22 março 2014

O NEGÓCIO É ESCANDALIZAR

O caso Petrobrás-Pasadena à luz da
economia mundial em 2006


Luís Nassif, na Revista CartaCapital




Ao se dizer não suficientemente informada sobre a compra da refinaria Pasadena, a presidente Dilma Rousseff atiçou uma fogueira que estava sob controle. Especialmente pelo desconhecimento de algumas cláusulas comuns a operações de fusões e aquisições.
Nos próximos dias será uma atoarda de denuncismo, misturando temas técnicos com escandalizações primárias.
É literalmente impossível armar uma operação dessa envergadura em cima de dados falsos e com aval do Conselho da companhia. Para uma empresa como a Petrobras, com acionistas no mundo inteiro, há uma fiscalização ampla que passa por agências de risco, por departamentos econômicos de grandes bancos de investimento.
A precificação de uma refinaria obedece a padrões internacionais, que envolve poucas variáveis – a mais volátil das quais é o preço do petróleo em bolsas internacionais.
Na exploração é muito mais difícil a precificação de bacias, pela dificuldade na mensuração exata do potencial e dos custos de exploração, antes de iniciados. Para as refinarias, não.
O que se tinha na época foi um boom inédito de commodities e uma abundância extraordinária de financiamentos. Ora, era a bolha que explodiria pouco depois e que, até a véspera, não fora prevista pelos maiores experts de mercado. E foi um período em que as multinacionais brasileira lançaram-se no mundo.
Em 2006 a Vale adquiriu a canadense Inco pagando US$ 18 bilhões por 75,66% das ações da companhia. Em 2009, com a queda geral nos preços de commodities, foi obrigada a realizar uma baixa contábil de US$ 2,9 bi no valor da Inco. Ou a compra das minas de ferro de Eike Baptista pela Anglo American por US$ 5,5 bi
Ou seja, os maiores gestores mundiais e brasileiros lançaram-se no mercado aproveitando a excepcional liquidez da época. Esse quadro se inverte radicalmente após a crise de 2008. Na história do capitalismo do século apenas em 1929 houve uma reversão tão expressiva nos preços dos ativos.
Conselho de Administração. Quando ao Conselho de Administração da companhia, era formado por grandes executivos do país, acostumados com práticas consagradas internacionalmente, de fusões e aquisições.
Cláudio Haddad foi sócio do Banco Garantia, um dos pioneiros da fase de fusões dos anos 90. Diz ele:  A gente achou que seria um bom negócio para a Petrobras . Eu me lembro que teve uma 'fairness opinion' (recomendação de uma instituição financeira), que foi do Citibank, que comparou preços, recomendou e mostrou que estava perfeitamente dentro, até abaixo dos preços praticados na época. Como o investimento fazia sentido, o preço estava ok, não havia por que o conselho não aprovar”. “Se teve (apresentação das clausulas Marlim e de Put Option), realmente, não me lembro. Procurei até ver se eu tinha a apresentação do 'management' nessa reunião, mas não achei, porque era tudo papel na época”.
Jorge Gerdau Johannpeter comandou um amplo processo de aquisições internacionais da sua siderúrgica. Diz ele: "O Conselho de Administração da Petrobras baseou-se em avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio, considerando as boas perspectivas de mercado para os anos seguintes. Entretanto, a crise global de 2008 alterou drasticamente o potencial de crescimento do mercado nos anos subsequentes".
Atual presidente da Abril, Fábio Barbosa presidia o ABN Amro e a Febraban: Diz ele: " A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim.  A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado."
 
 
 

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