi a atriz Regina Duarte. Depois soube que ela perdeu o medo e escalou uma árvore para tirar “selfies” com a passeata ao fundo.

Vi manifestantes confraternizando com PMs. Também vi uma faixa a favor da PEC 300, que aumenta o salário dos PMs. Não vi atos de vandalismo e ninguém ameaçou “pegar em armas”, como fez o presidente da CUT em solenidade no Planalto.

Na volta, vi um deputado de blusa amarela na porta de um bar lotado de gente que chegava da manifestação. Ele andou até uma camionete, parada em local proibido, e buscou a filha com uma mulher negra. A mulher não parecia vir do protesto nem usava camisa da seleção. Vestia um uniforme branco de babá.




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