Por que o Brasil cresce 2%?
João Sicsú, na Revista CartaCapital
Há muitos motivos. Desde o ambiente pessimista criado pela grande mídia familiar até diálogos “desalinhados” entre o governo e empresários. Deve-se, contudo, buscar identificar o principal, o secundário e o pouco relevante. Qualquer economia de mercado tem o seu crescimento explicado por fatores externos e fatores internos. Atribuir o modesto crescimento dos últimos três anos exclusivamente ao desaquecimento da economia mundial é uma análise com viés e incompleta. É viesada do ponto de vista político e incompleta do ponto vista técnico.
Sem dúvida que em 2013 o nosso crescimento foi semelhante ao crescimento mundial, excetuando o crescimento chinês que foi muito superior. Mas isto foi apenas uma coincidência. O crescimento mundial não é causa determinante do nosso crescimento e nem deve ser motivo para conformismo. Afinal, a economia brasileira conquistou certo grau de autonomia em relação à dinâmica mundial. Temos um montante bastante elevado de reservas internacionais, mas mais importante: construímos nos últimos anos um enorme mercado de consumo de massas com mais de 130 milhões de brasileiros.
Em 2009, reagimos à crise internacional apoiados no nosso mercado doméstico. A economia brasileira, em 2009, tropeçou, mas não caiu em profunda recessão tal como diversos países com economias relevantes. Portanto, o Brasil conquistou algum grau de imunidade. Então, se este argumento valeu para 2009, deveria valer para 2013.
Há influência do preço internacional de commodities e do modesto crescimento mundial sobre o desempenho da economia brasileira. Isto não pode ser descartado da análise, mas o ponto relevante está no Brasil, está na política econômica que foi adotada em 2011. Naquele ano decidiu-se derrubar a trajetória impetuosa de 2010, de crescimento de 7,5%, que assustou os economistas que optam por decisões conservadoras em nome da gestão rotulada de responsável.
Política monetária e fiscal restritivas com câmbio em valorização foi a direção adotada em 2011. A crise internacional somente emergiu no 4º trimestre daquele ano. O resultado foi uma queda da economia que ingressou na trajetória de crescimento dos 2%. A trajetória de 2007-2010, a despeito da leve recessão de 2009, estava no patamar de 4,5%. O redirecionamento de 2011 não foi responsável apenas pelo resultado de 2011, crescimento de 2,7%. O que houve foi a mudança de patamar para uma nova trajetória de crescimento (saímos da trajetória de 4,5% e ingressamos na trajetória dos 2%). O choque conservador de política econômica de 2011 desmontou o cenário de expectativas positivas que emergiu do período 2007-2010.
Quando a economia ingressou no patamar de modesto crescimento, optou-se pela política de redução de juros e isenções tributárias variadas. Buscou-se incentivar uma economia que tentava se proteger da falta de demanda esperada por seus produtos. Foi inócuo: é o mesmo que dizer para os empresários investirem somente porque o crédito está mais barato e houve aumento do volume de recursos para o autofinanciamento. A questão mais importante é que faltava motivação devido ao clima geral de desaquecimento internacional e nacional provocado pela própria política econômica de 2011.
Há condições de retomar o patamar de trajetória de crescimento do período 2007-2010. Afinal, a realidade econômica não se deteriorou - apesar da nova trajetória de crescimento modesto. O desemprego continua baixo. O investimento voltou a crescer. A inflação é moderada e está controlada. O endividamento público está em nível saudável. Basta ousadia, autonomia e responsabilidade para mudar a política econômica. A economia brasileira precisa de uma política fiscal anticíclica, uma política monetária de juros baixos e um câmbio equilibrado para que a indústria tenha produtos competitivos nos mercados doméstico e internacional. O caminho atual de uma política econômica em zigue-zague, varejista, coloca os investimentos, variável-chave do crescimento continuado, em situação crítica de stop-and-go (tal como é mostrado no gráfico).
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