10 agosto 2015

MAIS UMA AULA DE HIPOCRISIA E DESFAÇATEZ

Cadê a esquerda?



Mino Carta, na Revista CartaCapital


Houve um tempo em que o PT foi crível, mas o tucanato nunca enganou


Meus inquietos botões permitem-se a dúvida: não teriam mentido inúmeros nativos que se apresentavam comoesquerdistas convictos? Responde, indiretamente, a peremptória afirmação de quem entende superada a questão e obsoleta a indagação dos botões, ambas a cheirar a bolor, como a exalar de um velho baú abandonado no sótão. Batem na mesma tecla desde a queda do Muro de Berlim.
De minha parte, fico com a lição do Norberto Bobbio, e ouso a constatação de que coincide (estranhamento? Surpreendentemente?) com a palavra de papa Francisco: intransponível a dicotomia entre luz e treva, bem e mal, Deus e Diabo, se quiserem, ser de esquerda significa defender a igualdade, pois a liberdade por si só acaba por valer somente para poucos. Tanto mais no Brasil da casa-grande e da senzala, ainda de pé, implacáveis.
Penso em José Dirceu e em tantos outros, que ganharam fama de guerrilheiros da igualdade ao sabor de ideologias mais ou menos contingentes. Penso nos rebeldes que hoje pretendem voar com as asas inúteis do tucano, ou na patética turmeta da chamada Libelu, mais fanáticos do que o fanatismo no seu empenho medieval. Entre estes milita certo Antonio Palocci, ainda dará o que falar além do que já se falou. Grande Operador, como P. C. Farias, mas este, ao menos, nunca se disse de esquerda.
Quando, do alto da boleia de um caminhão, José Dirceu exibia às calçadas a camisa ensanguentada do estudante assassinado pela ditadura, cerca de 50 anos atrás, acreditava na fé que aparentemente o movia? Não me atiro a negar. Nego, porém, qualquer semelhança entre aquele e o atual, lobista do banqueiro Daniel Dantas e outros graúdos. O mesmo Dantas que já  ofereceu apoio ao jornalista (jornalista?) criador do site 247, o preferido do PT, embora ele tenha passado boa parte da vida a agredir o próprio partido e seus governos, sem hesitar em mentir, omitir e inventar. E ainda lhe pagam os serviços. 
Figura central, e sempre protegida neste enredo trágico, o fantasmagórico DD, inatingível, cabe suspeitar, porque dono dos segredos da República. Houve, em tempos tucanos, quem pretendesse torná-lo ministro, declinada a oferta com a seguinte observação: “Serei mais útil no bastidor”. Márcio Thomas Bastos, apressadamente santificado, sabia disso tudo, bem como José Dirceu, que pressionou para que o disco rígido do Opportunity capturado pela Operação Chacal fosse jogado ao lixo. Foi atendido.
Se me dissessem, faz 35 anos, que o PT no poder se portaria como todos os demais partidos (partidos?) brasileiros, excluiria a possibilidade. Não havia, então, qualquer dúvida de que o partido nascia à esquerda, e valia confiar em quem o fundava. Que sobrou daquela plataforma ideológica, daquele programa, corajoso e justo? A imagem de uma agremiação à deriva, esmagada por seus erros e pelo vácuo de quadros, incapaz de definir uma linha diferente, oposta mesmo, àquela dos clubes recreativos dos donos do poder.
Neste momento, não como petista que nunca fui, como cidadão simplesmente envolvido nos destinos do País e como jornalista honesto, declaro espanto e desalento, diante de um espetáculo em que se mesclam incompetência e cobiça. Elementar, chã, primitiva, a cobiça dos falsos líderes. Sejamos claros, contudo: a traição do PT a si mesmo estava desenhada desde o primeiro mandato de Lula e CartaCapital não deixou de registrá-la.
Quanto ao tucanato, Fernando Henrique à testa, nunca me enganou. Neste exato instante, o ex-presidente social-democrata (social-democrata?) pede que o PT pecador faça ato de contrição, aquele que lhe caberia em dobro: durante seu governo FHC quebrou o País três vezes, aumentou a dívida e esvaziou suas burras, comprou votos parlamentares para se reeleger e comandou a maior bandalheira-roubalheira da história. Agora não hesita em desenrolar sua versão a respeito do encontro que não houve com Lula. Mais uma aula de hipocrisia e desfaçatez. 









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