07 março 2014

ALIADO OU OPOSIÇÃO

PT x PMDB


André Barrocal, na Revista Carta Capital

Às vésperas do carnaval, o deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB, atirou longe alguns adereços da fantasia “governista” e articulou a criação de um “blocão” partidário para infernizar a presidenta Dilma Rousseff. Na terça-feira gorda, rasgou o que lhe restava do figurino e, pelo twitter, pregou que o PMDB reveja a aliança com o PT. Hábil, tido como um “gênio do mal” em Brasília, Cunha parece ignorar que o radicalismo interessa à presidenta.
Dilma tem várias razões para querer enfrentá-lo. Aos olhos do Palácio do Planalto, Cunha tornou-se o verdadeiro líder da oposição na Câmara. Foi ele o maior defensor, por exemplo dos negócios do banqueiro Daniel Dantas na nova lei de portos, uma votação duríssima vencida por Dilma em 2013. Agora, é Cunha quem emperra a votação de uma lei que garante os direitos dos internautas, que Dilma gostaria de ver aprovada para mostrar em um evento mundial que acontecerá no Brasil em abril. Ao bater de frente com Cunha, réu em um processo no Supremo Tribunal Federal por uso de documentos falsos, Dilma sinaliza à bancada do PMDB que não vale à pena tê-lo como líder.
O confronto com o deputado também tem valor eleitoral. Como os partidos estão desacreditados – 42% acham que o Brasil seria melhor sem eles, segundo uma pesquisa do instituto Datapopular -, enfrentá-los pode render pontos a favor da presidenta na eleição. E é baixa a probabilidade de que o PMDB resolva romper com o governo, na visão de um conselheiro presidencial. A ameaça só daria certo se houvesse outra canoa disposta a receber os degradados. O senador Aécio Neves (PSDB) toparia acolher um partido que abandonasse o governo por fisiologismo? E o governador Eduardo Campos (PSB), que sustenta o sonho presidencial com o discurso de “nova política”, toparia?
A luta do Planalto por enquanto está restrita aos peemedebistas da Câmara, mas faz parte de uma batalha mais ampla entre PT e PMDB. Entre petistas e no entorno da presidenta, não há dúvidas de que o aliado é um problema. Com o tamanho de hoje – é o maior do Congresso Nacional e possui os presidentes da Câmara e do Senado –, o partido consegue boicotar certos anseios do lulismo, como a reforma política. “O PMDB ajuda a ganhar eleição e atrapalha governar”, diz um dirigente petista, a alimentar a expectativa de que a legenda encolha na eleição deste ano.
O PMDB converteu-se no símbolo do conservadorismo nacional, a barrar mudanças estruturais mais aceleradas no País, a partir do fim da ditadura. O marco zero do “peemedebismo” foi a Constituinte (1987-1988), segundo o livro Imobilismo em Movimento, do filósofo Marcos Nobre. Na época, o deputado Roberto Cardoso Alves, o Robertão, da ala conservadora do PMDB, foi o mentor de um grupo suprapartidário montado contra as forças progressistas. Nascia ali o Centrão. Qualquer semelhança com Cunha e seu “blocão” não será mera coincidência.
Os lances oposicionistas de Cunha, como o “blocão” e a defesa de romper com o PT, expressam uma queixa com o Planalto que vem desde o primeiro ano da gestão Dilma. Ele ressente-se do que considera pouco caso da presidenta com os congressistas: demora na liberação de verba para obras incluídas no orçamento pelos parlamentares, objeção a nomes indicados pelos deputados do PMDB para cargos federais, resistência a ampliar o espaço do partido no governo. Ao assumir a liderança peemedebista em 2013, a insatisfação ganhou peso. Cunha passou a falar pela segunda maior bancada da Câmara e a ter mais poder para atrapalhar votações de interesse de Dilma.
O humor dele piorou ao se dar conta de que Dilma pretende concluir a reforma ministerial sem lhe fazer as vontades. Ela não aceita, por exemplo, entregar um outro ministério para ser ocupado por um apadrinhado pelo PMDB da Câmara. Cunha radicalizou na reação. Primeiro, divulgou uma nota dizendo que a bancada peemedebista não iria mais indicar ninguém para a reforma. Depois, juntou oito partidos e montou um “blocão”, cuja primeira tarefa pós-Carnaval será unir-se à oposição para tentar investigar denúncias de pagamento de propina na Petrobras. Agora, propõe que o PMDB reveja a aliança com o PT.
Cunha botou para quebrar na terça-feira 4 por causa de declarações atribuídas ao presidente do PT, Rui Falcão, durante a passagem do petista pela Marques de Sapucaí. Segundo o jornal carioca O Dia, Falcão teria comentado que o PMDB do Rio, do qual Cunha faz parte, deixou correr a ideia de apoiar o senador Aécio Neves (PSDB) à Presidência como uma espécie de chantagem. O objetivo da chantagem seria arrancar cargos federais, como quer Cunha, e forçar o PT a apoiar o candidato do PMDB ao governo do Rio. O deputado reagiu pelo twitter no mesmo dia: “A cada dia que passo me convenço mais que temos de repensar está aliança, porque não somos respeitados pelo PT”.
A resposta de Falcão veio na quinta-feira 6. A jornalistas, disse que o PT não aceita “ultimato” do PMDB e que o partido precisa decidir se afinal é governo ou oposição. Cunha cometerá outro erro se achar que Falcão falou apenas em nome do PT.


 

 
 

  

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