21 agosto 2013

ÉTICA NOS NEGÓCIOS

Um problema chamado Siemens - também
na Alemanha


Flávio Aguiar, na Agência Carta Maior


A Siemens está de volta ao noticiário alemão. Não exatamente pelo motivo que a levou ao noticiário brasileiro – as denúncias de corrupção e favorecimento em obras diversas – inclusive no metrô de São Paulo.

O que a trouxe às manchetes foi um sobe-desce de executivos por causa de seus recentes fracassos financeiros. O hoje ex-presidente Peter Löscher caiu, e subiu à presidência Joe Kaeser, ex-CFO, chefe do Chief Financial Office, sigla que, no jargão empresarial, designa o escritório responsável por estimar riscos financeiros e manter um arquivo sobre ele e as operações decorrentes para evitá-los ou enfrentá-los.

Motivo explícito: a Siemens acumulou no passado recente uma série sucessiva de perdas e danos, que vão desde compras consideradas desnecessárias até atrasos na entrega de encomendas, como a dos trens super-rápidos para a “sagrada” Deutsche Bahn, a estatal ferroviária alemã. Motivo de bastidor, segundo a revista Der Spiegel International on line (07/08/2013): uma disputa interna opondo Gehrard Chrome, Presidente do Conselho Supervisor, e um de seus vices-presidentes, Joseph Ackermann, ex-presidente do Deutsche Bank. Assinale-se que a revista não esclareceu quem, destes dois, estava do lado de quem entre os outros dois acima citados.

Mas dados sobre corrupção e problemas afins não são novidades na Siemens, empresa que opera em mais de 200 países e emprega 370 mil trabalhadores, entre eles 18 mil engenheiros de informática – mais do que a Micorsoft, segundo a mesma Spiegel.

Em 15 de novembro de 2006 procuradores públicos e investigadores literalmente invadiram 30 escritórios da empresa, além de casas de seus top-executivos. Motivo: investigar o que foi considerado um dos mais perfeitos esquemas de pagamento de propinas para obtenção de favorecimentos em escala mundial. O esquema era tão perfeito, e tão antigo, que até 1998, ano em que a Alemanha adotou uma nova lei anti-corrupção, a empresa deduzia do imposto de renda as propinas pagas, classificadas como “despesas correntes”...

Naquela ocasião, executivos também caíram, como foi o caso de Heinrich von Pierer e Klaus Kleinfield, ou subiram, como foi o caso de Peter Löscher, que ora cai, embora por outros motivos que não acusações de corrupção. A história levou a arranjos e decisões dramáticas, como o acordo de indenização de 800 milhões de dólares ao fisco norte-americano para evitar perdas maiores, embora novos acordos e novos pagamentos tenham se seguido a este, feito em 2008. Houve trocas de executivos também no Brasil, ao que parece. Mas o caso mais dramático foi o do chinês Shi Wanzhong, condenado à morte em junho de 2011, acusado de ter recebido 5,1 milhões de dólares em propinas da Siemens. A execução da sentença foi suspensa, mas não se sabe exatamente o que aconteceu com ele, embora, ao que parece, não tenha morrido. A Siemens não se pronunciou sobre o caso.

Não se sabe o montante total de indenizações pagas pela Siemens. Elas devem ter passado da casa do bilhão e meio de dólares, pelo menos. O que sabe é que o contador que operava secretamente na empresa – Richard Sieksczek, um dos únicos a ser condenado em decorrência das denúncias – operava anualmente de 40 a 60 milhões de dólares em propinas (NYTimes, 20/12/2008, reportagem de Shiri Schubert e T. Christian Miller). Além da China e do Brasil, os esquemas compreendiam países como Israel, Venezuela, Itália, Argentina e dezenas de outros.

Vários dos executivos acusados pela operação do esquema foram demitidos ou se demitiram, mas muitos deles operam hoje em altas posições em outras empresas.

A Siemens éacusada até hoje hoje de ter fornecido equipamentos elétricos e mecânicos para os campos de concentração nazistas durante o regime de Hitler, inclusive para a construção de câmeras de gás. Uma acusação pesada e difícil de contornar.


Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.



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