31 agosto 2015

APOIO MORAL

Meu querido amigo Nassif,



J. Carlos de Assis, no Jornal GGN


Querido amigo Nassif,
Não fosse pela coragem profissional que sempre demonstrou, não fosse por sua ética inatacável na prática do jornalismo, não fosse pela generosidade em assumir a defesa dos perseguidos injustamente, não fosse por tudo isso e tudo mais que ilustra sua honra, eu teria me surpreendido pelo processo que acaba de mover contra o ministro Gilmar Mendes, que se apresenta como uma nódoa deprimente no Supremo Tribunal Federal.
Já era tempo. Esse magistrado levou ao extremo a capacidade de indignar a Nação. Ofereço-me à lide. Quero estar a seu lado nesse processo. Acredito que ainda não houve tempo para contaminação de todos os juízes de primeira instância e de todos os ministros do Supremo pelos desvios de alguns deles, desvios que estão sendo praticados no que deveria ser a Corte Suprema, mas que, em alguns casos, como no chamado “domínio do fato”, se tornou a suprema aberração do Direito pela ação e às vezes pela omissão.
Não me cabe julgar coisa julgada pela maioria do Supremo, embora as sentenças do mensalão ainda estejam escandalizando meu senso de justiça, como foi no caso do “J´accuse” de Émile Zola, dez aos após o julgamento na França, a terrível injustiça praticada contra o capitão Dreyfus. Mas pego carona em sua ação para me insurgir contra a aberração corrente segundo a qual um ministro do Supremo, justamente Gilmar Mendes, seu caluniador e difamador, senta-se no processo que, já definido pela maioria, visa a eliminar a maior fonte de corrupção do sistema eleitoral brasileiro, o financiamento empresarial de campanhas eleitorais. A decisão já foi dada, como disse, pela maioria. Mas Gilmar, para escândalo da Nação, usando de um artifício regimental esdrúxulo para o qual já apelou em outras oportunidades favorecendo apaniguados políticos, retarda seus efeitos solitariamente, de forma absolutamente suspeita, talvez em cumplicidade com o presidente da Câmara que maneja por passar lei a fim de manter esse esbulho eleitoral da cidadania.
Fomos nós dois, você tendo entrado na “Folha” um pouco depois de mim, em São Paulo, e eu no Rio, que praticamente inventamos no Brasil o jornalismo investigativo em matéria econômica. Jamais poderia ter um continuador, parceiro e aperfeiçoador tão competente e tão consciencioso. Creio que nenhum de nós foi processado por reportagens caluniosas. No meu caso, fui processado pela Lei de Segurança Nacional, no fim da ditadura, a qual não cuidava de criminalizar fatos, mas supostas intenções do autor. Você merece a glória de ter sido injuriado por Gilmar Mendes. Que sorte. No meu caso, apenas ameacei fazer a prova da verdade e me safei da condenação da ditadura. Seu caluniador também está tentando dar marcha a ré. Você, creio eu, vai aproveitar a oportunidade para ir mais longe. Tem a oportunidade de desmoralizar alguém que, por voluntárias declarações no plenário do Supremo, e não pelo exercício limpo da magistratura, terá que prestar contas de sua honra a um juiz de primeira instância e a seus próprios colegas no STF.

Cordialmente,
J. Carlos de Assis*

*Jornalista, economista e professor, autor do recém-lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, ed. Textonovo, SP.


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