31 agosto 2013

VOTO DEMOCRÁTICO

Fim do voto secreto, mistificação e
retrocesso democrático


Diogo Costa, no Jornal GGN


Sincera e honestamente, tenho todas as dúvidas do mundo sobre o fim do voto secreto no parlamento.

A historiografia brasileira registra inúmeros exemplos da perversidade do voto de cabresto, existente no Brasil até a reforma eleitoral de 1932. O voto de cabresto nada mais era do que o voto distrital vigente na época (curral eleitoral), temperado com o indigesto voto aberto nas eleições.

Esta era a receita da manutenção do poder do coronelismo na república velha, tudo devidamente 'fiscalizado' por capangas que acompanhavam e anotavam, com incrível rigor, qual era a vontade dos eleitores (para premiá-los ou puni-los logo em seguida).

O voto secreto instituído por Getúlio Vargas foi um dos fatores de aperfeiçoamento da democracia brasileira, livrou os eleitores do jugo dos capangas e lhes deu liberdade para votar em quem quisessem, sem sofrer pressões por isso.

O voto secreto e o fim do voto distrital (vigente desde o tempo do Império) foram avanços indesmentíveis, e libertaram as forças democráticas no Brasil.

Pois bem, sabemos todos que o poder econômico captura e torna a democracia brasileira refém do dinheiro. Uma das poucas garantias que os parlamentares tem para agir com alguma independência é o voto secreto.

Com o voto aberto, as pressões do poder econômico e midiático serão elevadas à enésima potência!

Portanto, não concordo com o fim do voto secreto no parlamento. Os parlamentares erram e acertam, como cada um de nós faz a vida inteira. Mas colocar a faca no pescoço dos mesmos, por intermédio dos financiadores de campanha e da mídia oligopólica, não me parece ser o caminho adequado para aperfeiçoar o sistema político brasileiro.

Ao contrário, parece-me que tal medida apenas tornaria os políticos, os partidos políticos e a própria política ainda mais reféns de forças escusas que capturam a vontade e a soberania do voto popular.

Além de tudo isso, esse projeto de fim do voto secreto é na verdade apenas uma medida cosmética, não toca nem de longe no ponto essencial que é a reforma política. Esta sim seria um vetor de avanço democrático, instituindo o financiamento público exclusivo, o voto em lista e o fim das coligações proporcionais.


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